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Meditações de Marco Aurélio
Meditações de Marco Aurélio
Meditações de Marco Aurélio
E-book190 páginas2 horas

Meditações de Marco Aurélio

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Sobre este e-book

Se houve algum homem que se aproximou do ideal de 'rei-filósofo' da República de Platão, e conseguiu ser bem sucedido tanto na condução do Estado quanto no caminho da filosofia, este homem foi Marco Aurélio, imperador de Roma. Ele foi o último dos cinco imperadores que governaram o Império Romano num período conhecido como Pax Romana (Paz Romana), que durou até a sua morte, em 180 d.C. Curiosamente, a última década de sua vida foi quase toda dedicada a defender o Império de invasores bárbaros – havia paz dentro do Império, mas não em suas fronteiras.

Devido a haver sido educado pelos melhores mentores e sábios de sua época, Marco Aurélio conheceu a fundo a filosofia grega, e veio a se apaixonar pelo estoicismo, particularmente pela obra de Epicteto. Sem dúvida teria sido mais simples se dedicar à filosofia estoica no espaço reservado de uma escola filosófica, mas isto não foi possível ao imperador Marco Aurélio, que tinha literalmente o maior império de seu tempo dependendo dos seus cuidados. O fato de ele ter sido bem sucedido em seu caminho filosófico, mesmo diante de tantas responsabilidades e atribulações, faz dele quase que um exemplo de homem divino, embora ele próprio pouco se importasse com a fama.

Aliás, Marco Aurélio jamais desejou publicar obra alguma. As suas Meditações, que tinham a si mesmo como destinatário, eram nada mais que diários pessoais, escritos sabe-se lá a qual custo em meio ao seu governo. De fato, ele passou os últimos dez anos de sua vida residindo longe do conforto de Roma, defendendo a fronteira norte do Império dos ataques de povos bárbaros. E ao que tudo indica foi precisamente nesses anos, quem sabe para ajudar a si mesmo a ser resiliente a guerra, quem sabe por puro amor a filosofia, que Marco Aurélio escreveu e presenteou a história da filosofia com esta obra.

O tradutor.

***

Número de páginas
Equivalente a aproximadamente 160 págs. de um livro impresso (tamanho A5).

Sumário (com índice ativo)
- Prefácio
- Livro I
- Livro II
- Livro III
- Livro IV
- Livro V
- Livro VI
- Livro VII
- Livro VIII
- Livro IX
- Livro X
- Livro XI
- Livro XII
- Notas

***

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- Finalmente, é o nosso hobby.

[ uma edição Textos para Reflexão distribuída em parceria com a Bibliomundi - saiba mais em raph.com.br/tpr ]

IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de abr. de 2023
ISBN9781526030061
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    Meditações de Marco Aurélio - Marco Aurélio

    Prefácio

    Em sua famosa obra, A República, Platão defende que o Estado ideal deveria ser governado por uma espécie de rei-filósofo. No entanto, mesmo na época o pensador grego sabia que se tratava de algo muito difícil de vir a acontecer:

    Se nunca aconteceu, nos séculos passados, que um filósofo fosse obrigado a se encarregar do governo de um Estado [...], se algum dia realmente vier a acontecer, poderemos então afirmar que existe uma República semelhante a esta que imaginamos, quando a Musa Filosófica se tornar senhora de uma cidade. (A República, Livro VI)

    O próprio Platão, convidado pelo governante de Siracusa, tentou implantar o seu sistema de governo idealizado no mundo real, mas falhou miseravelmente. Ora, se nem mesmo quem imaginou os reis-filósofos encontrou um, diríamos que alguém assim nunca existiu, certo?

    Bem, se houve algum homem que se aproximou dos ideais platônicos, e conseguiu ser bem sucedido tanto na condução do Estado quanto no caminho da filosofia, este homem foi Marco Aurélio, imperador de Roma.

    Marco Aurélio foi o último dos cinco imperadores que governaram o Império Romano num período conhecido como Pax Romana (Paz Romana), que durou até a sua morte, em 180 d.C. Curiosamente, como ainda veremos, a última década de sua vida foi quase toda dedicada a defender o Império de invasores bárbaros – havia paz dentro do Império, mas não em suas fronteiras.

    Nascido em 121 d.C., devido a morte prematura do pai ele foi criado como filho adotivo do bom imperador Antonino Pio, também seu tio, a quem sucedeu no governo em 161 d.C. Devido a haver sido educado pelos melhores mentores e sábios de sua época, Marco Aurélio conheceu a fundo a filosofia grega, e veio a se apaixonar pelo estoicismo.

    Esta corrente filosófica surgiu em Atenas já após Platão e Aristóteles, quando por volta do ano 301 a.C. um estrangeiro de origem fenícia chegou a cidade e passou a divulgar sua doutrina e atrair discípulos. Seu nome era Zenão de Cítio.

    Ao contrário de muitos filósofos da época, Zenão preferia realizar suas palestras em locais públicos, sendo o seu ponto favorito uma espécie de pórtico (stoa, em grego) da cidade. Por conta da palavra stoa, a nova doutrina veio a ser conhecida como estoicismo.

    Zenão teve alguns discípulos que vieram a se tornar relativamente famosos, mas do ponto de vista histórico existiram três estoicos tardios, nascidos séculos após Zenão, que foram muito mais importantes que ele próprio: Sêneca, Epicteto e o próprio Marco Aurélio.

    Sêneca (3 a.C. – 65 d.C.), a exemplo de Marco Aurélio, conseguiu ser bem sucedido na filosofia e na política, tendo alcançado o cargo de senador romano. Foi Epicteto (60 d.C. – 100 d.C.), entretanto, o grande exemplo seguido pelo imperador filósofo. Ao contrário dos outros dois expoentes do estoicismo, Epicteto teve origem humilde e foi escravo por boa parte da vida; mesmo assim tal fato não o impediu de ter sido um dos pensadores mais originais da história da filosofia, ao ponto da própria obra de Marco Aurélio ser mais uma espécie de comentário alongado de Epicteto do que algo propriamente original.

    A própria essência do estoicismo foi de tal forma resumida no início do Manual de Epicteto, que poderíamos dizer que todo o restante pode ser desenrolado, como um fio, desta reflexão inicial:

    As coisas se dividem em duas: as que dependem de nós e as que não dependem de nós. Dependem de nós o que se pensa de alguma coisa, a inclinação, o desejo, a aversão e, em uma palavra, tudo o que é obra nossa. Não dependem de nós o corpo, a posse, a opinião dos outros, as funções públicas, e, numa palavra, tudo o que não é obra nossa. O que depende de nós é, por natureza, livre, sem impedimento, sem contrariedade, enquanto o que não depende de nós é fraco, escravo, sujeito a impedimento, estranho. (Manual, I)

    Assim, um estoico focava a sua atenção não propriamente nos eventos do mundo, mas na sua interpretação, na sua opinião acerca de tais eventos. Ou, como repetia Marco Aurélio, tudo é opinião.

    No entanto, sem dúvida seria bem mais simples se dedicar à filosofia estoica e à reflexão acerca da própria opinião no espaço reservado de uma escola filosófica, numa casa de campo afastada das grandes cidades, quiçá simplesmente viajando a turismo pelo mundo. Todavia, nada disso foi possível ao imperador Marco Aurélio, que tinha literalmente o maior império de seu tempo dependendo dos seus cuidados. O fato de ele ter sido bem sucedido em seu caminho filosófico, mesmo diante de tantas responsabilidades e atribulações, faz dele quase que um exemplo de homem divino, embora ele próprio pouco se importasse com a fama.

    Aliás, Marco Aurélio jamais desejou publicar obra alguma. As suas Meditações, que tinham a si mesmo como destinatário, eram nada mais que diários pessoais, escritos sabe-se lá a qual custo em meio ao seu governo. De fato, ele passou os últimos dez anos de sua vida residindo longe do conforto de Roma, defendendo a fronteira norte do Império dos ataques de povos bárbaros, como os Quados e, principalmente, os Marcomanos. E ao que tudo indica foi precisamente nesses anos, quem sabe para ajudar a si mesmo a ser resiliente a guerra, quem sabe por puro amor à filosofia, que Marco Aurélio escreveu e presenteou a história da filosofia com as Meditações.

    Coube a Cássio Dião, um historiador da época, relatar o esforço descomunal do imperador em não deixar a chama filosófica se apagar, mesmo em meio aos dias mais sombrios:

    Marco não encontrou a boa sorte que merecia, pois ele não era dotado de um físico vigoroso e se viu envolvido em um turbilhão de problemas durante praticamente todo o seu reinado. Mas, na parte que me toca, eu o admiro ainda mais por essa razão, já que, em meio a dificuldades incomuns e extraordinárias ele conseguiu sobreviver e preservar o Império.

    Assim, na sequência ficamos com as reflexões de um dos maiores governantes e filósofos que já passou pelo mundo, que embora tenham ficado conhecidas como as Meditações de Marco Aurélio, na realidade foram intituladas pelo próprio autor como Pensamentos para mim mesmo...

    O tradutor.

    Livro I

    1. De meu avô Verus [1] [eu aprendi] a boa moral e a governança do meu temperamento.

    2. Da reputação e da memória que guardo de meu pai, [aprendi] a modéstia e o caráter viril.

    3. De minha mãe, [aprendi] a piedade, a caridade e a abstinência não somente dos maus atos, como até mesmo dos maus pensamentos; e além disso: a simplicidade em meu modo de vida, bem distante dos hábitos dos ricos.

    4. De meu bisavô [compartilho o fato] de não haver estudado em escolas públicas, e de ter tido bons professores em casa; e saber que, em tais questões, um homem não deve fazer economia de gastos.

    5. De meu mentor, [aprendi] a não ser partidário nem dos Verdes nem dos Azuis nos jogos dos Circos, e da mesma forma, não favorecer nem aos Parmularii nem aos Scutarii nas lutas de gladiadores [2]; dele também aprendi a trabalhar com resiliência, usando minhas próprias mãos, a desejar pouco, e a não me intrometer na vida alheia nem dar ouvido aos difamadores.

    6. De Diogneto, [aprendi] a não dar importância às futilidades, e a não dar crédito ao que dizem os milagreiros e encantadores sobre feitiços, exorcismo de daemons e coisas assim [3].

    Dele também aprendi a não criar codornas [para rinhas], nem a me entregar apaixonadamente a esse tipo de coisa; a tolerar a liberdade de expressão; a ter intimidade com a filosofia e ter escutado aos ensinamentos de Báquio, Tandárido e Marciano; a ter escrito diálogos quando jovem; e a dar preferência à cama e às [roupas de] peles duras, assim como a todo tipo de coisa advinda da disciplina grega.

    7. De Rústico, recebi a impressão de que o meu caráter requeria evolução e disciplina; e dele eu aprendi a não me perder nos devaneios sofistas, a não escrever sobre temas especulativos, a não declamar orações de incentivo sem profundidade, a não me autointitular um homem que domina suas paixões ou praticar caridade por pura exibição.

    Dele também aprendi a me abster da retórica, da poética e das belas frases; a não andar em minha própria casa com vestes da rua ou coisa do tipo [4]; a escrever com simplicidade, como a carta que ele próprio escreveu a minha mãe quando se encontrava na cidade de Sinuessa; a tratar com respeito mesmo aqueles que me ofenderam com palavras, ou me fizeram algum mal, e estar sempre disposto à reconciliação assim que esta se fizer oportuna.

    Dele também aprendi a ler atentamente, e a não me satisfazer com a compreensão superficial de um livro; tampouco ser facilmente convencido por aqueles que falam aos brados. E, sobretudo, eu devo a Rústico ter me familiarizado com os discursos de Epicteto, os quais me foram comunicados a partir de sua própria coleção [5].

    8. De Apolônio eu aprendi a cultivar a liberdade de pensamento e a firmeza nas decisões; a não atentar para nada mais, nem sequer por um momento, que não à razão; e a ser sempre o mesmo: nas grandes dores, nas ocasiões em que perdemos um filho, ou nos longos períodos de doença.

    Dele também aprendi a ver claramente, como um exemplo vivo, que o mesmo homem pode ser ao mesmo tempo firme e compassivo, e ensinar sem ser tedioso. Nele tive, diante de meus olhos, um homem que considerava claramente a sua experiência e habilidade de explicar os princípios da filosofia como o menor de seus méritos. E dele também aprendi a aceitar favores estimados dos amigos, sem me humilhar [em agradecimentos exagerados] nem deixar que passem desapercebidos.

    9. De Sexto [6], [aprendi] a disposição benevolente, e tive o exemplo de uma família governada de forma paternal, assim como a ideia de viver conforme a natureza; e a falar com profundidade sem afetação, a olhar com cuidado as necessidades dos amigos, assim como tolerar os ignorantes e aqueles que formam suas opiniões de maneira superficial.

    Ele tinha a capacidade de se adaptar rapidamente a qualquer tipo de ambiente, de modo que conversar com ele era mais agradável do que receber uma lisonja; e, ao mesmo tempo, inspirava em todos ao seu redor respeito e até mesmo veneração.

    Lembro que possuía a distinta habilidade de investigar e ordenar os princípios necessários a uma boa vida de forma metódica e inteligente; que nunca demonstrou raiva ou qualquer outra afetação das paixões, pois vivia inteiramente liberto delas, embora sempre adoravelmente afetuoso.

    E também sabia, como ninguém, elogiar com discrição, e não ostentar o próprio conhecimento, que era vasto.

    10. De Alexandre, o gramático, [aprendi] a me refrear de apontar constantemente as faltas alheias, e a corrigir com afetuosidade aqueles que deixam escapar algum barbarismo ou erro de pronúncia, indicando a palavra ou expressão que deveriam ter sido usados; nestes casos, sempre discutindo a questão em si: como falar corretamente; sem ressaltar os erros ou buscar ensinar de uma posição de superioridade intelectual.

    11. De Frontão, [aprendi] a atentar para o que são a inveja, o fingimento e a hipocrisia num tirano; e que geralmente aqueles que entre nós são chamados Patrícios são consideravelmente deficientes de afeição paternal [7].

    12. De Alexandre, o platônico, [aprendi] a não responder frequentemente e sem necessidade que não tenho tempo, tampouco negligenciar os deveres para com as relações íntimas ou familiares, alegando ter ocupações mais urgentes.

    13. De Catulo, [aprendi] a não ser indiferente às queixas de um amigo sobre mim, ainda que estas sejam infundadas, mas sempre procurar apaziguar a questão, retornando ao convívio habitual; e a estar sempre pronto para elogiar os mentores, como faziam Domício e Atenodoto; também, a amar verdadeiramente meus filhos.

    14. De meu irmão Severo [8], [aprendi] a amar meus familiares, a amar a verdade, e a amar a justiça; e, por seu intermédio, conheci Tráseas, Helvídio, Catão, Dião e Bruto; e dele eu recebi a ideia de um governo onde a mesma lei vale para todos, administrado tendo na mais alta consideração os direitos dos cidadãos e a sua liberdade de expressão, assim como a conceber uma realeza que respeite acima de tudo a liberdade daqueles que ela governa.

    Dele também aprendi a ter uma dedicação consistente e invariável pela filosofia; e uma disposição para realizar o bem, fazer a caridade necessária, fomentar a boa esperança, e crer no amor de meus amigos por mim; nele, jamais vi qualquer tentativa de ocultar ou dissimular suas opiniões acerca daqueles que condenava, de modo que seus amigos nunca precisavam conjecturar o que pensava ou não de alguém: isto era sempre muito claro para todos.

    15. De Máximo [9], [aprendi] a governar a mim mesmo, e não me distanciar de meu próprio pensamento, seja por qual motivo for; a ter bom ânimo em todas as circunstâncias, até mesmo na doença; a ter uma justa mistura, em meu caráter moral, de doçura e dignidade; a cumprir os deveres que me são colocados sem reclamar da vida.

    Observei que todos acreditavam que ele pensava exatamente o mesmo que falava em seu discurso, e que nunca passou pela sua cabeça nenhuma má intenção ao discursar.

    Ele nunca demonstrou espanto ou surpresa com nada, nunca pareceu se apressar além da conta em qualquer afazer, nunca deixou nenhuma ação por realizar, nunca pareceu perplexo ou envergonhado, nunca riu para ocultar algum sentimento, tampouco alguma vez pareceu estar afetado por alguma paixão ou angústia.

    Ele era acostumado à caridade, e estava sempre disposto ao perdão; da mesma forma, viveu livre de toda falsidade; ele realmente aparentava ser um homem que jamais pôde ser desviado da reta conduta, mais do que um homem que precisou evoluir até aquele patamar.

    Eu também observei que nunca houve alguém que se sentiu menosprezado por Máximo, ou mesmo que pudesse supor que ele mesmo se julgava superior aos demais. Ele também possuía a arte genuína de ser bem humorado de

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