Conexões que importam: redes sociais de pessoas em situação de vulnerabilidade
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Conexões que importam - Marcia Cezar Gadea
1. REDES SOCIAIS, SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE E A METODOLOGIA
Um fator fundamental que deve ser observado acerca da temática das redes sociais é aquele que as considera como espaços de grandes possibilidades
no acesso a recursos materiais e simbólicos, entrelaçando o econômico e o social. Isso decorre do fato de que todo indivíduo interage em sub-redes
que atuam de modo interdependente. Nesse aspecto, pode-se notar que, semelhantemente ao que é visível em redes de formato colaborativo, as redes sociais, de modo geral, determinam que outros valores, além dos contratuais, sejam privilegiados, ressaltando valores como a confiança e a responsabilidade mútua. Becker (2007, p. 61) afirma que essa relação acontece progressivamente com pessoas que já desenvolveram uma série de contatos iniciais nos quais estas puderam medir a confiança das outras pessoas
, de modo que a rede de relacionamentos, nesse caso, não extingue, mas minimiza a ocorrência, por exemplo, de situações sociais de vulnerabilidade (exposição à violência, carências materiais e simbólicas etc.). Esse aspecto que permeia as redes sociais parte da premissa de que o todo é maior que a simples soma das partes
, ou seja, o benefício da agregação da rede não é apenas resultado da soma dos potenciais de cada parte, mas também gera fatores inerentes à constituição do grupo
.
Sendo assim, converteu-se nos eixos temáticos desta pesquisa a análise dos mecanismos pelos quais as redes influenciam as condições de vida, a saída
da situação de vulnerabilidade e das desigualdades sociais no cotidiano dos indivíduos. Portanto, é central integrar as relações sociais ao arcabouço teórico, o qual diz que a integração econômica depende não apenas do acesso a mercados, mas também da redistribuição produzida pelo Estado e da reciprocidade social, com a mediação do espaço (Kaztman, 1999). Ou então, formulando de maneira diferente, a provisão do bem-estar depende de elementos providos pelos mercados, pelo Estado e por unidades sociais, como as comunidades locais e a família. Mesmo concordando com a importância dessas três fontes de bem-estar, o presente livro destaca o terceiro elemento, caracterizado não apenas como uma fonte de bens e serviços em si, por meio dos apoios sociais obtidos pelos indivíduos, mas como uma maneira de mediar o acesso a condições melhores de vida. A grande maioria dos estudos recentes tem incorporado unidades sociais
por meio do conceito de capital social, ou usando redes sociais de forma metafórica, considerada genericamente os elementos sociais que produzem integração. Embora várias perspectivas analíticas coexistam, a categoria capital social serve de elemento unificador (Blokland; Savage, 2008).
Tal qual manifesta Durston (2000), o paradigma do capital social propõe que as relações de reciprocidade e confiança, cooperação e proximidade são as capazes de gerar instâncias sociais imprescindíveis na superação da fragmentação social, o isolamento e as carências de vínculos associativos positivos. Evidentemente, a pesquisa desenvolvida se insere nas discussões próprias da relação do capital social com a vulnerabilidade social, sob a premissa de que, quanto mais densa e diversificada seja a rede de relações sociais que se estabelecem, maior a chance do desenvolvimento das capacidades individuais e superação de situações sociais de vulnerabilidade constatadas. No presente livro, partiu-se da ideia de que determinadas práticas sociais e culturais se incorporam nas histórias das relações desses indivíduos e, dessa maneira, podem tornar possível lidar com situações de vulnerabilidade e desequilíbrios nos estoques de capital social.
Redes sociais significativas são construídas em torno de cada indivíduo, propiciando trocas entre os integrantes: trata-se de uma rede de relações em que cada indivíduo está inserido e que fortalece interesses comuns, práticas sociais comuns, mundos de vida
semelhantes e projetos pessoais e coletivos. Nesse sentido, pode-se entender que uma pesquisa sobre indivíduos em situação de vulnerabilidade social não pode deixar de lado os diferentes repertórios culturais
(Schütz & Luckmann, 1973) existentes quando redes de relacionamentos se acionam para uma determinada finalidade individual ou coletiva.
Argumenta-se, assim, que redes sociais positivas
se encontram em pauta quando, por exemplo, acha-se uma rede de líderes comunitários, política e socialmente ativa, na medida em que é reconhecida por aqueles que estabeleceram uma relação de confiança e de solidariedade mútua. Já as redes sociais negativas
emergem de práticas sociais ligadas, por exemplo, a jovens vinculados ao mundo do delito
(gangues etc.).
Mas existem exemplos mais próximos sobre esse tipo de redes. Zinecker (2004) estuda questões ligadas às redes de relações sociais com indivíduos envolvidos em gangues
em países de Centro América, apresentando na sua análise a noção de capital social perverso
. Em sua análise, percebe-se que capital social negativo
é análogo à noção de capital social perverso
que a autora descreve nesta região, mais especificamente na Guatemala, Nicarágua, Honduras e El