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Formação de Estratégia e Incrementalismo Lógico no Terceiro Setor: o caso da ADESCO - Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim
Formação de Estratégia e Incrementalismo Lógico no Terceiro Setor: o caso da ADESCO - Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim
Formação de Estratégia e Incrementalismo Lógico no Terceiro Setor: o caso da ADESCO - Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim
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Formação de Estratégia e Incrementalismo Lógico no Terceiro Setor: o caso da ADESCO - Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim

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Sobre este e-book

Este livro surge a partir de uma dissertação que analisou a formação da estratégia em uma organização do terceiro setor sob a ótica do Incrementalismo Lógico - perspectiva teórica elaborada por James Brian Quinn que amalgama elementos que consideram a constituição da estratégia de maneira deliberada e emergente, simultaneamente. A organização escolhida foi a Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim - ADESCO, no município de Areia, estado da Paraíba - uma referência bem-sucedida no tocante a experiências de Turismo de Base Comunitária. A carência de estudos que atrelem o tema da estratégia a tal tipo de organização e a constatação de que as Organizações Não Governamentais vêm crescendo em número e importância na sociedade motivaram a realização deste trabalho. É mostrado neste trabalho que a gestão estratégica permeia as organizações do terceiro setor, embora voltando-se para objetivos distintos daqueles visados pela iniciativa privada, podendo ser encontradas semelhanças e diferenças entre ambas as gestões. Contudo, as idiossincrasias das ONG's em relação às organizações atuantes no mercado, notadamente a ênfase atribuída ao aspecto social e ao econômico, respectivamente, pautam o pensamento estratégico para que este se adeque a cada realidade organizacional.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9786525230559
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    Formação de Estratégia e Incrementalismo Lógico no Terceiro Setor - João Gabriel Barrêto Pereira

    1. INTRODUÇÃO

    Atualmente, a hegemonia da dimensão econômica na conceituação do poder passa por um processo de crítica, iniciado por meio das organizações da sociedade civil que, globalmente, conquistam credibilidade cada vez maior (ARMANI, 2008; ALMEIDA, 2012), evidenciando um período de transição que, como todos os outros, é, simultaneamente, assustador e estimulante (ALMEIDA, 2002, p. 92), por trazer elementos desconhecidos e, por conseguinte, ser repleto de incógnitas; e pelos desafios que leva em seu cerne, respectivamente.

    Ocorre que, a despeito de todos os discursos contemporâneos, as lógicas empresarial e governamental – seja no Brasil, seja em outros países – alteram-se muito lentamente, com o predomínio, ainda, da tônica do lucro por tempo indefinido e a qualquer custo e das políticas de Estado concatenadas para este mesmo objetivo. (ALMEIDA, 2012).

    Transfigurando tais elucubrações para a realidade acadêmica, observa-se que esta tendência é seguida, sendo os estudos em Administração majoritariamente orientados para organizações do setor privado, fato decorrente do desenvolvimento desta ciência em um contexto neoliberal que reforçou a busca pela máxima eficiência e lucro sob uma lógica estritamente instrumental (SILVA; DE MATTIA, 2016).

    Santos (2017) ressalta que, dentre as três matrizes teóricas que compõem o corpo literário das ciências administrativas – Estudos Ortodoxos em Administração; Estudos Organizacionais; e Estudos Críticos em Administração –, o primeiro tem primazia sobre os demais. O autor alerta, ainda, que há ausência de diálogo e concatenação entre esses saberes, suscitando, desta maneira, uma visão fragmentada do pensamento administrativo, uma vez que cada um deles tomado separadamente constitui um ponto cego em relação aos outros dois e potencializa a incomunicabilidade entre eles (SANTOS, 2017, p. 211).

    Ao se realizar uma análise ainda mais estrita, considerando os estudos no campo da estratégia, é possível observar que esta lógica permeia ainda mais o seu âmago, notadamente os de empresas e indústrias de bens (DURAND; GRANT; MADSEN, 2017). A razão para tal provavelmente repousa no fato de sua própria origem estar associada ao financiamento por parte de organizações pertencentes a este setor – precisamente a Ford Foundation e a Carnegie Corporation –, que buscavam atender à demanda dos gestores, especialmente os das gerências gerais, em traduzir o caos de eventos e decisões que enfrentam diariamente de uma maneira ordenada para avaliar a posição da empresa dentro de seu ambiente (RONDA-PUPO; GUERRAS-MARTIN, 2012, p. 165).

    Desde seu surgimento até os dias atuais, o espectro das pesquisas em estratégia na Administração se ampliou bastante. É interessante observar o contraste deste cenário com o que remonta sua origem, no qual o interesse acadêmico no assunto era limitado e não havia tradição de pesquisa estabelecida. Ainda assim, consoante com o sobredito, na maior parte da produção existente, quer seja relacionada à área de Administração, quer no recorte dado ao material focado em estratégia, trata-se predominantemente destas tipificações organizacionais, de modo que a literatura que discute estratégia não dialoga com organizações do terceiro setor² tão ampla e frequentemente quanto com as do âmbito privado, não sendo tão comum encontrar estudos que abordem com mais profundidade o papel destes atores sociais sob a égide da estratégia (DURAND; GRANT; MADSEN, 2017).

    Dentre os acadêmicos que se dedicam a este mote, inclusive, há uma dualidade entre uma corrente que postula a integração entre a gestão social e a estratégica (ASTLEY; FOMBRUN, 1983; ASTLEY, 1984; HIMMELMAN, 2001; TRACEY; PHILLIPS; HAUGH, 2005; CARMEL; HARLOCK, 2008; ROMERO; MOLINA, 2011) e aqueles que desvalorizam tal aproximação e propõem que, na realidade, esta é projetada para demarcar e impor uma ordem institucional e normativa como um todo a um grupo de organizações, que passariam a emular um modus operandi pautado na lógica de mercado (LEVY; EGAN, 2003; CONTU, 2004; DART, 2004; PARKINSON; HOWORTH, 2008; DEY; TEASDALE, 2016).

    Neste sentido, a pesquisa proposta pode contribuir com a primeira corrente mencionada, fortalecendo uma literatura que defende uma posição que enxerga a possibilidade de convergência entre estratégia e a administração de qualquer tipo de organização, uma vez que sustenta a ubiquidade da estratégia (BÖHM, 2006).

    Suplementarmente, vislumbra-se a possibilidade de congregar estas diferentes linhas de pensamento, uma vez que não devem ser encaradas como excludentes, mas complementares. Afinal, ao mesmo tempo em que é factível adotar um discurso em prol de um elemento de onipresença da estratégia na gestão de qualquer organização, independentemente do setor ao qual pertença, consegue-se preservar um elemento crítico que perceba a predominância de discursos que reproduzem ideologias orientadas para fortalecer um pensamento que tem em seu âmago a defesa de interesses privados, uma mentalidade de competição e individualismo, o desmantelamento de estruturas de bem-estar social e o enfraquecimento e desresponsabilização do estado (BÖHM, 2006).

    Desse modo, ambos os cortes epistemológicos podem coexistir e contribuir para uma mútua evolução, visto que uma das formas de se produzir conhecimento científico consiste na utilização do método dialético, através do qual argumenta-se sobre determinados temas sob diferentes prismas e, a partir do debate e do diálogo, melhor se compreende o objeto de estudo (TRIVIÑOS, 2006; DE WIT; MEYER, 2010).

    No que tange às idiossincrasias do tipo de organização analisado – do terceiro setor – caracterizam-se, em sua maior parte, por estruturas de funcionamento modestas em termos de porte físico, por possuírem capilaridade e abrangência geográfica fisicamente limitadas, ocasionando uma atuação atomizada, e um modus operandi particular (HUDSON, 2007; GUTIERRES, 2007). Isto faz com que seu processo de formação de estratégia e questões a ele relativas necessitem de um enfoque peculiar.

    Compreender aspectos tais como a dificuldade que têm para adaptar-se a mudanças; como o fazem; seu comportamento diante de cenários de crise; influência que sofrem ou exercem sobre o ambiente; forças e fraquezas que possuem, dentre outros, inclusive em comparação às do setor privado, de lógica e natureza funcional eminentemente discordes, constitui-se uma questão essencial, visto que as escolas de pensamento estratégico – e o próprio Incrementalismo Lógico, dentro da tradição da Escola do Aprendizado – erigiram-se sob grandes empresas, a partir das quais fundaram sua argumentação, em detrimento de organizações de pequeno porte e/ou do terceiro setor (QUINN, 1980), reforçando a hegemonia de uma epistemologia da Administração formada dentro da matriz teórica dos Estudos Ortodoxos em Administração (FRANÇA FILHO, 2009).

    Assim, torna-se imperativo investigar como e se de fato o processo de formação estratégica ocorre conforme verificado na maior parte das organizações por Quinn (1978), e, acessoriamente, como se sucedem os processos decisórios em arranjos organizacionais que contemplem o terceiro setor – inquirições patentes, visto que há uma notória carência de produções acadêmicas nesta área (SANTOS, 2017). Isto possibilitará o esclarecimento sobre se esta metodologia pode ser verificada também em outros tipos de organização, em especial as associações³, como é o caso do locus de pesquisa deste trabalho.

    Deve-se acrescentar a este ponto o atual contexto do município de Areia, no estado da Paraíba, inserido numa região geográfica de manifesta falta de infraestrutura e com índices de desenvolvimento econômico e social baixos, até mesmo quando comparados à média nacional (ATLAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2013), de uma associação nele circunscrita – a ADESCO – objeto desta investigação e da Comunidade da Chã de Jardim, a partir da qual esta última emanou.

    Soma-se a isto o fato deste se constituir um trabalho que busca analisar o processo de formação estratégica sob o prisma de um estudo de caso local, avaliando-a, portanto, a partir de um contexto microrregional – delineamento deste tipo de organização, a qual atua e circunscreve-se neste universo, interagindo predominantemente com stakeholders de mesma dimensão e ambientação –, conjuntura distinta da verificada em organizações que tradicionalmente compõem a base deste tipo de investigação. Tal metodologia vai de encontro, desse modo, à prevalência constatada de estudos que têm como objeto de pesquisa grandes organizações.

    Dessa maneira, busca-se clarificar a necessidade de tratar com mais atenção um assunto relevante e que pouco tem sido associado a formatos organizacionais que ainda se consolidam (GUTIERRES, 2007), de forma a encetar temáticas poucos exploradas no âmago do campo da estratégia dentro da configuração metodológica trazida – uma pesquisa que: i) tem como locus uma associação comunitária; ii) leva em conta as idiossincrasias de uma determinada região, que demandam um olhar também ímpar sobre a relação destas com este domínio organizacional; iii) trata de uma temática importante para possibilitar a compreensão e avaliar o papel da estratégia como fator-chave para o sucesso desta associação, a partir de uma perspectiva teórica formada em análises de organizações do segundo setor, mas que eventualmente poderá ser aplicada ao terceiro.

    Neste sentido, a escolha por uma iniciativa que vislumbra a transformação socioeconômica de modo sustentável e que incorpora à sua ideia de desenvolvimento a integração da comunidade local, reveste-se de um significado ainda maior. Isto porque traduz a possibilidade de demonstrar efetivamente que uma organização cujos eixos centrais são a economia solidária e o cooperativismo possui relevância a ponto de ter o processo de formação de sua estratégia escrutinado, atestando que o propósito de sua seleção decorre desta representar um caso crítico para a avaliação de uma teoria existente (LARRINAGA, 2017).

    Espera-se que este trabalho contribua também, tanto em termos teóricos quanto práticos, com o fornecimento de um nível de informação que permita sua utilização para, de alguma maneira, aplicar seu conteúdo a outras pesquisas ou ações concretas não só no âmbito local, como em outras regiões. Sua significância torna-se ainda mais evidenciada, sob o ponto de vista teórico, devido à carência de trabalhos que exponham um tema bastante discutido em contextos que representam realidades próprias que são muitas vezes tratadas como de aplicação e serventia genérica – a formação estratégica a partir das firmas –; mas que raramente é pensado sob a perspectiva aqui apresentada, como é o caso das análises no campo da estratégia, de forma que este estudo enseja consubstanciá-lo.

    Isto vai ao encontro do que Durand, Grant e Madsen (2017) indicam, no que tange à demanda por novas pesquisas, quando alertam sobre a necessidade de realizá-las de modo a atender a expansão do campo da estratégia em função da heterogeneidade organizacional; coadunando-se, por sua vez, com as considerações de Simmel (2006) acerca do conhecimento: este deve ser compreendido no horizonte de um complexo de fenômenos onde os diferentes objetos de análise podem ser encarados por diversos ângulos. Com base nisso, o Incrementalismo Lógico representa uma das óticas por meio das quais o fenômeno de formação da estratégia em uma organização pode ser analisado.

    Entende-se, portanto, que o escopo de fenômenos do campo inevitavelmente aumenta e estimula o desenvolvimento e o crescimento de novas correntes de pesquisa. Sendo a teoria formatada preponderantemente a partir da análise da grande organização, acresce-se, destarte, o desafio de entender a tratativa conferida à formação da estratégia em organizações de menor porte.

    Apesar de algumas dificuldades provenientes da falta de coesão oriunda da diversidade de visões e do pluralismo teórico frequentemente considerados exacerbados do campo da estratégia (RONDA-PUPO; GUERRAS-MARTIN, 2012), alvo comum dos que o criticam, é importante atentar para o que Kuhn (1970) argumentava sobre o progresso científico, como um todo, que requer debate e discordância entre diferentes escolas de pensamento dentro de uma comunidade. Construir barreiras refinando os limites do campo inibe esse processo e, portanto, a evolução do conhecimento.

    Ademais, o formato a partir do qual este estudo foi concebido busca sintonizá-lo com o que Hambrick (2004), Oxley, Rivkin e Ryall (2010) salientam acerca da necessidade de contribuições para a teoria estratégica a partir de teorias anteriores, ao focalizar uma abordagem já existente – o Incrementalismo Lógico – concatenando-o a uma associação por meio de procedimentos metodológicos que valorizem as idiossincrasias do tipo de organização analisada.

    Diante de todo o exposto, considera-se que, para atingir o objetivo deste trabalho, faz-se necessário, inicialmente, embasá-lo sob o arcabouço teórico do campo da administração estratégica e do Incrementalismo Lógico, bem como contextualizá-lo no cenário organizacional contemporâneo, algo que será feito na seção seguinte.

    1.1 OBJETIVOS DE PESQUISA

    São descritos, a seguir, os objetivos geral e específicos deste trabalho.

    1.1.1 OBJETIVO GERAL

    Analisar como ocorre a formação de estratégia na Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim a partir da concepção do Incrementalismo Lógico.

    1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    1. Analisar a gestão estratégica da ADESCO sob a ótica do Incrementalismo Lógico;

    2. Realizar um mapeamento das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que impactam a Associação para o Desenvolvimento da Comunidade da Chã de Jardim, analisando como a organização responde estrategicamente a elas;

    3. Examinar como são realizadas as mudanças estratégicas na ADESCO.


    2 O rol de organizações que devem ser enquadradas como terceiro setor é um tema controverso, principalmente em função da suposta natureza lucrativa de algumas delas (Gutierres, 2004). Foi adotada, então, a denominação da legislação brasileira, visando elaborar o trabalho sob um conceito que possui um formato específico juridicamente definido e que, por conseguinte, esvaece interpretações ambíguas sobre o que vem a ser o terceiro setor e/ou quais organizações estão englobadas em seu escopo. Assim, pode ser entendido como o conjunto de entidades privadas sem fins lucrativos que prestam serviços de interesse público, razão pela qual são conhecidos como entes de cooperação ou entidades paraestatais (BRASIL, 2018, p. 13), sendo regidas pelo Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/2002), e juridicamente constituídas, em regra, sob a forma de associações ou fundações, embora sejam genericamente denominadas de ONGs - organizações não governamentais" (BRASIL, 2018, p.

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