Luz que aquece o mundo: Reflexões sobre a espiritualidade da unidade
De Maria Voce
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Luz que aquece o mundo - Maria Voce
Título original em italiano:
Luce che avvolge il mondo: riflessioni sulla spiritualità di Chiara Lubich
© Città Nuova Editrice, Roma - 2020
Luz que aquece o mundo
© Editora Cidade Nova, São Paulo – 2021
Coordenação Editorial:
Adelmo Cordeiro Galindo
Tradução:
Heliomar Aparecida Andrade Ferreira
Revisão:
Christiane Suplicy Teixeira Curioni
Adriano Alves de Lima
Projeto gráfico, capa e diagramação:
Henrique Berni de Marque
Imagem da capa:
@lcd2020 - br.freepik.com
Todos os direitos estão reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores.
ISBN 978-65-88624-12-8
Editora Cidade Nova
Rua José Ernesto Tozzi, 198 - Vargem Grande Paulista, SP - Brasil / CEP: 06730-000
Tel.: (11) 4158-8890
www.cidadenova.org.br / editoria@cidadenova.org.br
Sumário
Prefácio
Introdução
Glossário
Premissa
Deus Amor no pensamento e na vida de Chiara
A vontade de Deus no pensamento e na vida de Chiara Lubich
A Palavra
O outro: diferente de mim – igual a mim
O amor recíproco: na escola da Trindade
Eucaristia, mistério de comunhão
Unidade: o nosso Carisma dádiva – empenho – meta
Jesus Abandonado: janela de Deus – janela da humanidade
Maria: no desígnio Dela o meu, o nosso desígnio
O Espírito Santo, alma da Igreja e do mundo
Jesus no meio, nosso presente e nosso futuro
Prefácio
Este livro de Maria Voce é uma coletânea de ensaios que mostra a expansão da mensagem de Chiara Lubich no Movimento dos Focolares após sua morte em 2008. O povo nascido do Evangelho
– assim é definido o Movimento pelo título do livro de Enzo Maria Fondi e Michele Zanzucchi sobre Chiara e o Movimento dos Focolares – ficou vinculado à herança da fundadora, cuja mensagem não é um corpo de ideias que só tem valor em si, mas algo que se conecta a uma realidade viva, a dos focolarinos hoje. Maria Voce, que sucedeu a Chiara como presidente do Movimento, escreve: Portanto, é uma aproximação feita juntos de algo já conhecido, já visto profeticamente por Chiara e que, ao mesmo tempo, percebemos como um terreno a ser explorado...
.
Este é o sentido dos discursos de Maria, reunidos ness e volume: repercorrer algo já conhecido (como os discursos, as mensagens, as reflexões de Chiara desde 1943), mas também penetrar em uma compreensão renovada do seu ensinamento, pois o mundo em que vivemos é diferente e seus questionamentos são novos. De fato, Maria Voce, também com a responsabilidade de presidente do Movimento dos Focolares, questiona a mensagem de Chiara Lubich à luz do presente e da última década de vida do Movimento. E faz isso com a humildade e a tenacidade que a caracterizam.
Na verdade, Maria nunca quis ser uma repetição de Chiara: diferiu no estilo e na abordagem com grande humildade, mas também trabalhou com tenacidade para reler a mensagem de Chiara, convicta de que a Obra deve se encaminhar para o futuro. Assim me parece que deve ser compreendido o livro que temos em mãos. Hoje, mais de doze anos após o falecimento de Chiara, devemos dizer que a escolha de Maria Voce se revelou não apenas a de uma intérprete correta, mas corajosa. Devemos expressar a ela a nossa gratidão por ter realizado com lucidez e serenidade uma tarefa nada fácil. Se tivesse buscado protagonismo pessoal, depois de uma personalidade forte e carismática como a de Chiara, bastaria insistir nas descontinuidades e, quem sabe, exibi-las. Se não tivesse tido coragem, poderia ter se limitado a repetir aquilo que Chiara disse.
No entanto, Maria não quis repetir, mas reler. Ela releu a mensagem e o carisma de Chiara em uma Igreja e em um mundo que mudaram. Porque os movimentos espirituais crescem na profunda tensão entre a fidelidade às origens e ao carisma, por um lado, mas, por outro, na exploração da vida e da história de amanhã.
Lembro-me de que, há muitos anos, participei ao lado de Chiara de uma reunião na qual um cardeal interveio – com ingenuidade e sem muito tato – dizendo que a verdade de um movimento se vê quando o fundador morre. Saindo do encontro e comentando com Chiara os discursos ouvidos, ela (já avançada em anos) me disse que o cardeal não havia sido propriamente gentil com aquela expressão. Nós rimos. Mas acrescentou que a verdade de um movimento ou de cada comunidade cristã é vista todos os dias na caridade.
Para ela, as palavras do Evangelho de João sempre foram uma referência: Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros
(Jo 13,35). Lembrei-lhe estas palavras e assim a nossa conversa terminou com um pouco de ironia, mas também com um forte apelo à caridade, como característica fundamental da veracidade cristã.
A verdade de um movimento é vista todos os dias e em todas as estações pela caridade que tem para com todos, para com os pobres e entre aqueles que dele participam. Maria Voce escreve: Chiara intui imediatamente que o amor de Deus não diz respeito apenas a si mesma, mas chega a todos. Aqui está
– continua – a primeira novidade da espiritualidade, aquele ‘algo mais’ sobre a compreensão de Deus Amor, que desde aquele primeiro instante vai se delineando
.
Nessa intuição nasce a paixão comunicativa de Chiara: desde o início ela quis dizer a todos a descoberta do Evangelho do amor e fez isso encontrando e escrevendo. Efetivamente, havia nela uma verdadeira paixão pelo relacionamento, pelo encontro e pela amizade. A mensagem evangélica passa por um plexo de relações de amizade e fraternidade. E essa paixão – fogo
, poderíamos dizer com uma expressão que ela usava – superava a timidez e a relutância, normais em uma jovem em uma Igreja tão masculina e em uma sociedade conflituosa como o mundo da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, no qual o Movimento dá os primeiros passos. A longa vida de Chiara é um mar de encontros com pessoas e mundos diferentes.
Reler e não repetir: essa é a mensagem desse livro. Reler exprime uma dúplice fidelidade: ao Evangelho e à mensagem de Chiara, mas também ao nosso tempo. Chiara guiou o Movimento dentro da história com atenção. Sua linguagem nunca se nivelou à crônica política ou às polêmicas cotidianas, mas a fundadora estava atenta aos acontecimentos. Havia uma atenção aos sinais dos tempos
de que falaram João XXIII e o Concílio Vaticano II. Ela trabalhava muito para entender as diversas situações e entrar em sintonia com elas. Basta ver como se preparava cuidadosamente para visitar os vários países, aprofundando suas realidades.
Compreendemos o valor do Carisma da Unidade, nascido nos anos difíceis da Segunda Guerra Mundial, amadurecido quando o mundo estava dividido pela Guerra Fria e as sociedades europeias estavam dilaceradas por uma vida política e social conflituosa. O carisma tem uma força atrativa ainda hoje, neste nosso mundo, no qual se deu a globalização dos fluxos financeiros e econômicos, no qual as comunicações se internacionalizaram, mas não se realizou uma globalização espiritual mediada pelo diálogo.
Em 1968, uma personalidade que estimava muito Chiara (que desempenhou um papel relevante em suas relações com Paulo VI), o Patriarca ortodoxo de Constantinopla, Athenagoras, escreveu: Ai se os povos, um dia, tiverem acesso à unidade fora das estruturas e da teologia da Igreja. Por isso a união não deve ser uma negociação... ela se torna uma criação de vida realizada por aqueles que lutam pelo amor e pela paz
. O Patriarca havia intuído que o mundo, desde aqueles anos, fora atingido por um processo de globalização e seria progressivamente unificado em alguns de seus aspectos: a unidade era o desafio para os cristãos em muitos níveis. Athenagoras temia a unificação do mundo sem a unidade dos cristãos, fermento de uma unidade espiritual mais ampla por meio do diálogo e do amor.
Chiara também pensava assim, embora tivesse outra história, mas ela percebeu uma identificação de sentimentos com o Patriarca ancião. Era preciso criar uma vida nova combatendo pelo amor e pela paz. Chiara desenvolveu os diálogos
no mundo cristão, mas também entre as religiões, culturas e vários humanismos. A unidade não é antes de tudo um projeto político ou uma ação social: "Devemos reencontrar um novo fervor e, sempre orientados para o ut omnes, alimentar esse incêndio de amor no mundo – escreve Maria Voce. E continua:
Do amor ao irmão nasceram os Movimentos de amplo alcance; do amor ao irmão nasceram também os nossos cinco diálogos, com as numerosas inundações".
Além disso, a unidade permeia em profundidade a própria estrutura do Movimento, tornando-o uma realidade com uma visão global do mundo, superando fronteiras étnicas e nacionais, localismos e entrincheiramentos ressurgentes e fortes neste tempo de globalização. A unidade não cria mulheres e homens desenraizados de seu ambiente, mas, ao contrário, os ancora na realidade concreta, sem negar uma grande abertura à fraternidade universal. É a contribuição que os focolarinos geralmente dão e podem dar em várias situações, recordando que há um mundo mais vasto a ser amado, há as fronteiras do ecumenismo e das religiões.
Em certo sentido, a intuição de Chiara, que estruturou e orientou o Movimento, foi presciente em relação ao mundo da época, muito mais nacional, se não provincial. Foi presciente em relação ao movimento laical por excelência da época, a Ação Católica, estruturada de forma nacional, com a qual Chiara expressou claramente sua dívida de juventude. De todo modo, seu carisma se preparava para acolher o desafio de dar uma alma ao mundo global, não de cima, mas com o enraizamento dos focolarinos e dos focolares em muitos lugares do mundo, vivendo uma comunhão de fé e de sentimentos.
A história do Movimento não está toda escrita. Tem um futuro. Não foi inteiramente escrita por Chiara e pelas primeiras gerações. Na continuidade de um carisma, há um futuro a ser vivido e realizado para o bem do mundo, a serviço da Igreja e da unidade da família humana. Ao abrir-se aos questionamentos e aos encontros do futuro, caminhando na fidelidade a uma tradição espiritual, algo interior e profundo crescerá mais no Movimento de amanhã. Por isso, Maria Voce deseja reler, e não repetir, a mensagem de Chiara, com uma abertura confiante no amanhã que não antevemos, mas apenas vislumbramos.
Gregório Magno, um Papa que viveu tempos difíceis enquanto o mundo mudava profundamente, ensinava aos romanos a partir da Palavra de Deus: "divina eloquia cum legente crescunt. Ele acreditava que
a Palavra de Deus cresce com aquele que a lê. O grande Gregório explicava:
Na medida em que cada santo progride pessoalmente, nessa medida a própria Sagrada Escritura progride nele. A Palavra de Deus cresce com os discípulos que a leem. E assim os discípulos crescem espiritual e humanamente. O futuro é esse crescimento humano e espiritual com a Palavra de Deus que
cresce" nos corações.
O Movimento dos Focolares cresce no conhecimento de Deus e no amor pelas pessoas, porque nasce do Evangelho e lê a Palavra de Deus. Maria Voce cita o grande teólogo russo Pavel Evdokimov: Palavra de vida, ela não é uma doutrina estática, mas sim um lugar vivo da presença
. O monge camaldulense Benedetto Calati, exegeta de Gregório Magno, falava de um dinamismo da Palavra de Deus: Esta dinâmica se reflete no seio de toda a comunidade eclesial, que assume seu papel profético na inteligência comum e no crescimento da Palavra...
. Os focolarinos sempre leram a Palavra na vida, ou melhor, a palavra de vida
.
Nos últimos anos, depois da morte de Chiara, Maria Voce, junto com o Movimento, deram sinais de crescimento espiritual e humano, cujo testemunhado se encontra nestes escritos. Devemos ser gratos a ela por seu serviço corajoso e humilde, que guiou o Movimento rumo ao futuro. Chiara era uma perscrutadora apaixonada dos caminhos do futuro, atenta aos sinais dos tempos, aos novos percursos, capaz de diversificar os caminhos dos focolarinos e de manter a unidade. Continuar a caminhar rumo ao futuro com o carisma de Chiara significa fidelidade ao Ideal
e audácia do amor. Isso já começou.
Tal caminho é também obra de homens e mulheres de fé, mas – como nos recorda a presidente em uma destas páginas – é principalmente um dom de Deus. Por isso, a oração e a invocação são decisivas. A Eucaristia é a audiência com Deus
– escreve Chiara (quando ninguém lhe dava audiência, porque o Movimento estava sendo estudado em tempos difíceis), com palavras que ecoam as de são João Crisóstomo. Gostaria de concluir com uma expressão extraída da história dos mártires armênios, que manifesta os meus votos e a minha confiança: [...] reconhecemos o Santo Evangelho como nosso pai e a Igreja Católica e Apostólica como nossa mãe. Ninguém nos separará dela colocando um obstáculo iníquo
Andrea Riccardi
Introdução
Em 14 de março de 2008, Chiara Lubich faleceu em sua residência em Rocca di Papa, Castelli Romani. Deixava para trás uma Obra madura, plenamente inserida na Igreja católica onde nasceu, difundida entre os cristãos de diversas Igrejas e comunidades eclesiais, comprometida radicalmente com o caminho ecumênico, estendida aos cinco continentes e com aberturas significativas no campo inter-religioso, social e cultural. As suas inspirações proféticas nas várias esferas da vida humana – sem ruptura entre as dimensões imanente e transcendente – vão da economia à política, passando pelas diversas ciências humanas; da fraternidade universal à renovação da espiritualidade, da teologia e da Igreja. Inspirações que ainda precisam ser realizadas, mas que continuam a iluminar a existência de milhões de pessoas no mundo todo.
Chiara Lubich – cujo centenário de nascimento se festeja em 2020 – pode ser enumerada, com todo direito, entre os poucos fundadores e fundadoras que, guardiões de um determinado carisma, completaram o caminho que, segundo os estudiosos do assunto, é indispensável para a sobrevivência na história de uma instituição carismática.
Este caminho é marcado por três requisitos essenciais:
a) que a primeira geração tenha compreendido profundamente o carisma doado por Deus ao fundador ou à fundadora;
b) que esse fundador ou essa fundadora o tenha deixado bem definido legalmente e livre de ambiguidades perigosas;
c) que a realidade institucional surgida do carisma tenha amadurecimento sua própria dimensão cultural, indispensável para sua encarnação histórica.
Em particular, são poucos – como dizia – os fundadores ou as fundadoras que conseguiram em vida definir o desenvolvimento do terceiro requisito, a dimensão cultural. Nas grandes ordens religiosas, como os franciscanos ou os dominicanos, essa fase começou com os primeiros sucessores do fundador. Basta pensar na obra de são Boaventura no que concerne à Ordem Franciscana.
Chiara Lubich, ao invés, quis iniciar ela mesma esta fase, dando origem, em 1990, à Escola Abba para o aprofundamento da doutrina inerente aos textos místicos daquela fase da história da Obra de Maria que é conhecida como Paraíso de 1949 e, em seguida, com a fundação do chamado quinto diálogo
do Movimento, ou seja, com a cultura contemporânea, e a criação do Instituto Universitário Sophia, que surgiu em 7 de dezembro de 2007, poucos meses antes de sua partida para o céu.
Maria Voce é a primeira presidente do Movimento dos Focolares depois de Chiara Lubich. Eleita em julho de 2008 e reconfirmada em setembro de 2014, desempenhou com sabedoria e extrema generosidade a tarefa que lhe foi confiada pela Assembleia Geral da Obra de Maria. Durante seu primeiro mandato, fui seu conselheiro para o aspecto da sabedoria e estudo
, permanecendo a seu lado depois como copresidente durante o segundo mandato.
Nesses quase 12 anos de trabalho ao lado dela, posso testemunhar que sempre a vi plenamente consciente da tarefa que Deus lhe confiou, isto é, suceder como presidente ninguém menos do que a fundadora de uma obra de Deus que, como tal, é governada segundo parâmetros que não podem ser comparados com as obras realizadas pelos homens.
Maria Voce sempre teve consciência de não ser Chiara Lubich e, portanto, de não ter que imitá-la. Por isso, ela teve que estar constantemente atenta à inspiração do Espírito Santo, em unidade com seus colaboradores mais próximos, para decidir em que direção caminhar e para discernir os métodos de seu trabalho na nova fase da Obra de Maria. Do meu ponto de vista, posso afirmar que, nessa linha, Maria Voce (Emmaus, como é notoriamente conhecida no Movimento dos Focolares) é um exemplo singular e excelente daquela fidelidade criativa que se exige dos seguidores – sobretudo se forem dirigentes – dos fundadores e das fundadoras.
Como primeira presidente eleita no fim da fase de fundação carismática do Movimento dos Focolares, ela exerceu seu encargo com admirável dedicação e clarividência nesta segunda fase da fundação histórica – que não é isenta de carismaticidade (como, aliás, a fase carismática não era isenta de historicidade) e se caracteriza principalmente pelo impulso rumo à encarnação histórica das profecias inerentes ao carisma originário e originador.
Pois bem, uma das primeiras tarefas que Maria Voce se impôs no início do seu primeiro sexênio como presidente foi a de revisitar os pontos que constituem a trama, a teia fundamental da Espiritualidade da Unidade, típica do Movimento dos Focolares, como Chiara Lubich os havia compreendido e explicado ao longo do curso de sua história.
A meu ver, essa sua reinterpretação deve ser compreendida à luz daquela fidelidade criativa que já mencionei anteriormente e que se torna uma ajuda preciosa, diria quase indispensável, para o cumprimento daquele primeiro requisito que descrevi como essencial para a sobrevivência de uma realidade carismática: a compreensão profunda do carisma fundacional.
Com efeito, nesta primeira fase do pós-Chiara
ou do Chiara-pós 2008
– como muitos de nós preferimos dizer – era absolutamente necessário não só retornar a esses pilares da Espiritualidade da Unidade, mas compreendê-los à luz dos questionamentos das mulheres e dos homens de hoje.
O livro que o leitor tem nas mãos contém todas as sucessivas preleções realizadas por Maria Voce e entregues, em forma de palestras, a todos os membros do Movimento dos Focolares sobre os pontos de espiritualidade
que, por uma feliz coincidência ou desígnio providencial, são justamente doze, por isso a presidente da Obra de Maria pôde completá-los ao longo de seus dois mandatos, com um ritmo anual. Apenas em um caso (O Espírito Santo e A Igreja) ela agrupou dois pontos, de acordo com uma lógica que ela própria se encarrega de justificar.
O estilo literário de Maria Voce é simples e elegante, a serviço do pensamento que ela deseja transmitir, sem ornamentos inúteis ou argumentos complicados. Com efeito, a sua intenção é sobretudo conduzir o leitor ao contato com a visão
de Chiara e orientar sempre à fonte do carisma, embora apresentando-o a seu modo. Como?
Ousaria responder a esse quesito com um conceito que me é precioso: atualização
. Com efeito, Maria Voce não repete nesses seus temas aqueles que foram feitos por Chiara no passado, mas os atualiza (e isso fica muito evidente nos títulos escolhidos). Atualizar, neste contexto, não tem uma acepção cronológica como na esfera jornalística (as notícias da atualidade), mas epistemológica; portanto, tem uma intenção cognitiva.
Isso significa que Maria Voce, nesses textos, – como mencionei anteriormente – nos doa a sua nova compreensão dos pontos da Espiritualidade da Unidade, haurindo diretamente da fonte da inspiração de Chiara Lubich, mas sublinhando significados ulteriores e fazendo repercutir timbres até então não expressos, provocada também pelos questionamentos que os membros do Movimento dos Focolares se colocam cada vez mais, em contato com as vicissitudes da história presente da Igreja e da humanidade. Por isso, por um lado, podemos apreender a referência constante ao hoje que perpassa todo o livro:
Esta é a tarefa que ela [Chiara Lubich] ainda hoje nos confia: continuar a ser os braços Dele no mundo, para consumir em amor justamente toda solidão; e contribuir para a realização do Testamento de Jesus na Terra (do tema: O outro de mim – um outro eu).
Então, o que Deus pede às pessoas do Movimento? Pede que influenciem o próprio ambiente, envolvendo na unidade os próprios próximos, porém, abertos a todos os demais. Bastaria isso, Chiara dizia naquela circunstância.
E evidenciava de maneira forte que Deus quer