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Contos e Desencontros
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Contos e Desencontros
E-book178 páginas2 horas

Contos e Desencontros

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Sobre este e-book

Pode-se dizer algo de muitas maneiras: de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, em verso ou em prosa, em muitas palavras ou em poucas.

Este livro é composto por vários contos que, como sutis pinceladas em uma tela, tentam descrever ideias e sentimentos disfarçados de pequenas histórias distintas.

Em cada conto há uma ideia central e o argumento que os envolve nada mais é do que uma concha, uma vestimenta, um invólucro de letras para dar-lhes corpo; um veículo construído com breves pinceladas de palavras para fazer com que a mensagem principal não seja nem tão direta, nem tão explícita.

Muitos dos contos deste livro apresentam um tom romântico, centrados em um encontro amoroso que, na maioria das vezes, acaba em um desencontro. Outros contos abordam temas diversos, embora estejam todos impregnados de um leve matiz filosófico, que afinal nos fará indagar os mistérios da vida.

No final das contas, isso é literatura, dizer as coisas de forma ornamentada para que o que é dito não somente traga informações e nos faça refletir, como também nos entretenha durante a leitura.

Toulouse, 17 de setembro de 2016.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento23 de mar. de 2023
ISBN9781667453217
Contos e Desencontros

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    Contos e Desencontros - Aimar Rollan

    Dedicado aos meus pais.

    Essas histórias são fictícias, salvo raras exceções.

    Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

    Introdução

    ––––––––

    Pode-se dizer algo de muitas maneiras: de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, em verso ou em prosa, em muitas palavras ou em poucas.

    Este livro é composto por vários contos que, como sutis pinceladas em uma tela, tentam descrever ideias e sentimentos disfarçados de pequenas histórias distintas.

    Em cada conto há uma ideia central e o argumento que os envolve nada mais é do que uma concha, uma vestimenta, um invólucro de letras para dar-lhes corpo; um veículo construído com breves pinceladas de palavras para fazer com que a mensagem principal não seja nem tão direta, nem tão explícita.

    Muitos dos contos deste livro apresentam um tom romântico, centrados em um encontro amoroso que, na maioria das vezes, acaba em um desencontro. Outros contos abordam temas diversos, embora estejam todos impregnados de um leve matiz filosófico, que afinal nos fará indagar os mistérios da vida.

    No final das contas, isso é literatura, dizer as coisas de forma ornamentada para que o que é dito não somente traga informações e nos faça refletir, como também nos entretenha durante a leitura.

    Toulouse, 17 de setembro de 2016.

    Guardião de papel

    ––––––––

    Tal como previsto, uma grande tempestade solar inundara todos os sistemas eletrônicos do planeta.

    As pessoas, apavoradas.

    Os governos, desesperados e incapazes de oferecer soluções.

    A tecnologia moderna, inútil.

    O livro, imutável...

    O livro: eterno guardião do conhecimento e da memória da raça humana.

    O coelho branco

    ––––––––

    A vida é cheia de decisões, algumas mais importantes que outras. Agora, olhando para trás, vejo como algumas das decisões que tomei me trouxeram até onde estou e me levaram a ser o que sou.

    Ainda me lembro daquela manhã do mês de dezembro. Passeava por La Rambla em Barcelona e parei em uma daquelas típicas barracas que vendem animais. Em uma gaiola grande havia cerca de vinte coelhos anões, todos brancos; me pareceram adoráveis.

    — Quanto custa um coelho desses? — perguntei ao vendedor, sem pensar duas vezes.

    — Doze euros. Se não tiver a gaiola, também posso vendê-la por dezoito euros com todos os acessórios: bebedouro, comida, erva e serragem.

    — Ora... Por que não? Dê-me um — disse-lhe, tomando uma decisão inusitada. De fato, quando saí de casa não tinha planos de comprar um coelho nem nada parecido mas, afinal, quem pode prever os desígnios da vida?

    — Escolha um, o que você mais gostar.

    — Bem, parecem ser todos iguais. Mmm..., este, com as orelhas cinzas.

    — Não são todos iguais, cada um tem a sua personalidade — disse o vendedor, que por sinal era horroroso: tinha uma verruga no nariz e a pele oleosa — espero que tenha feito uma boa escolha, pois isso é como a loteria, nunca se sabe; há os carinhosos, os rebeldes, os sujos, os limpos, os rancorosos, os mal-humorados... é um macho — completou, depois de pegar o que eu havia escolhido e olhar seu sexo.

    — Você só pode estar de brincadeira, até os coelhos tem personalidade. Mas bem, não creio que o jeito dele faça tanta diferença. Eu preferiria ganhar na loteria, já que você a mencionou.

    O vendedor colocou o coelho em uma caixa de papelão com furos e me entregou uma sacola grande com a gaiola e seus acessórios, então paguei e fui embora.

    Chegando em casa, coloquei a gaiola em um canto da sala e comecei a brincar um pouco com o coelho. Ele era muito sociável e carinhoso. Nossa! Dei sorte por ter escolhido este, pensei. Seu nome será Txuri, que significa ‘branco’ em basco, disse-lhe.

    Alguns dias depois o coelho teve uma diarreia que não poderia ter vindo num dia melhor: sábado à noite. Como tinha me apegado a ele, levei-o a um veterinário de urgências que havia na cidade. Uma moça muito gentil me atendeu, examinou o coelho e prescreveu um xarope por quinze dias, a ser administrado pela boca com a ajuda de uma seringa, que me foi fornecida. Essa brincadeira saiu cara — fazer o quê, se era uma urgência.

    Acontece que Txuri adoecia sempre e o danado não escolhia momentos melhores do que as noites de sábado para passar mal (às vezes era diarreia, os dentes ou os olhos inflamados...). O vendedor tinha razão: os coelhos tem personalidade e eu escolhi por acaso (ou não) um demônio disfarçado de um lindo coelhinho branco. Gastei uma fortuna no veterinário. Embora mais tarde ele tenha se tornado um anjo do qual jamais me esquecerei. Poucas decisões na vida me fizeram tão feliz quanto a de tê-lo escolhido.

    Hoje, doze de janeiro, enquanto volto para casa com um buquê de rosas (brancas, em homenagem a Txuri) para presentear minha esposa em nosso aniversário de casamento, não posso deixar de pensar (como faço todos os anos) o que teria acontecido se eu tivesse escolhido um coelho com personalidade diferente da de Txuri. Certamente não teria conhecido a veterinária, que agora é minha mulher... ou teria? Qual é a força que nos move? O acaso, o destino? Não sei. O que sei é que se eu não tivesse tomado a decisão aparentemente banal de escolher um entre tantos coelhos naquela manhã de dezembro, não teria conhecido a minha atual esposa, que me dá tantas alegrias. Enfim, pode ser que exista uma razão oculta que relacione os coelhos brancos à boa sorte.

    Fuga onírica

    ––––––––

    — Precisamos sair daqui de qualquer maneira.

    — O único jeito é organizar um motim, deter os guardas e aproveitar a confusão para fugir disfarçados em suas roupas — respondeu Gabi, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

    Um segundo depois as celas estavam abertas e os prisioneiros, agitados, invadiam os corredores. Reinava o caos e tudo estava muito confuso. Deixaram que alguns guardas saíssem em carros pretos, com a inocente promessa de não dizer nada a ninguém.

    — O mais curioso é que não sei como vim parar aqui. Não é possível que eu esteja na prisão!

    — Não se preocupe, nós já vamos embora daqui — disse Gabi —. Esta fuga é diferente das demais. Somos prisioneiros da noite, mas logo nascerá o sol, se é que você não acordará antes.

    O quarto 408

    ––––––––

    A porta do elevador se abriu e nossos olhares se cruzaram por algumas frações de segundo. Ela saía, eu entrava. O profundo azul de seus olhos me impressionou. O aroma de sua presença, um cheiro almiscarado, permaneceu no elevador. Não consegui parar de me questionar sobre ela; era evidente que a moça tinha me cativado naquele instante. Morena, magra, olhos azuis e aroma almiscarado; nada mais pude saber, nem nada mais poderia ter sabido sobre ela, devido à brevidade do nosso encontro.

    De onde seria? Estaria comprometida? E sua profissão? Quais alegrias enalteceriam seu coração e quais temores a atormentariam nas horas sombrias? Antes que eu me fizesse mais perguntas, a porta do elevador se abriu outra vez. Havia chegado ao meu destino: o terceiro andar do Hotel Royal Plaza, no centro de Ibiza. Ao abrir a porta do quarto deixei escapar um sorriso, pois acabava de me dar conta que a garota saíra do elevador sem as suas malas... Isso me daria a chance de vê-la novamente.

    Deitei-me na cama; estava cansado e com um pouco de ressaca do dia anterior. Pensei naqueles dias de férias, pensei na vida, pensei nela... a desconhecida do elevador.

    Passei o dia seguinte na praia, apesar de não ter sido um dia muito ensolarado. Entrei no mar algumas vezes, avancei bastante na leitura de um romance e fiz várias caminhadas. Antes de voltar para o hotel, passeei na orla e comprei algumas lembrancinhas. Comprei também uma garrafa de uísque e suco de laranja.

    Por volta de dez da noite, comecei a beber no meu quarto. Bebia porque gostava, me animava e porque assim economizava um dinheirinho no bar depois, por já não precisar beber tanto. Às onze eu já tinha bebido mais da metade da garrafa de uísque e notava claramente aquela euforia causada pelo álcool, que te faz ver possibilidades no lugar de impossibilidades. Peguei o telefone para ligar na recepção e pedir um sanduíche de lombo com queijo — ainda não tinha jantado e meu estômago precisava de algo sólido. Antes de discar o número da recepção, imaginei o que aconteceria se eu discasse outro número. O número do meu quarto era 315. Se discasse 408, por exemplo, estaria ligando para alguém hospedado no quarto andar? Antes mesmo de chegar a alguma conclusão, meu dedo já havia discado e apertado o botão de ligar. Dois segundos depois, ouço uma voz de mulher do outro lado da linha:

    — Alô?

    — Oi... — pensei rápido e improvisei — desculpe incomodá-la; veja bem, estou hospedado no terceiro andar, disquei um número aleatório e a ligação caiu no seu quarto... Perdoe minha ousadia, mas você quer sair para passear e beber alguma coisa? É que estou sozinho e prefiro sair acompanhado.

    Uma parte de mim me repreendia pelo que acabara de fazer e a outra esperava que ela me mandasse à merda, desligasse o telefone e, cinco minutos depois, subisse alguém da recepção para me chamar a atenção por ter incomodado outro hóspede.

    — Venha ao meu quarto em quinze minutos e se eu perceber que você não é um psicopata, saímos para beber algo. Eu também estou sozinha e me apetece sair.

    — Certo, até logo.

    Desliguei o telefone e mal pude acreditar no que aconteceu. Dei um belo gole no uísque para não despertar daquela realidade, pulei a parte de ligar para a recepção e pedir o sanduíche, tomei um banho rápido e vesti a roupa mais decente que ainda estava limpa.

    Lá estava eu, de frente para o quarto 408, um pouco nervoso; sem pensar muito bati na porta e, ao se abrir, meu coração disparou. Era a moça do elevador! Até parece! vocês pensarão, Estava na cara que seria ela! Era previsível. Sim, pode parecer óbvio, mas foi assim que aconteceu e é assim que devo contar.

    Devo ter-lhe causado uma boa impressão, pois saímos para beber e passear juntos pela orla.  Não sei se foi pelo excesso de uísque e o estômago vazio, ou pelo efeito da flecha do cupido, mas naquela noite eu me senti vivo, pleno e iluminado, no auge da minha vida. Não a beijei nem a abracei, mesmo morrendo de vontade, porque pensei que teria toda uma vida para isso... Mas ela foi embora no dia seguinte e eu, dois dias depois. Não trocamos nenhum contato. Só sei que o nome dela era Laura e morava em Madri. Não voltei a vê-la. Isso foi há quinze anos.

    Desde então venho vagando de hotel em hotel e, cada vez que a porta de um elevador se abre na minha frente, tenho a esperança de que alguns olhos castanhos como uma ilhota me salvem, porque naufraguei nos olhos oceânicos de Laura e não sei como sair deles; até hoje suas lembranças preenchem a minha mente com a sombra escura da promessa iluminada de um novo encontro.

    Partida vital

    ––––––––

    — Cubro e aumento mil.

    — Cubro e...

    — Você não tem mais dinheiro, idiota!

    — Posso pagar com meu carro que está estacionado lá fora; será mais do que suficiente.

    — Ah, é? Olha, tenho uma ideia melhor — disse o chefe da jogatina clandestina —. Sabe,

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