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Monsieur Claude: quando o amor vai além da vida
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Monsieur Claude: quando o amor vai além da vida
E-book309 páginas3 horas

Monsieur Claude: quando o amor vai além da vida

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Sobre este e-book

O amor e o luto são temas universais e atemporais nas relações
humanas. Ainda que com trajes de universalidade, cada pessoa vive
esses sentimentos de maneira muito particular e alinhada à sua própria experiência na vida.
A forma como um homem vive a perda da mulher que mais
amou fala muito, não somente sobre seu passado, mas também acerca de um futuro que ele não deseja mais viver, pois o amor não terá mais a mesma face, a voz que era música e, à noite, seus corpos em simbiose. Mas amor é alma, e alma tem liberdade para ser o que quiser para
ajudar o amado.
Em Monsieur Claude, somos lembrados de que o amor é feito de
jardins e que estações do ano levam até mesmo as pétalas mais belas das flores, pois é preciso que o ciclo da renovação seja cumprido. Trata-se de uma obra com uma borboleta na crisálida, pronta para romper a escuridão com as asas e voar, convidando o leitor para aquecer o coração em circunstâncias difíceis e jamais perder a esperança. A vida é um livro com finais sempre abertos a convidar à própria vida.
Irena Vertis
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jul. de 2021
ISBN9786589695462
Monsieur Claude: quando o amor vai além da vida

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    Monsieur Claude - Cristiane Peixoto Queiroga

    P R Ó L O G O

    1º de janeiro de 1870, virada de ano,

    Aix-en-Provence/França…

    No fim da tarde de um rigoroso inverno, em primeiro de janeiro, na charmosa cidade de Aix-en-Provence, ao sul da França, no encantador e riquíssimo château dos Baudelaire, em uma família linda, unida e de coroação inigualável, nasceu Claude, o terceiro filho do conde Eliott Baudelaire.

    Da cozinha, ouvia-se em coro a canção predileta da condessa, tendo sido ideia do seu esposo, em conjunto com seus filhos, que a mais uma vez mamãe ouvisse, mesmo que de longe, Au Clair de la lune, a canção que diariamente ela cantava para seus dois filhos mais velhos e ainda crianças.

    Foi de fato um grande acontecimento familiar, principalmente para o pai, que ganhou mais um varão. A condessa Adéle trazia esperanças de nascer uma menina, para quebrar um pouco a rotina de um lar basicamente masculino. Contudo, não houve qualquer frustração, a felicidade de ter Claude nos braços fora imensa, e ele sempre foi, assim como seus irmãos mais velhos, muito amado. Recebeu a mesma educação, instrução, oportunidades de viagens e cresceu brincando nos campos de lavanda, girassol e nas colinas cobertas de vinhedos e oliveiras, nos arredores da bela Fontaine de la Rotonde ou à beira do rio Touloubre, principalmente entre os meses de julho e agosto, quando os dias ficavam mais longos, a cidade florida e era possível brincar ao ar livre.

    Claude Baudelaire, ainda que tímido e retraído, sempre teve muitos amigos, mas nunca deu sinal de que seria namorador como se tornou. Tinha como melhor amiga Sophie Vancelois, neta do grã-duque Antoine e que, ao casar-se com Lohan, veio a se tornar a marquesa de Languedoc-Roussillon. Muitos, inclusive, diziam que os dois, Claude e Sophie, devido à tamanha afinação que possuíam, casariam quando adultos. Claude sempre foi um bom aluno, com desenvoltura especial para a matemática. Estudou na famosa École Polytechnique de Paris, fundada em 11 de março de 1794, tendo bastante destaque entre os colegas e professores. Quando adolescente, venceu a timidez e viveu, como falam os italianos quando se referem ao ócio juvenil, seu dolce far niente, sua aparência modificou, ficou alto, de sorriso largo e adquiriu traquejos especiais no momento da conquista. Ele despertou principalmente para a vida noturna, para os prazeres que a juventude lhe proporcionava e para as mulheres… todas as mulheres… de qualquer classe social, estilos, cheiros, tamanhos… pele morena ou clara… todas. Para ele, todas mereciam sua atenção; para elas, a suposta timidez que ele dizia ter era seu maior atrativo.

    Sua especialidade passou a ser tirar as roupas das damas ou das famosas do submundo, sem sequer usar as mãos. Nenhuma delas abalava a autoconfiança que ele adquirira.

    Apesar da timidez, que uma vez ou outra ainda insistia em aparecer, era o ócio, as conquistas e o meio boêmio que o faziam feliz. E o melhor — pensava ele — era que não lhe recaía nenhuma responsabilidade de primonato, ele não precisava atender a qualquer expectativa do condado, não seria herdeiro de título algum. Seu irmão Noah já se dedicava a isso e fazia muito bem.

    Claude estava satisfeito por manter o controle de sua vida, ele gostava do jeito que vivia, podia escandalizar a sociedade, inclusive com peripécias sexuais, e jamais estaria acorrentado a qualquer obrigação de título. Para ele, era uma grande sorte ser o terceiro filho e não ter que carregar toda a responsabilidade de um primogênito. Gozava de uma imensa liberdade e vivia de forma que, para um herdeiro, seria algo inapropriado.

    Os relatos que chegavam em Aix da vida mundana de Claude, ainda que fosse a vida que os filhos mais novos estavam habituados a levar, com álcool, jogatina, pancadarias e mulheres, não agradava aos seus pais. Apesar de ser bom aluno, ter bons contatos de negócios, discutir política e leis com precisão, ele gostava mesmo era de jogar vinte e um e deitar, a cada noite, na cama de uma bela e diferente mulher, daquelas do tipo que causavam problemas. Esses vícios profanos, de acordo com seus pais, eram, por si só, motivos suficientes para trazê-lo de volta à sua cidade natal. Sua família, então, assim exigiu, e ele, sempre boa-praça, voltou sem reclamar.

    O retorno a Aix mudou definitivamente o destino do jovem bon-vivant, afinal nenhum segundo dessa sua vida mundana o preparou para as questões que envolvessem o verdadeiro amor. A simples ideia de um bem-querer já lhe parecia absurda, por isso nada o instruiu para o momento em que conheceria a mulher de sua vida, a condessa Muriel.

    Quando ele a viu pela primeira vez, mesmo que não tenha entendido seu sentimento, fora invadido por sensações inexplicáveis, como se tivesse sido enfeitiçado. Não era apenas a aparência dela que o perturbava. Era o modo como se movia, como se relacionava com as pessoas, como se não tivesse necessidade de ser amada, ao tempo que era admirada por todos. Surgiu, naquele instante, um sentimento irracional e até descontrolado, até mais do que ele admitia. Ele não ficou satisfeito com o modo como aquela mulher o havia afetado, sentiu-se reprimido, ela não era para ele, era casada, nem sequer deveria ser olhada. Escolher ficar com ela poderia ser para ele um erro enorme, porém a simples presença dela ao seu lado já era desconcertante.

    Claude Baudelaire não impôs que seus dias de solteirice findassem, mas teve total consciência de que se rendera aos encantos da bela dama e ficou por muito tempo sem conseguir pensar em nada que não fosse possuir aquela mulher, o que acabou acontecendo naturalmente. Depois que teve sua amada em seus braços, nenhuma mulher mais o interessou, foi realmente como um feitiço, como mágica, ela tinha tudo que ele sempre sonhara. Mesmo que a jovem senhora fosse casada quando eles se conheceram, isso não impediu o amor entre os dois, eles se encontravam às escondidas até o momento da morte do velho marido de Muriel.

    Quando Muriel ficou viúva, e eles puderam demonstrar o que sentiam um pelo outro, tiveram que enfrentar o preconceito da sociedade de Aix-en-Provence. Para Muriel, era tudo muito mais difícil, principalmente por ser mulher em uma época em que o sexo frágil desempenhava papel muito aquém do masculino.

    Para a sorte de Muriel, a família Baudelaire nunca foi como as outras, sempre prezou pela felicidade de seus entes e nunca se incomodou com os olhares e fuxicos dos outros sobre o romance do lindo casal. Em pouco tempo aprendeu a conviver com isso, tornando os dias em família os mais divertidos, com jantares, saraus, bailes e quaisquer tipos de entretenimento. O amor, a felicidade compartilhada e a união dos dois trouxeram ao jovem Claude maturidade e confiança que, à primeira vista, faltavam-lhe antes.

    A bênção de madame Adèle era o que importava para Claude e o suficiente para Muriel.

    Eles tinham uma vida a dois invejável. Principalmente após a adoção da pequenina Emma. A alegria da menina enchia de vida e harmonia o dia a dia do casal, principalmente porque veio acompanhada de Alice, a madrinha da menina, que, aos poucos, tornou-se como filha também. Contudo, para a tristeza de Claude, de causa desconhecida, Muriel adoeceu.

    O último ano vivido foi cheio de obstáculos para os dois e para os amigos mais próximos. A família Baudelaire estava sempre presente, tentando a todo custo ajudá-los. Eles agiam positivamente, mantendo o ambiente sempre alegre, e faziam planos para a próxima temporada de verão. Porém, a preocupação com Claude era uma realidade impossível de não se notar. O jovem se enchia de paciência e dedicação aos cuidados com sua amada, sem pensar em desistir. Mas a prática era dura, para cada pequena vitória, milhares de tratamentos frustrados. Dias, semanas, meses se passavam… Ele e Muriel começavam a divergir em relação ao adequado método de tratamento.

    A doença persistia, ele recriminava o destino e ela encarava tudo com senso prático, já aceitava sua morte, o que fazia Claude ficar ainda mais irritado. As desavenças estavam causando desentendimento entre os dois.

    Naquele dia, ele estava ali, pela janela do seu quarto, triste, decepcionado e a pensar no que ainda poderia fazer para ajudar sua amada mulher, Muriel. Ele olhava para o infinito através do vidro e tinha o jardim como ponto fixo. Inesperadamente, viu várias borboletas voando pelo jardim, voavam como mensageiras prontas para entregar algo ou alguma notícia importante. Nessa hora, Claude sentiu uma tranquilidade enigmática, o que chamou sua atenção, fazendo-o prestar atenção aos ciclos de voo.

    De modo súbito, a imagem de uma bonita jovem de olhar sereno e que não era Muriel veio à sua mente. Veio tão forte, que ele estremeceu. O que tem essa mulher para vir à minha cabeça?, questionou-se, passando as mãos nos olhos. E não é a primeira vez, eu nem sequer sei quem é… mas me parece tão familiar…, estranhou.

    Ele ficou imóvel por alguns minutos a refletir, e sorriu discretamente para si mesmo, balançando a cabeça negativamente. Queria entender o porquê. Lembrou-se de seu amor. Por fim, levantou-se e saiu do seu quarto.

    CAPÍTULO 1

    Aix-en-Provence,

    Maio, primavera de 1898…

    Claude Baudelaire aproximou-se do quarto impaciente. Podia-se ouvir, mesmo com a porta fechada, as vozes sussurradas dos criados e do médico que tentavam, há meses, curar Muriel, ou pelo menos diminuir seu sofrimento.

    O quarto dela era mantido na penumbra, Claude insistia em dizer que o vento frio poderia piorar os sintomas. Mas, naquele dia, a pedido dela mesma, as janelas foram abertas e os raios de sol puderam entrar no quarto. Neste instante, Claude entrou nos aposentos sem ao menos bater à porta.

    — O que está acontecendo aqui? Isso poderá piorar a saúde de Muriel, fechem as janelas, eu exijo!

    — Não, Claude, por favor, fui eu mesma que pedi para que abrissem. É bom que o ar circule, e, ademais, eu gostaria de ter essa descarga de energia boa entrando pela janela e olhar a alvorada pela última vez — disse Muriel com a voz meio arrastada.

    — Não fale em última vez, Muriel. Já discutimos sobre isso. Você não irá morrer, pelo menos hoje não, só irá embora quando estiver cheia de rugas, bem velha e feia, algo que penso ser difícil de acontecer, portanto, por favor, pare de ser tão melancólica — falou ele ao tempo que se dirigia ao médico e questionava da necessidade de realmente abrir as janelas.

    Muriel sorriu com a insistência do seu amado e tossiu.

    — Você está bem? — perguntou Claude angustiado e voltando-se para ela. Mesmo tentando não parecer preocupado, isso fora visível.

    — Sim, eu estou bem, não se preocupe. Ajude-me apenas a sentar e, por favor, sente-se também ou eu enlouquecerei com sua impaciência.

    Os lábios antes carnudos de Muriel agora estavam pálidos, mas seus olhos azuis continuavam a brilhar como de costume. Sua beleza, embora agora com pouca intensidade, ainda era presente, sua postura de condessa e seus modos elegantes não deixavam dúvidas de quem um dia tinha sido.

    Ela alisou uma prega do seu vestido e se lembrou dos momentos difíceis que ambos passaram no último ano, contemplou aquele homem que tentava a todo custo fazê-la acreditar que sua vida ainda seria longa e sorriu com carinho.

    Ela continuou a observá-lo e pôde notar o quanto ele era charmoso e o quanto ela o desejara. Naturalmente, Muriel tinha diversas perguntas a fazer, mas sabia que nenhuma delas seria respondida por ele, simplesmente pelo fato de ele negar, categoricamente, a morte dela.

    — Coff, coff — tossiu Muriel, mesmo tentando se segurar para que Claude não culpasse a janela aberta.

    Claude, que estava acomodado em uma cadeira ao lado da cama, neste instante, para tentar ajudá-la, inclinou-se para frente, de modo que todo o peso do seu corpo ficou na ponta da poltrona, sobre suas pernas dianteiras, ameaçando um desequilíbrio.

    — Você vai… coff… coff… cair e bater o queixo no chão se… coff… coff… continuar balançando a cadeira dessa forma — falou Muriel em meio à tosse.

    Claude sorriu, mas seu sorriso não fora retribuído por Muriel, ela direcionou sua atenção à porta que se abrira.

    — Está tudo bem? — perguntou Alice, a madrinha da filha da condessa. — Emma quer vê-la.

    — Traga-a aqui, por favor — respondeu Muriel. — Não posso partir sem me despedir dela.

    — Já pedi para não falar assim, você a verá amanhã, depois de amanhã, semana que vem, ano que vem, verá o seu début… — disse Claude meio irritado.

    Muriel lhe deu um sorriso esvaziado, estava mais cansada do que quando Claude entrou no quarto. Alice percebera sua fadiga, mas não a retrucou, obedeceu-a e foi pegar a menina.

    Emma chegara para a condessa Muriel ainda bebê. Ela fora deixada na casa das crianças órfãs de Rouen no Natal de 1896, portanto estava com ela havia um ano e seis meses. Quando a menina entrou, parecia que a alegria havia invadido o quarto e Muriel chegou até a ganhar um pouco de cor. Ao beijar a filha, logo começou a tossir, preferiu tirar Emma do seu colo, deixando-a apenas na cama a certa distância.

    — Eu amo você, minha filha… tanto… tanto… Eu sempre a amei e sempre a amarei.

    A filha a olhava com atenção, nem sequer piscava, como nos momentos em que a condessa contava-lhe histórias.

    — Eu vivi o bastante para ver coisas nessa vida que poucos acreditariam, contudo foi o seu amor que me fez ver o mundo como vejo agora, um mundo mais colorido, mais alegre e de boas pessoas. Você vai ser grande, minha filha, não deixe ninguém dizer o contrário disso, e seja sempre honesta consigo mesma. Mamãe ama você!

    — Você é teimosa demais, Muriel. Já falei que não há necessidade para essa conversa sentimental de despedida — disse Claude com expressão fechada.

    — Eu preciso de um papel, Alice. Devo escrever algumas palavras para minha filha, quero que você leia diariamente para ela, até que ela aprenda a ler.

    Mesmo sob protesto de Claude, Alice fez o que sua amiga pedira. Após a escrita, ela passou um mata-borrão na carta e cuidadosamente a guardou.

    — Alice, minha querida, não quero que guarde. Quero que leia e verifique se ficou algo que você possa não entender.

    A jovem obedeceu e, ao começar a ler, não segurou o choro, fazendo com que Emma perguntasse o porquê de a tia chorar. Muriel pediu para que Claude levasse a filha para brincar fora do quarto, porque ela gostaria de conversar a sós com Alice.

    Alice, uma jovem magra de cabelos pretos e pele muito branca, foi uma criança órfã, acolhida pelo instituto da condessa Baudelaire, cunhada de Claude. Ela chegou ao abrigo com 16 anos, após a morte de seus pais. Aprendeu tudo o que lhe ensinaram com carinho e afinco, e em pouco tempo tornou-se amiga querida da família. Quando Muriel adotou Emma, apadrinhou Alice também. Embora preferisse dizer que não tinha idade para ser mãe de Alice, e sim irmã, a tratava como uma filha.

    Antes de sair do quarto, Claude se manifestou:

    — Eu obedecerei, embora ache tudo isso uma perda de tempo, amanhã você estará melhor e passearemos todos pelo jardim — falou ele, e ao sair beijou a testa de sua amada.

    — Venha cá, Alice, quero segurar suas mãos.

    Alice se aproximou e sentou na ponta da cama, próximo à sua amiga.

    — Chegou minha hora de partir, minha querida, é verdade, mas não quero que sofra. Pense como se eu estivesse fazendo uma viagem. Acredite que eu não vou desaparecer e, verdadeiramente, eu não vou.

    Alice soluçava.

    — Ficarei aqui em seus pensamentos e nos ensinamentos que você transmitir para minha filha. Estarei presente sempre que você pegar a carta para fazer a leitura para ela. Estarei ao seu lado a cada pôr do sol, em todo momento de alegria e quando seu pensamento permitir.

    — Eu sei… eu jamais a esquecerei… — falou Alice com carinho. — E farei o que estiver ao meu alcance para que Emma traga sempre você em suas lembranças. Mas não pode ser assim, tenho certeza de que você não quer morrer, e por que Deus iria querer que você morresse?

    — Minha cara, jamais pense assim. Nunca perca a sua fé. Não devemos conceber Deus como apenas uma promessa. Ele é maravilhoso e me ama. Ele é para mim algo maior, e eu sei que algo de bom a mim foi reservado. Preciso que você tenha essa certeza também, para que possa passar essa segurança para minha filha.

    Alice assentiu e tentava conter as lágrimas.

    — O que seria de nós se passássemos a vida a dizer que acreditamos em Deus e nessa hora titubeássemos? Seria um contrassenso e a vida não teria sentido. Agora, dê-me um abraço.

    As amigas — na verdade mãe e filha, era assim que Muriel considerava Alice, como uma filha — abraçaram-se e Muriel pediu atenção da jovem para mais um pedido:

    — Não deixe que nada do que eu tenha vivido com a Emma seja perdido. Mantenha-me viva em sua memória. Agora saia e peça para Claude entrar.

    Alice fez o que Muriel pediu e seguiu pelo corredor aos prantos, fazia anotações mentais enquanto caminhava até Emma. Estavam todos tristes na casa, mas a sensação pior que pairava no ar era de um imenso vazio.

    Claude entrou no quarto e recebeu um sorriso de sua amada condessa. Ela esticou os braços e com as mãos pediu que ele se aproximasse.

    — Acho que chegou minha hora…

    Claude fez um muxoxo, mas não se atreveu a contradizê-la, achou melhor deixá-la falar, mesmo sabendo que aquilo tudo era uma bobagem. No entanto, Muriel percebeu sua inquietação.

    — Não se aflija, Claude. Eu vou, mas irei com a alma cheia de amor, pois foi assim que eu vivi todos esses anos ao seu lado. Quando eu pensei que viveria de modo artificial e superficial, você chegou e tomou conta de minha vida. Em todo o mundo, ninguém mais amou ou foi amada como eu. Tenho certeza disso. Tenho certeza de que nada do que vivemos será perdido. Preciso que você me diga que ficará bem e cuidará de minha filha.

    — Ela é nossa filha. E é claro que cuidarei dela, mas eu a verei amanhã e espero que você não venha me fazer tais recomendações novamente. Deixe-me sentar na cama, quero que durma hoje encostada em meu peito.

    A jovem condessa consentiu, e quando se encostou nele, murmurou:

    — Eu amo você e sempre o amarei!

    — Eu a amo mais — disse ele, e beijou a cabeça de sua amada, que já encostava em seu peito. — Agora durma, antes que comece a tossir.

    Por mais teimoso que fosse Claude, ele sabia que a morte era uma possibilidade para o estado de saúde de sua amada. Durante um ano tentaram de tudo para curá-la e nada dava resultado. Os médicos, inclusive, já a tinham desenganado.

    CAPÍTULO 2

    A partida…

    Acondessa Muriel possuía uma enorme beleza, era dona de um corpo atraente e muito vaidosa. Aos 14 anos, ainda uma menina, ficou noiva do conde Moustaki, um nobre atuante na política e personalidade de destaque internacional, que, após participar da guerra franco-prussiana, voltou muito doente e sequelado. Então, como agradecimento, foi-lhe dado, além de terras, o título de conde e um château em Aix, além do de Paris. Para encobrir sua moléstia

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