Goldenray
De Marina Blanc
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Goldenray - Marina Blanc
GOLDENRAY
GOLDENRAY
Marina Blanc
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Para Mause, que me inspirou
a escrever esta história.
1
isparavam-se tiros para todos os lados. Ouvia-se o som estridente das balas à quilômetros de distância. A zona D leste de Kay City estava um verdadeiro caos. Ashley estava completamente perdida e assustada no meio daquela confusão. Seus amigos não estavam ali. Deixaram-na na mão e a fizeram de boba, mais uma vez.
Ashley tentou se abrigar dos tiros, mas era quase impossível em meio a tantos. Uma grande nuvem cinzenta vinha anunciando um temporal devastador. Seria uma tempestade das grandes. Acima dos tiros ouvia-se os trovões. A garota não sabia o que fazer ou para onde ir. Já pensava ser aquele o seu fim.
Tudo começou em Kay City, metrópole de um pequeno país próximo aos Estados Unidos. Vinte anos antes, ocorreu a chamada "dupla invasão", um grande marco histórico que ate-moriza a cidade até os dias de hoje.
A dupla invasão, foi um ataque terrorista causado pelas duas maiores gangues da cidade, que decidiram se confrontar destruindo tudo e todos que viam nas ruas em disputa de seu domínio e poder sobre Kay City. Essas duas gangues são BigWolf e DarkHeart. Ambas eram historicamente inimigas desde sua fundação.
9
Competindo pelo domínio da cidade, as duas gangues deixaram uma grande marca na história de Kay City, o maior ataque terrorista de todos os tempos. O ataque levou um mês para ser contido com a intervenção do exército. Muitos foram presos, mas alguns deles conseguiram fugir.
Quinze anos depois, os filhos dos líderes das gangues, jun-tamente com outros membros sobreviventes ao ataque, resol-veram se reunir novamente, além de recrutar quem mais quisesse fazer parte, a fim de honrar seus pais que ainda estavam presos.
Quatro anos depois, as duas gangues se desentenderam novamente. Dessa vez, ao invés de usarem a cidade como campo de batalha, usaram uma antiga fazenda ao norte de Kay City como local de disputa. Ao final, eles consideraram um empate, porém a gangue BigWolf não aceitou esse empate. Seu líder, denominado Fogo Frio, acreditava que em uma guerra, não deveria haver um empate, é ganhar ou perder.
Por um tempo, cada gangue ficou na sua. Apenas no ano seguinte, Fogo Frio propôs um desempate com Nuvem Negra o líder da DarkHeart.
As duas gangues se encontrariam no dia seguinte ao leste da cidade, em frente à velha indústria química Quimiocorp.
Esta deixou de funcionar após um dos dutos de gás estourarem, espalhando gás tóxico pelos tubos de ventilação e asfixiando todos que lá dentro estavam. Ninguém nunca soube explicar o exatamente porque ou como isso aconteceu, mas depois desse acidente, a Quimiocorp permaneceu fechada.
10
A indústria se localizava um pouco distante, do outro lado da estrada que conectava Kay City às cidades vizinhas. Seria lá, às sete horas da noite daquele dia, que as BigWolf e DarkHeart se encontrariam para a disputa final. O grande desempate entre as duas gangues que se encontravam em confronto há mais de vinte anos. Esse episódio ficaria conhecido como a Revanche das Gangues.
No dia anterior à Revanche das Gangues, às oito da manhã, Carlos e Marcos Butler, irmãos gêmeos da sala do segundo ano do ensino médio do colégio Kayville, a mesma sala de Ashley Goulding, implicavam com ela o tempo inteiro. Os dois sempre arranjavam um motivo caçoar dela.
– Muito medrosa não é, Marcos?
– Com certeza é, Carlos!
– Ficou com medinho de assistir ao filme de terror com a turma ontem.
– Fingiu que ia ao banheiro só para não ver o filme e ficou lá até acabar.
Eles riam muito.
– Eu não tenho medo! Eu... eu estava passando mal. Aquele hambúrguer que eu comi não me fez bem. – dizia encaixando as palavras umas às outras, tentando disfarçar que estava men-tindo. Não estava sendo muito convincente.
– Sei. – retrucou Marcos.
– Deixem ela em paz! – exclamou Alyssa, a melhor amiga de Ashley, colocando-se no meio deles.
– Ei, Marcos, já que ela se diz ser tão corajosa assim, que 11
tal propormos um desafio?
– Que tipo de desafio?
Carlos cochichou sua ideia brevemente no ouvido de seu irmão, que logo concordou dando umas risadinhas debochadas que a irritaram profundamente.
– Boa ideia, Carlos! Então, para provar a sua coragem, esteja amanhã às sete horas da noite naquela indústria química que fechou a zona leste da cidade. – propôs.
– A Quimiocorp?
– Essa mesma.
– Mas isso fica muito longe daqui.
– Então você vai ser conhecida como a medrosa da escola.
– Você não precisa fazer isso, Ashley. – advertiu Alyssa, preocupada.
Ashley pensou por um instante e tomou sua decisão. Respirou fundo, determinada e lhes deu a resposta que queriam ouvir, decididamente confiante.
– Eu estarei lá.
– Certo. Vamos lá, Carlos.
Os dois foram embora rindo.
– Tem certeza de que quer fazer isso?
– Tenho. Eu vou provar para esses cabeças de vento que eu não tenho medo.
– Mas, Ashley, pode ser muito perigoso. Aquela indústria é sinistra. Tem boatos de que as almas das pessoas que morreram lá naquele vazamento de gás, ainda rondam e assombram o local.
– Alyssa, eu já tenho dezesseis anos. Eu não acredito nessas historinhas bobas que as pessoas inventam. Sei me virar muito bem sozinha.
12
Mal sabiam eles, que não seria apenas perigoso, seria mortal.
No dia seguinte, no horário combinado, às sete horas da noite, Ashley foi à Quimiocorp com sua bicicleta que ganhara de sua mãe em seu aniversário de doze anos. Ao chegar no local, deitou-a no chão e começou a procurar pelos meninos.
– Cadê eles? Está ficando muito escuro e deserto aqui.
Ao longe, Ashley avistou uma silhueta alta, forte e robusta.
Ela não conseguia identificar com clareza, quem era.
– Será que é um deles?
Logo podia avistar mais e mais corpos de mesma caracte-rística se aproximando. Surgiam várias pessoas de todos os lados cercando o local. Ashley se escondeu rapidamente atrás de um silo velho que continha algumas substâncias químicas de quando a indústria ainda funcionava. Por algum motivo elas não foram retiradas. Ao reconhecer aquelas pessoas, Ashley entrou em desespero.
– As gangues BigWolf e DarkHeart?! Agora é que eu estou lascada! No que foi que eu me meti?
Os líderes da duas gangues se posicionaram um de frente para o outro. Pareciam estar discutindo sobre alguma coisa.
Ashley tentava entender o que eles estavam falando, porém uma misteriosa neblina tomava conta do lugar, tornando ainda mais difícil de ver. A noite estava esfriando e de onde ela estava, não conseguia ver direito o que estava acontecendo.
Dentro de alguns minutos, um tiro foi disparado para cima e as gangues começaram uma disputa sangrenta.
13
Logo, todos se misturaram formando apenas uma multidão que mais parecia uma manada de búfalos ferozes se atacando.
Não tinha mais como diferenciar as duas gangues, nem saber quem era quem.
Disparavam-se tiros para todos os lados. Ouvia-se o som estridente das balas à quilômetros de distância. A zona leste de Kay City estava um verdadeiro caos. Ashley estava completamente perdida e assustada no meio daquela confusão. Seus amigos não estavam ali. Deixaram-na na mão e a fizeram de boba, mais uma vez.
Ashley tentou se abrigar dos tiros, mas era quase impossível em meio a tantos. Uma grande nuvem cinzenta vinha anunciando um temporal devastador. Seria uma tempestade das grandes. Acima dos tiros ouvia-se os trovões. A garota não sabia o que fazer ou para onde ir. Já pensava ser aquele o seu fim.
A chuva caía lentamente e um forte vento quase os tirava do chão. Ashley não conseguiria sair dali sem ser vista ou arrastada para algum canto. Logo a chuva apertou. Ashley já estava toda encharcada. Estava desesperada.
Um homem usando uma jaqueta preta com capuz que cobria todo seu rosto, atirou em um grande cano que ligava três grandes silos. O cano estourou e os outros silos começaram a estourar também. O homem saiu correndo antes que alguém pudesse reconhecê-lo. Vazavam substâncias químicas de todos os silos. As mesmas se misturavam no ar criando uma grande nuvem de gás tóxico.
Todos que ali estavam, respiraram aquele gás. A tempestade se intensificava cada vez mais e Ashley foi uma das primeiras a respirar o gás por estar se escondendo atrás de um dos 14
silos que explodiram. Tossindo sem ar, ela tentou sair de perto deles mas não conseguia enxergar nada por causa da forte ven-tania que arrastava a chuva com toda a potência. Inesperadamente, um raio a atingiu.
Quando os membros sobreviventes das gangues perceberam que o ar ionizado com o gás estava atraindo raios, saíram correndo evacuando o local.
Ashley estava muito fraca, mas conseguiu se levantar com esforço, cambaleando. O raio a deixara sobrecarregada. Seu cérebro parecia estar girando dentro da cabeça. Ela sentia-se confusa e tonta. Uma estranha sensação correu pelo seu corpo como se a eletricidade estivesse em sua corrente sanguínea.
– O que aconteceu? Cadê todo mundo?
E outro raio caiu. Mas dessa vez, Ashley correu tão rápido quanto o próprio raio e conseguiu se desviar dele antes que fosse atingida. A garota entrou em estado de choque consigo mesma.
– O que foi isso?! O que está acontecendo comigo? –
perguntava-se, intrigada. Estar no meio de um tiroteio, vendo toda aquela confusão e pessoas morrendo, ser atingida por um raio e correr na velocidade da luz, parecia estar fora de cogita-ção. Mal conseguia pensar direito. Até aquele momento, ela ainda acreditava estar no meio de um pesadelo, no qual não conseguia acordar.
Ashley correu naquela mesma velocidade novamente, dali até a entrada da cidade. Devia ter alcançado mais de mil quilômetros por segundo.
– Não é possível! Que loucura!
Ashley saiu correndo, na velocidade normal, assustada, até onde tinha deixado sua bicicleta e pedalou rapidamente até sua 15
casa. Tentava afastar qualquer pensamento confuso sobre o que havia acontecido.
Ao chegar na porta da casa e deitar a bicicleta no grama-do do jardim, Liza Goulding, sua mãe, ficou aflita ao vê-la pela janela, preocupada com o estado em que sua filha se encontrava. Foi correndo abraçá-la, aliviada por vê-la segura.
– Minha nossa, Ashley! Você está ensopada!
– Eu sei, mãe.
– O que aconteceu com você? Por que demorou tanto para chegar em casa?
Ela lhe deu uma toalha e pegou mais uma para ajudar a secá-la.
– Não precisa disso, mãe.
– Me conte o que aconteceu, mocinha.
– Eu... eu estava na praça central com umas amigas e, do nada, começou a chover. Só que de repente a chuva ficou tão forte que as ruas ficaram engarrafadas. Por isso, ficamos um tempão tentando sair de lá e só agora consegui chegar em casa.
– Ela era boa em inventar desculpas.
– Você não viu a previsão do tempo antes de sair de casa?
Ashley já estava quase completamente seca de tanto que sua mãe esfregava as toalhas em seu corpo. Elas se olharam em silêncio por um instante e Liza, compreensiva, lhe deu um forte abraço.
– Que bom que está bem.
Ashley apenas assentiu disfarçadamente,