O Permutador
()
Sobre este e-book
Flávio Sarmento
Flavio Sarmento morou mais de 29 anos em São Paulo, palco de 'O permutador', e mudou-se para São José dos Campos em 1987, sua cidade do coração. Hoje vive em Goiânia. Sua ficção de estreia revela o grande interesse pela literatura, em especial pelos grandes autores Rubem Fonseca, Philip K. Dick, Charles Bukowski, Ernest Hemingway e mais recentemente Haruki Murakami.O permutador revela seu grande fascínio por assuntos que abordam o extraordinário através de linhas esotéricas e espiritualistas.
Relacionado a O Permutador
Ebooks relacionados
O Apetite dos mortos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoirot e os Quatro (traduzido) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Esperança Está Na Alma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBom Jesus Do Valo Velho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Pistoleiro Do Opala Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS 39 DEGRAUS - Buchan Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas De Um Carioca Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Diabo de Terno na Terra de Ninguém Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDisfarçado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOxente Companheiro, Até Você ? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Rainhas Da Noite Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma noite no Lírico e Um músico extraordinário: dois Contos de Lima Barreto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRoleta Russa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrime e Castigo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Humilhados e Ofendidos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Rigoletto: Portuguese Edition Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO livro roubado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO alfaiate Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAutópsia Do Terror Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConrad Rushel (o Professor) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO velho Lima e outras histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstilhaço Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTigre, tigre Nota: 1 de 5 estrelas1/5O Nome Do País, E Outras Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasENCONTRO Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDecadência de dois homens grandes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos e Desencontros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Aventuras De Murilo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos Insólitos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO misterioso caso da Royal Street: e outras histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Suspense para você
O beijo do rio Nota: 5 de 5 estrelas5/5Escândalo na Boêmia e outros contos clássicos de Sherlock Holmes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVocê Me Pertence Nota: 5 de 5 estrelas5/5A corrente Nota: 4 de 5 estrelas4/5A inquilina silenciosa Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos de Suspense e Terror: Obras primas de grandes mestres do conto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSem Pistas (um Mistério de Riley Paige –Livro 1) Nota: 4 de 5 estrelas4/5A garota no gelo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Minha irmã, a serial killer Nota: 3 de 5 estrelas3/5Alvo: Um Thriller Erótico Ménage BDSM Nota: 5 de 5 estrelas5/5Todas as garotas desaparecidas Nota: 3 de 5 estrelas3/5O Clube da Meia-noite Nota: 3 de 5 estrelas3/5A décima segunda profecia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA mentira mora ao lado (Um mistério psicológico de Chloe Fine – Livro 2) Nota: 3 de 5 estrelas3/5O caso da menina sonhadora Nota: 5 de 5 estrelas5/5O bebê é meu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA mentira Nota: 4 de 5 estrelas4/5O mistério de Cruz das Almas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sem Saída (Um Mistério de Riley Paige—Livro 13) Nota: 5 de 5 estrelas5/5O pagamento Nota: 3 de 5 estrelas3/5
Avaliações de O Permutador
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
O Permutador - Flávio Sarmento
2017
Em 1978, Carlos Ronan combinara comigo um encontro no bar Riviera, ali na Consolação, de frente ao Cine Belas Artes, para a entrega de seus originais. Ele tinha voltado da França, onde se refugiara em fins de 1973, pois participara ativamente do MR-8, um dos vários grupos de resistência aos militares. Assaltou bancos e empunhou várias vezes armas em atentados terroristas, alguns com bombas. Pelo que se sabe em uma delas houve até a morte de um guarda.
Entre 1971 e 1973, Carlos se escondera em pequenos empregos, deixara a família de classe média alta para adentrar numa ala radical que acreditava na luta armada como saída para as transformações no Brasil, então sob regime autoritário. Nesse período vivera na clandestinidade, fazendo bicos para sobreviver, até se refugiar na França. Lá, passou de um ex-aluno de História da Universidade de São Paulo, um dos núcleos universitários combativos, para se tornar um artista plástico renomado, ganhando relevância internacional, o que o conduziu anos depois ao seu país de origem - e novamente ao lar. Eu, por minha vez, nessa época era um jornalista recém-formado na Cásper Líbero e tinha emprego no Diário da Manhã, em São Paulo. Fazia freelance em outras atividades.
Eu estava no início da carreira. Tinha muito a percorrer.
Nosso encontro inicial se dera em uma exposição de arte no MASP. Começamos a conversar e ele, ao longo do papo, comentou que tinha uma boa história para me passar, e assim marcamos um bate-papo no tradicional bar da boemia paulistana. Nunca me adiantou nada sobre o assunto em pauta, apenas me falou que era sobre uma experiência que tivera na sua clandestinidade. Como foca¹, senti que podia ser um bom furo. Tinha 25 anos na época e procurava insistentemente novidades para impressionar a chefia.
Esperei das nove horas até umas dez e pouco. Já pensava em desistir, mas, depois de algumas Brahmas, minha impaciência se aquietou e resolvi esperar mais um tempo.
- Roberto, me desculpe pelo atraso. O trânsito estava terrível.
- Tudo bem Carlos, senta aí e toma uma Brahma.
- Prefiro uma Antarctica. Bem gelada.
- Tudo bem, é só pedir...
- Antes que eu entregue minha história – continuou Carlos – quero lhe dizer que essa experiência aguçou e mudou a minha vida.
- De que se trata?
- Não é nada sobre o meu famoso passado no MR8 e sim sobre uma pessoa especial. Algo sem precedentes... Um sábio, um feiticeiro, um guerreiro.
- Francamente pensei que fosse sobre o seu passado no movimento de oposição aos militares.
- O que eu descobri é mais forte do que a guerra. Só quero que você conte a minha história. Não pretendo aparecer, minha vida agora é outra. Não sou um guerrilheiro, sou um permutador.
- Permutador? O que é isto Carlos?
- Leia meus originais, está tudo aí. Esta é a minha história e também o que sou hoje.
- Ok. Mas o que vem a ser permutador? – indaguei-o muito curioso com aquilo tudo.
- Permutador é o que aprendi a ser. Mas minha história é sobre o homem que me ensinou tudo.
- Tudo bem, mas quero saber o que é um permutador! - insisti um pouco impaciente.
- Leia meus originais, corrija, pesquise. Que ele seja seu.
- Quer que eu edite a história?
- Seja feliz, amigo. É todo seu.
1 Foca ou foquinha é como chamam o jornalista recém-formado, em início de carreira.
Capítulo 1
Em
1971
, eu, Carlos Ronan, estudante de História na USP, quarto ano, ingressei no MR
8
. A princípio assaltamos três bancos. No último, Pires, meu colega, veio a matar um agente particular de segurança, levando-nos a arranjar novos meios de vida. Era extremamente importante se esconder por um determinado período, até que tudo se acalmasse.
Como tinha saído de casa por desavenças com meu pai, que não concordava com as minhas ideias, dormia nas casas dos militantes e acabei arranjando um emprego; estava com
24
anos e não tinha a mínima experiência de trabalho. Consegui então um trampo de porteiro noturno em um prédio da avenida São Luiz. Grandes apartamentos, porém, com poucas vagas de garagem: cinco vagas para vinte moradores, em dez andares com
160
m²; a cobertura com piscina era um luxo para a época. Meu turno era das sete da noite às seis da manhã, e o melhor: havia um quartinho com cama que eu poderia usar se assim quisesse. Aceitei imediatamente.
Capítulo 2
O zelador Romário era um senhor de cabelos brancos, nordestino. Não morava no prédio e logo me informou sobre o morador da cobertura, Sr. Athos Rubirian.
- Carlos, nunca atrapalhe o Sr. Rubirian – disse o zelador- É um armênio rico pra cacete, ganhou com imobiliárias e construindo prédios comerciais. Ele mora com um cachorro preto e dizem que se afastou da direção dos negócios. Hoje vive de aluguéis da própria empresa. Ninguém sabe quanto ele tem, mas é muita grana.
-Ok, fique tranquilo. Quero trabalhar, só isso – evidentemente, fiquei curioso e perguntei se o cara misterioso tinha algum tipo de parente, ou família com ele.
- Tem família e já teve muitas mulheres. Não sei se o filho da puta ficou rico demais e não quer saber de mais nada.
- Fica tranquilo seu Romário, não vou encher o cara. Não há motivo.
- Você não sabe Carlos, ele mora aqui há uns cinco anos, e todos os porteiros acham que ele tem parte com o demo. Ele é muito estranho!
- Como assim estranho, Seu Romário?
- Você logo vai ver, o homem é cheio de lances, ninguém entende. Certa vez presenciei uma coisa muito estranha. Um funcionário faltou e eu