Raio de Sol
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Sobre este e-book
O Visconde Frome está apaixonado e pretende casar-se com Claribell Stamford o mais rápido possível, com uma das mais destacadas beldades da sociedade londrina. Ela é jovem, bonita, charmosa e rica e na verdade ele a considera como a parceira perfeita. A única desvantagem, é que ele precisa da permissão de seu tio, o Duque de Alverstode, antes de a propor em casamento. O Duque, que é um homem mais cauteloso e experiente com as artimanhas de aspirantes a mulheres jovens, sugere ao sobrinho, uma visita à casa de Claribell para conhecer o seu pai, Sir Jarvis, o conhecido proprietário de cavalos de corrida. Assim, o Duque poderá conhecer melhor Claribell e seu pai e sossegar antes de recebê-la na sua ilustre família. Impressionado com a mansão de Stamford Towers, e ansioso para escapar da ofensiva do charme inebriante de Claribell e seu pai, o Duque não consegue se livrar do instinto de que algo está errado e permanece em guarda. Ele fica chocado ao descobrir que existe uma jovem triste, de nome Giona, que por ali anda sozinha observando o pôr do sol sobre os magníficos jardins. Ele fica surpreso ao descobrir que ela é sobrinha de Sir Jarvis, mas vive ali escondida como se de um "esqueleto no armário" se tratasse. Horrorizado com a sua descoberta, a história de maus tratos, fica intrigado com o mistério que a cerca. O Duque decide oferecer a Giona a sua proteção e jura descobrir o segredo da sua família e restaurar toda a sua fortuna. Mas Sir Jarvis, está igualmente comprometido em guardar os segredos de sua família fechados a sete chaves para sempre e não vai descansar em manter a sua reputação intacta. Dois homens determinados, ambos acostumados a fazer o que querem, mas só um deles pode vencer. Giona não imagina que o encontro casual com o Duque de Averstode resultará no seu resgate, salvando-a do seu odioso tio. Mas, para ela, o Duque é o seu Apolo, trazendo luz para o seu mundo, mas à medida que seu amor por ele cresce, Giona teme que ele se veja apenas, como o seu salvador, uma Espada da Justiça. Será que ela poderá ter esperança em encontrar o amor verdadeiro nos seus braços? Mais uma intrigante historia de Barbara Cartland que a deixará cativada até ao fim…
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Raio de Sol - Barbara Cartland
CAPÍTULO I
1819
O mordomo de Alverstode House, em Grovesnor Square, ficou admirado ao ver o Visconde Frome, saindo de seu faetonte, elegantemente vestido.
Sua admiração nada tinha a ver com a aparência de Sua Senhoria, pois era conhecida a ambição do Visconde em ser aclamado como um dos dez mais do Beau Monde.
O que surpreendia era o fato de o pupilo do Duque de Alverstode, de apenas vinte e um anos de idade, aparecer de manhã tão cedo.
Barrow bem sabia que, tal com o resto dos jovens modernos, o Visconde continuava a se levantar tarde e passar pelo menos duas horas se arrumando antes de aparecer em público.
Agora, quando o relógio sequer batera nove horas, o Visconde subia as escadas do imponente casarão.
—Bom dia, milorde!— saudou Barrow—, veio ver Sua Alteza?
—Não estou atrasado?— indagou o Visconde, ansioso.
—De maneira alguma, senhor. Sua Alteza voltou de seu passeio a cavalo há apenas dez minutos e está tomando o café da manhã.
Sem esperar para ouvir mais nada, o Visconde atravessou o majestoso vestíbulo de mármore e foi até a sala que dava para o jardim, na parte de trás da casa.
O Duque de Alverstode estava, como de costume, sentado numa mesa junto à janela, com o Times apoiado sobre um pequeno cavalete de prata, servindo-se de um lauto café da manhã.
Assim que o Visconde entrou, o Duque encarou-o com a mesma expressão de surpresa que o jovem lera no rosto do mordomo.
—Bom dia, primo Valerian— cumprimentou o Visconde.
—Deus do céu, Lucien!— exclamou o Duque—, o que o traz aqui a esta hora da manhã? Será que foi desafiado para um duelo, para se ter levantado tão cedo?
—Não, claro que não!— respondeu o rapaz, imediatamente, antes de perceber que seu tutor estava brincando.
Sentou-se do outro lado da mesa e ficou em silêncio. O Duque percebeu que seu pupilo estava nervoso.
—Se não é um duelo— comentou, depois de servir-se de uma costeleta de carneiro—, então o que pode estar preocupando você?
Silêncio novamente, até que o Visconde disse abruptamente:
—Estou apaixonado!
—Outra vez?— exclamou o Duque, parando de comer.
—Desta vez é diferente!— explicou o Visconde—, sei que julguei muitas vezes estar apaixonado antes, mas agora é muito, muito diferente, mesmo.
—Por que é diferente?— indagou o Duque.
O tom em que formulou a pergunta fez com que o Visconde olhasse para ele com apreensão.
O tutor, apesar de ser um homem muito atraente, era pessoa que intimidava e não havia ninguém no Beau Monde que não tratasse o Duque de Alverstode com grande respeito.
Até mesmo as mulheres que andavam atrás dele, e não eram poucas, quando se confidenciavam umas com as outras, admitiam ter receios de se aproximarem dele.
O próprio Regente acatava a opinião do Duque e raramente o contradizia.
—Quero me casar com Claribell— anunciou o Visconde, depois de alguns instantes—, mas você me fez jurar que não pediria ninguém em casamento sem ter primeiro sua autorização.
—Uma precaução muito sensata da minha parte— comentou o Duque, secamente—, não acredito que tivesse sido feliz se o tivesse deixado casar-se com a filha daquele professor que virou sua cabeça, quando estava em Oxford, ou com aquela dançarina que você garantia ser o amor de sua vida.
—Eu era muito jovem naquela época— respondeu o Visconde rapidamente.
—E agora não é muito mais velho— lembrou o Duque.
—Tenho idade suficiente para saber o que quero!— retorquiu o Visconde—, sei que vou ser loucamente feliz com Claribell e pelo menos você não vai poder dizer que ela é vulgar, como dizia de todas as outras senhoras por quem estivesse interessado.
O Duque arqueou as sobrancelhas.
—Senhoras?— perguntou sarcasticamente.
—Pense o que quiser— disse o Visconde com petulância—, não eram tão vulgares quanto você dava a entender. De qualquer maneira, agora com Claribell você não vai querer cortar o meu dinheiro, porque ela tem fortuna própria.
—Já não é nada mau— aquiesceu o Duque—, mas conte-me mais sobre essa moça que aprisionou seu vacilante coração.
O Visconde nem precisou de mais encorajamento. Inclinando-se para a frente, com os cotovelos em cima de mesa, começou:
—Ela é linda, tão linda que me fez pensar que desceu do Olimpo. E me ama! Você acredita? Ela me ama por aquilo que sou!
A expressão do Duque estava mais cínica do que nunca, pensando em quantas mulheres já se tinham apaixonado por seu pupilo e certo de que ainda haveria muitas mais.
O pai do Visconde era um primo afastado, que fora morto em Waterloo. Fora um choque não muito agradável para o Duque, descobrir que se tinha tornado tutor do filho dele.
O testamento do último Visconde Frome tinha sido feito alguns anos antes, quando o próprio pai do Duque ainda era vivo.
Estava escrito que, se alguma coisa lhe acontecesse, enquanto estivesse servindo no Exército de Wellington, seu filho e mais algum que viesse a ter ficariam sob a tutela do Duque de Alverstode.
O atual Duque julgava um descuido muito grande, por parte dos advogados, terem elaborado o testamento do primo, omitindo o nome de seu pai como o terceiro Duque de Alverstode e, consequentemente, futuro tutor dos filhos do Visconde de Frome.
Esse pequeno detalhe teria permitido que o atual Duque passasse a tarefa de cuidar do jovem Lucien a outra pessoa da família.
Agora, porém, tudo o que tinha a fazer era tentar impedir que o rapaz fizesse um casamento desastroso.
Todas as moças que haviam despertado o interesse do Visconde, até aquele momento, eram, sob o ponto de vista social, absolutamente inaceitáveis.
As duas jovens que Lucien mencionara, não haviam sido as únicas, recordava o Duque. Houvera também uma viúva, interessada em obter uma boa situação social; era uma senhora muito mais velha que seu pupilo e sonhava em tornar-se Viscondessa.
Houvera ainda outra, de virtude duvidosa, que tentara fazer um escândalo quando tudo acabara, mas que, afinal, se calara ao receber uma generosa quantia em moedas de ouro.
—Seus elogios a essa misteriosa criatura são comoventes— disse o Duque, brincalhão—, mas você esqueceu de dizer-me o nome de tal beldade.
—É Claribell Stamford— disse o Visconde, arrebatadoramente.
O Duque ficou tentando se lembrar onde ouvira esse nome.
—Stamford!— exclamou ele, passado um momento—, não me diga que é da família de Sir Jarvis Stamford, o proprietário de cavalos de corrida?
—Ela mesma— assegurou o Visconde—, sabia que você se recordaria do pai dela. Ele possui cavalos excelentes. Se não me falha a memória, um de seus cavalos perdeu para o dele, no ano passado em Cambridgeshire.
—Por puro acaso— comentou o Duque, na defensiva. Depois deu uma risada e acrescentou—, lembro-me de como Stamford ficou satisfeito por ter-me vencido.
—Mas isso não é razão para você ficar contra a filha dele— protestou o Visconde.
—Eu não disse que estava contra— retorquiu o Duque.
—Então vai me deixar casar com ela?— perguntou o Visconde, muito ansioso.
O Duque ficou calado.
Estava pensando que, aos vinte e um anos, Lucien era ainda muito jovem, inexperiente e na sua opinião, tão cabeça oca quanto qualquer colegial.
Era muito rebelde também e, na opinião de muita gente, levava uma vida desregrada.
Não que o Duque o condenasse por isso. Era o normal para qualquer jovem: uma vez que não estavam em guerra, eles tinham que exteriorizar suas energias, não importando a quem pudessem prejudicar.
O Duque tinha a impressão de que Claribell, ou lá como se chamasse a última ninfa de Lucien, não seria uma esposa melhor que as outras todas por quem ele se tinha interessado antes.
Estava pensativo e o Visconde olhava para ele, inquieto, até que não resistindo mais, ameaçou:
—Se você me negar a autorização para cortejar Claribell, primo Valerian, juro que vou convencê-la a fugir comigo e que se danem as consequências!
O Duque ficou irritado.
—Se ela for o tipo de moça que você deve desposar e a quem eu aprovaria, ela mesma vai se recusar a cometer semelhante loucura!
Fez uma pausa antes de acrescentar:
—Nenhuma garota decente e que saiba se comportar corretamente vai querer considerar a hipótese de fugir e de se casar por aí de qualquer maneira. Você está apenas tentando chantagear alguém que se interessa pelo seu bem.
O Visconde recostou-se na cadeira, com um ar de dignidade ofendida.
—Tenho vinte e um anos e pensei que me fosse permitido agir como um homem e não como uma marionete amarrada nas fitas do seu avental.
O Duque fez um trejeito com a boca.
—Uma metáfora um pouco confusa, meu caro Lucien— disse ele—, mas dá para entender.
—Você me trata como se ainda usasse fraldas— queixou-se o Visconde.
—Estranho que pense assim— retorquiu o Duque—, estou apenas pensando nos seus interesses. Tenho que admitir que essa miss Stamford me parece ser melhor que as candidatas anteriores.
Um brilho novo apareceu nos olhos do Visconde.
—Então você vai considerar o meu pedido?
—Evidentemente!— assegurou o Duque.
O jovem se debruçou de novo na mesa, ansiosamente.
—É melhor você conhecer Claribell e então vai entender por que quero que ela seja minha esposa.
—Era exatamente o que eu ia sugerir— disse o Duque—, sempre achei que o melhor lugar para se conhecer as pessoas é em sua própria casa, no seu ambiente habitual.
—Você quer dizer...?— começou o Visconde, hesitante.
—Sugiro que você peça a Sir Jarvis que nos convide a ficar com ele por um ou dois dias.
—No campo?— indagou Lucien.
—Sobretudo no campo!— afirmou o Duque.
—Não entendo por que esse detalhe é tão importante, primo Valerian.
—Acha que tenho que explicar?— perguntou o Duque—, pensei que as minhas razões fossem evidentes.
—Sir Jarvis tem uma casa em Londres e Claribell gosta de participar dos bailes que estão havendo no momento.
—Claro que deve gostar— retorquiu o Duque—, e como você dança muito bem, devo imaginar que ela o considera o par perfeito.
Aquelas palavras não soaram como elogio e o Visconde, que se orgulhava de ser um ótimo dançarino, corou, ressentido.
—Se eu sugerir uma visita à casa de campo e Sir Jarvis não quiser sair de Londres, o que devo fazer?— indagou o jovem, por fim.
—Creio que Sir Jarvis sentir-se-á honrado em me receber— comentou o Duque—, mas, se por acaso, pretender adiar um pouco esse convite, então, meu caro Lucien, você terá que esperar.
Pela firmeza com que o Duque fez aquela afirmação, ficou claro que não adiantava discutir mais.
O Visconde, no entanto, estava preocupado com a ideia de Claribell não querer sair de Londres, onde gostava tanta de estar.
O Duque podia ler os pensamentos do primo e, pegando o Times, começou a folheá-lo, enquanto sorvia seu café sem se importar mais, aparentemente, com o jovem Visconde.
Lucien permaneceu em silêncio por algum tempo e depois disse, com hesitação:
—Primo Valerian, acho que devo lhe agradecer por não se ter negado a fazer o que lhe pedi. Tenho a certeza de que, quando conhecer Claribell, compreenderá o que sinto por ela.
—Certamente— respondeu o Duque.
Acabou de tomar