Pastora: o protagonismo da mulher na Igreja do Evangelho Quadrangular
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Sobre este e-book
Jefferson Grijo
É pesquisador da Quadrangular no Brasil, professor no ITQ em Vitória (ES). Estudou no Instituto Quadrangular em Cariacica (ES) (2008) e durante dois anos esteve em dedicação integral à causa missionária (2010-2012). Doutor em Teologia pela PUC-Rio (2020); mestre em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória (ES) (2016); graduado em teologia também pela Faculdade Unida de Vitória (2014).
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Pastora - Jefferson Grijo
Prefácio
Gostaria de iniciar esta apresentação a partir de uma impressão pessoal. Como membro da IEQ, sempre vi a atuação de pastoras e pastores em todas as áreas da denominação. Quando comecei a pesquisar a IEQ, fiquei maravilhado com o percurso e os feitos dos quadrangulares em geral. Mas ao me aproximar do ministério feminino, pelas entrevistas e leituras para a produção desta obra, percebi algo diferente, que ainda não consigo explicar de todo: parece-me que a obra quadrangular vivenciada pelo ministério feminino reflete diretamente o fato de ter sido justamente uma mulher a fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. A partir de relatos emocionantes, histórias de superações e dificuldades familiares, o percurso de Pastora Quadrangular nos levará a vivenciar o Evangelho Quadrangular na perspectiva feminina.
Este livro visa trazer ao público o conhecimento do ministério feminino na IEQ, por isso o título Pastora. A história não tem proporcionado o devido trato ao ministério feminino da IEQ brasileira. Em uma igreja fundada por uma mulher em pleno início do XX – tendo a mulher Aimee Semple McPherson construído e legado tanto – era de se esperar mais protagonismo da pastora quadrangular brasileira. Quando analisamos a história da IEQ no Brasil não percebemos o destaque do ministério feminino em sua fase inicial de instalação no País. Os nomes que ficaram na história são de homens.
Mas em uma leitura mais apurada percebemos que os fatos podem ter nova versão, e é exatamente isso que queremos mostrar nesta obra. Por exemplo, a esposa do fundador da IEQ no Brasil já era pastora titular muito antes dele; e a esposa do segundo presidente da IEQ brasileira também já era pastora titular antes mesmo que ele ingressasse no seminário. Será que esses ministérios responsáveis pela instalação do Evangelho Quadrangular no Brasil não teriam então se iniciado a partir dessas pastoras? Qual o legado desses fatos para a igreja brasileira?
Sim, parece que a Igreja do Evangelho Quadrangular evidenciou o ministério feminino nestes últimos tempos. A IEQ já venceu a pauta de discussão em torno da mulher como pastora, em comparação com outras denominações do pentecostalismo em que o ministério feminino ainda está em debate.
No Brasil o ministério da pastora quadrangular é exemplo, com a ordenação das primeiras mulheres ainda nos anos 1950, marcando o protagonismo da IEQ no pentecostalismo brasileiro, numa herança transmitida a outras denominações. Mas ainda falta um olhar mais próximo para mostrar a verdadeira pastora quadrangular. Por isso, mediante uma breve recuperação histórica dos primeiros passos do ministério feminino, apresentaremos o seu papel ímpar. E em entrevistas com pastoras da IEQ perceberemos que a denominação do pentecostalismo tem um fio condutor ligado ao trabalho da mulher. Citando uma pastora entrevistada, se não fosse Aimee Semple McPherson, seria outra mulher, pois o Evangelho Quadrangular parece estar predestinado a destacar o ministério feminino.
É importante destacar que esta obra contém entrevistas com grandes nomes do ministério feminino da Igreja do Evangelho Quadrangular. Analisaremos o ministério da pastora quadrangular a partir de entrevistas com cinco pastoras de estados e funções diferentes na IEQ: Dolores de Oliveira Sousa, MG/ES; Maria Garcia, PR; Santina Brocanelli, SP; Elizabeth Pereira, ES; e Edna dos Santos Macedo, RR. As experiências no percurso ministerial dessas pastoras é um grande exemplo da força da mulher no Evangelho Quadrangular. Queremos que todo o ministério feminino da IEQ seja representado nesta obra por essas pastoras. São milhares de pastoras no Brasil, trabalhando dia e noite em missão.
Desejo que este texto encoraje e oportunize o ministério das mulheres!
Jefferson Grijo Brasil
Introdução
Nos últimos tempos as mulheres vêm se destacando em todas as áreas da sociedade, e a vida religiosa é um exemplo. No pentecostalismo, vertente do cristianismo que mais cresceu nas últimas décadas, é indescritível a força do trabalho das mulheres, inda que toda essa dedicação ao serviço em muitas denominações pentecostais não se faça acompanhar de cargos ou nomeações ministeriais.
A Igreja do Evangelho Quadrangular, destaque na temática, foi fundada por uma mulher, Aimee Semple McPherson, no início do século XX. Só por esse aspecto a IEQ já garantiu a dianteira nas discussões do ministério feminino, mas o tema ainda é recorrente em outras denominações, tanto no protestantismo como no próprio pentecostalismo.
Não abordaremos neste livro o ministério da fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular, relatada no livro Das Tendas à Igreja do Evangelho Quadrangular, limitando-nos a algumas comparações com os ministérios das pastoras brasileiras. Nosso foco aqui será dirigido à história das pastoras responsáveis pela estruturação do Evangelho Quadrangular no Brasil.
A obra está estruturada em três partes: a primeira é uma abordagem fundamental das pastoras que contribuíram na fundação da igreja no país, seguida das pioneiras no ministério feminino na fase inicial da Quadrangular brasileira; a segunda é construída a partir de uma série de entrevistas com quatro pastoras da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil; a terceira é um breve panorama de pastoras de destaques na denominação e da mulher no pentecostalismo.
Nesse percurso, a primeira parte visa mostrar o quanto foi decisivo o ministério das pastoras na criação da IEQ no Brasil. Iniciamos essa etapa com o período de formação e ministerial de Mary Elizabeth Williams, já pastora titular nos Estados Unidos, antes mesmo de seu esposo, o Rev. Harold Williams. Acompanharemos o protagonismo da mulher no Instituto Teológico Quadrangular, ainda nos anos 1950, nos primeiros anos da IEQ no Brasil. Nessa fase inicial também acontece a primeira ordenação de mulheres da denominação no território nacional. Seguindo esse itinerário histórico, veremos o ministério de Jane Faulkner, esposa do segundo presidente da IEQ no Brasil, também de origem americana e já pastora titular nos Estados Unidos antes do marido, o Rev. George Faulkner. Assim, a primeira parte é concluída a partir do ministério da primeira pastora quadrangular titular no Brasil, Odá de Castro, a primeira pastora a assumir efetivamente a titularidade de uma Igreja Quadrangular no Brasil.
A segunda parte é estruturada a partir de uma visão quadrangular do ministério feminino em quatro áreas de atuação da pastora: administradora, titular da igreja, companheira do esposo e educadora. Esse tópico foi construído a partir de entrevistas com quatro pastoras de destaque nas respectivas áreas de atuação ministerial.
Veremos o perfil da administradora a partir do ministério da pastora Dolores de Oliveira Souza, que conta mais de 40 anos de atuação ministerial na IEQ. É aquela que idealiza e projeta o crescimento, além de ser política, liderando outros pastores/pastoras e sistematizando os projetos institucionais em âmbito que ultrapassa o pastoreio da igreja local.
O perfil da pastora como titular da igreja terá como protagonista a pastora Maria Garcia, com mais de 50 anos de atuação ministerial na IEQ. É a pastora na função tradicional do ministério, que cuida da igreja, faz visitas e campanhas, assumindo todas as atribuições do serviço pastoral na igreja local.
Compreenderemos o perfil da pastora companheira do esposo a partir da experiência da pastora Santina Buffolin Brocanelli, também com mais de 50 anos de atuação na Igreja Quadrangular. Ela dá todo o apoio ao ministério do marido e muitas vezes seu trabalho é de bastidores, ao desenvolver seu ministério em cooperação com o esposo.
Um exemplo de pastora educadora será visível pelo trabalho da pastora Elizabeth Pereira de Souza, com mais de 40 anos de trabalho educacional na IEQ. Seu ofício na instituição está ligado à educação, ao aspecto teológico e à formação de pastores e pastoras, com o preparo de novos líderes em todas as áreas da igreja.
A terceira parte traça um breve panorama do ministério da pastora quadrangular, situando nomes de destaque na história da IEQ brasileira e a mulher no pentecostalismo em geral. Passaremos ao largo da discussão teológica em torno do tema do ministério feminino, pois nosso objetivo aqui é se aproximar da pastora quadrangular a fim de melhor conhecê-la.
A terceira parte contém uma entrevista com a pastora Edna Macedo, primeira mulher a assumir a liderança da Igreja Quadrangular em um estado. Seu ministério é destaque por protagonizar esse fato na IEQ brasileira.
I Parte: Pastora: o início
Nesta primeira parte da pesquisa investigamos o papel das mulheres e suas respectivas contribuições na instalação do Evangelho Quadrangular no Brasil, recordando o ministério de suas primeiras pastoras.
Nosso trabalho se iniciou pelo ministério da criadora da IEQ no Brasil, a pastora Mary Elizabeth Williams, esposa do Rev. Harold Williams, responsável pela fundação da IEQ brasileira. Conheceremos o protagonismo feminino no Instituto Teológico da igreja, com mulheres na direção um ano após sua fundação. No final da década de 1950 são ordenadas as primeiras mulheres no ministério da denominação. Essa é a primeira fase da IEQ no Brasil.
No início da década de 1960 a IEQ brasileira passa a vivenciar sua segunda fase no País. Assim, nossa análise percorre o ministério da pastora Jane Faulkner, esposa do segundo presidente americano da IEQ no Brasil, responsável pela organização e estabilidade da instituição. No início da década de 1970 dá-se a posse da primeira pastora titular de uma congregação quadrangular no Brasil. É quando desponta o ministério da Pastora Odá de Castro, considerada a primeira pastora titular quadrangular no País. Eis aí a terceira fase da instauração da IEQ no Brasil. Os anos 1980 podem ser considerados a quarta e última fase desse processo, pois é justamente no final dessa década que a liderança americana se desliga da presidência da igreja no país, já estruturada.
Pastora Mary Elizabeth Williams
Quando se pesquisa a origem da IEQ e de seus fundadores no Brasil, o nome do Rev. Harold Williams é apresentado como o grande fundador e missionário responsável por trazer a mensagem quadrangular aos brasileiros. Analisando o processo de instalação da Quadrangular no Brasil, percebemos que, assim como por intermédio de uma mulher surgiu a IEQ internacional, também no Brasil a história da denominação inicia-se com a esposa do fundador da IEQ brasileira: A esposa do missionário responsável por trazer a IEQ para o Brasil, Mary Elizabeth Williams, já era ministra devidamente ordenada pela IEQ internacional, antes mesmo de se casar com Harold Williams, e durante sete anos havia pastoreado uma igreja em Compton, na Califórnia.
(OLIVEIRA, 2018, p. 39). O ministério da família Williams começa, portanto, com a pastora Mary Elizabeth, embora o nome que ganhe destaque no Brasil seja o de seu esposo. O segundo nome de relevo é de outro pastor, Herminio Vasquez, e o terceiro, de Raymond Boatright. Ou seja, mesmo já sendo ministra, a pastora Mary Elizabeth Williams não se destaca entre os primeiros ministros do Evangelho Quadrangular brasileiro. Reily pontua: "Mary Elizabeth Williams