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Eu chamo de amor
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Eu chamo de amor
E-book161 páginas4 horas

Eu chamo de amor

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Sobre este e-book

O que é amor pra você?
Relacionamentos de comédias românticas que sobrevivem a todos os contratempos?
Ou pessoas que se conheceram ainda jovens e passam a vida inteira juntas?
Acha que é possível um amor acabar, ou acredita que só é amor se durar para sempre?
É possível amar alguém com quem você nunca conversou? E amar duas pessoas ao mesmo tempo?
Nesta antologia, Fernanda de Castro Lima, Fernanda Young, Giulia Paim, Laura Conrado, Marina Carvalho e Vinícius Grossos revelam o que eles chamam de amor e mostram que esse sentimento pode estar em todo lugar — até mesmo em um emprego chato ou no meio de um lockdown. Prepare-se para se emocionar e — por que não? — se apaixonar por histórias que mostram que o amor pode ser do jeito que você bem entender. Desde que você se abra para viver essa grande aventura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de jun. de 2021
ISBN9786555393217
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    Eu chamo de amor - Fernanda de Castro Lima

    Eu chamo de amor

    EU CHAMO de AMOR

    Editora Melhoramentos

    Prefácio | Eugênia Ribas-Vieira

    Arritmia | Fernanda de Castro Lima

    La Zorra | Fernanda Young

    Prisma | Giulia Paim

    Deve Ser Amor | Laura Conrado

    Como Eduardo e Mônica | Marina Carvalho

    Uma História sobre Montanhas, Aplicativos e o Crush Supremo | Vinícius Grossos

    Sobre os Autores

    Créditos

    Prefácio

    Trabalhar com Giulia Paim, Fernanda de Castro Lima, Marina Carvalho, Vinícius Grossos, Laura Conrado e também com a Fernanda Young, que, por toda sua maneira de ver o mundo, nesse grupo de jovens autores se inclui, é uma aventura indescritível. A todos que nela adentrarem, posso dizer que não haverá retorno: de alguma maneira, em algum ponto qualquer, sua visão de mundo vai se ampliar, suas vontades poderão ser expandidas, alongadas. Como diria a poeta Ana C. sobre a adolescência: é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço. Sem tanta abstração e com mais objetividade, Eu Chamo de Amor, esta coletânea de contos que falam do afeto, do amor e da paixão nos tempos atuais nos mostra que, sim, chegamos a um certo impossível. Que, sim, ancoramos nossos navios no espaço, ou onde quer que seja esse espaço contemporâneo. Hoje, felizmente, todo amor é possível.

    Amiga ou amigo, ou, esqueçamos do gênero, você, leitor cheio de subjetividades, de dúvidas particulares, de vergonhas ou de inibições, espero que esta leitura funcione como uma carta, que te aproxime do afeto verdadeiro, seja pela pessoa que for. Que este livro permita a aproximação do que é amado, do que é desejado, do que te inspira, do que te desperta curiosidade. Assim é o amor, esse algo não descrito que chamamos de amor. Que quere­mos, sempre, poder chamar de amor. Que um dia pode acabar. Que, talvez, nunca acabe. Esses são os mistérios e as inúmeras vertentes pelas quais nossos autores se debruçam. Com um olhar muito sensível, talvez com um quê de autobiografia. Talvez com um quê de ficção. Nunca saberemos. Mas estes contos nos permitem ampliar a nossa capacidade de amar. E o que é a vida, senão isto: a ampliação de nossa capacidade de amar?

    Deixo aqui este convite. E que também conheça melhor esses autores tão apaixonantes. E que, por este livro, se apaixone.

    Eugênia Ribas-Vieira

    Curadora

    ARRITMIA

    Fernanda de Castro Lima

    .

    Uma vez a Ana me disse que ama demais porque seu coração é maior do que o normal. Enquanto o órgão de um adulto é do tamanho de um punho fechado, o de Ana tem alguns milímetros excedentes. Poucos, mas que fazem com que nele caiba muito mais amor.

    Ela ousa ser livre. Por isso nunca quis namorar. Por isso sempre preferiu ser a única dona da sua vida. Por isso também Tomás decidiu aceitar as condições que ela impôs. E, por isso, ele está vendo, neste momento, Ana agarrar outro qualquer.

    Eu me lembro muito bem do dia em que a história deles quase começou. Estávamos, Ana e eu, sentadas em um banco na praça do campus da faculdade, onde cursamos o terceiro semestre de psicologia. Era a primeira semana de volta às aulas. Fui eu quem percebeu Tomás observando minha amiga sem parar. Os olhos dele acompanhavam os movimentos que Ana fazia com as mãos ao falar, passavam pelo sorriso e desciam até o pé esquerdo, que mexia freneticamente. Sempre tive vontade de prender os tornozelos da Ana um ao outro para conter aquele chacoalhar irritante. Tomás se levantou do gramado, onde estava com outros garotos, limpou as mãos, batendo-as na lateral das pernas, colocou-as no bolso e foi chegando perto e perto e perto... Ele me pegou testemunhando seus passos, projetou um pouquinho o queixo para o chão, sorriu sem revelar os dentes e mudou o rumo, em direção ao corredor que dava acesso às salas de aula.

    Depois daquela manhã, Tomás passou vários outros dias descobrindo Ana, até ter coragem de se aproximar de novo. Não o culpo. Ela é intimidadora. Nada a ver com a aparência, porque é miúda, magra, com cabelos claros e ondulados na altura dos ombros. É difícil de explicar… Acho que é questão de atitude, postura, sei lá. Parece que a Ana manda e a gente obedece, sem nem perceber que está seguindo uma ordem. Quando você se dá conta, já fez o que ela queria. Quanto a mim, sou discreta. No visual e no jeito. Tanto que Tomás, depois daquela ocasião, nunca mais notou que eu o observava enquanto ele desejava Ana e procurava formas de abordá-la. Houve uma vez que ele esbarrou nela de propósito, aproveitando a lotação na lanchonete, e pediu desculpas. Nessa oportunidade, pude ver que ele é dono do sorriso mais bonito que existe. Em outro momento, caminhou rapidamente para garantir um lugar ao nosso lado no auditório principal, para assistir a uma palestra sobre maneiras de aumentar a criatividade – muito interessante, a propósito: segundo o palestrante, a genialidade não é um presente apenas para pessoas especiais e pode ser tocante a qualquer ser humano. Ah, também teve o dia – nossa, como garotos podem ser bobos… – em que ele ficou petecando uma bola de futebol durante vários e vários minutos sob um coro de vozes graves contando a quantidade de embaixadinhas que ele fazia. Se me lembro bem, ele atingiu a marca de duzentas e sete. Para­béns, Tomás! Deu certo! Você conseguiu fazer com que a Ana notasse a sua existência. Mas nada supera o que ele fez no dia seguinte. Para mim, o mais patético clichê homo sapiens masculinus que há: Tomás ficou o intervalo todo sentado no chão, encostado na parede do prédio de Humanas, de óculos, lendo um livro. Era descarada a maneira como ele olhava por cima da armação, checando se Ana estava reparando naquele teatro. Só faltou estar com o livro de ponta-cabeça para completar a cena de comédia romântica-barra-pastelão. E, como nas peças e nos filmes, não é que ela o notou? É… Clichês só são clichês por uma razão.

    A partir disso, começaram os cumprimentos pelos corredores. De sorrisos tímidos e recíprocos, passaram para ois quase mudos, evoluíram para um tudo bem, e você?, até que, alimentados pelo alfabeto todo, esses primeiros murmúrios se transformaram em diálogos gordos, que ocupavam o tempo livre entre as aulas. Algumas vezes, feitos de papos profundos sobre futuro, desejos, medos; outras, conversas resumidas à melhor sobremesa do mundo.

    Enfim, Ana tomou a iniciativa de convidar Tomás para sair. Só que os primeiros encontros da Ana nunca eram a dois, porque ela morria de medo de o date ser horrível e ela ser obrigada a largar a pobre pessoa sozinha em uma mesa de bar. Por isso, eu a acompanhava em vários deles. Com Tomás não foi diferente: eu estava lá na balada, com um copo de caipirinha em uma das mãos e uma vela na outra.

    Fico bem mais simpática e não tão discreta quando diluo meu sangue em álcool, por isso virei coleguinha de uma turma de amigos e dançamos a noite toda. Foi divertido, no fim das contas. Tomás não descolava da Ana, sempre dando um jeito de tocá-la. O mais abusado foi quando enxugou com seu indicador uma gota de suor que escorria pelo decote dela. E aconteceu o beijo. A partir daí, só banho de água fria para separar os dois.

    Tomás continuou grudado nela nos dias que se seguiram. Na faculdade, ele fazia de tudo para agradar a Ana, e ela, claro, estava adorando ter por perto alguém que a bajulasse. Ficaram várias outras vezes e tiveram sua primeira transa – da qual sei detalhes, porque a Ana fez questão de me contar. O caso estava ficando mais sério. Foi aí que Tomás me procurou para ajudá-lo a pensar em uma forma fofa de pedir a Ana em namoro. Fiquei com vontade de alertá-lo, porque eu sabia o que estava por vir. Mas isso não cabia a mim; afinal, era da Ana que eu era amiga. De toda forma, disse a ele que não preparasse nada grandioso, porque ela não curtiria. O melhor seria convidá-la para jantar e apenas falar que gostaria de namorá-la.

    E foi o que ele fez. Também foi do Tomás que partiu a inicia­tiva de descrever para mim como o encontro havia sido: comeram risoto de funghi, tomaram uma garrafa de Pinot Noir francês e, para sobremesa, mousse de chocolate ao leite. Tomás fez questão de pagar pelo jantar, mesmo que tenha custado uma boa fatia do seu salário de assistente de edição de uma produtora de vídeos. Sobre o pedido de namoro, me contou o que eu já imaginava:

    – A Ana quer um relacionamento aberto.

    – E você? – perguntei.

    – Quero a Ana.

    As regras que eles estabeleceram foram as seguintes: usar sempre proteção; só pode ficar com outra pessoa na frente do(a) parceiro(a) se ele(a) concordar com isso; ficar com amigos ou conhecidos apenas com consentimento do(a) namorado(a); e não se envolver amorosamente com ninguém mais.

    Como Tomás aceitou, teve de engolir um X, um Y, um Z. Dois ela beijou na frente dele, mas não sem antes perguntar se tudo bem. Tomás respondeu com uma mentira e foi obrigado a assistir à sua garota caindo noutros braços – muito mais fortes do que os dele, aliás. Para se vingar, sem poder dar esse nome ou essa conotação ao fato, Tomás pegou uma garota XX no dia em que Ana catou o Z, tudo com permissão, mas sem muito tesão.

    No fim do semestre, fomos em um grupo grande de amigos passar o Réveillon em Camburi, litoral de São Paulo. Alugamos uma casa de frente para a praia. Cenário paradisíaco, perfeito para ficar de casalzinho – tudo o que Tomás queria. Mas a Ana estava muito mais a fim de curtir com a galera. Na noite da virada, ele tomou um porre e veio desabafar comigo. Disse que não entendia muito bem esse namoro, que a Ana não parava de dizer que o amava, só que parecia que ela sempre preferia estar na companhia de outros caras. E, pior, ela havia dito que queria muito ficar com o Gabiru, um dos nossos amigos. Pela primeira vez, o Tomás não aceitou, porque ia ser foda ver essa situação. Ana ficou puta da vida e deu um gelo no Tomás no último dia do ano. Eu entendo a frustração dele, porque eu também queria muito poder dividir aquele momento com alguém especial. E é por essas e outras que eu jamais toparia um relacionamento assim.

    Calejado do Ano-Novo, Tomás chamou Ana para viajarem só os dois no Carnaval. Foram para São

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