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Guia do Politicamente Correto
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E-book199 páginas4 horas

Guia do Politicamente Correto

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Sobre este e-book

"[...] nestes tempos de retrocesso civilizatório o "guia" de Eduardo Borges tem o significado de um banho iluminista dedicado não apenas aos jovens, mas a todos nós.
[...] O que segue em sua obra são diversas aulas sobre questões centrais do nosso dia a dia, como o racismo, a homofobia, a ideologia, a democracia e até o preconceito linguístico, algo que me acomete sempre que vejo o arrogante Aécio Neves dizer "houveram" com ar professoral, ou o justiceiro Sérgio Moro falar "conge", ou "conje", não sei bem... Didático como os bons professores, erudito sem pedantismo, embora a obra baste por si só, ainda oferece rica bibliografia para quem queira se aprofundar nos temas que aborda. Quando fala da ojeriza à política, Eduardo Borges faz lembrar de João Havelange, que dizia não misturar futebol e política para fazer, assim, o pior tipo das políticas — e andar de braços dados com ditadores sul-americanos, asiáticos e africanos. Enfim, este Guia do Politicamente Correto, além de guia, é mais que correto, é politicamente irrepreensível".
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de nov. de 2021
ISBN9786525017587
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    Guia do Politicamente Correto - Eduardo Borges

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.

    Paulo Freire

    Para Mônica, Caio, Maria Eduarda e Fred, meus eternos companheiros de viagem, razões maiores de minha existência.

    À memória de meu querido e saudoso amigo Iuri Roberto Sacramento Ramos, o ser humano mais genuinamente politicamente correto que conheci.

    AGRADECIMENTOS

    Aproveito a oportunidade para alguns agradecimentos.

    Aos amigos professores Juvenal de Carvalho e Ricardo Batista. Do primeiro, devo a generosidade de ler o original e transformar para melhor o texto e a cabeça do autor. O segundo amparou-me como um anjo em meus momentos de intempéries criativas sobre o universo do gênero e da sexualidade. Aos dois, meu muito obrigado.

    Uma ressalva: nenhum dos dois acima tem qualquer responsabilidade sobre o conteúdo final deste livro.

    Ao jornalista Juca Kfouri, que, demonstrando a generosidade que só os grandes realmente têm, aceitou — depois de um pretensioso e-mail deste escriba — fazer a apresentação do livro, dando-lhe a legitimidade referenciada apenas por aqueles com trajetória profissional ilibada como a sua.

    Aos meus colegas professores e professoras da Uneb/Campus XIV, cuja militância diária travando o bom combate em defesa das questões identitárias ajudou a criar o caldeirão cultural que provocou a escrita deste livro.

    Aos meus alunos e alunas, futuro do Brasil, deles eu tiro minha inspiração.

    APRESENTAÇÃO

    A vida nos reserva surpresas, às vezes muito felizes, embora assustadoras.

    Uma vez pedi, por intermédio de um amigo em comum, que Rubem Fonseca escrevesse um conto para a revista que eu dirigia.

    Recebi dele simpático bilhete em que declinava do convite por muito atarefado ao estar em meio a mais um de seus livros.

    Ao final da mensagem, agradecia-me por permitir que ele fosse dormir com um sorriso depois de ver minha coluna no Jornal da Globo.

    Passei alguns dias travado por saber que o genial escritor via meus comentários noturnos.

    Que responsabilidade!

    Guardadas as devidas proporções, voltei a sentir algo parecido ao terminar a leitura do livro que você tem em mãos.

    Porque recebi e-mail do autor nestes termos:

    "Prezado Juca, como vai?

    Não nos conhecemos pessoalmente, mas nos conhecemos espiritualmente, já que, além de termos trajetórias profissionais parecidas, sou seu leitor desde os bons tempos de Placar. Sou doutor em História e atualmente sou professor adjunto do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia. Contudo, durante cinco anos, militei na crônica esportiva baiana. Apesar do amor incondicional pelo futebol, a vida acadêmica apresentou-me maiores possibilidades de crescimento profissional.

    Como historiador, tenho pesquisado, por mais de 25 anos, sobre as elites deste país e, ainda que já tenha visto muito, não imaginei que ela chegaria a tanto. Todo esse tempo na prática do magistério foi-me importante para construir uma trajetória de vida e de experiências suficiente para continuar lutando e acreditando que um mundo melhor é possível.

    Muito motivado pelas angústias vividas diante do que o Brasil se transformou nos  últimos anos, e pensando sobre que tipo de sociedade queremos para o futuro, decidi escrever um livro de ensaios que estava pronto faz algum tempo, mas me faltava a motivação última para concluí-lo. Não vejo momento mais oportuno para fazê-lo.

    Trata-se de uma obra voltada para um público mais jovem, mas, certamente, uma obra com a responsabilidade de quem quer contribuir para uma melhor criticidade das próximas gerações.

    O motivo de meu contato é para te convidar a escrever uma apresentação da obra. Diante da admiração que tenho pelo seu trabalho, tenha certeza de que para mim será realmente uma grande honra.

    Um fraternal abraço,

    Eduardo Borges"

    É óbvio que pedi o PDF, e, ao terminar de lê-lo de uma sentada só, senti o mesmo peso proporcionado pelo pequeno bilhete do enorme escritor.

    Quer dizer que o professor lê o que escreve este pobre jornalista?

    Como escrever a próxima coluna?!

    Porque nestes tempos de retrocesso civilizatório, o guia de Eduardo Borges tem o significado de um banho iluminista dedicado não apenas aos jovens, mas a todos nós. Diz ele:

    Temos uma tendência em admitir e aplaudir revoluções em diversas áreas, principalmente a tecnológica, que nos favorece com objetos de extremo valor lúdico como os tablets e smartphones. Contudo, temos uma imensa dificuldade de admitir revoluções no campo dos valores morais e sociais.

    O que segue em sua obra são diversas aulas sobre questões centrais do nosso dia a dia, como o racismo, a homofobia, a ideologia, a democracia, e até o preconceito linguístico, algo que me acomete sempre que vejo o arrogante Aécio Neves dizer houveram com ar professoral, ou o justiceiro Sérgio Moro falar conge, ou conje, não sei bem...

    Didático como os bons professores, erudito sem pedantismo, embora a obra baste por si só, ainda oferece rica bibliografia para quem queira se aprofundar nos temas que aborda.

    Quando fala da ojeriza à política, Eduardo Borges faz lembrar de João Havelange, que dizia não misturar futebol e política para fazer, assim, o pior tipo das políticas — e andar de braços dados com ditadores sul-americanos, asiáticos e africanos.

    Enfim, este Guia do politicamente correto, além de guia, é mais que correto, é politicamente irrepreensível.

    Juca Kfouri, São Paulo.

    Sumário

    Introdução

    Raça e racismo

    Escravidão e desigualdade social

    Homossexualidade e homofobia 

    Gênero, feminismo e a luta pela equidade entre os sexos

    Existe uma ideologia de gênero? 

    Preconceito linguístico: você sabe falar português?

    Educação e produtividade econômica: uma equação perigosa

    Democracia e liberalismo: uma aliança complexa

    A política e o analfabeto político

    Ideologia, queremos uma pra viver

    Conclusão

    Referências

    Introdução

    Comecemos com uma ressalva necessária. Apesar do título, este livro não se propõe a estabelecer regras de condutas moralizantes. O que ele se propõe a guiar é tão somente a consciência crítica do leitor. Os temas aqui abordados respondem a um conjunto de provocações contemporâneas que em última instância, e em conjunto, apresentam como fio condutor somente o fato de serem demandas do tempo presente. Quanto ao politicamente correto presente no título, justifica-se pela forma crítica e científica com que os temas são abordados. Ser politicamente correto no Brasil de hoje não se resume a se enquadrar a um conjunto de valores civilizatórios necessários a mediar as relações humanas em sociedade. Uma sociedade que se propõe a ser politicamente correta deve avançar no sentido de enxergar o mundo com as lentes da cientificidade e da razão se afastando do subjetivismo e dos clichês moralistas. Deve ser contrária a qualquer interpretação obscurantista e negacionista da realidade. Mas deve, também, não mais transigir com falas e comportamentos que agridam indivíduos ou grupos que preconceituosamente enxerga-se como estranhos a uma sociedade normatizada por valores conservadores e reacionários.

    Abordar em um único livro temas aparentemente desconexos entre eles, como gênero, raça, ideologia e política se justifica pelo significado simbólico de se constituírem como elementos basilares de uma sociedade. Se não tivermos sobre eles uma visão ampla, crítica e desprovida de preconceitos, em algum momento correremos o risco de agirmos como Neandertais. O que temem os que tanto criticam um comportamento dito politicamente correto? No fundo, o que os assusta é uma sociedade que ao se pautar pela racionalidade não permita a naturalização de comportamentos abjetos em nome de uma suposta liberdade de expressão. Portanto, repito, o título deste livro tem um sentido muito mais irônico do que assertivo. Não tenho a pretensão de estabelecer regras moralizantes de boa conduta. O que faço são apenas provocações, o resto é com a consciência crítica do leitor.

    Falando em provocações, o presidente Jair Bolsonaro, ao fazer seu discurso de posse após receber a faixa presidencial no Palácio do Planalto, fez questão de dizer a seguinte frase: O Brasil começa a se libertar do socialismo e do politicamente correto. Completamente desconectado do Brasil real, aquele da fome e do desemprego, o presidente preferiu apontar para o Brasil irreal e, como um grotesco D. Quixote tupiniquim, elegeu seus inimigos imaginários. O resto da história tenderia a se transformar em farsa e tragédia.

    Politicamente correto tem sido a expressão da moda no Brasil nos últimos anos. Para o bem ou para o mal, fala-se dela. Para alguns, retrata uma sociedade piegas e amparada em um discurso de patrulhamento ao exercício pleno da liberdade de expressão. Para outros, é apenas o resultado da evolução civilizacional das sociedades em que comportamentos ofensivos e preconceituosos, antes admitidos, já não podem mais ser vistos como naturais.

    Defender determinadas causas passou a ser, aos olhos de alguns, atos politicamente corretos demais. A atitude de verbalizar opiniões que nem sempre se enquadram naquilo que normalmente entendemos como civilizado tem sido a lógica dos que lutam contra o politicamente correto. Esse tipo de ação tem extrapolado as relações cotidianas entre os cidadãos comuns e se transformado em discurso político e ideológico.

    Ter a coragem de dizer o que pensa sem constrangimento ou medo de ser censurado virou estratégia de ascensão política ou de angariar fãs e seguidores em redes sociais. As pessoas passaram a ser admiradas justamente por dizerem coisas que representam o pensamento represado de uma parcela da sociedade. Para seguidores e eleitores, vale mais a forma do que o conteúdo. Dane-se a ética, o que importa é a autoverdade de quem diz.

    Por outro lado, se um dia a escravidão já foi juridicamente legal e se a homossexualidade já foi taxada como contravenção ou crime, a sociedade avança, progride, reflete e ressignifica seus valores e sua condição humana. Se em tempos recentes cabia uma piada despretensiosa com a cor da pele de alguém, isso já não tem razão de existir. E se alguém o pergunta: por que antes não era ofensa e hoje é? A resposta é básica, tanto antes como hoje é ofensa. Tanto antes como hoje, aflige tristeza e sofrimento à vítima. A questão é que hoje, diferentemente de antes, a dignidade humana passou a ganhar maior respeito. Além disso, a correlação de forças na sociedade sofreu alterações em função das lutas promovidas pelos diferentes setores sociais.

    Para a professora Moira Weigel, pesquisadora do tema do politicamente correto, na visão de seus adversários, a expressão sugere um conjunto de forças poderosas determinadas a suprimir verdades inconvenientes patrulhando o idioma.¹

    O fato é que o termo politicamente correto e toda sua representatividade simbólica é uma realidade. A forma como uma determinada sociedade vai lidar com ele só pode ser definida pela dinâmica ética e de valores dessa sociedade. A questão em torno do politicamente correto não se restringe, como querem supor seus críticos, a um simples preciosismo. Não é preciosismo respeitar a dignidade humana. Não é preciosismo se colocar no lugar do outro e se solidarizar com seu sofrimento. Não é preciosismo exigir que a sociedade compreenda suas transformações morais e paute seu comportamento com base em valores reais e não no subjetivismo irracional. Ao

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