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Agora e sempre
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E-book322 páginas5 horas

Agora e sempre

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Sobre este e-book

Quando a arquiteta restauradora Leah Halliday adormece na cama que outrora pertenceu ao Rei Richard III, ela não faz ideia de que isso mudará a sua vida.


Quando ela acorda, o ano é 1485. Hugh Radcliffe, cavaleiro de confiança do Rei Richard, acredita que Leah é a sua noiva, Matilda, que ele nunca viu antes. Segundo os livros de história de Leah, Hugh foi executado por trair a Coroa, e por matar a sua primeira esposa.


Quando ela conhece Andrew Gilbert, outro viajante do século XXI, aprende que há mais nos crimes de Hugh do que se aparenta. Apaixonada por Hugh, Leah coloca a própria vida em risco para consertar as coisas e voltar para casa. Mas estará o seu amor destinado a transcender o espectro temporal?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de dez. de 2022
Agora e sempre
Autor

Diana Rubino

Visit me at www.dianarubino.com. My blog is www.dianarubinoauthor.blogspot.comand my author Facebook page is DianaRubinoAuthor.My passion for history has taken me to every setting of my historicals. The "Yorkist Saga" and two time travels are set in England. My contemporary fantasy "Fakin' It", set in Manhattan, won a Romantic Times Top Pick award. My Italian vampire romance "A Bloody Good Cruise" is set on a cruise ship in the Mediterranean.When I'm not writing, I'm running my engineering business, CostPro Inc., with my husband Chris. I'm a golfer, racquetballer, work out with weights, enjoy bicycling and playing my piano.I spend as much time as possible just livin' the dream on my beloved Cape Cod.

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    Agora e sempre - Diana Rubino

    CAPÍTULO 1

    Mansão Donington-le-Heath, Leicestershire, Inglaterra

    — Eu sei que já são cinco horas, mas quero continuar trabalhando. — Leah estava de pé dentro da lareira medieval, passando as mãos ao longo dos tijolos ásperos. — Não consigo parar até encontrar a passagem secreta e descobrir para onde ela leva.

    — Se alguém consegue encontrá-la, é você. — Sua colega, Viv, fechou o seu notebook. — Desculpa, Leah, mas estou exausta. É o seu aniversário, não pode parar mais cedo?

    — Estar aqui é o meu presente de aniversário. — Ela respirou profundamente, imaginando todos os antigos fogos que cozinharam refeições e aqueceram ossos gelados.

    — Tudo bem, então, até amanhã. — Viv sorriu para Leah e virou para ir embora — Você está tão imersa na história inglesa que parece que ela te consome.

    Viv estava certa, a história inglesa realmente a consumia desde que lera o romance Sarum, de Edward Rutherfurd, no qual o autor conta todo o percurso da história inglesa.

    Trabalhar na restauração de uma casa medieval é o sonho de todos que trabalham com preservação de patrimônio, e quando sua proposta foi aceita, foi como se ela ganhasse na loteria. Esse projeto permitiu que ela passasse o verão aqui, explorasse os locais históricos e bebesse hidromel nos mesmos bares que os soldados das Cruzadas.

    Além do charme rústico e passagens secretas, a mansão Donington-le-Heath, construída no século XIII, abrigava um artefato único: a cama do Rei Richard III. Nos tempos medievais, as pessoas importantes viajavam com suas próprias camas, consideradas como bens preciosos. A cama acompanhava o Rei Richard em todas as suas viagens; e na véspera de sua última batalha, ela esperou o rei que nunca retornou. E séculos depois, ela ainda o espera.

    Mas onde poderia estar essa passagem secreta? A resposta para isso não estava clara. De acordo com a lenda, a passagem começou como um esconderijo para hereges, mas proprietários posteriores a alongaram até que chegasse a algum lugar. Até aquele momento ninguém tentara achar a passagem. Ela esperava ser a pessoa que a encontrasse. A renovação era expansiva o suficiente para que ela pudesse procurar nos cantos esquecidos e achar a passagem escondida há cinco séculos.

    — Talvez esteja perto do chão. — Ela murmurou enquanto se abaixava e investigava os tijolos com as pontas dos dedos. Ela espirrou por causa do pó. Se movendo sobre os joelhos, ela cobriu a distância da lareira. Encontrou nada além de uma parede sólida, não estava lá dentro.Ela se levantou e limpou as mãos uma na outra, lutando contra a sensação de derrota. Ela teria mais duas semanas para trabalhar nessa casa, tempo suficiente para achar a passagem.

    Se dirigindo para o segundo andar, ela encontrou o curador na escada com uma pintura a óleo debaixo do braço.

    — Oi, Pete. O que temos aqui? Quer dizer, quem temos aqui?

    Ele apoiou a pintura no seu joelho.

    — O Museu de Leicester entregou, estava nos arquivos deles. É do final do Século XV.

    O homem na pintura usava trajes nobres da era medieval. Ela olhou em seus olhos cor de avelã gentis e confiantes, ele tinha um toque de divertimento nos lábios e um chapéu de aba enrolada no topo de seus cabelos que chegavam na altura dos ombros. Ele lembrava um pouco o finado marido dela, Matthew. A inteligência nos olhos, o cabelo ruivo escuro, o olhar intenso, o modo como ele a olhava quando dizia que a amava. O quadro conjurou emoções distintas: conforto, curiosidade e o luto. Ela deu um passo para trás.

    — Quem é ele?

    — De acordo com os registros do museu, seu nome é Hugh Radcliffe, conde de Sussex. Richard III o executou por trair a coroa. — Pete virou o quadro para poder ver. — Mas algumas fontes dizem que ele era inocente dos crimes e que ele foi incriminado por uma família galesa louca, os Griffins.

    Leah sentiu seu coração se partir por Hugh Radcliffe de quinhentos anos atrás.

    — Ah, sim, eu li sobre os Griffins. Também li sobre Hugh Radcliffe em alguns livros obscuros de história, sempre me perguntei se ele realmente era culpado ou se foi incriminado. Mesmo que seja verdade, ser decapitado é um modo horrível de morrer.

    — Essa era a pena por traição naqueles dias sombrios. — Pete respondeu em um tom sóbrio.

    — Desumano. — Ela estremeceu. — Vamos dar a ele o benefício da dúvida, já que não podemos ter certeza que ele era culpado. — Ela seguiu Pete pelo corredor até a câmara que exibia a cama do Rei Richard III.

    — Os executivos do Tesouro Nacional querem o quadro aqui por causa da conexão entre Radcliffe e o Rei Richard. — Pete procurou nas paredes pelo melhor lugar para pendurá-lo. — E se algum turista perguntar sobre o quadro quando vier ver a cama, eu posso contar a história.

    — Radcliffe tem algum descendente vivo? — Ela passou a ponta dos dedos sobre a estrutura esculpida da cama.

    — Não que alguém saiba, o único filho dele morreu na infância. — Pete começou a martelar um prego na parede mais distante. — Ah, e ele afogou a esposa em um lago no País de Gales.

    Surpresa com a informação, Leah conteve um suspiro.

    — Meu Deus. Ele foi incriminado por isso também? — Com o quadro pendurado e reto, ela estudou as feições masculinas de Hugh Radcliffe. Leah não conseguia imaginar ele fazendo algo tão abominável.

    — Quem sabe? Essa pode ser uma daquelas lendas que não podem ser comprovadas ou desmentidas. — Ele se virou para olhar para ela. — Como o Rei Richard ter assassinado os pequenos príncipes na Torre de Londres.

    Ela afastou a ideia com a mão.

    — Isso foi Shakespeare usando a licença poética para causar efeito dramático. Nunca acreditarei que é verdade.

    — Os fatos realmente ficam distorcidos depois de cinco séculos. — Ele sorriu e se afastou do quadro para o observar. — Esse camarada pode ter sido o cavaleiro mais gentil do reino.

    — E um dos mais bonitos — comentou ela, mas ela sabia que os quadros eram idealizados naquela época.

    Pete pegou seu celular do bolso e olhou para a tela.

    — Já está na hora de fechar, está pronta para encerrar o dia?

    — Vou trabalhar até mais tarde hoje — disse ela. — Não terminei ainda.

    E ela realmente não havia terminado. Ela queria ficar sozinha, para poder vagar pelas câmaras adornadas com mobília medieval, as tábuas desiguais rangendo por onde ela passava, com apenas a chama de uma vela para guiar o caminho. Ela queria assistir videos no YouTube para ver como as pessoas da era medieval falavam antes do inglês evoluir para o atual vernáculo e fala não afetada. Ela passava horas praticando esse hobby desde que fizera um curso online de inglês medieval.

    Pete entregou a chave mestre para ela e pediu que ela desligasse as luzes antes de ir embora.

    Ela acendeu uma vela e começou a sua jornada através da história. Passou pelo salão principal repleto de latas de tinta, escadas e lona cobrindo o chão de azulejos acobreados, ela maravilhou-se com as tapeçarias e as arandelas que ornamentavam as paredes. O vidro com painéis de diamantes que brilhavam como jóias nas sombras trêmulas. Eixos de luz do sol se esgueiravam pelas janelas curvas. No andar de baixo, na cozinha, uma mesa exibia elementos em estanho, simulando como a mesa estaria disposta na época. Ervas estavam penduradas das vigas do teto, suspendidas sobre a grande lareira com seus tijolos escurecidos e carbonizados. Um caldeirão de ferro fundido estava suspenso sobre uma pilha de lenha, no qual criações de todos os tipos um dia ferveram. Ao respirar fundo ela quase podia sentir o cheiro de carnes assadas e ervas cozidas de séculos atrás.

    O frio das pedras penetrava as meias em seus pés quando ela voltou a subir a escadaria estreita. Ao entrar na câmara que continha a cama do rei, ela se aproximou dela. Turistas vinham de todos os lugares para vê-la, mas, por ora, era toda dela.

    Ela olhou a moldura da cama, que estava em perfeito estado, e o compartimento secreto onde o Rei Richard guardara dinheiro. O presente e o passado se tornaram um enquanto ela tocava uma coluna esculpida. Uma corrente passou por ela, quase como se a cama estivesse eletrizada. Então, ela se lembrou de outro motivo para a cama ser uma grande atração; ela estava posicionada diretamente sobre uma Linha de Ley. Linhas de Ley eram linhas retas espalhadas por toda a Inglaterra; aparentemente, elas possuíam propriedades misteriosas relacionadas à energia da terra. Episódios estranhos aconteciam nas Linhas de Ley. Peregrinos se dirigiam a elas há milhares de anos procurando de tudo, desde cerimônias ritualísticas até curas milagrosas. Leah visitou diversos locais antigos construídos sobre Linhas de Ley, mas nada sobrenatural acontecera com ela. Ela certamente aceitaria uma ajuda sobrenatural naquele momento; a realidade não era algo que ela conseguia suportar no momento.

    Ah, deitar-se na cama na qual um monarca dormira séculos atrás…

    Ela a tentava, chamava por ela. ‘Vamos, deite-se!’

    Ela se inclinou e alisou a roupa de cama com os dedos, mas logo retirou a mão. ‘Não, é uma relíquia histórica, não tenho sequer o direito de a tocar.’

    Ela se afastou.

    ‘Mas que mal faria só por alguns minutos?’

    Avançando nas pontas dos pés, ela colocou o castiçal na mesa de cabeceira.

    Se sentindo como uma criança fazendo algo de errado, ela tirou as sandálias e sentou-se na cama.

    Ela nunca se atreveria a deitar em uma cama secular em uma casa histórica, ela seria presa se a pegassem e provavelmente deportada. Mas ela não conseguiu resistir a se conectar com a história da cama apenas por alguns minutos.

    Quando ela se recostou e apoiou a cabeça sobre um suporte, deixou a imaginação vagar. A velha cama acolheu-a na sua longa história, na essência de seu dono real. Ele deitara aqui, cansado da batalha, tomado pelo luto e com o fardo do seu reino conturbado. A fantasia a levou para épocas passadas: castelos de pedra envoltos em névoa, cavaleiros de armadura em cavalos de guerra com vestes coloridas, adagas e espadas… e Hugh Radcliffe, que agora a observava do outro lado do quarto. Ah, voltar àqueles tempos, apenas por um breve momento. Para esquecer que sua vida saíra do controle com a morte do seu amado Matthew, seu negócio à beira do fracasso, as contas acumulando…

    Como seria conversar com as pessoas do século XV… superar as barreiras linguísticas na medida em que os seus estudos lhe permitissem aclimar-se aos padrões peculiares e às vogais estranhas? Os olhos dela se fecharam e ela caiu em um sono sem sonhos.

    Palácio de Whitehall, Londres, 1485

    Hugh Radcliffe percorreu o corredor, seus passos ecoando nas pedras. Entrou nos aposentos reais, onde a sua noiva descansava na cama do Rei Richard. Ela adoecera durante a viagem até Whitehall, por isso, a deram a cama mais confortável aqui.

    Ele nunca a conhecera, mas todos diziam que Matilda, conhecida como Tille, mas ele preferia Matilda por não gostar muito de diminutivos, era muito bela. Ele já sabia que ela daria trabalho, pois tentara fugir pela janela. Por que as mais belas são sempre as mais problemáticas? Sua falecida esposa, Alice, não era nada bela, mas ele a amava, o que era raro nos casamentos. Tristeza o tomou por causa da memória, e ele diminuiu os passos.

    Ele amaria da mesma forma um dia?

    Ele duvidava. O amor verdadeiro existia uma vez na vida, se realmente existisse. Mesmo assim, ele jurou fazer essa união dar certo. Ele não teria muito tempo para cortejar Matilda, o casamento na igreja estava programado para acontecer em quinze dias.

    Quando ele se aproximou da câmara de audiências do rei, dois guardas estavam em frente à entrada, eles fizeram uma reverência e o deixaram entrar. Ao entrar, ele notou um jarro na mesa, foi até ele e serviu-se de cerveja, tomando tudo em apenas um gole. Ele abriu a porta para o quarto e entrou nas pontas dos pés. Velas brilhavam nos cantos, a luz da lua e o aroma do jardim entravam pela janela.

    Seu coração acelerou quando ele se aproximou da cama, com o tapete abafando seus passos. Uma forma estava debaixo das cobertas. Finalmente, sua noiva estava aqui, diante dele. Os olhos dele se acostumaram com a falta de luz, ele se encostou em uma das colunas e se inclinou para poder vê-la mais de perto.

    Ela estava deitada de lado. Os cabelos castanhos, descritos para ele tantas vezes, eram tão brilhantes quanto ele imaginou.

    Hugh se sentou na beira da cama e acariciou a bochecha dela. Ela se mexeu, abriu os olhos e seus olhares se cruzaram. Com um arfar áspero, ela colocou a mão no peito dele e o empurrou para longe.

    Ele se equilibrou na beira da cama, antes de cair. Hugh se levantou e se afastou com as mãos para o alto, as palmas viradas para ela.

    — Sinto muito ter te assustado. Não quero te machucar. Mas por que você me empurra de nossa cama?

    Ela procurou algo nos olhos castanhos dele, que estavam cheios de preocupação, os cabelos ruivos escuro caindo no colarinho.

    — Nossa cama? — O tom afiado dela cortou o silêncio.

    — Sim, — ele assentiu. — Essa é a cama do Rei Richard, mas é nossa no momento, de acordo com o contrato de casamento.

    Ela balançou a cabeça, com a respiração acelerada.

    — A cama do Rei Richard? Eu devo ter adormecido. — Ela tocou o hematoma acima de sua sobrancelha.

    — Você adoeceu… depois de cair — acrescentou ele… — Eu vim ver se está bem. Você é tão bonita quanto dizem.

    Ele estendeu a mão para tocá-la, mas ela recuou.

    — Quem diz? E por sinal, quem é você? — exigiu ela, seus olhos fixos nos dele.

    — Eu sou a razão pela qual você foi transportada para cá. — Ele pausou quando ela abriu a boca, seus olhos arregalados com choque. — Sou Hugh Radcliffe.

    Ela sentou repentinamente ao ouvir o nome.

    — Hugh? O homem do quadro? Ou você é o fantasma dele me visitando?

    Ele riu.

    — Eu realmente tive um quadro meu pintado. Mas não sou um fantasma. Estou tão vivo quanto você, minha querida. — Hugh se aproximou, talvez ela o deixaria abraçá-la para provar o quão real ele era.

    Ela se retesou, parecia estar com medo mortal dele.

    Ele lhe ofereceu a mão. A expressão dela se suavizou, mas o medo em seus olhos continuou presente.

    Ela balançou a cabeça como se não quisesse acreditar no que estava acontecendo. Ela olhou à sua volta para as cortinas, o teto e a lareira iluminada.

    — Esse não é o quarto onde caí no sono. — Com as mãos tremendo, ela puxou as cobertas para si. — Onde estou?

    — Está tudo bem, minha senhora. — Ele sorriu para ela. — Você adoeceu e desmaiou depois de cair, pelo que me disseram. Talvez você ainda esteja perturbada, mas você se lembra de tudo agora, não se lembra?

    Ele se aproximou dela e acariciou seu ombro. Ela pegou a mão dele e a removeu.

    — E me lembro de tropeçar, cair e depois deitar nessa mesma cama. Em Donington-le-Heath, não nesse quarto grande e frio. — Ela olhou ao redor novamente, claramente confusa. — Me sinto bem agora. Mas-mas você está certo, eu estou perturbada. Mas eu não adoeci, eu caí.

    — Você adoeceu durante a noite. Estava tremendo, com febre — explicou ele. — Pegou um resfriado depois de tentar fugir pela janela, talvez.

    —Você está errado. Não tentei fugir por nenhuma janela, e certamente não tive nenhum resfriado noite passada. Tudo que aconteceu foi que eu tropecei e caí. E você está no quarto errado. — Ela olhou novamente ao redor. — Não, eu estou no quarto errado! Estou aqui por acidente. Me deixe andar.

    — Tem certeza? — Ele se afastou enquanto ela se esforçava para levantar. — Devo te ajudar?

    — Não, não, eu posso fazer isso sozinha. — Ela agarrou o vestido. Para ele, o vestido mais parecia os resquícios de sua vida como camponesa. — Estou… hm… confusa agora. Me deixe olhar pela janela, preciso de ar.

    Ela empurrou ele para o lado e cambaleou para a janela antes que ele pudesse impedi-la. O vidro estava estilhaçado e várias das placas de diamante estavam vazias, certamente da noite passada, quando ela tentara fugir.

    — Meu Deus — lamentou ela.

    Ele correu para o lado dela, com medo que ela pulasse. Ela se virou e olhou para ele. A luz da lua e a suave oscilação do fogo iluminavam as feições dela.

    — Não estou aqui para te machucar.

    Ela virou-se, olhando pela janela. Ele aproximou-se por trás dela e olhou para fora, para a noite. As estrelas brilhavam como se uma princesa enfurecida lançara suas jóias para os céus. Os pontos de diamante dançavam, cada um um mundo distinto no céu de veludo. Uma brisa carregou o perfume de rosas.

    — Mas onde estou? — Ela correu a mão pelo batente da janela. — E como cheguei aqui? — Ela virou-se, absorvendo lentamente cada objeto — Essa não é a casa na qual dormi. Talvez aquela pancada na cabeça esteja me fazendo alucinar.

    — Você ficará bem — assegurou ele.

    Respirando fundo, ela perguntou:

    — Onde estamos?

    — No Palácio de Whitehall, no quarto do rei.

    — E, mesmo com medo de perguntar, em qual ano estamos? — perguntou ela, com cautela e hesitação.

    — Minha nossa, a febre a deixou tão atordoada? — Ele começou a temer pela sanidade dela. — Convocarei o médico real.

    — Não! — Ela declarou com força. Ela se dirigia assim a todos os homens, de forma tão obstinada? — Talvez amanhã, se eu ainda estiver aqui… hm… quer dizer, se eu ainda estiver… perturbada. Mas, por favor, apenas me responda, em qual ano estamos?

    — Mil quatrocentos e oitenta e cinco, é claro — disse ele, tentando mascarar a desconfiança em seu tom.

    — É claro. — Ela fechou os olhos e assentiu. — O ano do quadro. Mas o que estou fazendo no ano de mil quatrocentos e oitenta e cinco?

    — Acredito que precise de um médico. — Ele repetiu tão obstinado quanto ela dessa vez.

    — Só… — Ela ergueu uma mão. — Só me diga quem você é novamente.

    — Novamente, sou Hugh Radcliffe. — Por Deus, como ela poderia estar tão desorientada?

    — Hugh Radcliffe. O homem misterioso do quadro.

    — Não sou nada misterioso. — Ele riu. Um dos cavaleiros mais conhecidos do reino, e um dos amigos mais queridos do rei, todos sabiam que ele era. Nada sobre ele era segredo.

    — Minha boca parece estar cheia de areia. Preciso de uma bebida. — A voz dela falhou.

    Ele a guiou até a mesa de cavalete e despejou cerveja em uma caneca. Ela bebeu-a e cuspiu. Talvez eles não tivessem cerveja de tão boa qualidade na região dela.

    Hugh serviu-se de outra dose generosa e a estudou com uma mistura de admiração e confusão.

    — Sente-se melhor? — Ele tirou a caneca da mão dela.

    — Acho que sim, mas preciso saber como cheguei aqui. — Ela sentou em uma cadeira, seus olhos não paravam de vagar pelo aposento. A confusão a dominou quando tentou compreender a situação. No entanto, ela agradeceu as suas muitas horas de estudo e audição do discurso medieval pela sua capacidade de o compreender.

    — Eles a carregaram até aqui. — Ele ficou parado quando ela deslizou uma mão pela manga dele e pegou sua mão. Ele apertou a mão dela, tentando parecer convidativo, reconfortante. — Os guardas reais me disseram que você caiu, teve febre e calafrios. E que foi colocada para descansar nos apartamentos reais — explicou ele novamente. — Sua Alteza está neste momento em Westminster, em audiência, mas eu não pude permanecer afastado. Eu precisava ver minha noiva.

    — Espera… noiva? — Ela se levantou e segurou na mesa para manter o equilíbrio. — Meu Deus. Eu não sou sua noiva!

    — Sim, você é. Nos casamos esta manhã por procuração. — Ele disse com tanta certeza quanto quando lhe disse o ano. — Nossa cerimônia formal na igreja será em quinze dias.

    Ela balançou a cabeça.

    — Es-estou me sentindo fraca. Toda essa confusão… — Para a surpresa dele, ela colapsou nos seus braços. — Não vou voltar para casa? Nunca?

    Com uma agilidade treinada, ele a ergueu nos braços e se virou para sair do aposento. Ela se retesou em seus braços.

    — Onde vamos agora? Por favor, me deixe voltar para a cama. Talvez eu volte para casa se eu voltar a dormir.

    Ele entrou no corredor, quase colidindo com uma senhora idosa que segurava uma bengala.

    — O que está acontecendo, meu senhor? — ela disse. — Esta é uma hora imprópria para estar fazendo tanto barulho.

    — Estou apenas levando minha esposa para minha cama, Hester. Ela está perturbada depois de cair e ficar doente.

    A velha guinchou, sua bengala estalou no chão de pedra.

    — O que está fazendo, mulher? — Hugh gritou exasperado.

    — Me-meu senhor, essa não é… — gaguejou ela.

    Hester cambaleou até a parede mais distante e puxou uma tocha de sua arandela. Ela retornou com as chamas dançando atrás dela.

    Hugh depositou sua esposa no chão, mas manteve seu braço ao redor dela. Ele a sentiu tremer quando os pés tocaram as pedras. Hester apontou para ela com uma garra trêmula.

    — Meu senhor! Deve soltá-la de imediato! Essa não é a sua esposa!

    — Você não sabe de nada, Hester! — vociferou ele. — Seus próprios olhos não te reconheceriam em um espelho de tão cegos.

    A velha deu um passo cauteloso na direção de Leah, segurando a tocha alto.

    — Não é ela, certamente.

    Hugh soltou um suspiro através de dentes cerrados.

    — Você não sabe de nada, certamente.

    — Ela parece bastante saudável agora — balbuciou Hester. — Mas, noite passada, o ceifador a segurou nos braços, estava tão branca quanto o lençol no qual repousava, murmurando asneiras no escuro.

    — A-ha. Escuro. — Hugh assentiu — Você está vendo o que não existe. Quantas paredes pularam na sua frente e te bateram hoje?

    — Então essa moça teve uma recuperação milagrosa. Ainda ontem de manhã, ela estava magra e frágil como pergaminho. Agora parece ter treinado para guerra. — Ela gesticulou para Leah.

    Hugh se virou para sua futura esposa.

    — Eu sei que você não queria se unir a mim nesse casamento arranjado, minha querida, — disse ele — Mas prometo fazer valer a pena.

    Ele a viu tremer enquanto ela estudava as feições dele, os seus olhos atordoados projetando o brilho da luz de fogo.

    — Por favor, deixe-me deitar. Estou enjoada novamente. Essa corrente de ar penetrando estas paredes é de congelar a espinha. — Ela apertou os braços contra o peito.

    — Irei levá-la para os meus aposentos e pedirei ao médico que a atenda. — disse Hugh.

    — Espera… é melhor eu voltar para cama na qual me encontrou.

    — Para que? O rei vai querer usá-la quando retornar. Irei te transferir para meus aposentos. — Ele a ergueu nos braços novamente. Ela

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