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Teologia Espirita: Compêndio de Teologia Comparada ( Mosaica, Cristã e Espirita)
Teologia Espirita: Compêndio de Teologia Comparada ( Mosaica, Cristã e Espirita)
Teologia Espirita: Compêndio de Teologia Comparada ( Mosaica, Cristã e Espirita)
E-book561 páginas8 horas

Teologia Espirita: Compêndio de Teologia Comparada ( Mosaica, Cristã e Espirita)

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Sobre este e-book

Uma análise comparativa as teologias apresentadas dentro da Revelação Cristã, que sofreu uma ação avassaladora da Revelação Mosaica, acrescentando-se a visão espírita sobre as principais ideias, dogmas e artigos de fé, ensaiando uma tentativa de extirpar do Cristianismo os mitos, as lendas, os atos exteriores ou liturgias que constituem obrigações religiosas, em detrimento do conceito da verdade libertadora que o Cristo preconizou e o Espiritismo fez reviver.
IdiomaPortuguês
EditoraCELD
Data de lançamento10 de mar. de 2023
ISBN9788572975537
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    Pré-visualização do livro

    Teologia Espirita - Lamartine Paljano Jr.

    CIP - BRASIL - CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    P188t

    Palhano Junior, Lamartine, 1946 - 2000

    Teologia Espírita: Compêndio de Teologia Comparada: mosaica, cristã e espírita / L. Palhano Jr. — 1a ed. — Rio de Janeiro: CELD, 2016.

    508 p.; il.; 22cm.

    Apêndice

    Inclui Bibliografia

    1. Espiritismo. 2. Teologia dogmática – Estudos comparados. I. Título.

    00-0334.

    CDD 133.9

    CDU 133.7

    Capa: Cunrã. Khirbet-Qumran (ruína de Cunrã), na praia noroeste do Mar Morto, perto de onde foram descobertas onze cavernas, entre 1947 e 1956, nas quais estavam guardados muitos manuscritos bíblicos, denominados Rolos do Mar Morto. Ao fundo, vista da rue Sainte-Anne, 59. No 1º andar da Passage Sainte-Anne, localizava-se a Sociedade Espírita de Paris.

    TEOLOGIA ESPÍRITA

    Compêndio de Teologia Comparada

    (Mosaica, Cristã e Espírita)

    L. Palhano Jr.

    1ª Edição: março de 2016.

    L1770800

    Copidesque e Revisão de Originais:

    Sonia Santoro

    Capa:

    Rogério Mota

    Arte-final de Capa:

    Roberto Ratti

    Revisão:

    Teresa Cunha

    Diagramação e Arte-final:

    Luiz P. de Almeida Jr.

    e Márcio Almeida

    Produção de ebook:

    S2 Books

    Para pedidos de livros, dirija-se ao

    Centro Espírita Léon Denis

    (Distribuidora)

    Rua João Vicente, 1.445, Bento Ribeiro,

    Rio de Janeiro, RJ. CEP 21610-210

    Telefax (21) 2452-7700

    E-mail: grafica@leondenis.com.br

    Site: leondenis.com.br

    Centro Espírita Léon Denis

    Rua Abílio dos Santos, 137, Bento Ribeiro,

    Rio de Janeiro, RJ. CEP 21331-290

    CNPJ 27.921.931/0001-89

    IE 82.209.980

    Tel. (21) 2452-1846

    E-mail: editora@celd.org.br

    Site: www.celd.org.br

    Remessa via Correios e transportadora.

    Todo produto desta edição é destinado à manutenção das obras sociais do Centro Espírita Léon Denis.

              

    Agradecimentos

    Em primeiro lugar, agradeço aos confrades do CIPES, que muito me ampararam com suas preces e me auxiliaram nesses estudos espíritas. Agradeço ao Alexandre Rocha, um de meus editores, por fornecer-me parte da literatura pertinente ao assunto desta obra. E, finalmente, agradeço à minha mulher, Rosane Lima Palhano, pela leitura minuciosa do texto, fazendo as primeiras correções do vernáculo e contribuindo com suas judiciosas ponderações, de muito valor, alertando-me para essa ou aquela alteração para a clareza do texto e acerto nas conceituações.

    SUMÁRIO

    Capa

    Ficha catalográfica

    Folha de rosto

    Créditos

    Abreviaturas

    A Ideia Religiosa

    Prefácio

    Introdução

    Teologia Comparada (Mosaica, Cristã e Espírita)

    Capítulo I - Deus

    Capítulo II - Seres Espirituais

    Capítulo III - Lugares Espirituais

    Capítulo IV - Espírito e Espiritualidade

    Capítulo V - Corpo Espiritual

    Capítulo VI - Dons Espirituais

    Capítulo VII - Loucura e Possessão

    Capítulo VIII - Cristandade

    Capítulo IX - Títulos Messiânicos

    Capítulo X - Virtudes Teologais e Ações Cristãs

    Capítulo XI - Armadura de Deus

    Capítulo XII - Livros Fundamentais

    Capítulo XIII - Leis e Mandamentos

    Capítulo XIV - Sacramentos

    Capítulo XV - Dogmas

    Capítulo XVI - Do Maravilhoso e do Sobrenatural

    Capítulo XVII - Liturgias e Obrigações Religiosas

    Capítulo XVIII - Paramentos, Símbolos e Amuletos

    Capítulo XIX - Eternidade e Morte

    Capítulo XX - Crimes e Pecados

    Capítulo XXI - Provas e Expiações

    Capítulo XXII - Doutrina da Salvação

    Capítulo XXIII - Localidades e Situações Bíblicas

    Capítulo XXIV - Personagens da Bíblia e dos Evangelhos

    Capítulo XXV - Jesus e seus Discípulos

    Capítulo XXVI - O Consolador

    Capítulo XXVII - Teologia Espírita. Princípios Básicos do Espiritismo Como Revelação

    Glossário Técnico

    Termos Técnicos

    Referências Bibliográficas

    ABREVIATURAS

    Antigo Testamento

    Ag. = Ageu

    Am. = Amós

    1Cr. = 1Crônicas

    2Cr. = 2Crônicas

    Ct. = Cantares

    Dn. = Daniel

    Dt. = Deuteronômio

    Ec. = Eclesiastes

    Ed. = Esdras

    Et. = Ester

    Êx. = Êxodo

    Ez. = Ezequiel

    Gn. = Gênesis

    Hc. = Habacuc

    Is. = Isaías

    Jl. = Joel

    Jó = Jó

    Jn. = Jonas

    Jr. = Jeremias

    Js. = Josué

    Jz. = Juízes

    Lm. = Lamentações

    Lv. = Levítico

    Ml. = Malaquias

    Mq. = Miqueias

    Na. = Naum

    Ne. = Neemias

    Nm. = Números

    Ob. = Obadias

    Os. = Oseias

    Pv. = Provérbios

    1Rs. = 1Reis

    2Rs. = 2Reis

    Rt. = Rute

    Sf. = Sofonias

    Sl. = Salmos

    1Sm.= 1Samuel

    2Sm.= 2Samuel

    Zc. = Zacarias

    Novo Testamento

    Ap. = Apocalipse

    At. = Atos

    Cl. = Colossenses

    1Co. = 1Coríntios

    2Co. = 2Coríntios

    Ef. = Efésios

    Fm. = Filêmon

    Fp. = Filipenses

    Gl. = Gálatas

    Hb. = Hebreus

    Jd. = Judas

    Jo. = João

    1Jo. = 1João

    2Jo. = 2João

    3Jo. = 3João

    Lc. = Lucas

    Mc. = Marcos

    Mt. = Mateus

    1Pe. = 1Pedro

    2Pe. = 2Pedro

    Rm. = Romanos

    Tg. = Tiago

    1Ts. = 1Tessalonicenses

    1Tm. = 1Timóteo

    2Tm. = 2Timóteo

    Tt. = Tito

    Exemplos do emprego das abreviaturas: Gn. 3:5 = Capítulo 3, versículo 5, do livro Gênesis. 1Co. 13:1-4 = Capítulo 13, versículos de 1 a 4 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios.

    Outras Abreviaturas:

    a.C. = antes de Cristo

    a.D. = Anno Domini (no ano do Senhor)

    A.T. = Antigo Testamento

    c. = cerca de

    Cap. = Capítulo

    Cf. = Confira

    Cp. = Compare

    d.C. = depois de Cristo

    DITNT = Dicionário Internacio- nal de Teologia do Novo Testamento

    Hebr. = Hebraico

    LXX = Septuaginta (Versão dos Setenta)

    Ms. = Manuscrito

    N.T. = Novo Testamento

    Refs. = Referências

    v. = versículo

    vv. = versículos

    vv.ss. = versículos e seguintes

    É fora de dúvida que a ideia de Deus é inata na alma dos homens. Nos primórdios da história humana, o homem, estando em sua infância espiritual, olhava para o alto, procurando o significado do Sol, da Lua, das estrelas e, amedrontado, tremia diante dos fenômenos berrantes da Natureza, escondendo-se dos trovões e admirando-se de tudo o que lhe era desconhecido e grandioso à sua visão imatura.

    Com o correr das idades, o pensamento foi sendo cada vez mais elaborado e ganhou continuidade plena, cada vez mais rápido e lúcido, possibilitando os primeiros contatos com os espíritos, que sugeriam, em intuições e visões, novas luzes e descobertas.

    Sem compreender bem o que se passava, o homem deu início ao ato da adoração, exaltando tudo o que não compreendia e temia: o fogo, os relâmpagos, as tempestades. Depois, com a necessidade de ter um deus palpável e tangível, transferiu sua atenção para as coisas, para os animais, seres que só a imaginação podia criar, idealizando imagens de madeira ou de pedra, objetivando o rito religioso que lhe nascia, sem nem mesmo compreender, ainda, a existência do Criador.

    Surgiram os deuses, os Elohim, os Baals, as Dianas, os Cronos, mas a ideia central, cada vez mais forte, procurava o centro do poder mantenedor de todas as coisas. Em época bem mais adiantada do primitivismo, a Mitologia foi sendo construída na poesia dos homens, em torno de um deus principal, surgindo Zeus e depois Júpiter.

    Entrementes, desenvolvia-se, ao lado do politeísmo, a ideia de um Deus Único, Todo-Poderoso, o maior entre os Elohim, o grande Eloíh, que, sob a tutela lendária de Moisés, tornou-se o Yahweh, o Deus dos Espíritos, o Único, o Santo dos Hebreus.

    Sob a influência religiosa dos povos politeístas e adoradores dos ídolos de pedra, não conseguiram escapar à tentação da idolatria, tendo seus reis adorado aos diversos deuses pagãos, participando, inclusive, dos ritos com sacrifícios humanos. Houve por bem, à direção espiritual do povo hebreu, mediante as necessidades de evolução natural, lançar mão de métodos educativos e seletivos, mesmo dolorosos, para que a ideia de um só Deus permanecesse.

    O povo escolhido foi sendo separado, até que se estabilizou nos sítios de Judá, depois do cativeiro, com todas as ideias babilônicas concentradas e adaptadas ao modo de ser da tradição hebraica, reunidas nos princípios religiosos do Judaísmo. Mas, o conhecimento das leis morais, superiores às leis proibitivas do Decálogo Mosaico, já estava consolidado nas Escrituras, espalhado nos Salmos, nas Crônicas, nas Lamentações, no Eclesiastes, no Eclesiástico, e nas palavras dos profetas como Isaías e Daniel, sem-chance de se dizer que não se sabia da Verdade.

    Os líderes religiosos, porém, preferiram permanecer no culto externo, proposto pela letra da Lei, a prosseguir no esforço da transformação interior, mantendo o povo longe dos recursos da transformação moral e da elevação espiritual. A letra fria da Lei garantia o controle do vulgo, sob o guante pesado da lei de talião, do dente por dente, olho por olho e, pior, morte ao infiel e blasfemo, esquecendo-se de que eles mesmos transgre-diam, assim, o 5º Mandamento.

    Jesus de Nazaré veio no momento preciso, para definir, de vez, onde estava o caminho para as Verdades Divinas, que foram anotadas pelos profetas, ao longo dos séculos. O farisaísmo estava instalado nos corações endurecidos e incapazes de perceber a grandiosa mensagem do Mestre Galileu. O Cristo, tão esperado, foi sacrificado, como a figura passiva do cordeiro pascal. A cruz de suplício humano, inventada pelo próprio homem, tornou-se o marco entre as fronteiras do mundo temporal e do espiritual. Permaneceram no mundo os discípulos e apóstolos que testemunharam, anotaram, exemplificaram e deram suas vidas pela Verdade revelada, beberam do mesmo cálice de amarguras que o Mestre bebeu.

    Escorregadios, os homens chamados a conduzir os ensinos, doutos e prudentes, obedecendo aos poderes atávicos de suas experiências existenciais passadas, como sacerdotes do mundo, deram preferência às demonstrações e usufruto dos poderes temporais, esquecendo-se novamente da ordem sublimada de amor incondicional, a única coisa realmente necessária.

    Novamente os séculos se passaram e deu-se continuidade às ideias farisaicas das aparências. Vieram os engodos e os crimes em nome de Deus e do Cristo. Até que outra chance, anteriormente anunciada, foi providenciada — a vinda do outro Consolador, para atender aos apelos dos que já estavam sensíveis às Verdades Cristãs legítimas.

    O Espiritismo, sob a direção do Espírito de Verdade, reuniu todo o ensinamento perdido. Ele veio, como prometido, como o novo Ajudador, o Advogado dos mansos e humildes de coração, para ensinar todas as coisas e permanecer para sempre com aqueles de boa vontade, que, procurando a presença divina, veem a sua luz, como filhos do Deus Único, Pai e Criador. O Espiritismo veio trazer o verdadeiro aspecto da Religião natural e verdadeira, na mais sublimada idéia religiosa de todos os tempos, que liberta, que redime e que mostra o Caminho, a Verdade e a Vida Eterna.

    Léon Denis[1]

    A presentamos à sociedade, a todos os interessados em discernir sobre as questões teológicas, um compêndio, no qual estão discutidos os principais temas das Revelações Hebraica, Cristã e Espírita.

    Os assuntos aqui tratados vêm influenciando a Humanidade desde tempos imemoriais, quando o homem deu início à ideia religiosa, assim que escolheu algo para adorar, ou melhor, para idolatrar, como os fenômenos da Natureza, animais, ídolos de pedra, o fogo, os astros celestes, homens (reis e heróis), seres espirituais, numa evolução da ideia religiosa, que vai da idolatria aos deuses mitológicos, passando pela concepção de um Deus Único dos Exércitos, ao Deus Pai e Criador, justo e bom.

    Por causa dos cultos prestados a esses deuses (religionis), aos ídolos, cometeram-se muitos desmandos, domínios desmedidos, tirania física e consciencial. Crimes hediondos de todos os tipos, desde torturas calculadas, guerras e chacinas, foram praticados em nome dos deuses e mesmo do Deus Único.

    O Deus dos Exércitos e todas as manifestações espirituais realizadas por seus profetas não conseguiram fazer com que o povo, dito eleito, os respeitassem com uma fé segura e verdadeira. O povo, os reis, os príncipes, os doutores da lei foram incapazes de perceber a grandeza de um Pai Celestial e seus enviados.

    A paternidade divina, preconizada pela Teologia Cristã, não foi suficiente para estabelecer ainda o verdadeiro sentido da fraternidade entre os homens. Assim, esse Deus cristão tornou-se abominável, diante daqueles que sofreram sob os cuidados dos homens que se colocaram como seus ministros.

    Houve um momento de luz que se fez possível, quando o bom senso e a razão, unidos ao sentimento, gerado pelo verdadeiro ensinamento cristão, vieram destruir as trevas contidas na mentalidade humana. Essa luz não chegou apenas pela cabeça de um homem só, mas pelas cabeças de muitos outros, numa universalidade de informações altamente espiri-tualizadas, unificadas na Codificação Espírita, sob a égide do Espírito de Verdade e coordenação de Allan Kardec.

    O Espiritismo é o conjunto de informações espirituais analisado e discutido por Allan Kardec, que conseguiu demonstrar a realidade da existência de Deus, do espírito, das vidas sucessivas, da comunicabilidade dos espíritos, da pluralidade dos mundos habitados, destruindo a ideia medieval e obscurantista da atual Teologia Cristã, que não passa de uma sedimentação atávica da mitologia hebraico-greco-romana.

    Os líderes cristãos da atualidade não podem suportar a propagação das ideias espíritas, pois que elas destroem seus dogmas nascidos das imposições tirânicas dos césares (de Constantino a Justiniano), depois dos papas (como Inocêncio III) e mesmo com a manutenção de ideias farisaicas pelos reverendos da Reforma.

    Este compêndio vem demonstrar, de modo comparativo e analítico, que as Teologias Hebraica e Cristã há muito estão superadas, visto que mantêm com seus dogmas principais as especificações mitológicas, tais como céu, inferno, purgatório, demônios, anjos com asas, temor a Deus, antropomorfismo divino, milagres, mistérios, Santíssima Trindade, Espírito Santo, redundando numa incompatibilidade geral com o conhecimento humano atual. Sobre-existem em seus desmandos, apenas porque a maioria da população ainda é mantida sem a devida instrução, sem-condições de análise crítica dos argumentos das chamadas Igrejas Cristãs, uma simples leitura dos textos evangélicos, mesmo do jeito que estão, modificados para atender a uma doutrina sotero-escatológica e do temor da morte. Vê-se bem que o procedimento religioso das autoridades eclesiásticas é incompatível com os ensinamentos do Cristo (humildade, desprendimento dos bens materiais, pureza de sentimentos, amor a Deus, ao próximo e até mesmo ao inimigo, perdão das ofensas).

    Constitui um erro pensar que o Espiritismo não pode expressar o seu pensamento teológico, simplesmente considerando o sentido comum que se tem dado a essa palavra. É preciso ir bem mais fundo para verificar que o Espiritismo, como doutrina filosófica, tem muito a oferecer à Teologia, diante do seu significado geral, abrangente, em relação às verdades religiosas. Aprofundemo-nos na temática, a partir das origens etimológicas:

    θεος, ου, ο, η Τεσς = Deus, deus, deusa, divindade.

    λογος, ου, ο logos = palavra, expressão, proposição, discurso, tratado, revelação divina, oráculo.

    λογοιον, ου, το διµ. λογος logoion, logia = sentença, oráculo, predicação, comunicação divina.

    Como resultado, temos a expressão Teologia, que, em primeiro sentido, significa: ciência dos deuses ou o estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens, e à verdade religiosa. Não é, por acaso, dessas questões que trata o Espiritismo? Allan Kardec interferiu no conhecimento teológico logo que formulou a primeira pergunta de O Livro dos Espíritos: "O que é Deus? Somente no sentido restrito à Teologia, que as próprias religiões dão a si mesmas, seja na Teologia Cristã (Católico-Protestante) ou em outra qualquer que seja, é que se diz: Estudo racional (?) dos textos sagrados, dos dogmas e das tradições do Cristianismo". Os chamados Pais das Igrejas tomaram para si uma ciência que pertence à Humanidade.

    Adentremo-nos pelo conceito geral de Teologia e estabeleçamos a Teologia Espírita, não como mais uma teologia, mas como a Teologia com bases experimentais, filosóficas e espirituais, como expressão da Verdade, seja pela Hermenêutica ou pela Exegese; forcemos, por argumentos convincentes e irrefutáveis, a Humanidade a refletir e desvencilhar-se da infância religiosa em que se encontra, com seus dogmas, paramentos, sacramentos, cerimônias, rituais e outras obrigações religiosas, sem-condições de adorar a Deus em Espírito e Verdade.

    Ficou bastante claro que a Teologia é uma ciência que trata das coisas relacionadas a Deus e a tudo o que lhe diz respeito. O Espiritismo tem ampla participação nessa área do conhecimento. Como está demonstrado nesta obra, os conceitos espíritas há muito contribuem para a interpretação honesta e superior na utilização da Hermenêutica como Ciência e dá rumos seguros à Exegese, na arte de expor e comentar os termos das Revelações Divinas.

    Hermis, filho de Zeus e Maia, na mitologia grega, era o deus que interpretava o significado dos oráculos dos deuses estrangeiros. Na mitologia romana, Hermes foi identificado com o deus Mercúrio (aquele que vê além). Era o mensageiro dos deuses, deus do comércio e da eloquên-cia. Do nome Hermis veio a palavra Hermenêutica para indicar a ciência de identificar os textos sagrados.

    No mundo antigo greco-romano, a pitonisa sempre tinha ao seu lado o herminéfs ou aquele que interpretava a linguagem usada pelos deuses (espíritos) e também o ecsighitis, o exegeta, para explicar a revelação obtida. Eis a Exegese como a arte de comentar o significado dos textos sagrados.

    O que propomos aqui é uma hermenêutica honesta, sem a soma de sentidos novos para conotações sectárias que defendem princípios religiosos. Uma exegese não dogmática, como as que tendem a manter artigos de fé. Exemplo prático disso é o caso do Dogma da Reencarnação, preconizado por muitas das antigas religiões que ainda perduram no mundo. Com a argumentação espírita, a reencarnação deixa de ser dogma, para ser entendida como uma Lei Universal. Outros exemplos gritantes são as conceituações de Céu, Inferno e Purgatório, que se modificam radicalmente à luz do Espiritismo, que demonstra não existirem tais lugares, geograficamente falando, mas que, todos, espíritos encarnados e desencarnados, encontram-se em situação vibratória de afinidade diretamente relacionada ao estado íntimo de cada um, de acordo com o grau de evolução a que pertencem, dentro dos ditames da Lei do Progresso.

    Preferimos utilizar a forma de um compêndio. Assim, há momentos em que os termos dicionarizados no seu sentido exato aparecem compilados, sendo que aqueles que necessitam de explicações mais precisas vêm seguidos da indicação bibliográfica e os que merecem interpretação espírita estão acompanhados pelas devidas elucidações. Além disso, houve um esforço em enviar o leitor para verbetes relacionados, mais precisamente para ajudá-lo no estudo completo de determinadas questões.

    Nos textos a seguir, será possível uma comparação imediata entre a Teologia Hebraica, a Cristã e a que apresentamos sob a luz do Espiritismo: a Teologia Espírita, que surge aqui como proposta libertadora das obrigações dogmáticas religiosas, cujos atos exteriores predominam sobre a natureza espiritual da formação do verdadeiro religioso, pois, como disse Jesus à mulher samaritana: Deus é Espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade. (Jo., 4:24.)

    L. Palhano Jr.

    O Espiritismo é a Terceira Revelação de Deus aos homens ocidentais. Até que o pensamento humano pudesse receber as ideias espíritas, foi preciso galgar degraus importantes do conhecimento espiritual: primeiro, a compreensão do Deus único, bom e justo, todo-poderoso, com a revelação de Moisés; segundo, a ideia de Deus como um pai, cuja paternidade divina a tudo provê; terceiro, o entendimento de que, além da vida material, existe uma outra, para onde seguem todos após a morte do corpo físico; quarto, que a vida é uma contínua evolução para a plenitude em Deus.

    Assim sendo, para melhor entendimento do que é correto, em termos do pensamento religioso, e uma compreensão melhor de Deus, é preciso reconsiderar todos os argumentos equivocados da teologia elaborada pelo pensamento humano e adequá-la à realidade dos conhecimentos espíritas, que se baseiam na Verdade dita pelos espíritos, que vêm, em nome de Deus, instruir os homens. O Espiritismo é uma filosofia religiosa, tem muito a oferecer à Teologia, visto que, em seu bojo, traz um caminho de luzes renovadoras para o entendimento da realidade divina.

    A proposta, aqui, é justamente esta: considerar a contribuição espírita para o argumento teológico. É o que queremos fazer, de modo tão compreensível quanto for possível, mesmo que esta seja uma primeira tentativa, tão singela quanto o alcance intelectual do autor, mas que pode indicar o caminho, em primeira instância, para os entendidos e especialistas. Reafirmamos que a Doutrina Espírita tem muito a acrescentar à Teologia.

    Esta é mais uma tentativa espírita de recuperar o significado real dos ensinos de Jesus de Nazaré; portanto, uma continuidade dos estudos da Codificação de Allan Kardec, como trabalho que, fundamentado nos livros básicos do Espiritismo, vem trazer a luz sobre muitas questões pertinentes ao ensino religioso, sem-liturgias elaboradas e trabalhosas que tomam tempo e dão apenas uma aparência mística, que, por sua vez, induzem mais a uma fé contemplativa e extática do que a uma religiosidade sólida, com alicerces na Verdade.

    É justo que, sabendo as origens da Teologia Cristã, procuremos definir bem as influências hebraica, fenícia, persa, grega, romana, com seus deuses e mitologias, e de seus livros sagrados, nas ideias cristãs. Verificaremos que os textos dos Evangelhos, divulgados na cristandade, foram montados segundo as Escrituras Antigas do povo hebreu (Dodd - Segundo as Escrituras), para demonstrar que Jesus era o Messias.

    Para estarmos seguros e arregimentarmos argumentos sólidos para a tese espírita, é preciso retirar das entranhas da História os fatos e os conceitos que definiram a atual Teologia Cristã, separando a mitologia e recuperando a realidade histórica, para que sejam restabelecidas as Verdades tão esperadas pelas mentes mais amadurecidas e que, por apresentarem suficiente crescimento do senso moral, esperam apenas o toque inicial do argumento insuspeito e lógico, para prosseguirem no caminho de suas próprias realidades espirituais.

    Os temas serão abordados seguindo uma ordem alfabética, e a cada verbete será acrescentada uma indicação para outros verbetes relacionados, facilitando, assim, o estudo. Todos os interessados em rever a temática teológica à luz do Espiritismo poderão seguir, passo a passo, a origem dos termos cristãos, verificando por si mesmos, considerando a bibliografia indicada, quão transformados foram os seus verdadeiros significados.

    Nunca será demais a procura pelo ensinamento puro de Jesus, tendo sido ele o maior profeta que veio à Terra e que não falhou em sua missão, constituindo-se guia e modelo para os homens (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, pergunta 625). Mesmo porque seus ensinamentos foram deturpados, ao longo dos séculos, à medida que os prelados da Igreja, e também os da Reforma, tomaram para si o título de Pais, Doutores, Santos, Bispos e Pastores, elaborando dogmas e sacramentos, para que tivessem em suas mãos a supremacia religiosa, sequiosos do poder temporal. Foram esquecendo-se de Deus, pois o tornaram inatingível e fizeram seus ouvidos moucos ao chamamento do Cristo Verdadeiro, a quem divinizaram. Isolaram o homem dos Bons Espíritos, desqualificando-os para uma situação também divina — o Espírito Santo. A tudo guardaram sob a sombra dos mistérios e dos milagres inexplicáveis.

    Entretanto, no século passado, o século das luzes, aconteceram fenômenos espirituais que marcaram a época do cumprimento das profecias da ressurreição dos mortos. No pequenino povoado de Hydesville, próximo à cidade de Rochester, no condado de Monroe, no Estado de Nova Iorque (USA), em março de 1848, um espírito voltou do túmulo para falar aos homens que a morte do corpo não era a morte do espírito, e que ele, Charles Brian Rosma, vivia e estava ali para dar testemunho de que seu corpo fora assassinado e escondido dos homens. Através das energias medianímicas das meninas Katherine e Margaret Fox, pela primeira vez, os espíritos comunicaram-se com a multidão, sem-subterfúgios ou escamoteamentos, pela simplicidade com que se deu o evento. Tal acontecimento marcou o início de uma nova era para o pensamento religioso do mundo. Nasceu, ali, O Moderno Espiritualismo (Palhano Jr., Rosma, o Fantasma de Hydesville).

    Com aqueles fatos, inquestionáveis devido à sua natureza desassombrada e de evidência pública, quando juízes, médicos, cientistas, jornalistas e todos, indistintamente, puderam averiguar os fenômenos, atestando a natureza psíquica dos mesmos, provenientes de uma inteligência extracorpórea, ficou claro que era um espírito que "se levantara" do seu túmulo (ressurreição), para falar com os homens.

    Outros grupos humanos, ainda na América, encorajados com a repercussão dos acontecimentos de Hydesville, começaram a publicar suas observações e os fatos espalharam-se e foram repetidos e obtidos em diversos outros lugares, tomando o aspecto de que eram perfeitamente reproduzíveis, a partir da emissão energética de um médium, ou seja, de uma pessoa capaz de liberar uma força psíquica, conforme os estudos de William Crookes (Palhano Jr., Experimentações Mediúnicas, a propósito das pesquisas psíquicas de William Crookes), que, mais tarde, o grande Charles Richet chamou de ectoplasma, em seu livro A Grande Esperança.

    As notícias da América chegaram à Europa, quando, então, nos salões festivos de Paris, na sua intensa vida social, todos queriam ver os ruídos tiptológicos e os fenômenos de sematologia, quando os espíritos se comunicavam por sinais, utilizando-se das famosas mesas girantes.

    Nesse meio tempo, o mesmerismo, em Paris, saiu da fase do magnetismo animal e entrou para uma fase em que muitos magnetizadores estavam observando uma ação psíquica ou espiritual, umas interferências que mais pareciam presença de espíritos — o magnetismo espiritual. O Professor Rivail, Hippolyte Léon Denizard Rivail, famoso por seus livros escolares e projetos públicos, versado no mesmerismo e conhecedor do magnetismo espiritual, foi convidado pelo Sr. Fortier, para assistir a algumas sessões onde as mesas falavam. Corria o ano de 1854. Rivail disse-lhe:

    ... acreditarei quando o vir, e quando me tiverem provado que uma mesa tem um cérebro para pensar, nervos para sentir, e que ela pode tornar-se sonâmbula; até lá, permita-me que eu não veja aí mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé. (Allan Kardec, Obras Póstumas, Segunda Parte, A minha primeira iniciação no Espiritismo.)

    No início de 1855, as notícias das mesas falantes corriam por toda Paris e Rivail recebeu novo convite, agora do Sr. Carlotti, um velho amigo de vinte e cinco anos. Foi o primeiro que lhe falou sobre a intervenção dos espíritos nos fenômenos e sobre outras coisas que Rivail considerou surpreendentes.

    Ali pelo mês de maio (1855), Rivail foi à casa da sonâmbula Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, que era o magnetizador daquela médium. Lá, encontrou o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, médium, que lhe falaram dos fenômenos, como o havia feito o Sr. Carlotti.

    Após essa conversa, Rivail aquiesceu em assistir a uma sessão e o Sr. Pâtier o convidou para assistir às experiências que eram realizadas na residência da Sra. Plainemaison, na Rua Grange-Batelière, 18. Aceitou imediatamente, e a sessão foi marcada para uma das terças-feiras de maio, às oito horas da noite.

    Foi ali que observou, pela primeira vez, o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, de tal modo que não deixavam dúvida alguma sobre o fato. A esse respeito, Rivail escreveu:

    Eu entrevia, sob essas futilidades aparentes e na espécie de jogo que faziam daqueles fenômenos, algo de sério, como a revelação de uma nova lei, na qual prometi a mim mesmo aprofundar-me. (Allan Kardec, Obras Póstumas, Segunda Parte, A minha primeira iniciação no Espiritismo.)

    O que viu o fez mudar de ideia a respeito dos fenômenos chamados espíritas. Verificou que o conteúdo dos escritos obtidos por meio dos sinais convencionados pela levitação da mesa não provinham de nenhum dos que estavam presentes no recinto. Percebeu que por trás dos fenômenos existiam inteligências e concluiu que essas inteligências eram espíritos. Deu início, então, a uma intensa pesquisa, desvendando diversos mistérios a respeito dos quais havia, anteriormente e há muito tempo, discutido com seu mestre Pestalozzi. Procuravam uma ideia nova a respeito dos mistérios religiosos, que explicasse a realidade da vida espiritual. Rivail encontrou as respostas para as suas questões sobre Deus e a imortalidade da alma, os dois temas centrais de todas as religiões do mundo.

    Mediante os dados obtidos sob orientação espiritual, Kardec pôde reconstruir todo o alicerce da Doutrina Cristã, recuperando, sob as luzes da Ciência e da Filosofia, as raízes morais do Cristianismo e testificando o Cristo, quando da publicação de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Aí, Kardec disse ao mundo o verdadeiro objetivo da Doutrina Espírita: o de Paracleto.

    Quando Kardec publicou O Livro dos Espíritos, estabelecendo as bases filosóficas do Espiritismo, depois O Livro dos Médiuns, mostrando o caráter experimental da nova ciência, ele, baseado na segurança das evidências encontradas, demonstrou, também, que tudo o que observara mostrava que Jesus Cristo era verdadeiro em seus ensinos.

    O que temos herdado dos primeiros pesquisadores das verdades eternas? Não são, por acaso, os mais sublimes conceitos de Deus, a verdade da imortalidade da alma, os ensinos do Cristo, em sua maior pureza, o sentido real das nossas existências, como criaturas de Deus, o que é o céu, o inferno e o purgatório? Isso tudo, afinal, não é Teologia?

    Tomemos por base o verdadeiro significado de Teologia: do grego: Theos = Deus; logia = discurso; ciência dos deuses; estudo de Deus; enfim, doutrina ou ciência de Deus; como estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens e com a verdade religiosa.

    Existem importantes informações de ordem teológica, na Doutrina Espírita, e que são bastante elucidativas a respeito da natureza de Deus, de sua obra, da relação do homem para com Ele. Portanto, existe uma Teologia Espírita, embora alguns queiram dizer o contrário. Será possível que possa haver uma religião que não tenha um alicerce teológico? Ora, se a base de todas as religiões é a premissa Deus, e o Espiritismo oferece um alto grau de religiosidade aos seus adeptos, é justo que os seus conhecimentos de Deus sejam organizados e proclamados diante dos homens.

    É hora de reformas: não mais reformas de conceitos humanos, mas exame das Revelações Verdadeiras, excluindo as falsas, nascidas dos falsos mestres, tão citados nas epístolas paulinas.

    Religião e Teologia estão interligadas na relação de vida e conhecimento, de prática e teoria. Um cristão-espírita é, necessariamente, um partícipe da revelação do Cristo acerca de Deus, sob a instrução dos espíritos: a fé espírita baseia-se no conhecimento, e o papel da Teologia é tornar a fé intelectualmente fortalecida, é definir e sistematizar o conhecimento sobre o qual ela repousa.

    A religião exposta no A.T. e N.T. conduz o pensamento, como o de Paulo de Tarso, a formar estudos explicativos e elaborados para manter um corpo doutrinário passível de ser compreendido, portanto uma Teologia. Aí podemos dizer que há uma Teologia Cristã, composta de sete divisões principais:

    1. O ensino de Jesus, segundo os evangelhos sinópticos.

    2. O ensino de Jesus, segundo o quarto evangelho.

    3. O primitivo ensino apostólico, contido em At., Tg., 1Pe., e 2Pe.

    4. A teologia de Paulo.

    5. A teologia da epístola aos hebreus.

    6. A teologia do apocalipse.

    7. A teologia de João.

    A Teologia Cristã supera a Teologia Hebraica, pois visa a aperfeiçoar as leis conhecidas; mas falhou, quando se deixou enxertar por doutrinas estranhas aos sublimes ensinos do Rabi Galileu. Digamos que agora temos uma outra Teologia, a Espírita.

    No advento do Espírito de Verdade, em 1857, é o próprio Jesus de Nazaré quem preside os acontecimentos da nova Ciência, da nova Filosofia e da nova Religião, cuja moral é a verdadeira, pois preconiza aquela que está escrita na consciência:

    Como em tempos passados, entre os extraviados filhos de Israel, venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como a minha palavra em tempos passados, deve lembrar aos incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grandioso que faz a planta germinar e as ondas se levantarem. Revelei a doutrina divina; como um ceifeiro, juntei em feixes o bem espalhado na Humanidade e disse: "Vinde a mim, todos vós que sofreis. Espírito de Verdade (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5.)

    Nas sucessivas teologias da Igreja, que formam a história e a filosofia cristã atual, aconteceram deturpações e montagens constantes, e a verdade se dissipou pelas conversas sofismáticas dos prelados, configurando-se um clima medieval e mitológico sobre a pessoa do Cristo, sua encarnação, seu corpo, sua participação na trindade divina, até que se estabeleceu, de fato, um Catolicismo, à moda dos imperadores romanos, dominador. Foi uma noite de mil anos, do fim da História antiga (453 d.C.) à era moderna, com o surgimento da imprensa escrita, com Gutenberg (1452 d.C.).

    Novamente, devemos escutar as palavras do Espírito de Verdade, e Kardec lembra isso em suas anotações em O Evangelho Segundo o Espiritismo:

    O Espiritismo vem, na época determinada, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de Verdade preside ao seu estabelecimento; ele relembra aos homens a observação da lei; ele ensina todas as coisas fazendo compreender o que o Cristo só nos transmitiu por meio de parábolas. O Cristo disse: Que ouçam os que têm ouvidos para ouvir; o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, pois fala de forma clara, sem-alegorias; ele retira o véu que foi deixado, propositadamente, sobre certos mistérios; finalmente, vem trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos aqueles que sofrem, dando uma razão justa e um objetivo útil a todas as dores. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 4.)

    Eis a finalidade do Espiritismo: instruir os homens na realidade de Deus e da imortalidade da alma, alardeando bem alto, dos cumes de todos os recursos da comunicação humana: Homens, Deus é o nosso Pai Celestial, somos todos irmãos espirituais, amai-vos uns aos outros. Não há morte. Deus é um Deus de vida e não de morte.

    A ordem espiritual vinda diretamente do coração amoroso do Cristo faz renascer uma teologia em espírito e verdade, e o Espírito de Verdade ordena:

    Sinto-me cheio de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza para deixar de estender a mão segura aos infelizes extraviados que, vendo o céu, caem no abismo do erro. Acreditai, amai, meditai nas coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com o bom grão, as utopias às verdades. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5.)

    E, no ápice de sua dissertação, o Espírito de Verdade aponta do cimo de sua autoridade moral:

    Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele criaram raízes são de origem unicamente humana; e eis que do outro lado do túmulo, onde acreditáveis que nada existia, vozes vos gritam: Irmãos, nada morre! Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5.)

    A Teologia agora tem a grande contribuição da palavra dos espíritos, que sempre estiveram conosco sob o nome de Espírito Santo, designação figurada para quem não entendeu que eles se comunicavam e orientavam os cristãos de todos os tempos.

    Os principais termos da Teologia Cristã vigente serão considerados aqui, mais aqueles que o Espiritismo traz como contribuição à ideia religiosa. Este trabalho não chega a ser um dicionário, mas um compêndio que ensaia um novo direcionamento filosófico sobre Deus e a sobrevivência da alma. Quando necessário, cada verbete tem uma indicação de outros relacionados, procurando deixar várias opções para um entendimento mais amplo. É necessário, contudo, que o leitor compreenda que, embora os conceitos levem ao raciocínio, o verdadeiro entendimento de Deus só é alcançado com reflexões profundas, desenvolvimento do sentimento e uma maturidade ampla do senso moral. Assim, Deus não deve ser procurado nos templos de pedra, nas palavras, nos vales, nas colinas, nem nos Himalaias do mundo, mas, sim, buscando-se o eu interno, a nossa essência espiritual, que veio d’Ele, semelhante a Ele, em Espírito e Verdade:

    Crede-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade. Jesus (Jo., 4:21-24).

    A Teologia, como uma ciência que estuda as coisas relativas a Deus, forçosamente, tem que lançar mão de um palavreado técnico específico, visto serem precisas palavras próprias, que expressem o sentido real de cada fenômeno, cada questão, cada item importante para o entendimento da matéria. Assim é que achamos importante introduzir este glossário, cujos verbetes muito irão contribuir para o entendimento da obra como um todo. Para melhor compreensão do estudo desenvolvido aqui, seria justo que o leitor, ainda leigo nos assuntos da Teologia, procurasse inteirar-se do conteúdo desse vocabulário, cuja especificidade irá garantir que todos os assuntos possam ser mais associados, pois a análise comparativa existente aqui é que dá o significado exato da exegese que o Espiritismo proporciona sobre os temas da Teologia antiga e moderna.

    Não há como fugir do estudo antecipado, visto que a precisão do conhecimento é que nos dará o caminho da verdade tão procurada. Há um abismo entre a Teologia hebraica e os ensinamentos do Cristo; há também um abismo profundo entre as instruções evangélicas e a Teologia cristã; o abismo se torna ainda maior, quando o Espiritismo mostra a sua Teologia e a compara com as Teologias hebraica e cristã. Portanto, o leitor, ao começar a ler este trabalho, se for um espírita convicto, encontrará um manancial de informações para en-riquecer seus conhecimentos; se não o for, verá que a verdade de sua realidade espiritual lhe foi escondida propositalmente; quando obscureceram os ensinos de Jesus, trocando-os por adereços mitológicos. Tudo tem seu tempo, tempo de sofrer a vida, vivenciar a experiência e, também, o momento de elaborar o próprio destino, na verdade que liberta e que nos foi prometida.

    Os assuntos de referência serão tratados separadamente, com indicações de temas correlatos, para que haja um acompanhamento didático e sistemático do estudioso das questões teológicas. Sempre que possível, haverá a opinião espírita, principalmente aquelas já bem conceituadas na literatura e no conhecimento espírita de um modo geral. Por outro lado, há também a intenção de desmanchar as crendices arraigadas, tanto no Cristianismo quanto no próprio meio espírita, numa tentativa de demonstrar que a Religião Espírita não é dogmática nem constituída com espírito de sistema, mas nasce naturalmente naquele que, avançando em maturidade de seu senso moral, começa a entender a si mesmo e a Deus, como sendo Ele a causa primária de todas as coisas, a inteligência suprema do Universo. Daí, a religião nasce em seu espírito de modo natural; é o Espiritismo que vem ao mundo, sob a égide do Espírito Verdade, como a religião natural (L. Palhano Jr. & Souza, Espiritismo: Religião Natural).

    De outra maneira, como exposto todo o texto, o leitor há de compreender que a história da Religião Cristã tem fundamentos na Revelação Hebraica, que, por sua vez, perdeu-se a si mesma nos arcanos da História e foi refeita sob a grande influência da mitologia babilônica. O Cristianismo não conseguiu avançar, pois sofreu grande influência judaizante, bem como da mitologia greco-romana, escondendo os verdadeiros valores espirituais vulgarizados por Jesus de Nazaré. Os líderes religiosos não conseguiram esconder a inveja e o despeito de não terem sido eles que poderiam representar as ideias divinas, pois que são incompatíveis com o orgulho de casta e de classe sociorreligiosas.

    Todas as vezes que Jesus quis passar suas instruções, em todos os momentos da História, ele se utilizou dos simples e dos humildes de coração. Estes, como ele mesmo, estão no meio do povo e não nos templos ornamentados ou nos palácios suntuosos. A Teologia criada para explicar as coisas de Deus acabou por complicar tudo, de tal maneira que poucos são capazes de entendê-la, justificando a própria existência dos teólogos. Ao se entrar em contato com as verdadeiras palavras de Jesus, porém, percebe-se logo o que ele quis dizer, quando retirou das Escrituras Antigas os verdadeiros ensinamentos que já estavam no meio dos homens, mas, escondidos no meio de leis teocráticas, dando uma conotação de que Deus, para ser escutado, precisava de liturgias e sacrifícios.

    O Espiritismo veio como o Ajudador, o Conselheiro, o Consolador, para resgatar toda a boa palavra e os verdadeiros ensinos de Jesus. Permanece, portanto, conosco o Consolador, conforme a promessa:

    E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. (Jo.,14:16.)

    Também, testifica sempre as verdades do primeiro Consolador, que foi o Cristo:

    Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de Verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. (Jo.,15:26.)

    Segundo os entendidos, as origens do Deus hebreu são comuns às dos deuses semíticos: Javeh, Jahout, Jehovah vieram dos antigos Eloha, Ilou, Jahouhl, Jahoh, que são nomes de deuses provenientes de agrupamentos humanos semíticos. Sobre o Deus hebreu ainda é possível verificar a influência dos deuses de outros povos, como o Ahoura Mazda, da Pérsia. A tradução mais correta de (Gn.,1: 1,2), é: "No começo, os deuses (Elohim) fizeram; ou os deuses (Elohim) fizeram o Céu e a Terra". Isso porque temos o plural de Eloíh (um deus) expressando coletividade: Elohim criou = os deuses criaram; como em: disse elohim: façamos o homem à nossa imagem.

    Essa é a antiga tradição dos fenícios, que haviam imaginado que o Deus Todo-Poderoso empregou deuses inferiores (espíritos) para transformar o aparente caos da matéria em ordem (cosmos).

    A primeira versão grega da Bíblia, a Septuaginta, traduziu El e Elohim por Teos e utilizou o termo kyrios (senhor) para traduzir Jahweh. Kyrios, porque, sob influência judaizante, os tradutores queriam evitar a pronúncia do nome de Deus.

    Os hebreus utilizavam o nome Jahweh isolado ou acompanhado de outros nomes, como adjetivos, tais como: Elohim, Adonai, Sabaoth ou, de modo abreviado, ‘Yah’. Referiam-se, também, a Deus, chamando-o de Santo, Adonai[2], Sabaoth, Elohim, etc.

    A expressão ‘El’ significa ‘O Ser de Luz’, e foi traduzida para o grego por Teos e pela Vulgata, por Deus. Todos os Elohim eram santos, mas o mais santo de todos era Jahweh, o Santo por excelência.

    Para os cristãos, Deus é Pai e Criador, todo-poderoso, onisciente, onipresente e eterno, a quem todos devem temer. Para os cristãos-espíritas, Deus é inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Ele é eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, e infinito em todas as suas perfeições, criador de todas as coisas por amor e a quem todos devem amar. Vide: Santíssima Trindade; El; Eloíh; Elohim, etc.

    Quando tratamos das coisas divinas, um dos termos que vêm à lembrança é adoração. No A.T., adoração pode significar reverência ou inclinar-se ou culto prestado ao Senhor ou a outros deuses ou ídolos. No N.T., o conceito mais frequente é "beijar a mão de alguém, como sinal de consideração, seguido de uma inclinação respeitosa. É usado significando: adoração a Deus; reverência para com Jesus e culto idólatra.

    Para o espírita, a adoração consiste na elevação do pensamento a Deus, pois pela oração a alma se aproxima dele. Deus, para ser adorado, quer duas coisas: o reconhecimento da sua paternidade divina e que se faça a sua vontade.

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