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Memorial do Convento: uma proposta de Roteiro de Leitura
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Memorial do Convento: uma proposta de Roteiro de Leitura
E-book352 páginas6 horas

Memorial do Convento: uma proposta de Roteiro de Leitura

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Sobre este e-book

A produção literária de José de Sousa Saramago, autor português, configura-se em âmbito internacional, no exercício das diferentes estéticas do gênero romanesco, entre eles, o Novo Romance Histórico, que possui em sua obra Memorial do Convento, publicada em 1982, um dos mais significativos exemplares do gênero composto pelo escritor. O escopo desta pesquisa é proporcionar ao estudante do Ensino Médio e aos docentes o produto educacional Roteiro de leitura, com o intuito de promover a efetivação do processo literário e a reflexão crítica em torno do romance. O problema está na rejeição de alguns estudantes para apreciação de um livro, mesmo quando esse não se constitui como obra canônica. Justifica-se a utilização do produto mencionado devido à resistência de alguns estudantes na leitura de cânones literários, por se associarem a uma linguagem mais complexa e, muitas vezes, arcaica. Desse modo, a obra de José Saramago agrega uma escolha lexical e sintática particular, o que demanda um guia para amparar o leitor nos aspectos estruturais e semânticos da obra. De acordo com a proposta híbrida de ensino da contemporaneidade, ancorada por Rojo, definiu-se a disponibilidade do roteiro na versão book creator para acesso on-line.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de fev. de 2022
ISBN9786525227818
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    Pré-visualização do livro

    Memorial do Convento - Bia Stöcker

    capaExpedienteRostoCréditos

    Aos meus filhos, Heitor e Mariana,

    as melhores partes de mim.

    AGRADECIMENTOS

    Ser grato é reconhecer quando alguém nos fez algo de bom. Deus sabe que não sou uma religiosa ideal e, por isso, talvez estranhe o agradecimento às forças que Ele me deu em muitos momentos dessa pesquisa, quando achei que não conseguiria dar andamento na escrita.

    Agradecer aos meus familiares parece muito pouco diante da paciência dispensada por eles, durante o meu mau humor, das minhas crises de choro, dos almoços rápidos, da falta da sobremesa do fim de semana, das conversas iniciadas e não acabadas, da carência de atenção e carinho de mãe, esposa, filha e irmã, e das minhas ausências nas viagens de férias feitas apenas por eles. Juro! Tentei fazer o que pude, e obtive a compreensão deles.

    Preciso lembrar da minha cachorrinha, Lola, que esteve comigo o tempo todo, deitada ao meu lado, enquanto me enveredava na redação da pesquisa. Inúmeras foram as vezes em que ela vinha com sua bolinha na boca, pedindo atenção, porque queria brincar. E, mesmo assim, não desistiu da minha presença.

    É com enorme gratidão que agradeço ao meu orientador, Maurício Cesar Menon, que acreditou em mim e me ensinou a amar ainda mais a Literatura. Ouvi-lo discorrer, com a mansidão de sua fala, perpassando por autores, obras e textos literários, compartilhando sua sabedoria é extremamente gratificante e alentador. Apontou meus erros, elogiou-me, entendeu os meus atrasos nas entregas dos capítulos, sempre com muita educação. Ao meu orientador, não há somente gratidão, porém, grande admiração.

    Às professoras, Marilu Martens Oliveira e Suely Leite, componentes da minha banca examinadora, agradeço a dedicação e o carinho com que acolheram a oferta de fazerem parte dela e de disporem do seu tempo, a fim de colaborar para a realização deste trabalho.

    O meu reconhecimento, muito especial, vai para os meus doze alunos do terceiro ano do Ensino Médio, de 2020, do colégio em que atuo, que concordaram em fazer parte deste projeto, participando dos estágios, contribuindo para o enriquecimento dele. Sem esquecer, é claro, de outros dois educandos, autores das maravilhosas ilustrações do produto educacional, o Roteiro de Leitura.

    Que diabo é a verdade histórica? Só algo que foi desenhado, e depois esse desenho estabelecido foi cercado de escuro para que a única imagem que pudesse ser vista, destacada, fosse esta que se quer mostrar como verdade. A tarefa é tirar todo o preto, saber o que é que ficou sem ser contado, sem ser mostrado.

    José Saramago

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de Rosto

    Créditos

    AGRADECIMENTOS

    INTRODUÇÃO

    TRAÇOS DA LITERATURA SARAMAGUIANA

    1.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DO TEMPO DE SARAMAGO

    1.2 OS PERFIS LITERÁRIOS DE SARAMAGO

    1.3 A PRODUÇÃO DE MEMORIAL DO CONVENTO (1980 - 1982)

    1.4 O ROMANCISTA E A DESCONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA

    1.5 O PÚBLICO E A OBRA SARAMAGUIANA.

    - 2 - O ESTILO NA ESCRITA E NA LINGUAGEM SARAMAGUIANA.

    2.1 UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA EM MEMORIAL DO CONVENTO.

    2.2. O tempo e o espaço da narrativa em Memorial do Convento.

    2.3 O NARRADOR OBSESSIVO DE MEMORIAL DO CONVENTO

    2. 4. A CONSTRUÇÃO DAS PERSONAGENS HISTÓRICAS E FICTÍCIAS.

    2.5 ECOS NO DISCURSO SARAMAGUIANO – INTERTEXTUALIDADE E DIALOGISMO.

    - 3 - PROCESSOS DO PRODUTO EDUCACIONAL.

    3.1 ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO – ROTEIRO DE LEITURA

    3.2 RELATÓRIO: A ORGANIZAÇÃO DA LEITURA

    3.2.1 Os desafios no processo de leitura.

    3.3 A COMPOSIÇÃO DOS ESTÁGIOS

    3.4 PLANEJAMENTO DE ESTÁGIO GERAL.

    3.4.1 Planos de aula e Relatos.

    3.5 REFLEXÕES: ESTÁGIO E APLICAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    ANEXOS

    INTRODUÇÃO

    - 1 - CONTEXTOS

    1.1 PERFIL BIOGRÁFICO DE JOSÉ SARAMAGO

    1.1.1 Infância Humilde

    1.1.2 O Interesse pela Leitura

    1.1.3 Iniciação Escolar

    1.1.4 A Descoberta

    1.1.5 A Continuidade dos Estudos

    1.1.6 Saramago e suas Mulheres

    1.1.7 Primeira Publicação

    1.1.8 Tempo de Trabalho.

    1.1.9 Novas Publicações

    1.1.10 Transformações Ideológicas na Narrativa

    1.1.11 Publicação de Memorial do Convento

    1.1.12 Premiações e o Nobel

    1.1.13 A Amizade com Jorge Amado.

    1.1.14 Deste Mundo e do outro10 - A Morte de José de Sousa Saramago.

    1.2. O ESTILO SARAMAGUIANO

    1.2.1 A Técnica Narrativa.

    1.2.2 O Diálogo com outras Obras e outros Autores

    - 2 - A CONSTRUÇÃO DO CONVENTO DE MAFRA

    2.1 A HISTÓRIA REAL

    2.2 NOS DIAS ATUAIS12.

    2.3 A PASSAROLA

    2.4 OS HERÓIS

    - 3 - O ENREDO DE MEMORIAL DO CONVENTO

    3.1 AS INTENÇÕES DO NARRADOR E A HISTÓRIA.

    3.2 UM RECORTE - A RELAÇÃO ENTRE O REI E OS CONVENTOS

    3.3 O ENCONTRO DE BALTASAR SETE-SÓIS E BLIMUNDA DE JESUS

    3.4 SEGREDO REVELADO

    3.5 O INÍCIO DA PASSAROLA.

    3.6 BALTASAR E BLIMUNDA AGUARDAM O RETORNO DO PADRE BARTOLOMEU LOURENÇO.

    3.7 AS VONTADES

    3.8 O QUARTO ELEMENTO

    3.9 O SONHO NO CÉU

    3.10 NAS OBRAS DO CONVENTO...

    3.11 A OBRA É LONGA, A VIDA É CURTA.

    3.12 O DESTINO DE BALTASAR MATEUS SETE- SÓIS.

    - 4 - A ESTRUTURA DA OBRA

    4.1 DIVISÕES

    4.2 GÊNERO LITERÁRIO

    4.3 FOCO NARRATIVO

    4.3.1 Um Narrador Inusitado.

    4.4 O ESPAÇO

    4.5 O TEMPO

    4.5.1 O tempo da Narrativa e o Tempo Histórico

    4.5.1.1 A Procissão

    4.5.1.2 O Voo da Passarola

    4.5.1.3 Quando Blimunda reencontra Baltasar

    4.5.1.4 Da Morte de Padre Bartolomeu Lourenço

    4.5.1.5. Guerra de Sucessão

    4.5.2 O Tempo do Narrador e o Tempo Histórico

    4.5.2.1 A Construção do Convento

    4.5.2.2 A Experiência de Padre Bartolomeu

    4.5.2.3 Atração Turística

    4.5.2.4 Invasão Francesa

    4.5.2.5 A sagração da Basílica

    4.6. AS PERSONAGENS

    4.6.1 Personagens Históricas

    4.6.2 Personagens Fictícias

    - 5 - CURIOSIDADES

    5.1 À SEMELHANÇA DE ÍCARO

    5.2 A TRINDADE TERRESTRE

    5.3 O NÚMERO SETE

    5.4 O RITUAL DE CASAMENTO

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    RELATOS DOS DISCENTES

    Landmarks

    Capa

    Folha de Rosto

    Página de Créditos

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    As narrativas sempre estiveram presentes nas sociedades, mesmo quando não havia a escrita; as pinturas rupestres narravam uma história, testemunhas expunham fatos que presenciaram, outros o que lhes foi contado. Muitas histórias nasceram da oralidade, e a história oficial não sobrevive somente de documentos, mas também da memória de um povo.

    O conceito de memória é crucial porque na memória se cruzam passado, presente e futuro; temporalidades e espacialidades; monumentalização e documentação; dimensões materiais e simbólicas; identidades e projetos. É crucial porque na memória se entrecruzam a lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o indivíduo e a sociedade; o público e o privado; o sagrado e o profano. Crucial porque na memória se entrelaçam registro e invenção; fidelidade e mobilidade; dado e construção; história e ficção; revelação e ocultação. (NEVES, 1998, p. 218)

    Assim, a literatura representa o real na medida do verossímil, na função de seduzir e entreter, pois é fruto da subjetividade, da expressão artística de uma sociedade, dentro de um contexto histórico. A história, por sua vez, é o registro dos acontecimentos passados, incumbida de trabalhar os fatos e de interpretá-los. Segundo Reis (2013, p. 20), as obras literárias revestem-se de um certo significado histórico-cultural, em conexão direta com a sua capacidade para dialogarem com a história, com a Sociedade e com a Cultura que as envolvem e que enviesadamente as motivam.

    Na observação dos caminhos que a literatura percorreu ao longo dos tempos, constatam-se as mudanças ideológicas definidas pelas transformações sócio-históricas e culturais, como é o caso da literatura da Idade Média, enraizada nas doutrinas religiosas daquele período. Ou mesmo as diferentes temáticas presentes no Romantismo e no Realismo, escolas literárias encadeadas; a primeira preocupada com o subjetivismo e o nacionalismo, por meio de uma natureza perfeita; a segunda voltada ao objetivismo, à análise psicológica humana e à ambientação social.

    Além do que foi mencionado, a literatura tem fundamental importância, pois adquire papel humanizador:

    Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos como essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota da humanidade na medida que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CANDIDO, 2011, p. 182).

    Pela acepção de Cândido, a literatura configura-se como instrumento de humanização do homem, que sai do seu comodismo cognitivo e social e é capaz de exercer função crítica mediante a leitura, reconhece a sua realidade e a de outros, apura a sensibilidade diante dos elementos presentes nela, manifestando um poder transformador e, consequentemente, uma atitude social.

    O objetivo geral, fomentado nesta pesquisa, está na possibilidade de efetivar a leitura de um clássico da literatura portuguesa superior ao mero entretenimento, além de permitir a reflexão de questões sociais, religiosas e políticas da história lusitana para a ampliação do conhecimento de mundo, tal qual afirma o jargão popular: enxergar além das aparências. Conforme Reis (2013, p. 31), [...] de um ponto de vista histórico, antes disso, a literatura pode ser entendida como instrumento de intervenção social. [...] no quadro da busca da verdade.

    O problema, na verdade, é como resolver a rejeição inicial de alguns estudantes para apreciação de um livro, mesmo quando esse não se constitui como obra canônica? Eles assistem a filmes adaptados de romances, todavia deixam de apreender a essência e outros elementos da narração e da contação de estórias, como as intenções do narrador, as construções descritivas de um espaço e as abstrações. Nas adaptações de obras literárias para outras mídias há a perda de passagens expressivas, já que se trata de uma adaptação, o que significa a presença de cortes para se justapor ao filme. [...] no caso do cinema, que é muito mais uma narração do que o teatro, aspirar-se-ia contar tudo aquilo que eu contei, deixando evidentemente de fora aquilo que é específico do romance que é o modo de narrar, o estilo, tudo isso. (SARAMAGO apud Reis, 2018, p.94).

    Para que haja um ensino profícuo da literatura, não se deve pensá-la analisando apenas a proficiência de leitura. Torna-se importante ir além da linguagem, pensar nos sentidos do texto, internalizar os significados das palavras, objetivando o caráter humanizador proposto por Antonio Candido.

    Portanto, a capacidade dessa compreensão tem como objeto a narrativa de José Saramago (1922-2010), autor português, prêmio Nobel em Literatura do ano de 1998, que viveu o regime salazarista, filiou-se ao partido comunista e exerceu várias atividades profissionais. Como escritor, experimentou diversos gêneros textuais, e culminou por se destacar no romance que é foco neste estudo, a obra Memorial do Convento (1982), que traz à tona a história da construção real do convento de Mafra, em Portugal, realizada no século XVIII, durante o reinado de D. João V.

    O autor desmantelou os conceitos de Literatura e História e reuniu em um só corpus, aspectos ficcionais com intenções fidedignas, bem como verdades subjetivas. O escritor se beneficia da dicotomia entre verdade e ficção e perturba a credibilidade da história da nação portuguesa, munido de arsenais dubitáveis sobre religião, política e sociedade.

    A ficção, enquanto gesto poético de busca, indagação e construção de um possível, circunscreve o artista a um terreno inseguro, pois, enquanto a realidade possui uma existência que independe da mente, a ficção só se faz pela ação imaginativa que tanto pode roçar a realidade, quanto concretizar-se no impossível ou absurdo. (BASTAZIN, 2006, p. 39)

    Desse modo, o amálgama existente entre o discurso literário e o discurso histórico respalda a concepção do Novo Romance Histórico, que refuta o passado para ressignificar o presente. Memorial do Convento sustenta esse formato pós-moderno, com inovação criativa e crítica alicerçada pelo processo de desconstrução e reconstrução da História. [...] reconstruir o passado implica vê-lo como práxis de afirmação da potencialidade subjetiva e não apenas submissão a uma objetividade teoricamente construída ou imaginada. (ABDALA JUNIOR, 2017, p. 17-18).

    Além do mais, desmistifica o conceito de heroísmo dos romances tradicionais, representando o herói na multidão de invisíveis da construção do Convento de Mafra, permanecidos no anonimato. Figuras históricas adentram na ficção com a frugalidade das personagens fictícias e sem protagonismo.

    Quando ele recorre, em seus romances, à História, sua finalidade não é de aproveitar fielmente os inabaláveis factos da História, mas, pelo contrário, de aproveitar acontecimentos e figuras que, mesclados com a imaginação (re) criadora do autor, viabilizam a construção de uma História marginal à versão oficial (ARNAUT, 1996, p.58).

    A reinterpretação dos fatos oficiais da memória de Portugal se desenvolve por mecanismos diversos, permitidos pelas engrenagens da narrativa, oferecendo uma nova visão da História. Assim,

    Tomar a obra de José Saramago [...] para análise exige coragem de tocar diretamente em algumas feridas abertas na sociedade; uma coragem para tirar as vendas que, muitas vezes, a própria sociedade se coloca para manter velado o que está disseminado em seu seio. Isto, porque a obra desse autor da literatura portuguesa aborda temas socialmente sagrados, e caminha na direção de dessacralizá-los. (ASSUNÇÃO, 2017, p. 7).

    Certamente, o leitor atento compreende a necessidade que incitou o autor em repaginar o passado histórico, pois esse contempla os eventos transcorridos em Portugal, como o regime ditatorial e a Revolução de 1974, que desencadeou uma mutação na forma de narrar. A posição nacionalista de alguns escritores fez eclodir um fascínio pela História, retorquindo ao que está documentado, narrando de forma diversa.

    Os apontamentos registrados neste trabalho determinam novos e velhos caminhos para procurar suscitar o prazer da leitura em alunos que se deparam com os clássicos da literatura, no Ensino Médio. Novos, porque se abre uma perspectiva de uma leitura diferenciada e a descoberta de um gênero textual da esfera literária – o Novo Romance Histórico (Nouveau Roman Historique), ou ficção histórica; velhos, pois traz o antigo gênero textual, muito utilizado pelas editoras há alguns anos, o Roteiro de leitura. Mas o que ele é afinal?

    A menção da palavra roteiro remete aos roteiros de viagem, sobre os itinerários a serem seguidos; aos de cinema e de teatro, mais conhecidos como script, contendo todas as informações sobre um espetáculo audiovisual.

    Dessa forma, valendo-se das palavras informação, seguidos e leitura, temos, portanto, um guia que contém dados do autor, da obra, do enredo, dos elementos estruturais e explicações e análises pertinentes, com a finalidade de assistir o leitor no processo de leitura.

    Verifica-se, ainda, a versão book creator do roteiro, amparada na argumentação de Rojo & Moura (2012) sobre a aplicação de recursos tecnológicos no ambiente contemporâneo vigente.

    O roteiro proposto faz parte do Mestrado profissional (PPGEN, da UTFPR) que exige a confecção de um produto educacional e possui a finalidade inicial de introduzir o leitor, neste caso, no contexto histórico do autor, da obra e do tempo da narrativa. Em seguida, tem a função de subsidiar dúvidas frequentes que nortearão para a efetivação da compreensão da leitura pelo leitor, bem como despertar seu senso crítico, fazendo-o assimilar determinados elementos causadores de significação do texto.

    A metodologia baseia-se na pesquisa-ação de Tozoni-Reis (2009, p. 31) que toma como ponto de partida os problemas reais, para, refletindo sobre eles, romper com a separação entre teoria e prática na produção de conhecimentos sobre os processos educativos, e na pesquisa bibliográfica, no intuito de investigar sobre o autor e a obra a ser estudada com base em suas características, a fim de obter um maior aprofundamento do tema.

    Assim, os caminhos dão azo a uma parcela do propósito pretendido, ainda não analítico, portanto, sem muitos pormenores da obra, porque alude, exclusivamente, à produção e à publicação de Memorial do Convento, de 1982, e à temática arrazoada. Verifica-se a subjetividade autoral construída no discurso narrativo sobre os princípios e doutrinas conferidos, de como se desvelam as ações de uma regência dissipadora, para assegurar a realização de um convento de grandeza arquitetônica; e, sob outra perspectiva, a execução condescendente do desejo de uma tríade terrena em voar. Prepara, ainda, para as ocorrências de um narrador que tem por intento causar incômodo e desconforto diante da História tida como legítima, da alteridade do discurso religioso contido na Sacra História, da representação desvirtuosa dos atos e a depreciação consciente do uso da linguagem.

    Portanto, a fim de melhor ilustrar o que se objetiva, o primeiro capítulo desta dissertação apresenta um painel que ilustra a vida de José Saramago, entrelaçada aos acontecimentos no campo histórico-cultural de Portugal, o que revela os estilos empregados pelo autor até o despertar da sua própria poética, justificados por Costa (1997), estudioso das obras do escritor, em seu livro José Saramago: o período formativo; Arnaut (2008), Seixo (1987) e Esteves (2010) quanto ao gênero Novo Romance Histórico.

    O segundo capítulo versa sobre a escrita de Saramago, conferindo menção ao uso da linguagem e seus sentidos na criação literária, fundamentada em Silva (1994), Heidegger (1965), Marcuschi (2010) e Bakhtin (1992). Vinculada, surge a combinação com os recursos estilísticos e estéticos empregados pelo escritor, respaldados por Birch (1998), mas sem evidenciar, ainda, aspectos pertinentes do romance Memorial do Convento.

    A obra supracitada insere-se ao Novo Romance Histórico, corroborada pela análise de Esteves (2010), atestada por Hutcheon e a menção à metaficção historiográfica. Nessa linha do romance pós-modernista, figuram Arnaut (2002), Weinhardt (2011) e Barros (2018), e se aborda a questão da construção das personagens históricas, híbridas, às personagens próprias de Saramago, como Baltasar e Blimunda, mantendo-as na narrativa no mesmo plano da ficção. Além de ser citada por Esteves (2010), nas fundamentações sobre as reformulações adquiridas do romance pós-moderno, são aprofundadas por Brait (2017) e Candido (2018).

    A narratividade é calcada nas teorias de Candido (2018), Brait (2017), Pinheiro (2012), Nunes (2013), Genette (1979), e para os casos de intertextualidade e dialogismo que se realizam na obra Memorial do Convento, a fundamentação teórica está em Bakhtin (org. Brait 2005), Kristeva (2005), Samoyault (2008), Barros e Fiorin (2011) e Martins (2003).

    O terceiro e último capítulo desta dissertação confere relevância ao Relatório de aplicação do produto educacional, expondo-se, previamente, os aspectos da organização dos estágios e os planos de aula, concomitante aos relatos das aulas, assinalando os resultados obtidos.

    Na conclusão, importa-se verificar as relações existentes entre a Literatura e a História, embasadas na concepção do Novo Romance Histórico; a importância da arte literária na formação do comportamento social; as reflexões processadas sobre a leitura de Memorial do Convento, de José Saramago, a eficácia do Roteiro de leitura como recurso pedagógico para docentes e discentes e a sua versão híbrida book creator.

    Nos anexos, encontra-se o produto educacional desenvolvido – Roteiro de Leitura – atendendo a alunos do Ensino Médio e docentes, em sua prática com os livros de reputação canônica e os relatos produzidos pelos discentes quanto à experiência com o romance Memorial do Convento. Justifica-se o seu aproveitamento no fazer pedagógico, enquanto gênero textual, com Marcuschi (2010), e seu vínculo com a Literatura com Candido (2006). O propósito está em oferecer ao aluno o letramento literário, no discurso de Cosson (2018), a fim de que a leitura se torne expressiva, no sentido de conscientizar o leitor para o mundo.

    TRAÇOS DA LITERATURA SARAMAGUIANA

    Neste capítulo, constrói-se um painel que compreende toda a vida de José Saramago, mostrando o que acontecia em Portugal no campo histórico-cultural desde o nascimento até a morte do autor. E, paralelamente, abordam-se as características pertinentes ao seu processo literário, a fim de auxiliar na percepção que se tem sobre os estilos abraçados pelo escritor dos quais floresceu a sua própria poética.

    1.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DO TEMPO DE SARAMAGO

    A formação literária de José de Sousa Saramago encontra-se marcada por nuances escrutadas por meio da representação da época em que se viveu o escritor, e que caracterizam as ideologias formadoras da identidade saramaguiana.

    Portugal, pátria natal, a qual pretextaria muitos de seus romances, foi governada até 1910 pelo último monarca, D. Manuel II. Nesse período, a sociedade portuguesa passava por turbulência política e social e exigia mudanças. Após a eclosão de uma revolução, instaurou-se a República

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