Uma Canção de Sacrifício
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Sobre este e-book
O início de um conflito que irá mudar dois mundos...
Quando Ordaefus, Sacerdote da Canção dos Elvayn, descobre que seu povo é capaz de desenvolver uma nova habilidade incrível, seu irmão, Mahaelal, acredita que esse novo caminho é errado — uma afronta aos alicerces sobre os quais os Elvayn construíram sua civilização.
E quando a guerra irrompe, os dois irmãos precisam fazer uma escolha: lutar para proteger o que eles acreditam ou se render e trocar a liberdade pela restrição?
Qual escolha eles têm de fato, quando todas as escolhas levam à destruição e morte?
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Uma Canção de Sacrifício - Dave-Brendon de Burgh
Uma Canção de Sacrifício
Sombras começaram a manchar a bolha de resplendor que brilhava ao redor de Ordaefus. Filamentos negros, como relâmpagos em câmera lenta, esticaram-se e se conectaram, engolindo-o na Escuridão.
Mas isso durou apenas por um momento fugaz.
Mesmo que Translocação parecesse, ao menos para quem a observa, instantânea — Ordaefus sentia o medo se remexer dentro dele, como um animal que sente aquele que o persegue. Ordaefus sabia que todos os Cantores sentiam essa trepidação, mesmo que nenhum deles o admitisse. Mesmo os Manipuladores se calavam quando a Escuridão era mencionada. Ninguém conseguira provar a existência desse não-lugar, mas todos que já se cantaram de algum lugar para outro sentiram uma pressão insistente, similar à sensação de ser observado, mas incapaz de encontrar quem o observa.
Faíscas surgiram e o cercaram, como poeira estelar no céu noturno. Ele se concentrou em sua canção, mantendo sua foz estável e forte como se lutasse contra o instinto, como uma coceira repentina, de se calar e escutar em busca do que certamente deveria estar se agachando ao seu redor. A luz começou a se espalhar e inflar, sangrando para dentro e engolindo a Escuridão. Ordaefus sentiu seu pulso acelerar e sua canção aumentou ligeiramente em volume...
E, então, a explosão de luz desapareceu e ele estava parado em pé num círculo. Um dos muitos nos arredores dos pináculos graciosamente tortuosos de Mathra’umaen.
Casa. Depois de semanas de visitas a outras cidades do Tratado, ele estava finalmente em casa.
Ar, aromatizado com fragrâncias de capim cidreira recém-cantadas e carne de ergoi assado, soprou contra sua testa descoberta. Ele soltou suas mãos, erguendo-as com as palmas abertas no momento em que seu contingente pessoal de Guardas do Coro avançou para dentro do círculo.
— Paz — murmurou Ordaefus, sentindo o peso da transição através da Escuridão saindo de seus ombros.
Os guardas acenaram com a cabeça e viraram de costas para ele, os braços abertos de forma que os punhos dos bastões da canção de cada guarda se tocassem num círculo soltando uma única nota. O ar cintilou em volta do grupo conforme um escudo transparente surgiu sobre suas cabeças. Poeira elevou-se do chão por um curto momento onde o domo de proteção fez contato protegendo o círculo.
Ordaefus suspirou em conformidade — ele era o Sacerdote da Canção de Mathra’umaen; a Guarda do Coro jamais iria permitir que ele se locomovesse sem proteção até estar dentro da segurança da cidade.
E, com certeza, não com os Manipuladores de Mahaelal no exterior.
Ordaefus sabia que Sorhael o receberia com palavras duras assim que ele pisasse para dentro dos aposentos que eles dividiam. Ela levava a sério seu papel de ser sua Cantora do Conflito e ela o amava. Ele não pode evitar de sorrir ao perceber que ele havia acabado de escapar de uma emboscada de Manipuladores para acabar numa situação que seria, provavelmente, muito mais perigosa.
Ordaefus baixou suas mãos, o rastro emocional da Escuridão já quase que completamente dissipado:
— Estou pronto.
Mathra’umaen era uma de apenas catorze Cidades da Alma que ainda estavam sob domínio dos Cantores, parte do Tratado do Equilíbrio. E era, aos olhos parciais de Ordaefus, a cidade mais bela.
Milhares de ciclos lunares atrás, a planície, sob a qual a cidade cintilava, havia sido uma vasta floresta de Árvores da Alma. As árvores sencientes estavam ali em grandes aglomerações e fileiras que se estendiam de horizonte a horizonte e conversavam num retumbar melodioso, suas canções de vida fluindo de volta ao solo que havia dado vida a elas eras atrás.
Os Elvayn daquela época — muito mais humildes e felizes, como Ordaefus não conseguia evitar de pensar — haviam acabado de descobrir como manipular.
As Árvores Alma haviam recebido esses seres diminutos, sabendo que sua habilidade de manipular as energias do mundo era uma dádiva perigosa, mas eles acreditaram que os Elvayn seriam responsáveis com o seu poder. E foi essa relação, pelas dezenas de milênios que se seguiram, que culminaram na fundação da primeira cidade Elvayn — as Árvores da Alma deram aos Elvayn permissão para manipular seus corpos desprovidos de alma nas estruturas e formas de pedra da alma que se tornaram Mathra’umaen.
Conforme Ordaefus e sua Guarda do Coro se aproximavam da cidade, com seus vinte e dois pares de pés descalços praticamente sem fazer barulho na estrada fundida na canção que seguia até o Portão da Harmonia, o Sacerdote da Canção deixou a vista disso tudo preencher seu coração e sentidos.
A cidade se espalhava — assim como a floresta senciente fizera outrora — no horizonte. Espirais tortuosos se arquejavam um por sobre o outro, se alargando para dentro da profusão de esplendor de salões e células habitacionais, se afinando em outros pontos em forma de estradas e caminhos que serpenteavam e se desviavam para todas as direções. Cada superfície nadava em cores, uma dança de tons e sombras e contrastes de uma beleza em constante mudança. Essa era e sempre seria, uma visão que tirava seu fôlego, mas também o entristecia.
As cidades, que haviam caído para os Manipuladores de Mahaelal, haviam se tornado lugares plúmbeos e acromáticos com estruturas uniformes e medidas precisas. Ordaefus não teria imaginado que suas desavenças com seu irmão de