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Evolução de Filosofia: Dos pré-socráticos aos pós-kantianos
Evolução de Filosofia: Dos pré-socráticos aos pós-kantianos
Evolução de Filosofia: Dos pré-socráticos aos pós-kantianos
E-book281 páginas9 horas

Evolução de Filosofia: Dos pré-socráticos aos pós-kantianos

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ÍNDICE

DESDE OS PREFÁCIOS DO AUTOR ATÉ ÀS VÁRIAS EDIÇÕES

PARA ORIENTAÇÃO NAS ORIENTAÇÕES DA EXPOSIÇÃO

AS VISÕES DE MUNDO DOS PENSADORES GREGOS

A VIDA DO PENSAMENTO DESDE O INÍCIO DA ERA CRISTÃ ATÉ JOHN SCOTUS OU ERIGENA

VISÕES DE MUNDO NA IDADE MÉDIA

VISÕES DO MUNDO NA ERA MODERNA DA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO

A IDADE DE KANT E GOETHE

OS CLÁSSICOS DO MUNDO E DA CONCEPÇÃO DE VIDA

VISÕES REACCIONÁRIAS DO MUNDO

VISÕES RADICAIS DO MUNDO
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de set. de 2021
ISBN9791220849357
Evolução de Filosofia: Dos pré-socráticos aos pós-kantianos
Autor

Rudolf Steiner

Nineteenth and early twentieth century philosopher.

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    Evolução de Filosofia - Rudolf Steiner

    DESDE OS PREFÁCIOS DO AUTOR ATÉ ÀS VÁRIAS EDIÇÕES

    (1914)

    Você não vai encontrar neste livro muitas coisas que você esperaria em uma história de filosofia. O que me interessava, porém, não era tanto a exposição de todas as opiniões filosóficas, mas a descrição do desenvolvimento dos problemas filosóficos. Para uma tal descrição, não é necessário expor uma opinião filosófica que surge na história, quando a essência desta opinião foi caracterizada noutra correlação.

    (1918)

    Gostaria de acrescentar algumas palavras sobre um problema que mais ou menos conscientemente se apresenta à alma de qualquer pessoa que leia um livro como este. É o problema da relação entre o estudo filosófico e a vida imediata. Todo pensamento filosófico que não é postulado pela vida está condenado à esterilidade, mesmo que durante algum tempo possa atrair o homem que ama refletir. O pensamento fecundo deve estar enraizado nos processos de evolução que a humanidade teve de atravessar no decurso do seu desenvolvimento histórico. E quem quiser expor, de qualquer ponto de vista, a história da evolução do pensamento filosófico, deve partir de um pensamento imposto pela vida. Devem ser os conceitos que, quando traduzidos na conduta da vida humana, dão vigor ao ser humano, guiam o seu intelecto e podem dar-lhe conselhos e ajuda em todas as tarefas impostas à sua natureza. Os sistemas filosóficos ao redor do mundo surgiram porque a humanidade precisa de tais conceitos. Se pudéssemos dirigir nossas vidas sem eles; nunca um homem estaria verdadeiramente, intimamente autorizado a pensar sobre os enigmas da filosofia. Uma época que não admite tal forma de pensar só mostra que não sente a necessidade de moldar a vida humana de tal forma que parece conformar-se em todos os pontos às suas múltiplas tarefas. Mas esta aversão tem a sua vingança no curso da evolução humana. A vida é entristecida em tais épocas. E as pessoas não se dão conta disso porque não querem saber nada sobre as necessidades que residem nas profundezas da sua alma e que não as deixam satisfeitas. A época seguinte torna esta insatisfação mais visível. Os netos, no seu modo de vida empobrecido, encontram as consequências da negligência dos seus antepassados. A negligência da época anterior determinou a vida imperfeita da época que se segue e na qual estes netos são colocados. A filosofia deve ser parte de toda a vida; pode-se pecar contra isso, mas o pecado deve necessariamente produzir seus efeitos. Só se pode compreender o processo de evolução do pensamento filosófico, o aparecimento dos enigmas da filosofia, quando se compreende qual é a tarefa da contemplação filosófica do mundo na criação de uma essência completa e plena da humanidade. Inspirado por este sentimento, escrevi meu trabalho sobre a evolução dos enigmas da filosofia. Tenho tentado provar, através da exposição deste processo, de forma evidente, que este sentimento é intimamente justificado. A contemplação filosófica deve ser uma necessidade vital e, no entanto, o pensamento humano, à medida que evolui, não nos proporciona uma única solução, mas sim soluções múltiplas e aparentemente totalmente contraditórias para os enigmas da filosofia. Muitas reflexões históricas gostariam de explicar estes importantes contrastes com uma representação inteiramente externa. Mas eles não são convincentes. Se alguém quer encontrar a verdade, tem de levar esta evolução muito mais a sério do que normalmente leva. É preciso chegar à conclusão de que não pode haver um único pensamento que possa resolver todos os enigmas do mundo ao mesmo tempo. Em vez disso, no pensamento humano, cada ideia descoberta rapidamente se torna um novo quebra-cabeças. E quanto mais importante a idéia, mais luminosa ela é para uma determinada época, mais enigmática e duvidosa ela se torna para a próxima época. Quem quiser examinar a história do pensamento humano de um ponto de vista conforme à verdade, deve admirar a grandeza da idéia de uma época e, ao mesmo tempo, ser capaz de ver, com o mesmo entusiasmo, essa idéia se revelar incompleta numa época posterior. Ele também deve ser capaz de pensar que o modo de representação no qual ele se expressa será substituído por outro no futuro. E esse pensamento não deve impedi-lo de reconhecer plenamente a retidão da contemplação a que chegou. A disposição da mente que imagina que os conceitos imperfeitos do passado são abolidos pelos pensamentos perfeitos que vêm à luz no presente é imprópria para compreender a evolução filosófica da humanidade. Tentei compreender o processo de desenvolvimento do pensamento humano, compreendendo o significado do fato de que uma época está em contraste filosófico com a anterior. O que as idéias trazem tal entendimento foi dito nas explicações introdutórias. As ideias são tais que devem necessariamente provocar uma oposição múltipla. No primeiro exame, eles aparecerão como se tivessem vindo até mim de uma só vez no espírito e como se eu tivesse desejado, por meio deles, perturbar fantasticamente toda a maneira de expor a história da filosofia. Só espero que o leitor reconheça que estas ideias não foram primeiro moldadas e depois impostas ao estudo da evolução filosófica; elas foram adquiridas da forma como o naturalista descobre as leis das suas ciências. Eles derivam da observação da evolução do pensamento filosófico. E não se tem o direito de rejeitar os resultados da observação, porque entram em conflito com representações que se acredita serem corretas, porque correspondem a certas inclinações do pensamento, mas que não são justificadas pela observação. A superstição - pois tais representações nada mais são do que isto - de que na evolução histórica da humanidade não pode haver forças que se revelem numa determinada época de uma forma particular, e que dominem, de forma conforme à razão e à lei, a evolução do pensamento humano, opor-se-á à minha exposição. Mas isto foi-me imposto, porque a observação desta evolução me tinha provado a existência de tais forças, e porque essa mesma observação me provou que a história da filosofia só se torna uma ciência quando não tem medo de reconhecer tais forças. Parece-me que só se pode tomar uma posição frutuosa no presente, diante dos enigmas da filosofia, se se conhecem as forças que dominaram estas épocas passadas. E ainda mais do que em qualquer outro ramo do estudo histórico, na história do pensamento a única possibilidade é deixar o presente brotar do passado. Ao se agarrar as próprias idéias que correspondem às necessidades do presente, encontra-se o início dessa forma de ver as coisas que lançam uma verdadeira luz sobre o passado. Para aqueles que não conseguem alcançar uma visão de mundo que corresponda verdadeiramente às forças que impulsionam a nossa era, o significado da vida espiritual do passado também lhes escapa. Não desejo aqui resolver a questão de saber se nos outros campos da investigação histórica pode haver uma dissertação frutuosa que não se baseie numa visão das condições actuais. No campo da história do pensamento, tal exposição será necessariamente estéril. Aqui o objeto de estudo e a vida imediata devem estar em relação direta. E a vida, na qual o pensamento se torna a prática da vida, só pode ser a vida presente. Com esta introdução, gostaria de ter dado a conhecer os sentimentos dos quais nasceu esta dissertação sobre os enigmas da filosofia.

    (1923)

    No presente livro, coloquei-me a tarefa de trazer à luz o que nas concepções do mundo, moldado no curso da história, se apresenta de tal forma ao observador actual que o seu próprio sentimento, quando vê os enigmas filosóficos apresentados à sua consciência, é aprofundado pelo sentimento experimentado perante ele por pensadores anteriores face a esses enigmas. Tal aprofundamento tem algo de satisfatório para o investigador de filosofia. O esforço de sua alma se torna mais intenso, pois ele vê as formas que essa aspiração assumiu em seres humanos aos quais a vida deu pontos de vista semelhantes ou não aos seus. Desta forma quis ser de alguma utilidade para aqueles que precisam, para completar seu pensamento, de um quadro da evolução da filosofia. Aqueles que, seguindo o caminho do próprio pensamento, desejam sentir-se em uníssono com o trabalho espiritual da humanidade. exigem um tal complemento. Ele o exige quem deseja que seu trabalho conceitual brote de uma necessidade geral, humana, da alma. Ele pode ver isso quando o essencial dos sistemas que procuram explicar o mundo são apresentados a seus olhos. Para muitos estudiosos, porém, esta visão tem algo de opressivo. Dúvidas se infiltram em suas almas. Eles vêem pensadores sucessivos em desacordo tanto com os seus antecessores como com os seus continuadores. Eu gostaria que a minha representação fosse tal que dissipasse esta impressão e a substituísse por outra. Vamos examinar dois pensadores. No início, o contraste entre eles é doloroso. Mas vamos examinar o seu pensamento de perto. Vê-se que um considera um domínio do mundo totalmente diferente do considerado pelo outro. Suponhamos que neste último se tenha desenvolvido a disposição da alma que volta sua atenção para a forma em que o pensamento é criado no processo íntimo da própria alma. Para ele, o enigma está no fato de que esse processo interno da alma deve agir, de forma decisiva, sobre a essência do mundo exterior, reconhecendo-o. Este ponto de partida dá um colorido especial a todos os seus pensamentos. Ele vai se expressar de uma maneira poderosa sobre o pensamento criativo. Tudo o que ele disser será colorido de forma idealista. Outro dirige o seu olhar para os fenómenos externos, que caem sob os sentidos. Os pensamentos pelos quais ele afirma e reconhece este processo não penetram na sua consciência com força independente. Ele dará ao enigma do mundo uma forma tal que o faça encaixar num círculo em que as próprias raízes do mundo se infiltram no mundo da sensibilidade e da memória. Com a hipótese da evolução histórica da concepção do mundo que resulta de tal orientação do pensamento, podemos superar o que há de negativo nessas concepções e ver como elas se sustentam umas às outras.

    Foi nesta base que foi construído o esboço da minha dissertação. Eu não queria esconder as contradições que podem ser vistas na evolução do mundo, mas também queria mostrar o que, mesmo nas contradições, tinha algum valor. Se o positivo é destacado neste livro e não o negativo, só posso ser culpado por aqueles que não conseguem ver como essa percepção do positivo é frutuosa.

    O meu método de expor visões individuais do mundo tem origem na minha orientação para a contemplação espiritual. Aquele que só quer fabricar teorias sobre o espírito nunca precisará se mover para a mentalidade de um materialista. Ele só precisa expor todas as acusações legítimas que podem ser feitas contra o materialismo e apresentar este sistema de pensamento de forma a revelar os seus lados injustificados. Aquele que quer alcançar a contemplação espiritual não pode proceder desta forma. Com o idealista, ele terá que pensar idealisticamente, com o materialista, materialisticamente. Só assim a capacidade será despertada em sua alma, que se expressará então na contemplação espiritual. Também se poderia observar que com tal tratamento, o conteúdo de um livro perde a sua unidade. Esta não é a minha opinião. Quanto mais se deixa falar as próprias aparições, mais fiel é à verdade histórica. Combater o materialismo ou caricaturar não pode ser a tarefa de uma exposição histórica. Tem a sua própria legitimidade limitada. Não se segue um caminho falso se se representa materialisticamente o processo das relações materiais neste mundo. Só são enganados aqueles que não reconhecem que, ao traçar relações materiais, se leva à contemplação do espírito. É um erro supor que o cérebro não é a condição do pensamento que estuda o que cai sob os sentidos; mas é outro erro pensar que o espírito não é o criador do cérebro pelo qual se revela no mundo físico como o criador do pensamento.

    PARA ORIENTAÇÃO NAS ORIENTAÇÕES DA EXPOSIÇÃO

    Se se tenta investigar o trabalho espiritual realizado pelo homem em busca de uma solução para os enigmas do mundo e os problemas da vida, a alma estudiosa é forçada a recorrer repetidamente às palavras, escritas como lema no templo de Apolo: Conhece-te a ti mesmo. O facto de a alma humana, quando confrontada com estas palavras, sentir uma certa impressão, é o fundamento para compreender um conceito do mundo. A essência de um organismo vivo implica a necessidade de que ele sinta fome; a essência da alma humana, tendo atingido uma certa fase do seu desenvolvimento, gera uma necessidade semelhante. Isto se expressa na necessidade de pedir à vida um bem espiritual que corresponda, como o alimento à fome, à necessidade interior do espírito: Conhece-te a ti mesmo. Esta impressão pode atingir a alma de tal forma que ela pensa: não sou um ser humano no verdadeiro sentido da palavra se não posso forjar em mim mesmo uma relação com o mundo que tem conhece a ti mesmo como seu caráter fundamental. A alma pode até vir a considerar essa impressão como um despertar do sonho de vida em que estava imersa antes de ser despertada pela experiência acima referida. No primeiro período de sua vida, o homem se desenvolve de tal maneira que o poder da memória cresce dentro dele, por meio do qual mais tarde ele se lembra de suas experiências até um certo momento de sua infância. O que ele era antes deste momento, ele sente como um sonho de vida, a partir do qual foi despertado. A alma humana não seria o que deveria ser se essa força de memória não saísse das impressões sombrias da infância. Do mesmo modo, a alma humana, numa fase posterior da existência, pode pensar na experiência expressa nas palavras: Conhece-te a ti mesmo. Pode sentir que uma vida animada que não tenha sido despertada pelo sonho através desta experiência não corresponde às suas disposições. Os filósofos têm insistido muitas vezes que ficam muito embaraçados quando têm de definir o que é filosofia, no verdadeiro significado da palavra. É certo, porém, que nela devemos reconhecer uma forma particular de cumprimento desta necessidade da alma que nos dá o comando: Conhece-te a ti mesmo. E podemos conhecer essa necessidade humana tal como sabemos o que é a fome, embora talvez ficássemos muito envergonhados se tivéssemos de dar uma explicação satisfatória sobre a fome. Um pensamento semelhante vivia na alma de J.G. Fichte quando ele disse que o tipo de filosofia que cada homem escolhe para si mesmo depende do tipo de homem que ele é. Animados por estes pensamentos, podemos examinar as tentativas que foram feitas ao longo da história para encontrar soluções para os enigmas da filosofia. Nessas conjecturas, veremos revelações da essência humana. Pois embora o homem se esforce para silenciar completamente seus interesses quando fala como filósofo, mesmo em uma filosofia, aparece imediatamente o que a personalidade humana pode se tornar, uma mercadoria a expansão de suas próprias forças originais. Visto sob esta luz, o estudo das criações filosóficas pode elevar certas expectativas sobre os enigmas do mundo. Podemos esperar derivar deste estudo alguns dados sobre o caráter do desenvolvimento da alma humana. E o autor deste livro acredita ter encontrado tais dados ao atravessar os sistemas filosóficos do Ocidente. Na evolução do esforço humano para a filosofia, apareceram-lhe quatro épocas claramente distintas; e as diferenças entre essas épocas pareciam-lhe tão características quanto as que dividem as espécies em cada reino da natureza. Este fato o levou a reconhecer que a história da evolução filosófica da humanidade demonstra a presença de impulsos espirituais objetivos, independentes dos homens, que se desenvolvem ao longo do tempo. E o que os homens criam como filósofos aparece como a manifestação da evolução desses impulsos, que atuam sob a superfície da história externa. A convicção de que tal resultado decorre da consideração sem preconceitos dos fatos históricos como lei natural do exame dos fatos naturais é convincente. O autor deste livro não acredita que se tenha deixado tentar por um preconceito em direção a uma reconstrução arbitrária da evolução histórica. Mas os factos obrigam à admissão de tais resultados. No processo evolutivo do esforço filosófico da humanidade é possível distinguir épocas, cada sete ou oito séculos, em cada uma das quais reina, sob a superfície da história externa, um outro impulso espiritual, que irradia de certa forma em personalidades humanas e cuja evolução determina a do pensamento filosófico. A evidência factual a favor desta distinção de épocas será evidente a partir do próprio livro. O autor deseja, na medida do possível, deixar que os fatos falem por si mesmos. Aqui, porém, algumas diretrizes devem ser traçadas que não determinaram as considerações a partir das quais este livro se originou, mas resultaram delas. Poder-se-ia pensar que estas orientações teriam sido melhor colocadas no final do livro, uma vez que apenas o conteúdo da nossa exposição prova a sua verdade. Em vez disso, quisemos colocá-los de antemão como um aviso preliminar, porque eles legitimam a estrutura interna da exposição. Embora para o autor tenham sido o resultado de sua investigação, naturalmente se apresentaram à sua mente antes da exposição e a regulamentaram. Para o leitor pode ser de alguma importância saber, não só no final do livro, porque é que o autor representa as coisas de uma certa maneira, mas poder já, durante a sua leitura, formar um juízo sobre este caminho de acordo com os pontos de vista do autor. Mas apenas o que se refere à articulação íntima das deduções deve ser exposto aqui. A primeira época na evolução das concepções filosóficas começa com a antiguidade grega. Pode ser traçado histórica e distintamente até Ferecides de Syrus e Thales de Miletus, e termina com o período em que o cristianismo apareceu. O esforço espiritual da humanidade nesta época assume um caráter essencialmente diferente do de outros tempos. É a época da vida intelectual que desperta. Antes, a alma vivia em representações figurativas (simbólicas) do mundo e do ser. Por mais que se tente ouvir aqueles que querem ver a vida do pensamento filosófico já desenvolvida na era pré-helénica, o estudo sem preconceitos não o permite. A filosofia autêntica, expressa sob a forma de pensamentos, deve nascer na Grécia. O que nas reflexões sobre o mundo, no Oriente e no Egito, era semelhante ao elemento do pensamento, não era - se considerado com precisão - pensamento verdadeiro, mas imagem, símbolo. Na Grécia nasceu o esforço para reconhecer as correlações do mundo por meio do que hoje chamamos de pensamento. Enquanto a alma humana representar fenômenos cósmicos em imagens, sente-se intimamente ligada a eles; sente-se um membro do organismo cósmico, não pensa em si mesma como uma entidade independente, separada deste organismo. Quando o pensamento sem imagens desperta na mente, ele sente a separação entre o mundo e a alma. O pensamento torna-se o seu educador para a independência. Mas as experiências gregas pensavam de forma diferente do homem de hoje. Este é um facto que pode ser facilmente negligenciado. No entanto, deve ser levado em conta para uma visão precisa do pensamento grego. O grego sente o pensamento como nós sentimos uma percepção hoje, como sentimos a sensação de vermelho ou amarelo. Assim como atribuímos uma sensação de cor ou som a um 'objeto', assim o grego vê o pensamento no mundo dos objetos e aderindo a ele. O pensamento deste tempo ainda é, portanto, o laço que une a alma ao mundo. A separação entre a alma e o mundo ainda não está completa, está apenas começando. A alma experimenta o pensamento em si mesma, mas ainda imagina que o recebeu do mundo e por isso espera, através do processo do pensamento, descobrir os enigmas do mundo. É sob tais condições que se dá a evolução filosófica que começou com Ferecides e Tales, chega ao seu apogeu com Platão e Aristóteles, e depois declina até chegar ao fim na época da fundação do cristianismo. Das profundezas da evolução espiritual, a vida do pensamento flui para as almas humanas e dá origem a filosofias que as educam a sentir a sua independência face ao mundo exterior. Na época do nascimento do cristianismo, uma nova era começa. A alma humana não pode mais sentir o pensamento como uma sensação causada pelo mundo exterior. Sente o pensamento como uma criação do seu próprio ser íntimo: um impulso, muito mais poderoso que a vida conceitual, irradia nas almas a partir das profundezas da evolução espiritual. A autoconsciência é agora despertada na humanidade de uma forma que corresponde à natureza dessa autoconsciência. O que os homens experimentaram até agora foi apenas o pródromo do que pode ser chamado, no seu sentido mais pleno, de autoconsciência experimentada interiormente. Pode esperar-se que um estudo futuro da evolução do espírito dê a esta época o nome de despertar da autoconsciência. Só então, pela primeira vez, o homem sente toda a extensão da sua vida de alma como eu, no verdadeiro sentido da palavra. Toda a importância deste fato é obscurecida, mais do que sentida de forma consciente, pelos espíritos filosóficos desta época. A filosofia demonstra esse caráter até Scotus Erigena (falecido em 880 d.C.). Os filósofos desta época mergulharam os seus pensamentos filosóficos na representação religiosa. Através desta representação, a alma humana, que na sua nascente autoconsciência se vê colocada inteiramente sobre si mesma, adquire uma consciência da sua incorporação na vida do organismo mundial. O pensamento se torna um meio simples de expressar a concepção, extraída de fontes religiosas, da relação entre a alma humana e o mundo. A vida de pensamento, enquadrada nesta concepção, alimentada por representações religiosas, cresce como o broto na terra até surgir. Na filosofia grega, a vida do pensamento explica suas forças, guia a alma humana até que ela perceba sua independência. Então irrompe, das profundezas da vida do espírito, uma manifestação de um tipo essencialmente diferente da vida de pensamento. Ela enche a alma de uma nova experiência interior e lhe revela que é em si um mundo que repousa sobre seu próprio centro de gravidade. A autoconsciência é primeiramente experimentada, ainda não compreendida conceitualmente. O pensamento então se desenvolve escondido no calor da consciência religiosa. Assim passaram os primeiros sete ou oito séculos após a fundação do cristianismo. A época seguinte mostra um carácter completamente diferente. Os filósofos em voga sentem novamente o poder do despertar do pensamento. A alma tem intimamente corroborado a independência que tem experimentado durante vários séculos. Começa a procurar a sua própria faculdade, e descobre que é a vida do pensamento. Todos os outros dados vêm de fora, mas a alma cria o pensamento a partir das profundezas da sua própria essência e, nesta criação, está presente com plena consciência. Nele surge o impulso para conquistar, através do pensamento, um conhecimento que possa explicar a relação da alma com o mundo. Como pode algo ser expresso na vida de pensamento que não tenha sido meramente concebido pela alma? Este é o problema colocado pelos filósofos desta época. As correntes intelectuais de nominalismo, realismo, escolasticismo e misticismo medieval revelam este carácter fundamental da filosofia deste período. A alma humana procura investigar a vida do pensamento a partir do seu caráter de realidade. Com o declínio desta terceira época, o caráter do esforço filosófico é transformado. A autoconsciência da alma já foi corroborada por séculos de trabalho investigando a realidade da vida do pensamento. Os homens aprenderam a sentir a vida de pensamento ligada à essência da alma e a encontrar, nesta ligação, uma segurança interior de existência. Como uma poderosa estrela, o lema Penso, portanto sou de Descartes (1596-1650) brilha no céu do espírito, como uma insígnia desta fase da evolução. Sente-se a essência da alma fluindo na vida do pensamento e na consciência desta corrente se acredita que se experimenta a verdadeira essência da alma. E sente-se tão seguro dentro desta existência, vislumbrado na vida do pensamento, que se chega à convicção de que o verdadeiro conhecimento só pode ser aquele que se experimenta de uma maneira análoga àquela em que, na alma, se

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