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ROBGOBLIN FLYNN: ROBGOBLIN FLYNN
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ROBGOBLIN FLYNN: ROBGOBLIN FLYNN
E-book398 páginas6 horas

ROBGOBLIN FLYNN: ROBGOBLIN FLYNN

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Sobre este e-book

O mundo dos Sonhos é o lugar aonde as almas das crianças vão quando sonham e imaginam. E tudo o que existe por lá foi criado pelo bondoso mestre dos Sonhos, mas, o mestre dos Sonhos foi covardemente morto pelo senhor de todo mal: o mestre Pesadelo. Robgoblin Flynn é o único ente do mundo dos Sonhos que irá desafiar o imenso poder do mestre Pesadelo. Mas existe algo não explicado acerca de sua origem. A voz suave e terna que nos momentos difíceis vem em seu auxílio e a música que flui com facilidade de seu violão são as únicas coisas do seu passado que lhe indicam que ele pode não ser filho do mestre Pesadelo. Mas quem e o que, em verdade, é Robgoblin Flynn? Ele vagueia pela floresta do Sono Profundo, até encontrar a Oréiade e o Silfo Azul, e, juntos atravessam a fronteira do tempo que separa o mundo dos Sonhos do mundo Real em busca da menina Líli: a única criança humana que ainda insiste em sonhar. Após muitas desventuras no mundo Real, os três aventureiros conseguem finalmente chegar à casa de Líli, mas é tarde... O Silfo faz mover a bússola de orientação pelo tempo para retornar ao mundo dos Sonhos que já se encontra mergulhado na destruição e na escuridão. O sol colorido e as três luas inominadas foram destruídos e somente os seus fragmentos flutuam no espaço... Será que Robgoblin conseguirá salvar o seu mundo da destruição imposta pelo mestre Pesadelo? Isso somente será possível se Robgoblin Flynn descobrir primeiro quem verdadeiramente ele é.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de jul. de 2022
ISBN9781526001467
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    ROBGOBLIN FLYNN - Valdirlen Loyolla

    Valdirlen Loyolla

    ROBGOBLIN FLYNN

    Disse-me certo contador de estórias: Toda história com ‘h’, bem lá no fundo, sempre é estória com ‘e’. Porque toda estória não tem começo e nem fim... é fluxo... é correnteza... é corredeira... é rio... A estória é sempre pelo meio no balancê da vida, de uma margem a outra da imaginação, entre o fim e o começo de toda narração....

    Para Léia – que mora dentro de um sonho.

    ROBGOBLIN FLYNN

    Esta é uma história falsa, se supusermos que a verdade e a falsidade são questões de Lógica – mas a Lógica não se aplica à realidade e nem ao mundo, do que decorre que esta estória bem pode ser também verdadeira...

    I

    Ninguém sabe ao certo como esta estória teve o seu início, simplesmente porque até os dias de hoje não se sabe de que tipo de matéria ou substância os sonhos são feitos – de onde eles vêm quando dormimos e para onde eles vão quando despertamos. O que realmente é sabido é que sonhamos e, se sonhamos, então, deve existir uma lógica dos sonhos que nos leva da realidade do Real à realidade dos Sonhos e de novo desta para aquela outra vez... Mas tal lógica não é suficiente para afirmarmos que de fato os sonhos existem, pois uma coisa é sonhar, outra muito diferente é que os sonhos em realidade existem. Entretanto, aquele seria um dia como outro qualquer se o absoluto silêncio do espaço da Imaginação não fosse invadido pelas gargalhadas de Líli e Robgoblin Flynn, que transgredindo a lógica das leis do pensamento deslizavam com astúcia pela abóbada do céu azul da Fantasia e corajosamente adentravam, cada vez mais, para o interior do mundo dos Sonhos...

    Aquela deliciosa brincadeira, que mais tarde traria consequências desastrosas para todos, transcorria como se Robgoblin e Líli estivessem em um gigantesco parque de diversão, pois escorregavam surfando em manobras radicais o mais puro e colorido arco-íris da ficção pelo céu da Fantasia. E quando velozmente chegaram até a ponta do arco do firmamento da Alegria, eles não se preocuparam em cair e deixaram seus corpos soltos no ar vir em queda-livre e em rota direta de colisão com o chão, rumo às rochas duras da cordilheira do Pensamento. Porém, aquilo era uma tremenda traquinagem de criança malina desafiando os próprios limites da ficção, e no momento em que atingiram a altura desejada por sobre a montanha da Imaginação elas abriram os braços, como se possuíssem asas, e, depois, dispararam em voo magnífico e exuberante, ora veloz e ora planando feito à águia por sobre os vales da Ilusão...

    Bem abaixo da gigantesca montanha da Imaginação, logo depois dos vales da Ilusão, a imensa planície do Desejo foi surgindo coberta por um exuberante campo de relvas muito verdes, e, mais além, coqueiros, palmeiras e outros tipos de árvores frondosas e de troncos muito grossos despontavam com suas copas altíssimas, margeando toda a extensão da praia do Sossego, formando uma grande faixa de floresta a beira do mar da Solidão. E o oceano do Medo ganhou a visão dos dois aventureiros, e a menina sentiu um calafrio ao ouvir o barulho das grandes ondas batendo de encontro aos rochedos da Dor, porém, logo o pavor se amainou e ela voltou a executar em tremenda alegria, e em esfuziante gargalhada, as mais mirabolantes piruetas por sobre o mar...

    Robgoblin Flynn acenou para Líli, apontando para ela a direção da imensa orla de areia branca. Era chegado o momento de descerem para a terra-firme e descansarem. Então, deram um voo rasante por sobre os rochedos e, em seguida, pousaram suavemente ao longo da praia... Líli olhou em volta toda a extensão da paisagem, enquanto Robgoblin Flynn em silêncio gesticulava negativamente com a cabeça para ela, avisando que adentrar aquelas terras não era uma boa ideia, uma vez que o povo que ali habitava não era muito hospitaleiro e nem chegado a intimidades com estranhos. Mas, a menina parecia não se importar com o aviso do amigo, pois para ela valia o risco do perigo da aventura em conhecer tão bela e exótica paisagem.

    Ao sul daquelas terras faiscavam as águas cristalinas de uma cachoeira que formava junto ao sopé da montanha um grande lago, que se estreitava por entre canais artificialmente construídos, cercando por todos os lados um enorme arboreto de diferentes plantas frutíferas. Ao norte, havia outro arboreto de árvores tortas e engraçadas, e mais adiante uma pequena vila cintilava toda a beleza de seus casarios em formato de cérebros humanos – aquela era a vila dos cogito-micsis, o povo de Robgoblin Flynn, os senhores do mundo dos Sonhos.

    Naquele momento, ao ver aquelas estranhas criaturinhas em seus trabalhos rotineiros de jardinagem, cultivando suas flores e hortaliças, uma onda de alegria e emoção encheu os olhos de Líli. Era sabido e conhecido que ela sempre estivera em pensamentos, dormindo ou acordada, viajando pelo mundo dos Sonhos ao lado de Robgoblin Flynn, mas nunca havia chegado tão perto da vila dos cogito-micsis. Então, fascinada, a menina observou a distância aquelas alegres criaturinhas trabalharem. 

    Os cogito-micsis eram um povo muito contente, porém muito desconfiados. Possuíam a tez da pele vermelha e os cabelos verdes, e adoravam se alimentar de bolo de araruta, de biju de tapioca, de pão chimango e roscas feitas de farinha de puba. Não ultrapassavam mais de um metro em altura, e também não gostavam de estranhos nos domínios de suas terras, muito menos nos arredores de sua vila.

    Já Robgoblin era bem diferente dos outros cogito-micsis, apesar de ser um deles, pois era um pouco mais alto que os demais. E mesmo tendo no nome o termo ‘goblin’, ele não era um goblin, nem um anão, nem um duende, nem um orc, nem um hobbit, nem um saci e nem muito menos um curupira, pois possuía aquele queixo afilado, e os seus olhos azuis eram semelhantes aos olhos de um elfo. Porém, em altura e em aparência física ele seria um menino humano, se não fosse pelas faces de leprechal e aquelas orelhas pontiagudas. Os cabelos vermelhos lisos e compridos é que lhe conferiam o nome ‘Flynn’, isto é, o ruivo. A pele de tez verde, que variava entre o verde claro nos períodos de calma e verde escuro quando ficava irritado, o fazia ser em suas cores completamente diferente do resto de seu povo. E ainda ele possuía aquela incrível capacidade de voar navegando nos sonhos. Ele próprio ensinou a Líli e a muitas outras crianças a arte de navegar no pensamento – a incrível arte de voar no mundo dos Sonhos cavalgando a imaginação, pois somente ele dentre o seu povo tinha tal poder, e isso causava grande inveja em muita gente. Além de voar com Líli em sonhos ou cavalgar os pensamentos, o que mais Robgoblin Flynn gostava de fazer era entoar maravilhosas canções de amor e de amizade com seu pequeno violão de sete cordas. Robgoblin, além de ser um perito em voos e um exímio violonista, era também um grande cantor. E quando ficava eufórico ou muito contente com alguma coisa costumava gritar, – Boogie woogie bugaboo! – algo que nem ele mesmo sabia o que significava.

    Diante da vila dos cogito-micsis, tomada por forte curiosidade de menina, Líli aproximou-se vagarosamente por trás de alguns arbustos e, em silêncio, ficou a observar aquelas estranhas criaturinhas realizarem suas tarefas cotidianas em ritmada e sonora cantoria. E num dado instante os cogito-micsis pararam de cantar, pois pressentiram que alguém os espreitava por detrás dos arbustos. A menina permaneceu imóvel em meio às ramagens, supondo que os cogito-micsis não haviam notado sua presença. Mas, rapidamente se voltaram para a direção onde ela se encontrava e um dos cogito-micsis ouviu um farfalhar de folhas e a avistou escondida. E um grito ruidoso que só os cogito-micsis possuem atravessou o ar do mundo dos Sonhos:

    - Humanos!!! – gritou assustado o cogito-micsis, e todos eles correram em desabalada pressa. Uns trancavam-se em suas casas, outros desapareciam por entre as ramagens verdes das árvores de troncos retorcidos e sumiam em direção as profundezas do arboreto...

    II

    Líli foi despertada do sonho justamente quando se encontrava na vila dos cogito-micsis, no centro do mundo dos Sonhos. E aos poucos foi acordando na realidade do mundo Real, deixando as suas ilusões de aventuras com Robgoblin Flynn. Após ter sido acordada, a menina passou a pensar nas coisas como antes. Levantou a cabeça e olhou para a coleguinha que veio chamá-la. Nada disse para a outra menina. Depois, mirou desanimada a extensão dos muros que cercavam o Internato. Castanheiras e outras árvores se estendiam ao longo do pátio e sombreavam quase toda a área. Outras meninas em bandos ruidosos também brincavam ali, somente Líli se mostrava irresoluta e tinha nos olhos uma tristeza maior que nos outros dias. Então, voltou os olhinhos castanhos claros para a pequena boneca de pano que trazia sobre o colo, e em seguida direcionou um sorriso infindavelmente triste à boneca, como se tivesse desgostado completamente da companheira feita de feltro e pano. Fazia mais de uma hora em que ela estava ali, sentada em frente ao portão principal do Internato, como se estivesse esperando por alguém, e, enquanto esperava, sonhava as suas aventuras maravilhosas com Robgoblin Flynn no mundo dos Sonhos – de certa forma ela nunca estava sozinha, pois sempre havia a possibilidade de sonhar seus sonhos com Robgoblin Flynn.

      Todos os domingos seu pai vinha visitá-la, mas, fazia mais de um mês que Líli não o via. Na verdade, a menina nunca entendeu porque o pai sempre a manteve distante dele e a colocou naquele Internato. E por pensar tais coisas, a tristeza invadiu o seu pequeno coração. Inclinou a cabeça sobre as mãos e enxugou as lágrimas que lentamente escorriam pelas faces rosadas. Os olhinhos castanhos claros, fincados num rostinho angelical, mostravam toda vivacidade e esperteza e pareciam se ascender feito o lusco-fusco dos vaga-lumes, quando contava com ímpeto e tom de verdade profunda aquelas aventuras fantásticas vividas com Robgoblin Flynn no mundo dos Sonhos.

    Irmã Lúcia, a madre superiora, atravessou o pátio e caminhou em direção a Líli, trazendo um largo sorriso de satisfação e alegria aflorado nos lábios.

    - Hei Líli, venha, seu pai a espera no hall da secretaria!

    A menina virou-se para a madre superiora, e emocionada sorriu satisfeita pela notícia. Levantou-se e ajeitou a boneca de pano no banco e, em seguida, tomou a mão da freira.

    - Você não vai levar a sua amiguinha? – perguntou irmã Lúcia.

    - Não, eu não preciso mais dela irmã! – disse Líli decidida em suas intenções.

    - Por que você não precisa mais da bonequinha, Líli?! – carinhosamente indagou a freira diante da decisão da menina.

    - Porque eu vou para casa com o meu pai, e lá eu tenho Xando e Paxá para brincarem comigo. E mesmo se eu quisesse levá-la comigo eu não poderia, porque ela não me pertence. – dengosa e cheia de mimos disse a menina.

    - Não Líli, pertence sim... – reticente e esclarecedora disse a freira – fui eu mesma quem lhe deu a boneca no dia em que você chegou aqui, não se lembra?!

    - Lembro! – exclamou em meio à birra a menina.

    - Então. Ela é sua... Pode levá-la! – retrucou a freira diante da teimosia da menina.

    - Não posso irmã Lúcia. – retornou a menina em sua teimosia – Ela morava aqui no Internato bem antes de mim e ela também deve estar esperando por seus pais, e no mais eu não sei se ela vai gostar de morar comigo em minha casa.

    A freira sorriu diante da ingenuidade de Líli, e em seguida começou a compreender que as preocupações da menina com a boneca eram bem no fundo de sua infante cabecinha seus próprios medos. Então disse:

    - Por que não pergunta a boneca se ela deseja ir com você, Líli?!

    - Eu já perguntei irmã, e ela me disse que não quer! – disse Líli em uma birra sem fim.

    - Está bem Líli, – respondeu a madre superiora se irritando com a teimosia e os mimos da menina – Se a boneca deseja ficar aqui no Internato, que assim seja. Agora venha logo, seu pai tem pressa.

    Irmã Lúcia percebeu que não havia maneira de convencer a Líli sobre o que quer que fosse. Sempre prevalecia a sua opinião e teimosia. A menina deixava se absorver por um estado emocional que precisava sempre de alguma coisa que a levasse para fora da realidade. Fugir da realidade e criar emoções e situações imaginárias era uma das coisas que melhor ela sabia fazer. E isso não só devido aos seus 08 anos, pois toda criança nessa idade usa de fantasias, mas ela tinha motivos de sobra para se sentir sempre sozinha e tristonha e só confiar nas histórias que inventava. Mesmo tendo ao seu lado toda uma multidão de pessoas, via-se claramente a falta que a menina sentia da mãe, já falecida, quanto ao pai, este parecia pouco se importar com ela, uma vez que vivia somente para os negócios de sua Empresa.

    III

    O sistema astronômico denominado mundo dos Sonhos localiza-se fora de todo e qualquer alcance da observação humana, e sua existência somente pode ser determinada pela intuição. Sendo diferente de todos os outros sistemas solares e planetários ele é formado por um único planeta chamado mundo dos Sonhos, pelo sol colorido e também por três luas inominadas. O mundo dos Sonhos, contrariamente a outros planetas, não possui órbitas e nem realiza périplos em torno do sol. É o sol colorido mais as três luas inominadas que giram em harmônicas rotações e translações em torno do grande planeta dos Sonhos. Um único ciclo de rotação do sol colorido em torno de seu próprio eixo é de 1 átimo de segundo vezes o tempo que a areia leva para percorrer o buraco do êmbolo da ampulheta. É por isso que o mundo dos Sonhos é muito mais iluminado do que qualquer outro astro. Porém, o tempo de um único ciclo de rotação circular do sol decorre em contrário ao tempo de seu movimento de translação, que consiste no avanço de seu centro ao longo de uma curva elíptica em redor do mundo dos Sonhos, o que faz com que os anos dos Sonhos transcorram de modo muito rápido se comparado ao tempo transcorrido em outros mundos. Quanto aos ciclos de rotações e translações das três luas inominadas, estes obedecem matematicamente à proporcionalidade de tempo que o sol colorido gasta em movimento em torno de si e do gigantesco planeta dos Sonhos, pois que os ciclos de rotações do sol são geometricamente contrários aos das luas, e os ciclos de translações das luas são inversamente aos do sol. E, talvez, sejam estas inversões entre as rotações e as translações do sol e das luas que mantem o mundo dos Sonhos em justo equilíbrio com outros mundos...

    O cometa iniciou uma ruidosa descida em direção ao mundo dos Sonhos. Agarrados na cauda brilhante do astro errante Líli e Robgoblin explodiam em estridentes gargalhadas de prazer, principalmente quando as pequenas gotículas de água gelada se desprendiam do cometa e batiam no rosto dos dois aventureiros. Eles o tinham capturado quando o astro errante passou bem próximo da órbita da terceira lua. E já havia dois dias em que estavam naquela gostosa brincadeira, viajando pelo espaço agarrados na cauda gelada daquele cometa.

    As estrelas iam se afastando numa velocidade cada vez maior à medida que o cometa adentrava para o mundo dos Sonhos. E não demorou muito para que a alguns quilômetros abaixo eles avistassem um imenso campo de relvas todo salpicado de margaridas brancas e amarelas e também de muitas flores chapéus de couro das mais variadas cores. Então, resolveram pousar. Soltaram a cauda brilhante do errante astro e vieram deslizando no ar, pulando de nuvem em nuvem, até atingirem a relva macia e cheirosa do campo. Agora, o que queriam mesmo era conhecer aquele jardim perfumado a margaridas e a chapéus de couro, saber de suas delícias e de tudo que pudessem fazer ali. E antes mesmo de emitirem uma única palavra de entusiasmo ou de emoção por se encontrarem em tão lindo e cheiroso lugar, bem à frente deles, um gnomo de cor magenta surgiu assustado do meio das flores, e agressivo foi logo perguntando aos aventureiros:

    - Hei vocês!!! – gritou o gnomo para Líli e Robgoblin – Não permitimos gente estranha em nosso jardim, ainda mais sem serem convidados! O que vocês fazem aqui? – perguntou o gnomo.

    - Nós somos viajantes e aventureiros! – respondeu Líli com grande satisfação, dando ênfase nas palavras; depois ela indagou ao gnomo – Em qual parte do mundo dos Sonhos nós estamos?

    - Ora, vocês estão na terra dos gnomos coloridos! – exclamou o gnomo meio ressabido e se ofendendo por Líli e Robgoblin não saberem que aquela era a terra dos gnomos coloridos.

    - Terra dos gnomos coloridos??!! Nunca ouvimos falar!! – disseram os dois ao mesmo tempo.

    - Ora bolas. – enraivecido disse o gnomo – Só porque nunca ouviram falar não significa que outros mundos não existam. Nosso mundo também é uma possibilidade, o problema é que vocês confundem verdade e falsidade com existência e não existência... Saibam vocês dois, seus ignorantes em geografia dos sonhos, que a nossa terra é muito famosa em todo o reino da Imaginação, e não há um só povo que não nos conheça. Somos muito conhecidos pelos seres filósofos, e também das sereias, dos ciclopes, das salamandras de fogo, dos magos, bruxas, elfos, leprechais, anões, goblins, duendes, cucas, sacis-pererês, matintapereras, boiunas, boitatás, mulas sem cabeça, mapinguaris, curupiras, lobisomens, centauros, tritões e de tudo mais que viva na terra, na água, no ar ou no fogo, ou que seja da noite ou do dia, e que faça parte da fantasia.       

    - Desculpa, mas não queríamos te ofender. Foi apenas um modo de falar! – disse Robgoblin diante do gnomo enraivecido.

    - E ainda saibam vocês, – continuou falando o gnomo sem se importar com as desculpas de Robgoblin – que aqui nós somos de todas as cores, inclusive de cores que vocês nem conhecem. Aqui, tem até gnomo da cor de burro quando foge, ou mesmo da cor de gema de ovo podre!

    - Eca, ovo podre? Que nojo!! – exclamaram os dois aventureiros.

    - Mas eu não disse ovo podre. – afirmativamente falou o gnomo – Eu disse cor da gema de ovo podre. E me parece que vocês estão com nojo de uma cor? Ora bolas, as regras que implicam uma cor não são as mesmas que implicam uma coisa. Ovo podre é uma coisa, cor de ovo podre outra.

    Líli refletiu um pouco e virou-se para o gnomo de cor magenta, mas que naquela altura já estava ficando roxo de tanta raiva, e perguntou:

    - Como o senhor se chama?

    - Eu me chamo Ludovico Vitorguestáin! – disse o gnomo dando ênfase ao seu pomposo nome; depois perguntou – E qual é o nome de vocês?

    - Eu me chamo Líli, e ele é Robgoblin Flynn. – respondeu Líli diretamente, e em seguida, olhando a sua volta, perguntou – E onde estão os outros gnomos, pois aqui só tem o senhor?!

    - Eles? É. Eles...? Os outros? Acho que... – vacilante tentava responder o gnomo – Acho que devem estar por ai, cuidando de suas obrigações. Que é o que toda pessoa bem educada deve fazer. Cuidar de suas obrigações. – mas Líli não se convenceu da resposta do gnomo e piscando o olho para Robgoblin disse para o gnomo:

    - Pois é senhor Ludovico Vitorguestáin, a verdade é que não existe gnomo da cor de burro quando foge. E também não existe gnomo da cor de gema de ovo podre. Porque cor de burro quando foge é marrom acinzentado e gema de ovo podre é amarelo escuro! – falou a menina tentando desbancar o gnomo e fazê-lo falar a verdade sobre onde se encontrava os outros gnomos.

    - Ah é bébé mamar na vaca você não quer! – provocou o gnomo – Se alguém fala cor de burro quando foge é porque é cor de burro quando foge, e não marrom acinzentado. Porque marrom acinzentado é marrom acinzentado e não outra cor. E isso também vale para a cor de gema de ovo podre. Senão, porque alguém falaria cor de burro quando foge e marrom acinzentado? Por que alguém daria dois nomes a uma mesma coisa?

    - O senhor está muito esquentadinho. – afirmou Robgoblin – Virou agora o dono da verdade sobre as cores? Só porque a menina contra argumentou, o senhor não precisa se ofender e nem ficar nervoso com a gente não sô! Calma aí.

    - Está bem. Vou lhes contar o que aconteceu. Esta é realmente a terra dos gnomos coloridos, também chamada à terra de todas as cores. Mas um dia desses, chegou por essas bandas uns caras muito estranhos que mais se assemelhavam a sombras. No início fizeram amizade conosco e, depois, quando menos esperávamos, eles se lançaram por sobre nós com suas redes, e capturaram todo o meu povo e todos os animais, e os levaram para trabalhar nas minas das terras descoloridas, para garimparem aço sombrio. Apenas eu consegui escapar – porém, antes de terminar o que estava narrando, o gnomo parou e disse – Mas espere. Vocês estão a um tempão me fazendo perguntas, e eu não os perguntei nada, nem de onde vem e nem o que são, e nem mesmo o que desejam. Vocês são caçadores?

    - Não. Não somos. Nós não caçamos dores e nem provocamos. – brincou Robgoblin com as palavras – Nós somos aventureiros, e viajamos pelo Universo dos sonhos à procura de tudo que possamos conhecer.

    - Eu só perguntei por que aqui só tinha vindo caçadores. Aquela gente é muito má. – meio desconfiado falou o gnomo – Mas que tipo de bichos vocês são?

    - Nós não somos bichos. – disse Robgoblin – Quero dizer, temos alma de bicho,       mas não somos bichos.

    - Não entendi. Pois não somos o que pensamos, dizemos e sentimos? – confuso perguntou o gnomo de nome Ludovico Vitorguestáin – Não é alma aquilo que nos forma e nos dá à essência do que somos? Se vocês não são bichos, apesar de terem alma de bicho, então o que vocês são?

    - Ora, senhor Ludovico Vitorguestáin, eu sou uma menina humana. E ele é um menino do povo cogito-micsis. – respondeu Líli, apontando para Robgoblin, e em seguida disse – E saiba o senhor que esta é a primeira vez que vejo um gnomo. Ainda mais colorido e de cor magenta.

    - Minha cara menina Líli – continuou retrucando o gnomo – Você supõe que a realidade se constitui das coisas concretas e os nomes das coisas concretas, mas a realidade real são as cores, porque nada de mais real e primeiro existe aquém ou além das cores... Tudo é cor, tempo e espaço estão nas cores, ou melhor, tempo e espaço são as cores, e nada para além delas, as cores são tudo que primeiro vemos, o problema é que nos esquecemos de que isso é um fato muito simples e acabamos por confundir o simples com o complexo, por exemplo, que ‘um fato é um fato e que um pato é um pato’, e toda essa confusão somente por uma questão de um f no lugar de um p, mas, o que é um f ou um p? Ou mesmo o que é um fato ou um pato? Um pato pode bem ser um fato, mas um fato, jamais será um pato?

    - Ora bolas, e não é que isso faz sentido! – disse Líli.

    - É lógico que isso faz sentido, porque é uma questão de anterioridade do que é dito, pois há uma norma na forma de dizer as coisas, e só um tolo não compreenderia isso. O que não é o caso de vocês, pois não é de se estranhar, porque o seu amigo também é colorido, e ele é ainda mais colorido do que eu! – falou o gnomo de cor magenta se comparando ao colorido de Robgoblin, que tem a pele verde, os olhos azuis brilhantes e os cabelos ruivos bem vermelhos. – E no mais, eu também nunca tinha visto uma menina humana e um menino cogito-micsis antes. Gente assim, como essa menina meio desbotada e sem cor eu só conheci aqueles caçadores que apareceram por aqui.

    - Mas nós não somos caçadores, isso eu já disse, e o senhor não está vendo, cara de bolacha. – falou Robgoblin já se enfurecendo e começando a aumentar o seu tom de verde claro para verde escuro – Nós somos crianças e não caçadores. Procuramos amar a todas as coisas que se deixam amar, inclusive gnomos de cor magenta e de nome Ludovico Vitorguestáin!

    - Huummm... Sei... Então vocês me amam?! – disse o gnomo cada vez mais desconfiado com a insistência de Robgoblin.

    Então, já completamente verde escuro de raiva, Robgoblin coçou a cabeça e suspirou fundo tentando se acalmar, e em seguida retomou a falação, dizendo ao gnomo:

    - Não é porque os outros lhe fizeram mal que significa que cada nova pessoa que conhecer também lhe fará mal. Não podemos levar a culpa pelo que os outros lhe fizeram! E se dissemos que o amamos é porque o amamos! E vamos lhe ajudar a encontrar o seu povo e trazê-lo de volta a terra dos gnomos coloridos, a terra de todas as cores! Vou me informar com os lideres anciões e saber por que o seu povo foi aprisionado, e porque alguém está querendo usar aço sombrio em nosso Mundo. – bravamente exclamou Robgoblin para o gnomo.

    Após assumir o compromisso de salvar e trazer o povo de Ludovico Vitorguestáin de volta a terra dos gnomos coloridos, a alegria de Robgoblin voltou. E não estando mais esverdeado de raiva ele gritou – Boogie woogie bugaboo! – o que sempre costumava gritar quando ficava muito eufórico e feliz. E logo em seguida ao que havia dito, Robgoblin apanhou o pequeno violão e o repousou no peito, entoando uma canção e tentando alegrar a tristeza do gnomo, que naquela altura começava a desconfiar da realidade das cores, então cantou assim:

    Papagaio é verde, periquito também é.

    Verde periquito, papagaio que não é.

    Periquito é verde, papagaio também é.

    Verde papagaio, periquito que não é.

    Papagaio come milho, periquito leva fama.

    Para por culpa nos outros, basta apenas simples trama.

    Trama o fio e trama a linha, tece a teia a feia aranha.

    Papagaio come milho, periquito leva fama.

    Para por culpa nos outros, basta apenas simples trama.

    Trama o fio e trama a linha, tece a teia a feia aranha.

    Papagaio come milho, periquito leva fama.

    Papagaio é verde, periquito também é.

    Verde periquito, papagaio que não é.

    Periquito é verde, papagaio também é.

    Verde papagaio, periquito que não é.

    Era assim que Robgoblin Flynn e Líli cantavam para o gnomo, que depois de algum tempo também passou a acompanhá-los na cantoria...

    IV

    - Hei Líli! Hei Líli! Estou falando com você e você nem responde! O que foi? Você está tão longe! Desde que saímos do Internato você não disse uma só palavra. Em que estava pensando? – perguntou seu Getúlio para a filha.

    - Em nada papai! – disse Líli, triste e distante, enquanto mirava ao longe a paisagem transcorrendo acelerada através do vidro do carro.

    - Huummm... Já sei, estava sonhando com o seu amiguinho imaginário e com aventuras por mundos mágicos. A Irmã me falou sobre suas estórias e sobre o seu amiguinho!

    - Não. Não estava sonhando. Irmã Lúcia apenas sabe o que lhe conto. Mas o Robgoblin não é irreal.

    - Estava sim! Pode dizer. Não precisa se envergonhar. Vou lhe contar um segredo. Quando eu tinha a sua idade, também imaginava as mais fantásticas aventuras!

    - É mesmo? Com quem? Com o Robgoblin Flynn? – entusiasmada perguntou a menina.

    - Não. No meu tempo não havia o Robgoblin Flynn, mas havia outros que me fascinavam e com quem eu atravessei muitos mundos em brincadeiras maravilhosas! Aaahhh... Que pena que a gente cresce e tudo isso acaba!

    - Não acaba não pai. E não importa se é jovem ou velho! Só acaba se a gente quiser. – objetivamente Líli corrigiu o pai, depois perguntou – Por que o senhor está falando essas coisas comigo? 

    - Minha filha, eu sei que você ainda é uma criança, mas, já está na hora de parar de acreditar em sonhos ou ficar imaginando tolas fantasias, porque não é mais uma menininha. É chegada a hora de você crescer e deixar de lado tais bobagens de mundos mágicos, jardins secretos e seres encantados. – cruelmente disse o pai para Líli, e depois de uma pequena pausa, escolhendo as melhores palavras para não fazê-la sofrer ainda mais, continuou – Olha Líli, existe um mundo real além dos sonhos, e é nele que a gente vive. Chega um momento na vida que temos que ser fortes e duros, senão a realidade nos devora. Você está crescendo e logo vai entender tudo isso que estou lhe falando.

    - Os adultos são engraçados. Quando são crianças acreditam em magia, em amigos imaginários e em mundos nunca imaginados por ninguém. A ideia de algo ou alguém existir não tem nada a ver com fantasia ou realidade, e nem muito menos com o verdadeiro ou o falso. – dizia Líli, quase filosofando para o pai – E depois que crescem, passam a negar tudo àquilo em que antes acreditavam, chamando de tolos ou bobos a quem se fiar a continuar acreditando em mundos mágicos. Mas a maioria dos adultos não acredita em Deus? E não mora Deus em um mundo perfeito e feliz? E nesse mundo onde Deus mora, lá, tudo não é mágico, pois ninguém morre de verdade e não há doença e nem guerras? Então, porque então o mundo dos Sonhos não pode existir e ser verdadeiro? Não pai, o senhor está errado, Robgoblin é real. Ele existe mesmo! E se Robgoblin é meu amigo imaginário, então Deus é o amigo imaginário dos humanos.

    - Está bem querida! Se você quer continuar sonhando com o seu amigo Robgoblin Flynn, eu não vou falar mais nada. Eu sei melhor que ninguém que a vida até agora não tem sido muito boa para você. Ficamos muito tempo afastados um do outro e a sua mãe te faz muita falta. – resignado e muito triste disse seu Getúlio para Líli, depois continuou falando com intuito de acalmar e diminuir a tristeza da filha – Eu te amo muito minha filha, e te amo mais do que qualquer coisa na vida, e só coloquei você naquele Internato porque não tinha ninguém em quem confiava para cuidar de você e de sua educação. Mas de hoje em diante as coisas vão ser diferentes.

    - Por quê? – perguntou a menina instilando seus olhinhos cheios de curiosidade e emoção.

    - Ora, por quê! Porque você está voltando para casa e nós vamos passar muito tempo juntos. Tudo vai ser como antes, do mesmo modo de quando sua mãe estava conosco. – disse seu Getúlio com os olhos mareados e cheios de nostalgia e, após algum tempo em silêncio, não permitindo que as lágrimas viessem às faces, falou para Líli – Sabe, querida, papai tem uma coisa muito importante para lhe falar. Acho que você vai ficar feliz em saber o que é.

    - Eu já sei! Eu já sei! A mamãe voltou! – em esfuziante alegria falou a menina.

    - Não minha filha, não voltou. – incisivo e firme disse o pai – O que eu quero lhe dizer é que finalmente encontrei alguém para cuidar de você enquanto eu estiver trabalhando. O nome da nova governanta é Griselda e ela vai cuidar de você quando eu não estiver em casa. Ela será uma espécie de tia para você. O que acha? Não é legal?

    - Não, pai! O senhor não pode fazer isso. E quando a mamãe voltar?

    - Entenda Líli, sua mãe nunca mais vai voltar. – seriamente disse Seu Getúlio para Líli.

    - É mentira sua! – agressiva gritou Líli para o pai – O senhor me falou quando eu era pequena que um

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