Malárias E Outras Histórias
De Ivan Schwind
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Malárias E Outras Histórias - Ivan Schwind
1
MALÁRIA
(malariusembriagadus)
Antigo povo que visitava a Ilha do Mel.
Bebia muito (e bebia qualquer coisa),
fumava muito (e fumava qualquer coisa também),
tinha pouco dinheiro (daí o nome: Malária)
que onde cai, suga o sangue até deixar o cara doente.
Povo alegre, risonho, nada discreto, acostumado a fazer
cagadas... e o que é pior...
Se orgulhar delas!!!!
2
Indice
004
Vanzinho meu gatinho
011
O estupro da porta
014
O prisioneiro do varal
018
A morte do cachorro
023
A luta do vaso
028
Esses malditos roedores
035
Hemorróidas
042
O macacão
046
A saída do casamento
049
O passeio de lancha
058
Namoro virtual / A carteira de Marlboro
062
Avião
067
Engov
072
O gato morto
07/
O exame
082
Aterrisagem no Rio de Janeiro
085
O piloto automático
087
O desentalador de bichas
092
O banheiro do Bolinha
095
A mudança das janelas
099
O gago defenestrando o botijão
103
A tramela
107
O embarque pra Ilha
112
A ecografia
115
Carnaval em São Chico
134
Frescobol Kamikase
137
A porta de vidro
140
CasadeCandombléeTendadeSaraváCabanaPaiCarlãodeAruanã
144
Na forquilha
147
O ralador
150
ZUM! GALE-GALE GALE ZUM! GALE-GALE...
3
Incrivelmente desobedecendo a cronologia das histórias, vamos
ao episódio:
Vanzinho meu gatinho
A verdadeira história é essa:
Certa vez, numa madeireira em São José dos Pinhais, onde a
comida era preparada em cozinha própria, dentro dos requintes
e necessidades que a atividade exigia, eis que numa certa época
a cozinheira ficou doente e mandaram o substituto para o cargo,
porém, o rapaz tinha suas peculiaridades, não era só fresco, era
refrigerado, a criatura era delicada no úrtimo
, do tipo que não
dava pinta, ele era o couro da onça inteiro, daqueles que falam
tipo pato fanho
(Quéééé que têêêiiiim) nada contra e muito
menos a favor, como diria o famoso José Wilker no final do filme
Giovani Improtta "Quem dá o que é seu não fica devendo nada a
ninguém"
Por isso não, a rapaziada tirava sarro, mas era na boa, sem
ofensa e a menina
fazia o seu serviço sem mais detalhes, da
melhor forma possível, dentro da necessidade.
O estranho é que eu cheguei um certo dia desses pra trabalhar e
por onde eu passava tinha um ou outro caboclinho que fazia
4
aquele chamadinho de gato, com aquele chiadinho e esfregando
os dedos, resmungava com outros e eles caiam na gargalhada.
-Psi, psi. psi, vem Vanzinho, meu gatinho...
Chegou uma hora em que eu me invoquei e fui ver qual era a
dos caras, quando eu cheguei junto, um deles fez a brincadeira e
falou:
-Psi, psi. psi, vem Vanzinho, meu gatinho.
Eu juntei o cara:
-Qual é sujeito, tá me estranhando, que porra é essa?
Aí, o povo caiu na gargalhada e me contou a história:
-Pois é, um colega nosso teve que sair antes do horário ontem, e
coincidiu depegar o ônibus no mesmo horário do nosso amigo
vaporoso, aí ficou aquela situação: os dois no ponto do ônibus
esperando o dito cujo, aquele calorão, aquela poeira de estrada
de chão, os dois sozinhos, um anda pra cá, outro anda pra lá e
foi inevitável aquela puxada de conversa até o ônibus chegar:
-Oi, que calor nééééé?
-É mesmo.
-E que poeira nééééé?
-É.
-Será que o ônibus demora?
-Não sei, geralmente eu não pego neste horário.
5
-Eu peguei ontem, mas hoje tá demorando muuuuuito, cê não
acha?
-É mesmo.
-Cê mora longe?
-Eu moro no Centro.
-Ah, que bom... eu moro láááá no Pinheirinho, é uma viaaaagem
chegar até aqui...
-É mesmo.
E o papo continuou uns dez minutos até que chegou na parte
que me afetava:
-Cê sabe que eu me mudei faz pouco tempo, né?
-É? Eu não sabia...
-Ah, agora eu estou morando num apartameeeento, saaabe, é
mais seguro, a gente não se preocupa taaanto, pode sair
tranquilo de casa, não tem taaaanto bandido, né...
-Ë? Por que? Já te aconteceu alguma coisa?
-Ai, creedo, você não imagina, comigo não, graças a Deus, mas
me-ni-no, na minha casa, quando eu morava na Fazendinha,
uma vez, entrou um ladrão, sa-fa-do, roubou tudo, minha
televisão, vídeo-cassete, meu som, um moooonte de roupas,
imagine até roupa íntima, o sa-fa-do!!!
- Sério?
6
-E não foi só isso não, o que ele fez, quebrou, fez uma bagunça
enooorme tirou todas as coisas do lugar, jogou comida no chão,
um horrooor.
-E ninguém viu, ninguém ajudou?
-Nada, povo sem interesse, nem quiseram saber, eu é que tive
que ficar no prejú, imagina!
-E você descobriu quem foi?
-Nada, nem tô interessada, desse povo eu quero é distââância.
-Ainda bem que foi só prejuízo material...
-Ainda bem, já pensou se eu estou em casa, eles podiam querer
me fazer mal, creeedo, gente ruim.
-É, ainda bem.
-Ah, mas o pior você não sabe (e aí que veio a cagada) nessa
zona toda que eles fizeram acabaram assustando o meu gatinho,
coitadinho todo peludinho, lindinho, mestiço quando eu cheguei
ele estava escondido atrás da geladeira, todo encolhidinho com o
rabinho entre as pernas, um caco, todo sujinho, tive até, que
arredar a geladeira pra tirar ele de lá de tanto medinho que o
pobrezinho tinha.
-Mas machucaram seu gatinho?
-Não, graaaaaaças a Deus, ele fugiu dos bandidos, mas até hoje
ele está traumatizado, qualquer barulhinho ele foge pra trás da
geladeira, acho que vou dar florais pra ele, pra ver se acalma.
7
-É, pode ser que melhore.
-Mas sabe, é in-crí-vel, qualquer barulhinho, até um barulho mais
forte da televisão e ele corre pra geladeira e ela é grande, eu
não posso ficar arrastando ela toda hora, pra tirar ele, dai eu fico
chamando:
-Ivanzinho, Ivanzinho, psi,psi,psi, venha aqui meu gatinho...
Quando aquele filho da puta escutou o nome do gato e aquela
bicha chamando ele, o cara deu um pulo, se escorou naquele
varão que segura a placa do ônibus, achou forças sabe Deus de
onde, mas não se partiu de rir, e o que é pior, deu trela pra
bicha pra poder tirar mais informações.
-PERAÍ! COMO É QUE É O NOME DO GATO??????
-Ivanzinho, eu chamo ele de Vanzinho, meu gatinho, pra rimar,
saaaaabe?
-Ah, pra rimar. (nessa hora já estava quase se formando uma
lágrima no canto do olho do filho da puta de tanta vontade de
rir)
-E é covarde, o bichinho??
-Ah é, tadinho, mas ele é pequenininho ainda, saaabe, ele não
conhece nada das maldades da vida, pra você ter uma ideia ele
dorme juntinho comigo.
-Ah, sério, dorme com você... (tá ficando cada vez melhor isso)
8
-Dorme, ele dorme nos meus pés, em cima da coberta pra me
esquentar, mas de noite o safadinho aproveita que eu durmo de
bruços e vem dormir bem em cima de minha bunda, pooode?
-Ahh, cê dorme de bruços e o Vanzinho, é Vanzinho o nome dele
né? Dorme na sua bunda?
(Puta que o pariu, esse cara tá fudido comigo)
-Sim, mas sem maldade, ele é um bichinho muuuuito carente.
-Ah ele é carente...
-Ah é, ele não pode ver chegar os meus amigos que ele fica se
esfregando neles, mas engraçado que nas minhas amigas ele
quase nunca faz isso, mas é muuuito querido o Vanzinho, meu
gatinho.
-Ah, é... (Caralho, ainda por cima é viado, o lazarento do gato)
-E... é grande esse gatinho???
-Mééédio, não é muuuito grande, mas é muito fofinho...
-É fofinho...
-É fofinho e delicado, eu faço cafuné na barriguinha dele e ele
vira os olhinhos...
-Ah, ele vira os olhinhos...
-E é preguiçoso, só come e dorme o dia inteiro. Esses dias
apareceu um rato lá em casa, cê acredita que ele ficou com
medo do rato?
9
-Ahhhhhhhh, acredito, ele até me lembra de alguém (kkkkkkk)
-O que éééééééé?
-Nada, nada, vamos embora que está chegando o ônibus.
O ônibus chegou, eles foram embora e no dia seguinte, antes
que eu tivesse chegado, a galera toda já estava sabendo da
história e eu tive que escutar a porra do chamadinho de gato
ainda por uns dois meses, o troço ficava chato na hora do
almoço, quando eu ficava frente a frente com o rapaz e tinha
que dar umas cotoveladas nos próximos pra conter as risadinhas.
A situação perdurou ainda uns quinze dias quando a cozinheira
voltou e substituiu o nosso amigo, mas eu ainda de vez em
quando fico escutando alguns amigos me chamarem de Vanzinho
meu gatinho, creio que eles fazem isso ainda meio que sem
saber o porquê, apenas repetindo o que faz a minha comadre,
essa sim, eu fiz a cagada de contar esta história e ela adotou o
apelido, creio eu, que depois da publicação disso ainda vou
escutar muito mais, porém, como não perdôo ninguém, não
posso também me perdoar. É a vida.
Bem, mas a intenção não é bem essa, estamos aqui para
participar a todos a história e estórias de uma vida (muito bem
vivida) que está culminando nestes registros.
10
O estupro da porta
Não consigo nem lembrar o ano só sei que eu ainda estava