Maternidade independente
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Sobre este e-book
Bettina Blokis
Bettina Boklis é carioca radicada em São Paulo, formada em Comunicação Social, tem 50 anos e 28 anos de experiência na área de marketing e comercial. Sempre atuou em grandes multinacionais e hoje tem sua própria consultoria de marketing. Aos 42 anos tomou uma decisão que dividiu sua vida em antes e depois: partiu para um projeto de maternidade independente por opção, com o auxílio de técnicas de reprodução assistida e de um banco de sêmen. Após algumas tentativas, gerou Catharina, com sete anos no ano de publicação deste livro. A experiência foi tão transformadora e pioneira que a fez dar voz a esse tema ainda pouco explorado no Brasil e a levar esperanças às mulheres que ainda sonham em ser mães. Primeiro, lançou o site maternidadeindependente.com.br criando conteúdo e conexão com mulheres que quase não tinham informação. Mais tarde, o projeto cresceu através das redes sociais. Depois, sentiu vontade de consolidar todo o seu conhecimento em um livro no qual conta a sua história, dando
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Maternidade independente - Bettina Blokis
© Jaguatirica, 2021
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida
ou armazenada, por quaisquer meios, sem a autorização prévia e por escrito da editora e do autor.
editora Paula Cajaty
revisão Inês Carreira
imagem de capa Brooke Lark at Unsplash
fotografia Ricardo Hara Fotografia
pesquisa e edição de textos Paula Quental
projeto gráfico e diagramação Bookxpress
Título Maternidade independente : um jeito diferente de formar uma família
Autora Bettina Boklis
ISBN 985-
Jaguatirica
av. Rio Branco, 185, sala 1012, Centro
20040-007 Rio de Janeiro
rj
tel. [21] 4141 5145 [21] 99934 7638
editora@editorajaguatirica.com.br
editorajaguatirica.com.br
Sumário
Apresentação
Introdução
Sonho compartilhado
O casamento que não houve e o início de tudo
Primeira busca no Google
Desejo que ganha forma
Capítulo I
Uma história do nosso tempo
Mais da minha trajetória e um papo franco sobre óvulos
De produção independente
a maternidade independente
Os desafios que você tem pela frente
Capítulo II
O avanço da ciência e a possibilidade de escolher
Os primeiros bebês de proveta
As diferentes técnicas de reprodução assistida
O que pode e o que não pode no Brasil
Maternidade independente em alta
Capítulo III
A hora de escolher o doador
Dilema entre gerar e adotar
O acordo com o ex
Por dentro dos bancos de sêmen
Prós e contras: doador anônimo ou conhecido?
Doador conhecido
Doador anônimo
Doador de identidade aberta
Doação de óvulos ou ovodoação
Parênteses para falar da inseminação caseira
Deu match?
Capítulo IV
Sobre mães, amores, filhos e a comunidade que os rodeia
Rompendo com os velhos padrões
Autonomia emocional é tudo
Uma mãozinha dos ancestrais
Para as crianças, nada menos que a verdade
Capítulo V
As lições de Mikki
Choice mom
Pesquisa aborda questão do pai
O valor da comunidade
Afastando medos e frustrações
Capítulo VI
As mulheres estão com a palavra!
Uma rápida enquete
Cinco histórias
Carla, dentista, 40 anos
Laura, promotora, 35 anos
Michele, corretora de imóveis, 41 anos
Raquel, engenheira, 54 anos
Andréa, médica, 42 anos
Capítulo VII
Com os pés no chão
Pensando no futuro do bebê
Importância de indicar um tutor
Fazendo uma reserva financeira
Cidadania e comunidade
Sobre contratos e direito à ancestralidade
A tendência do fim do anonimato do doador
Capítulo VIII
Meu diário de bordo
O primeiro ano
Dia dos Pais e os dois anos
A pergunta esperada
Um livro com a nossa história
Capítulo IX
Conclusão
Novos ventos
Check list
final da tomada de decisão
Desafio maravilhoso todos os dias
Glossário
Nomes e expressões médicas, científicas e de instituições ligadas à saúde no Brasil
Referências bibliográficas
Dedico esse livro a minha filha Catharina
que tornou esse sonho possível.
Te amo mais que o universo
e o mundo invertido.
Apresentação
Quando penso na minha vida até aqui, acho surpreendente o rumo que tudo tomou. Eu tinha um sonho bastante comum que é o de formar uma família. Como boa virginiana, já tinha programado tudo na minha cabeça: me casaria aos 27 anos e teria dois filhos. Mas um detalhe
no plano deu errado: o primeiro passo, ou seja, o casamento, não aconteceu. Sem ele, parecia impossível seguir adiante e realizar esse desejo. Uma decisão, porém, mudou tudo e comecei a construir uma história que nunca imaginei que seria a minha, da qual hoje me orgulho. Esse livro é sobre ela. Com uma mistura de coragem e fé, gerei uma filha, o amor da minha vida, a Catharina, por meio de reprodução assistida e com ajuda de material genético de um doador anônimo. Essa é a história de como me tornei uma mãe independente por opção, sem um parceiro, sem um pai para me ajudar a criar a minha filha. O mais interessante, relembrando o passado, é constatar que a intuição foi minha grande guia. Fui seguindo às escuras, sem nenhum conhecimento prévio e pouca reflexão sobre as consequências, sobre o futuro. Fui aprendendo durante o caminho, trocando o pneu com o carro em movimento, como se diz
Nesse processo, mesmo sem querer, me tornei uma referência para várias pessoas interessadas em saber mais sobre a maternidade independente. Se hoje há pouca informação disponível em livros, nos meios de comunicação sobre métodos de reprodução assistida, congelamento de óvulos, bancos de sêmen, coparentalidade etc, imagina há oito anos, quando engravidei. Esse é um novo mundo, uma trilha que está sendo aberta, nesse exato momento, no matagal antes fechado, intocado. E, pelo simples fato de ser uma das desbravadoras, pertencente a uma das gerações de mulheres pioneiras, me senti com a responsabilidade de dividir essa minha experiência, de compartilhar tudo o que sei.
Mais ainda, senti vontade de mostrar que é possível se sentir realizada e criar uma criança saudável e feliz em um formato diferente de família. Hoje as mulheres não precisam necessariamente encontrar um companheiro para se tornarem mães. Podem deixar para achar seu par romântico mais tarde, quando estiverem em paz com seu relógio biológico e com seus bebês no colo. E isso se tornará cada vez mais comum, tenho certeza disso, inclusive com o apoio de políticas públicas. Um projeto de vida como qualquer outro, que será recebido sem qualquer estranheza ou preconceito pela sociedade.
Não quero com isso levantar nenhuma bandeira, de jeito nenhum. Cada um faça da sua vida o que quiser e persiga o seu próprio sonho. Mas penso que é importante essa troca de experiências, falar sobre, apertar o play
desse debate. Porque há várias questões envolvidas em uma decisão como a de ser mãe independente, não só as médicas e científicas, como as legais, psicológicas, educacionais e até filosóficas. Quando compreendi isso e passou aquele momento mágico de transe pela conquista da maternidade, fui pesquisar o que pude sobre o tema. O resultado dessa pesquisa, que envolve leituras, buscas na internet, entrevistas com especialistas, com mães e com mulheres que estão prestes a decidir sobre a gravidez está nas próximas páginas. Além das reflexões feitas a partir do olhar para dentro de mim mesma, das minhas próprias angústias, dúvidas, alegrias e medos.
Resolvi contar os detalhes da minha história (introdução, capítulos I e
VIII
) e falar sobre os avanços científicos que permitiram a opção da maternidade independente (capítulo
II
). Também decidi revelar como funcionam os bancos de sêmen, por que é importante discutir sobre anonimato e identidade aberta dos doadores e falar de inseminação caseira e dos sites e aplicativos de receptores e doadores (capítulo
III
). Procurei destrinchar as habilidades psicológicas necessárias para ser mãe solo
e discutir o papel da comunidade na educação do filho (capítulo
IV
), além de reunir toda a parte prática (leis, contratos, reservas financeiras) exigida pela empreitada (capítulo
VII
). Reservei ainda um capítulo para falar das contribuições de uma mãe independente que se tornou uma referência no mundo neste tema, com seus livros, sites e palestras, a norte-americana Mikki Morrissette (capítulo V), conhecida pelas dicas de como falar com os filhos sobre não terem um pai. E, por fim, abri espaço para os depoimentos de cinco mulheres que escolheram ter seus filhos de forma independente (capítulo
VI
).
Jamais teria conseguido fazer esse trabalho se não fosse a ajuda de várias pessoas. A primeira, sem dúvida, é a jornalista Paula Quental, que desde o começo, há 6 anos, comprou
a ideia do projeto do meu site, me acompanhou ao longo do tempo sempre com uma vontade enorme de contribuir, de pertencer ao tema. Há dois anos, me ajudou a desenhar todo o esqueleto do livro. Nossas conversas, inquietações, curiosidades e, claro, a sua competência nos levaram até aqui. Não posso deixar de agradecer também à minha família: mãe, irmãos, tias, tios e primos por todo o apoio que me deram e também às minhas queridas
BFF
’s (Best Friends Forever: Ale, Ana, Jean, Karen e Rê). Um agradecimento especial àqueles que me emprestaram seu conhecimento para o conteúdo desse livro: Dr. Vicente Ghilardi, Dr. Wilson Carrara, Erica Molina, Vera B. Fehér, Kelly Cristina de Oliveira, Telma Aparecida Soria, José Roberto Allegreti (Beto), Vitor de Azevedo Almeida Júnior e a todas as mulheres que doaram seu tempo para as entrevistas. Mais gente para agradecer: Edu Bonatto, que me emprestou seu talento para fazer a logomarca do maternidade independente
. Claudia Belém, por ter me apresentado à Paula Quental há anos atrás; Luciane, Cris, Dri e Maria José Alexandre, a famosa Zezé, a parceira que eu tive a sorte de encontrar para me ajudar nessa empreitada. Com toda dedicação e amor, me acompanha há 22 anos, desde que cheguei em São Paulo. Sempre comigo, com a gente, com a família toda e em todos os momentos. Agora, o grand finale
de agradecimentos vai para ela. Para minha filha querida e amada, que sempre soube do meu desejo de escrever esse livro, da importância dele para mim. Sempre me apoiou e me perdoou pelos momentos em que não brinquei de boneca com ela ou pelo tempo em que não vimos um filme juntas.
Espero que todo esse conteúdo possa ajudá-la, leitora, a tomar a decisão mais importante da sua vida. E a seguir nessa jornada sabendo que, embora a caminhada seja independente e autônoma, você não está só!
Introdução
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e
depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
João Guimarães Rosa
Sonho compartilhado
O casamento que não houve e o início de tudo
Eu sei que a vida é curta demais para acelerar as coisas e que devemos respeitar o tempo no seu ritmo natural. Mas o fato é que, chegando aos 40 anos, me vi na sala da minha casa olhando para o infinito e pensando: o que será de mim nos próximos 15 anos? Qual é o propósito da minha vida? Tudo o que planejei não tinha dado certo, até aquele momento: casar aos 27 anos, ter o primeiro filho aos 30 e o segundo aos 33. A gente acha que sabe do destino, até que é surpreendida.
Vim de uma família em que éramos muito unidos. Eu, meus pais, dois irmãos mais velhos e também primos e tios que moravam no mesmo andar do mesmo prédio, no Rio de Janeiro. Eram três apartamentos da família nesse endereço. Uma bagunça deliciosa que a gente só reconhece e agradece quando se torna adulta. Sou judia e, considerando que o judaísmo é fortemente enraizado na tradição familiar, cresci em um ambiente de reverência à maternidade e à continuidade da existência. Foi desse caldeirão que me fiz gente. Aos 20 anos, experimentei a minha primeira relação séria e apaixonada e, depois de quase cinco anos juntos, fazendo planos, nosso relacionamento não foi adiante. Não houve casamento e não pude, naquele momento, iniciar a família sonhada.
Meu caminho profissional, por outro lado, estava indo muito bem. Trabalhava em grandes empresas multinacionais, viajava, fui transferida para outras cidades do Brasil, até me radicar em São Paulo, onde vivo hoje. Me tornei independente financeiramente, com uma carreira profissional bem-sucedida. Tive a oportunidade de lidar com grandes marcas, criar dentro de mim uma paixão forte pelo que eu fazia. Comecei a refletir, então, em como seguir em frente e realizar meu plano de formar uma família.
Planejei esse capítulo da minha vida, mas nada do que imaginei aconteceu. Culpa minha? Do destino? Não, isso nunca! Jamais me torturaria ou me penalizaria por algo que simplesmente não ocorreu e que não estava no meu controle. Sempre enxerguei a vida como um copo meio cheio e é dessa forma que resolvi continuar a olhar. Os planos que tinha traçado não deram certo e precisaria descobrir como recomeçar. Sabia que tinha de fazer algum movimento, porque do jeito que estava vivendo, a minha vida pessoal já não fazia mais sentido.
Me via quase que sem saída, num labirinto enorme, sem a menor pista de onde eu estava. Sentia uma vontade imensa e verdadeira, mas não entendia ao certo se era passageira ou se era um sonho. A vontade enorme de ser mãe. Percebi que era de uma intensidade perturbadora, mas que me enchia de força e alegria ao mesmo tempo, a ponto de estar disposta a tudo para realizá-la. Para ser mais precisa, quando fiz 39 anos, ali na beirinha dos 40, foi quando entendi