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Por que você voltava todo verão?: Belén López Peiró
Por que você voltava todo verão?: Belén López Peiró
Por que você voltava todo verão?: Belén López Peiró
E-book115 páginas53 minutos

Por que você voltava todo verão?: Belén López Peiró

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Sobre este e-book

Uma adolescente é abusada sexualmente pelo tio durante três anos, dos treze aos dezesseis, sob o olhar condescendente de alguns parentes e desinteressado de outros. Marcada pelo trauma, aos 22 consegue reunir forças para denunciá-lo. Não sabia, porém, que o mais difícil seria enfrentar as reações da família. Por que você voltava todo verão? não é exatamente um livro de memórias. Nestas páginas, a primeira pessoa do singular aparece poucas vezes. Para narrar a experiência que viveu, a escritora argentina Belén López Peiró precisou recorrer às vozes de familiares, advogados, médicos e promotores, e também a documentos judiciais. O resultado é uma obra tão incômoda quanto relevante para um país em que tantas jovens sofrem em silêncio com a violência sexual — muitas vezes, como a autora, dentro de casa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de jun. de 2021
ISBN9786587235479
Por que você voltava todo verão?: Belén López Peiró

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    Pré-visualização do livro

    Por que você voltava todo verão? - Belén López Peiró

    titulo

    conselho editorial

    Bianca Oliveira

    João Peres

    Tadeu Breda

    edição

    Tadeu Breda

    preparação

    Luiza Brandino

    revisão

    Laura Massunari

    capa

    Flávia Castanheira

    diagramação

    Denise Matsumoto

    direção de arte

    Bianca Oliveira

    Produção Digital

    Cristiane Saavedra [Saavedra Edições]

    SUMÁRIO

    CAPA

    CRÉDITOS

    FOLHA DE ROSTO

    TERMO DE DENÚNCIA

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PETIÇÃO DE INCOMPETÊNCIA

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES

    FICHA CATALOGRÁFICA

    ponto

    E então, por que você voltava todo verão? Gosta de sofrer? Por que não ficava na sua casa? Lá na capital, morrendo de calor. Ah. Não. Certamente não podia, porque não tinha ninguém que cuidasse de você. Pudera. Mesmo tendo te ajudado, e te dado uma família, você fez isso com a gente. Não gostávamos de você, só te recebíamos porque sua mãe nos dava presentes. Ela nos arranjava vestidos, viagens, perfumes. Tudo em troca de te ter aqui. De te levar para jantar com a gente, de sair para passear com você como se fosse um cachorro. Te ensinamos a limpar e você deixou de ser a portenha idiota que não sabia nem fazer a cama. Nem lavar a louça, sempre deixava suja. Aqui te demos uma vassoura e você começou a varrer. Demos uns panos e um pouco de produto e você começou a esfregar. Primeiro os quartos, depois a sala e por último a cozinha. Sempre nessa ordem, lembra? Uma vez, inclusive, você se irritou porque deixamos sua mala no quintal para que não sujasse a casa. Ou porque jogamos fora suas alpargatas fedorentas e as calcinhas desbotadas pelos seus hormônios. Vê se me entende, nesta casa aguentamos tudo, menos a imundície. E, sim, você acumulou raiva… mas inventar uma coisa dessas? Não, eu não esperava. Você sempre teve inveja da Florencia. Porque ela tinha muitos amigos, porque podia sair para dançar e tinha muitas roupas. Ah, não, espera. Já sei por que você está fazendo isso. Porque ela tem uma família que a ama. E você não.

    TERMO DE DENÚNCIA

    Sr. Juiz:

    I) OBJETO

    Venho, por meio deste, formular uma denúncia pela prática de um crime de ação pública, do qual resultou uma vítima e pelo qual solicito a imediata intervenção da justiça para que se dê início à investigação penal propensa a conseguir o esclarecimento dos fatos e a determinação do seu autor.

    (Conf. art. 149 Bis. e cc.

    CPPN).

    II) DENUNCIADO

    Sexo masculino. Ocupação: integrante do Ministério da Segurança da Província de Buenos Aires, delegado, 47 anos, residente na rua Belgrano, no 86, Santa Lucía, Província de Buenos Aires.

    III) FATOS

    Nasci na Capital Federal, no dia 24 de fevereiro de 1992, em uma família composta pela minha mãe, meu pai e meu irmão. Atualmente, tenho 22 anos, sou estudante e escrevo este texto para poder contar o que vivi, sofri e padeci na minha adolescência, e poder fazer justiça. O meu tio abusou sexualmente de mim reiteradas vezes, dos meus treze aos dezessete anos.

    IV) QUALIFICAÇÃO LEGAL

    Conforme o relato efetuado, e sem prejuízo de que a investigação demonstre a existência de outras figuras delitivas, a conduta denunciada constitui o delito de ABUSO SEXUAL, em virtude do inciso 119 do Código Penal Argentino.

    V) PETIÇÃO

    Por tudo o que foi exposto, solicito:

    1. Tenha-se por apresentada a denúncia e determine-se a audiência para ratificação.

    2. Inicie-se a investigação penal propensa a esclarecer os fatos e a individualização dos seus autores.

    Ter presente e prover em conformidade que

    SERÁ FEITA JUSTIÇA.

    ponto

    Tocou a campainha e eu o deixei entrar. Sabia que cedo ou tarde ele viria. Passava pela minha casa toda vez que viajava para La Plata, pelo menos uma vez por mês. Usava-a como uma oficina, vinha para fazer o serviço completo, para dar um trato no pau. Eu era como um pedaço de carne que apodrecia ao sol à espera da próxima visita.

    Minha mãe tinha saído mais cedo para trabalhar. Quase sempre pegava o bonde ao meio-dia, mas naquele dia anteciparam o fechamento da revista. E meu irmão estava trabalhando. Assim, eu estava sozinha, deitada na minha cama de solteiro, no meu quarto de paredes cor-de-rosa, com o pijama de verão que minha madrinha tinha me dado de presente no meu aniversário de quinze anos: um short azul turquesa que se ajustava ao meu quadril e uma regata preta, com algumas borboletas que dançavam na altura do peito.

    Entrou sorridente, de uniforme. Eu já tinha esquecido o que era desamarrar os cadarços dele. Deixou sua arma em cima do armário da sala de jantar, ali, onde quase não se vê, e foi ao quarto do meu irmão para se despir. Ele queria tomar um banho rápido antes de seguir viagem. Me enfiei na cama outra vez e fechei os olhos.

    O barulho da água caindo me enlouquecia. Eu o imaginava pelado, se lavando com o meu sabonete. Mas não. De repente ele abriu a porta do meu quarto, seminu, só com uma cueca amarela desbotada. Me perguntou se eu queria uma massagem. Podemos usar o gel da sua mãe, ele disse. Respondi que não, mas ele não me escutou. Logo ele estava nas minhas costas. Tinha tirado o lençol que me cobria e levantado a minha blusa. Abaixou meu short e minha calcinha até os joelhos.

    Senti o primeiro calafrio quando ele pôs aquele gel nas minhas costas. Fiquei imóvel. Mas depois virei a minha cabeça para a direita e vi. Vi seu pau duro. Com uma das mãos tocava a minha bunda e com a outra se masturbava, devagar, não acabava nunca. Só tive uma reação,

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