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Valei-me Nossa Senhora: Invocações marianas no Brasil: história e espiritualidade
Valei-me Nossa Senhora: Invocações marianas no Brasil: história e espiritualidade
Valei-me Nossa Senhora: Invocações marianas no Brasil: história e espiritualidade
E-book401 páginas4 horas

Valei-me Nossa Senhora: Invocações marianas no Brasil: história e espiritualidade

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Sobre este e-book

Este livro traz setenta invocações marianas selecionadas entre as mais significativas no Brasil, destacando suas respectivas origens, datas festivas e hinos. O objetivo é oferecer ao leitor um guia dinâmico, pautado em uma profunda análise documental, que o aproxime dos mais variados títulos da Santa Virgem Maria venerados em nosso país, para que possa conhecer sempre melhor aquela que é a grande consoladora de tantos corações atribulados.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de jun. de 2023
ISBN9786555629095
Valei-me Nossa Senhora: Invocações marianas no Brasil: história e espiritualidade

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    Valei-me Nossa Senhora - José Freitas Campos

    Nossa Senhora da

    Abadia

    15 de agosto

    Variações: Santa Maria de Bouro (Portugal), de Muquém.

    1. Um pouco da história

    Ser romeiro e participar da festa de Nossa Senhora d’Abadia do Muquém é um sonho que busco realizar. O projeto já estava em andamento, tecido com muita fé e costurado com grande esperança. Cheguei a compartilhá-lo com o bispo diocesano de Uruaçu-GO, onde se encontra o santuário, e ele me deu apoio total. Veio a pandemia, e o plano foi adiado sine die. Agora é só aguardar com amor e perseverança. Maria nos ajudará a realizá-lo em tempos melhores.

    A tradição devocional à Senhora d’Abadia remonta ao ano 883 e surgiu a partir de uma imagem do mosteiro das Montanhas, próximo a Braga, em Portugal. Após a invasão da Península Ibérica pelos árabes, os monges cistercienses fugiram e esconderam-na. Anos depois, um ermitão morando perto do antigo monastério viu uma claridade. Pela manhã, bem de madrugada, indo ao local, encontrou a efígie. E iniciou, ali, a construção de uma ermida.

    Com a colonização portuguesa no Brasil, a devoção difundiu-se principalmente nos sertões de Minas Gerais e nos caminhos de Goiás. A história da devoção à Senhora d’Abadia teve início por volta do século XVII, no período da mineração na capitania de Goiás, no ciclo do ouro e da escravização. Era o tempo dos garimpos e dos garimpeiros, dos quilombos e quilombolas.

    Em sua obra O ermitão de Muquém, publicada em 1864, o romancista Bernardo Guimarães descreve um pouco dessa história:

    Lá bem longe, no coração do deserto, em uma das mais remotas e despovoadas províncias do Império, existe uma das mais notáveis e concorridas dessas romarias. Notável, sobretudo, se atendermos ao sítio longínquo e às enormes distâncias que os romeiros têm de percorrer para chegarem ao solitário e triste vale em que se acha erigida a capelinha de Nossa Senhora d’Abadia, do Muquém, na província de Goiás, a cerca de 80 léguas do norte da capital e a 7 léguas da povoação de São José de Tocantins, à margem de um pequeno córrego que tem o significativo nome de Córrego das Lágrimas.

    No livro Senhora d’Abadia, o cônego Arlindo Ribeiro da Cunha, da arquidiocese de Braga, Portugal, escreve que a devoção à Senhora d’Abadia, de Muquém, acontece no cumprimento de uma promessa de um português que, ocupado em explorar ouro em uma mina de Muquém, mandara trazer de Portugal uma imagem com esse título e essa invocação.

    A Senhora d’Abadia no Brasil

    Um documento eclesiástico comprova que, em 1748, houve um pedido à diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para a instalação da pia batismal na capelinha. A igreja era muito simples. As famílias se reuniam para rezar o terço e entoar benditos, ladainhas e loas a Nossa Senhora. Sacerdotes da freguesia de São José do Tocantins (atual Niquelândia) vinham em desobriga ao Arraial de Muquém para acolher, confessar e aconselhar os romeiros.

    As orações aos pés de Nossa Senhora, os testemunhos de milagres e a devoção foram atraindo fiéis. A fama de Muquém chegou aos mais afastados recantos do país. A devoção se espalhou pelas províncias do Império de Goiás e Minas Gerais (no Triângulo Mineiro, ela é padroeira da catedral de Uberaba, desde 1844). Em Mato Grosso do Sul, é padroeira da sé catedral de Campo Grande, e está ainda presente nos estados de Pernambuco, Pará, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. No Brasil, são quase quarenta paróquias das quais ela é titular.

    O culto à Senhora d’Abadia foi descrito pelo general português Cunha Mattos. Ele afirma que, em 1824, viu aquela florescente localidade muito decadente, em estado ruinoso e com poucos habitantes: Tem 35 casas e a igreja de São Tomé, célebre pela devota imagem de Nossa Senhora d’Abadia, muito venerada a 15 de agosto, não só pelos habitantes desta província, mas ainda pelos de fora.¹ A diocese de Goiás, em visita pastoral a Muquém, deixara relatos escritos sobre a romaria, a partir de dom Joaquim Gonçalves de Azevedo (terceiro bispo, de 1864 a 1876).

    Em suma, não sabemos o tempo exato em que iniciaram as romarias. Com certeza, há mais de um século. No dia 15 de agosto de cada ano, com exceção do ano pandêmico, são milhares de devotos que se dirigem à aldeia de Muquém para agradecer os favores alcançados por intercessão de Nossa Senhora d’Abadia. No local, não existe infraestrutura apropriada, mas os romeiros armam suas barracas nos arredores da povoação, no tempo dos festejos. São muitos os que caminham a pé, vencendo enormes distâncias somente para pagar suas promessas feitas à Virgem do Muquém, numa romaria de muita esperança e muita fé.

    2. A espiritualidade dos romeiros

    Esta devoção está presente na alma do povo goiano, e, dentre as inúmeras manifestações de fé, a romaria de Muquém tem um significado todo especial. Atraídos pelo amor materno de Maria, seja de automóvel, seja a cavalo, seja a pé, fiéis viajam centenas de quilômetros para vivenciar a festa e homenagear a quem reconhecem como padroeira de Goiás. Durante a romaria, em comunhão, fazem suas orações, prestam homenagens e dão testemunhos, agradecem as graças alcançadas, acolhem e são acolhidos, vivenciando a experiência plena da romaria e a misericórdia de Deus e de Nossa Senhora.

    3. Leitura orante da Palavra de Deus: Lc 1,34-38

    4. Oração – Vamos rezar juntos

    À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus, Senhora d’Abadia, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Que do vosso trono sagrado d’Abadia do Muquém desçam as bênçãos do céu para nós que estamos reunidos e para aqueles que se recomendaram às nossas orações, a fim de que todos recebam as graças divinas e cheguem ao conhecimento da verdade. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

    5. Hino de Nossa Senhora d’Abadia – DP²

    Refrão: Louvor à Virgem, Nossa Senhora,que no Muquém tem seu altar. Ó Virgem Mãe d’Abadia, reina amorosa sobre Goiás.

    1. Sempre seremos teus caros filhos, nossa advogada sempre serás. Com teu auxílio perpétuo e sempre, derrotaremos a Satanás.

    2. Recebe, ó Virgem, nosso carinho, a ti queremos sempre servir. Teus romeiros, desde este dia, nos consagramos pra sempre a ti.

    3. Tu és a mais santa dentre as mulheres, tu és do céu a mais linda flor. Faz de nós o que bem quiseres, escravos somos do teu amor.

    4. Teu rosto é o sol que brilhando aquece as horas tristes da solidão. E ao teu sorriso de mãe parece abrir-se em flor nosso coração.

    5. Quem poderá definir o encanto que há no espelho do teu olhar? Ó Virgem Mãe d’Abadia, cada vez mais eu te quero amar.

    6. A tua bênção terna, amorosa, viemos pedir-te com fé e amor. Escuta as preces de teus romeiros que te oferecem grande louvor.

    Nossa Senhora da

    Ajuda

    15 de agosto

    Variações: Ajuda dos Cristãos, Amparo, Boa Ajuda, Necessidades e Socorro.

    1. Um pouco da história

    Referimo-nos a uma invocação mariana bastante inserida na história do Brasil. Este título teve origem em Portugal. Soldados e marinheiros homenageavam a Virgem, suplicando sua ajuda. As naus lusitanas eram colocadas sob sua proteção, talvez devido à pequena ermida existente perto de Lisboa, na praia do Restelo, que abrigava uma milagrosa imagem ali encontrada com esta motivação devocional.

    No Brasil, seu culto foi divulgado pelos jesuítas, que lhe dedicaram a primeira igreja construída por eles em solo baiano. Seu nome foi tirado da caravela capitânia da frota de Tomé de Souza, denominada Nossa Senhora da Ajuda, cuja imagem vinha a bordo e foi transladada para a capelinha de palha. Com a chegada do primeiro bispo, dom Pedro Fernandes Sardinha (1552-1556), os jesuítas cederam-lhe o templo, que foi reformado, tornando-se, em 1579, a sé da Bahia. A catedral foi remodelada e passou por várias reformas. Contudo, os altares e colunas da antiga sé de palha, assim como o púlpito, onde pregara o Pe. Antônio Vieira (1606-1697), foram conservados.

    Outrossim, ainda na Bahia, há um alto morro chamado Porto Seguro, perto da histórica cidade. No século XVI, os jesuítas, liderados pelo Pe. Francisco Pires, resolveram construir um templo em honra a Maria. Ninguém queria colaborar. Era difícil o acesso. Os religiosos iniciaram a construção. Cavaram os alicerces. Não havia ali rios ou fontes onde buscar água para fazer a argamassa e levantar paredes. Abriram uma vala de 1,5km para trazê-la de um açude no sítio de um colono. No início, nada contra. Depois, vendo a grande quantidade de água, ele se assustou e, supondo prejudicar a irrigação de suas lavouras, negou o fornecimento.

    Impossibilitados de ter água para a construção, sentiram aflição e desânimo. Mas, encorajados pelo Pe. Pires, resolveram celebrar uma missa implorando a graça de tê-la. Com todo fervor, participaram da celebração, na esperança de que Nossa Senhora os ajudasse a obter a água necessária. Para a alegria de todos, após a missa, viram, junto às raízes de uma árvore no pátio, em frente às obras, jorrar abundante água pura. Entenderam ser a resposta de Maria ao pedido do povo e dos missionários. Agradecidos, cantaram o Te Deum (hino de louvor) e resolveram dar ao templo o nome de Senhora da Ajuda. Essa igreja é uma das mais belas do Brasil. Nela, Maria (uma imagem seiscentista) está sentada no trono com um cetro na mão. Ainda na Bahia, encontramos a igreja da Senhora da Ajuda, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, a primeira edificada na região, em 1595, com seu acolhedor alpendre, que lembra uma velha casa brasileira construída no período colonial.

    A devoção à Senhora da Ajuda teve grande parte de sua expansão em Minas Gerais e no Vale do Paraíba, por moradores de São Paulo. Entretanto, em várias regiões, encontra-se essa invocação mariana. Embora sejam numerosas as imagens em fazendas e oratórios particulares, especialmente no sul de Minas e no norte do estado de São Paulo, ainda existe uma ermida dedicada à Virgem da Ajuda na histórica cidade mineira de Tiradentes (antiga São José del Rei). Sabemos, pela história, que Joaquim José da Silva Xavier, o mártir da independência do Brasil, teve como madrinha Nossa Senhora da Ajuda. Talvez fosse a padroeira de seus ancestrais.

    2. O sentido espiritual da invocação

    Em que posso ajudar? Era essa a máxima evangélica do santo jesuíta, arcebispo de Mariana-MG, dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, SJ, proposta a tantos quantos dele se aproximavam. Parecia inspirar-se na Senhora da Ajuda, pois, como nos dizia o historiador frei Agostinho de Santa Maria, com relação a Maria junto a seu Filho ao pé da cruz: Não tanto para consolá-lo em sua cruel morte, mas para com ele implorar ao Eterno Pai a redenção do gênero humano. Assim, enquanto seu Filho oferecia a vida pelos homens, ela achou que poderia ajudá-lo pedindo pelos pecadores.³

    3. Leitura orante da Palavra de Deus: Jo 2,3-5

    4. Oração – Vamos rezar juntos

    Mãe da Ajuda, ouvi como especial advogada o nosso clamor. Mostrai-nos a vossa ternura. O mundo inteiro vos venera. Queremos, Senhora, seguir vossos passos. Sede sempre nossa protetora. Socorrei as famílias. Alcançai-nos as graças que vos pedimos [pedir a graça] e, enfim, a eterna felicidade no céu. Abençoai-nos, protegei-nos e ajudai-nos, ó Nossa Senhora. Amém.

    5. Hino de Nossa Senhora da Ajuda – DP

    1. Ó Mãe da Ajuda, nós te saudamos, padroeira, porque trazes o teu amparo para esta terra hospitaleira.

    Refrão: Nós te saudamos, ó Mãe cheia de graça, vem em nossa ajuda, teu socorro nunca passa. (bis)

    2. Os devotos te veneram e com alegria te agradecem os auxílios teus que nos prestam, nos animam, nos fortalecem.

    3. Trazes no braço o Filho amado, o cetro presente em tua mão. Tens coroa de Rainha de nossa cidade e da nação.

    4. A tua casa foi erguida, com muita fé, com força e amor. Nesta simples e humilde ermida, entoavam hinos em teu louvor.

    Nossa Senhora dos

    Alagados

    7 de julho

    1. Um pouco da história

    Não sou soteropolitano, mas conheci en passant a paróquia de Nossa Senhora com este título no bairro dos Alagados. Na comunidade dos Alagados, em Salvador-BA, em julho de 1980, depois de dois meses de preparativos, incluindo a construção de uma igreja de 400m², o povo de Deus pôde ver São João Paulo II durante meia hora. Apesar da rápida visita, a maioria dos habitantes ficou satisfeita, porque, no pouco tempo em que ficou com eles, o papa teve um contato direto com a população.

    Muita gente se preparava para dar-lhe presentes e presentes. Uma velhinha que vendia cuscuz na favela trouxe um tabuleiro de petiscos para ofertar ao papa Karol. As irmãs missionárias da caridade (de Santa Teresa de Calcutá), que moram na comunidade, exibiram um quadro preparado por elas, junto com os moradores, para presentear o Santo Padre. Era uma colagem feita com grãos de arroz, feijão e milho, representando um cesto com um peixe. Tudo feito artesanalmente pelos moradores do bairro.

    A Senhora dos Alagados é uma escultura do artista Manuel Dantas Regis Pacheco, representada por uma mulher com o Menino Jesus no colo e carregando um cântaro na cabeça. A igreja matriz foi construída no morro de Santa Luzia. A imagem de Nossa Senhora foi colocada fora do templo, para ser abençoada pelo papa por ocasião de sua visita, junto com um pote de água que também seria abençoado, retornando, depois, ao interior da igreja, onde hoje se encontra. Certamente, Maria, numa época em que não havia água encanada, carregou muitas vezes uma bilha de água em sua cabeça, como era o costume da época.

    O bairro dos Alagados, um dos mais pobres da periferia de Salvador, teve suas primeiras habitações feitas em palafitas erguidas sobre mangues. Por volta de 1940, o local foi aterrado, mas sua urbanização só foi iniciada na década seguinte. O templo, atualmente sede paroquial, é uma das maiores referências do bairro. Construído em estilo arquitetônico moderno, fica no centro de um pátio cimentado, de 3.000m². Foi inaugurado por São João Paulo II (1978-2005) no dia 7 de julho de 1980, por ocasião de sua visita à arquidiocese de São Salvador (BA).

    2. A espiritualidade dos bem-aventurados

    Qual é a mística que essa imagem suscita? O que simboliza esse ícone, retrato dessa Mãe para esses filhos e filhas que ali vivem, lutam e trabalham? Nossa Senhora está de pé, vestida com uma túnica e o manto envolvendo seu corpo. Tem, no braço direito, o Menino Jesus deitado em seu colo e, com o esquerdo levantado, segura com a mão um cântaro de água colocado sobre sua cabeça. Trata-se da Mãe misericordiosa que ali está, protegendo a população pobre, humilde, simples, modesta e generosa daquela comunidade baiana e alargando sua bênção de paz e justiça social para todos.

    3. Leitura orante da Palavra de Deus: Mc 3,31-32

    4. Oração – Vamos rezar juntos

    Ó Senhora, Mãe dos Alagados, sois também a Mãe de Cristo, o Salvador do mundo. Olhai com bondade vossos filhos e filhas que sofrem as duras penas da vida. Sede nossa protetora e nossa esperança. Lavai, com as águas benditas de vosso coração materno, nossos corações. Que possamos viver com dignidade, morando em nossas casas, tendo instrução para as crianças e os jovens, saúde para todos, trabalho, justiça, compreensão, solidariedade e amor fraterno, segundo a lei do Evangelho. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém (oração escrita por dom Dominique Marie Jean Denis You, bispo de Conceição do Araguaia-PA).

    5. Hino de Nossa Senhora dos Alagados

    Letra e música: Pe. José Leal (ex-pároco)

    1. O papa na Bahia visita Alagados, benzeu a nossa igreja, deixando seu legado.

    2. Discurso de valor, enobrecendo a vida, embora sofredora, de Deus sempre querida.

    3. Quem sabe que a Senhora, levando o seu Filhinho, entende a nossa imagem moldada com carinho.

    Nossa Senhora do

    Amparo

    15 de agosto

    Variação: Soledade.

    1. Um pouco da história

    Bem mais do que um nome de pessoas, ruas, bairros, templos ou cidades (Amparo de São Francisco-SE, Amparo da Serra-MG, Amparo-SP), ou até mesmo catedrais, igrejas, capelinhas e ermidas, trata-se de um título mariano que calou fundo na realidade do povo brasileiro: pobre, desprotegido, esquecido, abandonado e, sobretudo, desamparado.

    A origem desta advocação é muito antiga e, segundo os diversos estudiosos de mariologia, provém do fato de Cristo, no alto da cruz, ter confiado à humanidade sua Mãe, para que ela a amparasse e protegesse do mal. Durante muito tempo, foi denominada do Amparo a Senhora da Soledade, que era representada aos pés do madeiro, e seu Filho era invocado como Bom Jesus do Amparo.

    Em Portugal, desde os tempos mais remotos do cristianismo, na histórica cidade de Lamego (diocese a partir do século XII), ela é bastante venerada. Esta invocação tornou-se muito popular na antiga Lusitânia, principalmente entre os marinheiros, que, em suas longas e perigosas travessias marítimas, imploravam a proteção e o amparo da Rainha do mar contra as tempestades e os riscos do oceano desconhecido, amedrontador e tenebroso.

    Assim, logo após a descoberta do Brasil, o culto à Virgem do Amparo não tardou em atravessar os mares e se estabelecer entre nós. Sob sua proteção, foi fundado o forte que deu origem à atual cidade de Fortaleza, capital do Ceará. Um dos primeiros templos brasileiros dedicados a esta invocação mariana foi o de Olinda-PE, que já existia em 1617 e foi reconstruído trinta anos após um incêndio. É uma bonita igreja, com pinturas e obras de talha dourada dignas de menção. Ainda hoje, após séculos, a igreja do Amparo continua firme no cimo do outeiro e, apesar de ter sua torre inacabada, é uma das relíquias artístico-religiosas da velha cidade, antiga capitania de Duarte Coelho.

    Ela foi construída por uma irmandade cuja instituição se perde no tempo, sabendo-se apenas que já era antiga na época do rei dom Sebastião (+1578). Essa confraria, criada por jovens, era tão elitizada e rigorosa que proibia a inscrição em suas fileiras de negros, judeus e mulatos até o terceiro grau. Mais tarde, no reinado de dom Maria I, a disposição que vedava tal discriminação foi abolida.

    A transferência da capital do Piauí de Oeiras para Teresina só foi concluída com o apoio da Igreja. Para tornar o projeto viável, a nova urbs começou a se desenvolver a partir da construção da igreja do Amparo. É o edifício mais antigo da cidade (1852), entregue à população antes da instalação da capital. A pedra fundamental foi lançada em 25 de dezembro de 1850, 131 dias após a fundação de Teresina. Quando o templo foi elevado a matriz, apenas a capela-mor estava pronta. A imagem da Virgem do Amparo, trazida de Portugal em 1850, foi levada em procissão da pequena igreja da antiga Vila de Poty ao santuário.

    A igreja do Amparo em Diamantina-MG pertencia à confraria dos homens pardos. Após a Independência, esse santuário, construído em princípios do século XVIII, recebeu o título de capela imperial, passando a ostentar, em sua fachada, as armas características dessa dignidade. É um famoso templo e possui, no centro, apenas uma torre quadrangular. Seu frontão é adornado por graciosas curvas barrocas, e interessantes sacadas de ferro batido ladeiam um medalhão com a figura do Espírito Santo. Nessa igreja, celebra-se, anualmente, a tradicional festa do Divino, com um imperador sorteado pelo arcebispo entre as famílias da sociedade local.

    Cumprem-se, então, as promessas feitas para a cura de doenças, sendo levadas em procissão, sob a bandeira do Divino, dádivas de cera representando as partes enfermas do corpo do ofertante. Em suma, a história das Irmandades do Amparo, tanto na vertente aristocrática como na popular, mostra que a devoção a Nossa Senhora com esse título sempre esteve vivamente presente no coração de todos os católicos brasileiros.

    2. O sentido espiritual

    É Maria a Mãe da vida de todos nós que vivemos neste mundo tão cheio de contradições, de tantas mortes e tantos perigos. Por isso, necessitamos de uma Mãe que nos ajude a conservar a vida, e, sem seu amparo, seria difícil enfrentar os perigos e desafios. É Nossa Senhora que nos defende e ampara de todos os laços com os quais o príncipe da maldade pretende desafiar nossa vida. É nela que buscamos proteção e amparo para todos, pois ela nos livra de todos os perigos.

    No decorrer dos séculos, esse amparo foi simbolizado de diferentes maneiras, tal como Maria cobrindo com seu

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