NA TRILHA DO MISTÉRIO
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NA TRILHA DO MISTÉRIO - Amandah Monteiro
Capítulo 1 - O Assalto
Trin trin
Tocou o telefone. Beto atendeu. Já era tarde, mas alguém acabara de pedir uma encomenda.
- Mercearia do Seu Juca, como posso ajudar?
- Oi Beto, é o Nicolau.
- Oi Seu Nicolau, como está? E a Laura?
- Estamos todos bem Beto e você?
- Bem também, o que posso fazer pelo senhor hoje?
- Estou precisando de umas coisas, será que ainda pode trazer pra mim?
Beto, como sempre, muito gentil e educado, logo tratou de anotar. Separou tudo que Seu Nicolau pediu. Agora era só fechar a mercearia e fazer a entrega. Ele pegou a encomenda, pendurou em sua bike, colocou a chave na porta e quando deu a primeira volta ...
- Fique quieto e não grite. Entre e me leve até o cofre!
Beto se assustou. Que voz esquisita! Uma voz grossa e rouca, nunca tinha ouvido nada parecido. Algo encostava em suas costas, seria uma arma? Além disso, que cofre? Não importava, temia por sua vida e não havia ninguém que pudesse ajudar ali. O que fazer? Rezar para aquela criatura de voz esquisita não o matar.
Beto destrancou a porta e entrou. O assaltante não saiu de traz de Beto. E o cofre? Não havia nenhum cofre ali. O que acontecerá quando ele descobrir? Beto estava tão nervoso que suas pernas bambeavam. Só pensava que nunca teria a chance de se declarar para Laura.
De repente, um barulho forte. Sentiu que não havia mais nada encostado em suas costas. Tremia, suas mãos suavam, seus olhos estavam arregalados, se virou e viu seu melhor amigo, Sandro lutando com o assaltante. Beto reagiu, fechou sua mão direita e num só golpe acertou o rosto do homem. O assaltante caiu inconsciente no chão. Sandro meio sem fôlego perguntou:
- Beto, tudo bem?
- Cara, não podia ter chegado em hora melhor! - disse Beto ofegante - Mas tá fazendo o que aqui a essa hora? Já estava fechando a loja, ia fazer a última entrega.
- Que isso mano, a essa hora?
- Claro, é pro meu futuro sogro.
- No seu sonho né!
Os dois riram. Beto havia deixado o celular na mochila, perto de sua bike, resolveu então usar o telefone da mercearia para chamar a polícia. Estavam caminhando até o balcão, quando o homem levantou atordoado e saiu correndo.
O assaltante usava uma roupa bem diferente de um assaltante comum. Parecia alguém mais elegante. Não podia negar, o homem tinha estilo, além de uma mão mecânica.
- Mas que bobeira! - resmungou Sandro - Nem retiramos o lenço do seu rosto pra ver quem era.
- Calma cara, estamos seguros e bem, ele nem levou nada. Além do mais, nunca vi ninguém com uma mão daquelas.
- Verdade.
- Vamos embora, só quero que essa noite acabe.
- Acabar? Cara, mas eu vim aqui só pra te buscar pra festa na casa do Léo, lembra?
- Puts! Acabei esquecendo, mas hoje não estou por conta.
Beto estava cansado e ainda ia fazer a última entrega do dia. Era bem na casa da menina mais linda da cidade, a que fazia seu coração acelerar, Laura.
A garota mais linda
Já estava tarde. Seu Nicolau estava começando a se preocupar, afinal Beto nunca demorava.
Toc toc toc
Ah chegou quem ele esperava.
- Beto, tudo bem? Demorou.
- Ah seu Nicolau, nem te conto o que me acaba de acontecer. - respondeu Beto com semblante assustado.
Seu Nicolau gostava do rapaz. Beto estava sempre disposto a ajudar, era muito trabalhador e respeitoso. Chamou-o para entrar. Laura preparava uma deliciosa sopa. Como recusar o convite?
Conversavam na sala quando Laura entrou:
- Beto, que surpresa boa!
- Oi Laura, é, pois é, hum...
Ai que vergonha, o que falar pra ela? Beto envermelhou-se e Laura ainda mais. Seu Nicolau sorriu, levantou-se e foi à cozinha. Os dois então começaram a conversar. Logo estavam bem à vontade. Laura serviu a sopa. Que delícia! A menina cozinhava super bem. Tomou tudo. Já estava tarde, hora de ir embora e juntos foram conversando até o portão.
Que noite agradável! Beto andava pela rua em sua bike preta, toda estilosa. Chegou em casa, abraçou sua mãe, Dona Maria, tomou um banho bem relaxante e deitou, mal lembrava o que tinha acontecido mais cedo, só lembrava de Laura. Ah que menina adorável! Tão meiga, atenciosa, inteligente, amorosa, cuidava do pai há anos desde que sua mãe morreu. E aquele cabelo lindo, ondulado, castanho escuro. Os olhos, ah os olhos, quando a luz batia neles, ficavam cor de caramelo e tudo numa simetria perfeita que combinava com seu corpo moreno bronzeado, todo escultural. E o perfume? Que delícia! Aquele cheiro gostoso que não esquecia. Não havia dúvidas, Laura era o amor de sua vida!
O dia depois do ocorrido
Enfim amanheceu. Que noite longa, tantas emoções! Mas era hora de ir ao trabalho, precisava contar o ocorrido para seu Juca.
- Bom dia Beto - disse seu Juca
- Oi Seu Juca, bom dia.
- Então rapaz, abri a mercearia hoje cedo e vi uma pequena bagunça. Que aconteceu por aqui ontem à noite?
Beto contou para Seu Juca do quase assalto, mas não queria assustá-lo então não deu muitos detalhes.
- E você foi à polícia? - perguntou Seu Juca
- Não fui. Não vi o rosto do assaltante e além disso, ele não levou nada. Acho que não vai voltar - disse Beto - ele saiu assustado, meio atordoado, batendo nas coisas.
- Tá certo, tomarei providências. Vou instalar um alarme e colocar grades - respondeu Seu Juca com ar de preocupação.
Beto concordou, achou que a ideia fosse boa. Voltou imediatamente ao trabalho, afinal precisava limpar aquela bagunça antes dos clientes chegarem. Mal sabia Beto que aquilo era só o começo. Ele nem imaginava com quem estava lidando.
֍ ֍ ֍
Laura estava em casa quando alguém bateu na porta. Era Ana, sua amiga, filha de Seu Juca. As duas eram amigas desde pequenas. Contavam tudo uma para outra.
- Ai amiga, nem imagina o que aconteceu - disse Ana assim que chegou.
- Oi pra você também Ana.
- Tá, tá, oi. Sua paixonite, que ninguém sabe que existe, quase morreu ontem!
Laura começou a dar uma risadinha, com aquela cara que sabia antes da amiga.
- Tá rindo de que? Vai me dizer que já sabia? Meu pai que é o dono só ficou sabendo hoje!
- O Beto veio aqui ontem...