Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Permutador
O Permutador
O Permutador
E-book99 páginas1 hora

O Permutador

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Um artista plástico decide entregar seus diários para um jornalista recém-formado a fim de relatar o fato que mudou sua vida. Nos idos de 1971, Carlos Ronan era um jovem estudante de História, militante do MR-8, que se viu perseguido pelos militares e por esse motivo foi obrigado trabalhar sob disfarce, como porteiro de um prédio na Avenida São Luiz, centro de São Paulo. É nesse emprego que Carlos conhece Athos Rubirian, morador da cobertura, homem muito misterioso que, aos poucos, revela fatos extraordinários do mundo em que vivemos, incluindo, entre tantos outros assuntos, aquilo que ele denomina de permutação. Flavio Sarmento cria um romance extraordinário que traz uma jornada de aprendizado, reviravoltas e mistério, na qual o seu protagonista precisa decidir se continuará vivendo sua vida normalmente, ou se abraçará o mundo invisível que está ao seu alcance.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556620941
O Permutador
Autor

Flávio Sarmento

Flavio Sarmento morou mais de 29 anos em São Paulo, palco de 'O permutador', e mudou-se para São José dos Campos em 1987, sua cidade do coração. Hoje vive em Goiânia. Sua ficção de estreia revela o grande interesse pela literatura, em especial pelos grandes autores Rubem Fonseca, Philip K. Dick, Charles Bukowski, Ernest Hemingway e mais recentemente Haruki Murakami.O permutador revela seu grande fascínio por assuntos que abordam o extraordinário através de linhas esotéricas e espiritualistas.

Relacionado a O Permutador

Ebooks relacionados

Suspense para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de O Permutador

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Permutador - Flávio Sarmento

    2017

    Em 1978, Carlos Ronan combinara comigo um encontro no bar Riviera, ali na Consolação, de frente ao Cine Belas Artes, para a entrega de seus originais. Ele tinha voltado da França, onde se refugiara em fins de 1973, pois participara ativamente do MR-8, um dos vários grupos de resistência aos militares. Assaltou bancos e empunhou várias vezes armas em atentados terroristas, alguns com bombas. Pelo que se sabe em uma delas houve até a morte de um guarda.

    Entre 1971 e 1973, Carlos se escondera em pequenos empregos, deixara a família de classe média alta para adentrar numa ala radical que acreditava na luta armada como saída para as transformações no Brasil, então sob regime autoritário. Nesse período vivera na clandestinidade, fazendo bicos para sobreviver, até se refugiar na França. Lá, passou de um ex-aluno de História da Universidade de São Paulo, um dos núcleos universitários combativos, para se tornar um artista plástico renomado, ganhando relevância internacional, o que o conduziu anos depois ao seu país de origem - e novamente ao lar. Eu, por minha vez, nessa época era um jornalista recém-formado na Cásper Líbero e tinha emprego no Diário da Manhã, em São Paulo. Fazia freelance em outras atividades.

    Eu estava no início da carreira. Tinha muito a percorrer.

    Nosso encontro inicial se dera em uma exposição de arte no MASP. Começamos a conversar e ele, ao longo do papo, comentou que tinha uma boa história para me passar, e assim marcamos um bate-papo no tradicional bar da boemia paulistana. Nunca me adiantou nada sobre o assunto em pauta, apenas me falou que era sobre uma experiência que tivera na sua clandestinidade. Como foca¹, senti que podia ser um bom furo. Tinha 25 anos na época e procurava insistentemente novidades para impressionar a chefia.

    Esperei das nove horas até umas dez e pouco. Já pensava em desistir, mas, depois de algumas Brahmas, minha impaciência se aquietou e resolvi esperar mais um tempo.

    - Roberto, me desculpe pelo atraso. O trânsito estava terrível.

    - Tudo bem Carlos, senta aí e toma uma Brahma.

    - Prefiro uma Antarctica. Bem gelada.

    - Tudo bem, é só pedir...

    - Antes que eu entregue minha história – continuou Carlos – quero lhe dizer que essa experiência aguçou e mudou a minha vida.

    - De que se trata?

    - Não é nada sobre o meu famoso passado no MR8 e sim sobre uma pessoa especial. Algo sem precedentes... Um sábio, um feiticeiro, um guerreiro.

    - Francamente pensei que fosse sobre o seu passado no movimento de oposição aos militares.

    - O que eu descobri é mais forte do que a guerra. Só quero que você conte a minha história. Não pretendo aparecer, minha vida agora é outra. Não sou um guerrilheiro, sou um permutador.

    - Permutador? O que é isto Carlos?

    - Leia meus originais, está tudo aí. Esta é a minha história e também o que sou hoje.

    - Ok. Mas o que vem a ser permutador? – indaguei-o muito curioso com aquilo tudo.

    - Permutador é o que aprendi a ser. Mas minha história é sobre o homem que me ensinou tudo.

    - Tudo bem, mas quero saber o que é um permutador! - insisti um pouco impaciente.

    - Leia meus originais, corrija, pesquise. Que ele seja seu.

    - Quer que eu edite a história?

    - Seja feliz, amigo. É todo seu.


    1 Foca ou foquinha é como chamam o jornalista recém-formado, em início de carreira.

    Capítulo 1

    Em

    1971

    , eu, Carlos Ronan, estudante de História na USP, quarto ano, ingressei no MR

    8

    . A princípio assaltamos três bancos. No último, Pires, meu colega, veio a matar um agente particular de segurança, levando-nos a arranjar novos meios de vida. Era extremamente importante se esconder por um determinado período, até que tudo se acalmasse.

    Como tinha saído de casa por desavenças com meu pai, que não concordava com as minhas ideias, dormia nas casas dos militantes e acabei arranjando um emprego; estava com

    24

    anos e não tinha a mínima experiência de trabalho. Consegui então um trampo de porteiro noturno em um prédio da avenida São Luiz. Grandes apartamentos, porém, com poucas vagas de garagem: cinco vagas para vinte moradores, em dez andares com

    160

    m²; a cobertura com piscina era um luxo para a época. Meu turno era das sete da noite às seis da manhã, e o melhor: havia um quartinho com cama que eu poderia usar se assim quisesse. Aceitei imediatamente.

    Capítulo 2

    O zelador Romário era um senhor de cabelos brancos, nordestino. Não morava no prédio e logo me informou sobre o morador da cobertura, Sr. Athos Rubirian.

    - Carlos, nunca atrapalhe o Sr. Rubirian – disse o zelador- É um armênio rico pra cacete, ganhou com imobiliárias e construindo prédios comerciais. Ele mora com um cachorro preto e dizem que se afastou da direção dos negócios. Hoje vive de aluguéis da própria empresa. Ninguém sabe quanto ele tem, mas é muita grana.

    -Ok, fique tranquilo. Quero trabalhar, só isso – evidentemente, fiquei curioso e perguntei se o cara misterioso tinha algum tipo de parente, ou família com ele.

    - Tem família e já teve muitas mulheres. Não sei se o filho da puta ficou rico demais e não quer saber de mais nada.

    - Fica tranquilo seu Romário, não vou encher o cara. Não há motivo.

    - Você não sabe Carlos, ele mora aqui há uns cinco anos, e todos os porteiros acham que ele tem parte com o demo. Ele é muito estranho!

    - Como assim estranho, Seu Romário?

    - Você logo vai ver, o homem é cheio de lances, ninguém entende. Certa vez presenciei uma coisa muito estranha. Um funcionário faltou e eu

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1