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O Lago
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E-book358 páginas5 horas

O Lago

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Sobre este e-book

Olívia Jhenssen, uma jovem de uma cidadezinha do interior, tem sua vida pacata e seus sonhos postos em um turbilhão de sentimentos quando conhece seu mais novo vizinho, um jovem lindo e carinhoso que se coloca em seu caminho jogando-a na encruzilhada das escolhas. Movida pelo amor, pela dor e em buscas de seus sonhos ela vive uma história sem arrependimentos, que á deixam com algumas marcas, mas que a tornam preparada para descobrir até onde o amor pode te levar.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de out. de 2015
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    Pré-visualização do livro

    O Lago - Carolina Briao Goulart

    AGRADECIMENTOS

    Dedico esse livro a Maria Elisabete Brião Goulart, que me apoiou em todos os momentos da minha vida, nunca desistindo de mim, me ensinando que amar é um ato de generosidade e principalmente de persistência, ao meu presente de Deus, Marília Goulart Sanson, que é a razão da minha vida e o motivo da minha felicidade e a William Momm por nunca ter me deixado desistir dos meus sonhos.

    Em agradecimento especial in memoriam a Pedro Sérgio Marques Goulart, meu pai, meu anjo, que me ensinou a sonhar e que de alguma forma esteve presente comigo nessa realização, a ele meu eterno agradecimento por mostrar-me que sonhos podem se tornar realidade e que nunca é tarde para escrever uma nova história de si mesmo.

    ÍNDICE

    Prólogo.............................................................................7

    1. Chuva de Lembranças.................................................9

    2. Ressaca de Pensamentos............................................25

    3. Renasce uma Nova Olívia..........................................39

    4. Mudanças de Velhos Hábitos.....................................56

    5. Um Mergulho Sob a Luz da Lua................................65

    6. Deslumbrando um Anjo.............................................87

    7. Foto da Alma............................................................108

    8. O Despertar de uma Paixão......................................129

    9. Libertando-se de Todo o Recato...............................147

    10. Se Entregando ao Amor...........................................173

    11. Ganhando Asas........................................................192

    12. Acreditando nos Sonhos e

    Pagando o Preço por Eles...................................227

    13. Voando Alto............................................................262

    14. Segunda Chance......................................................300

    15. Aceitando um Novo Caminho.................................324

    16. Caindo Na Estrada...................................................347

    PRÓLOGO

    Sento na cama de frente a penteadeira, pego a escova e começo a passar nos meus cabelos, percebo que além de embaraçados o quanto eles estão longos, estão mais da metade das costas, o sol passa por entre a cortina aberta clareando o castanho da cor, deixando alguns fios dourados, principalmente nas raízes e na parte de trás do cabelo, nas pontas algumas ondulações formando assim um movimento mais leve, quase chegando a parecerem cachos.

    Pela distância que estou do espelho e sem querer me aproximar mais ainda fico notando de longe meu reflexo no espelho, minha pele antes morena agora está pálida e parecendo desbotar cada vez mais pela falta de sol, de calor, de dias quentes. As últimas estações foram de frio e chuvas e em nada se parecia com um lugar próprio para passeios ao ar livre ou ao menos a vida fora de algum abrigo, estive trancafiada em casa sem nem ao menos poder encostar na água serena e sempre convidativa da paisagem que da minha janela eu comtemplava. Observei o lago e tudo que o cercava com um pesar nos olhos e uma aflição que a cada amanhecer chuvoso parecia se transformar em tristeza, ostentei durante toda a estação de frio a sensação de que eu também estava sendo engolida por aquela temperatura cruel.

    Mas enfim os ventos trouxeram uma nova estação e agora o sol invade o meu quarto me convidando a participar da celebração de cores e cheiros que se renderam a nova temperatura, trazendo também uma sensação de que o vento também pode ser brisa suave, quente e delicada.

    Deixo de lado a escova e paro olhando fixamente para o espelho, me coloco um pouco de lado, tento ver um pouco do meu perfil refletido, mas desisto, nem de lado eu pareço melhor. Levanto e pego uma cadeira ao lado da cômoda e sento em frente a penteadeira, dessa vez mais perto do espelho me olho ainda com mais cuidado e observo que apesar do que escuto dos meus pais, que por sinal são suspeitos e os culpados por qualquer traço da minha genética, nem me esforçando muito olhando nesse espelho consigo me achar bonita. No máximo normal o que para muitos pode ser até uma dádiva, tendo em vista o alto índice de dados relatando anormalidades cada vez mais frequentes, considerando que eu tenha pelo menos mais ¾ da minha vida ainda pela frente, estar dentro da normalidade me assusta e não parece nem um pouco divertido.

    Eu queria extravasar a linha da normalidade, me perder entre a realidade e o impossível, ser extravagante, ser estranha, ser diferente, qualquer dessas opções me atraem, porque são fora do normal, da chatice insossa e sem graça da normalidade de ser mais um na grande fileira de pessoas sem diferencial.

    Eu estudo, sou inteligente, mas até aí é perfeitamente normal, eu também respiro, como sozinha e ando para frente, o que eu quero é, além disso, viver intensamente, me aventurar nas trilhas do desconhecido, conhecer pessoas, que talvez me transformem em uma pessoa melhor, ou que não mudem em nada a minha vida, mas que ao menos me deem a sensação de estar me relacionando com o universo a minha volta, quero provar gostos, temperos, sabores, me perder não apenas em mim, mas na estrada que me leve a algum lugar onde eu possa ser livre, voar não apenas em pensamentos, mas nos braços do mundo.

    Me perder não parece algo ruim, lembrando que sempre existe um céu sobre nós e que nada é definitivo. A certeza de estar sempre no mesmo lugar me assusta cada vez mais, desconhecer os limites da razão, não ter provado o fogo da paixão, não me chocar contra a verdade de amar alguém mais que a si próprio ainda são incertezas e terreno ainda não explorados na minha vida.

    Eu sei que há um mundo de possibilidades me esperando, uma infinidade de descobertas me aguardando mais à frente e sei que da janela do meu quarto, na cidade de Forstville o mundo parece longe demais para quem apenas sonha, mas quero fazer, não imaginar sentada aqui me olhando no espelho como uma boba de cabelo estranho.

    1- CHUVA DE LEMBRANÇAS

    De olhos fechados escuto os primeiros sons de gotas caindo contra a janela, abro os olhos e vejo a esvoaçante dança que o vento faz com a cortina, levanto da cama e vou em direção à janela, nem bem me aproximo já sinto o cheiro de terra molhada. Dou mais uns passos e chego à janela, aquele cheiro me arrebata de tal forma que é como se me transportasse, nem bem consigo pensar em outra coisa quando me vem a recordação nítida daquela tarde em Forstville, parece que ainda sinto a fria chuva caindo pelo rosto, o cheiro de terra molhada, e aquela camisa verde da sorte grudando contra o corpo.

    Abro os olhos, como quem leva um susto e foge de algo.

    - Ah, camisa verde idiota isso sim!

    Fecho a janela, fecho a cortina com força como quem fecha uma porta para escapar, me jogo na cama e afundo minha cara no travesseiro tentando não ouvir a chuva, tão pouco ouvir meus pensamentos.

    Antes que possa me sufocar de tanto enfiar a cara no travesseiro, Jhessyka entra, ou melhor, rompe a calma do ambiente quase que correndo e encharcada pela chuva que agora era mais forte, a se julgar pelo barulho que os pingos faziam ao se chocar contra a vidraça.

    - Se estiver tentando fingir que está doente aí grudada nessa cama eu já aviso, ou você vai por vontade própria ou vai pelos meus métodos!

    Não entendi do que ela falava, mas já me preparei para algo ruim.

    Com uma toalha na mão e secando os longos cabelos pretos ela ainda procurava algo no armário, mas isso não a impediu de prestar atenção em mim.

    - Você não lembra né Liv, o que seria de você sem mim?

          Ela dá uma pausa, me olha e percebendo que eu não responderia aquela pergunta se vira novamente para o armário e com um ar de quem se vangloria diz:

    - Ainda bem que eu já providenciei tudiiiinho!

    Continuei sem saber, e sem querer entender o que ela dizia, mas confesso que aquela ênfase no tudiiiinho, me preocupou.

    - A inauguração da Academia Iron Fitness.

    Continuei olhando para ela.

    - É hoje. Disse Jhessyka com uma voz que parecia estar anunciando o início de uma nova era.

    - Ahh, mas eu...

    Antes que eu pudesse terminar a frase ela fechou a minha boca com o dedo, quase que me fazendo engasgar com as próprias palavras, me olhou com uma cara assustadora e proferiu minha sentença.

    - Eu tenho meus métodos Olívia, não me faça usá-los!

    Ciente dos poderes destruidores da minha colega de quarto e sob o agravante dela ter me chamado pelo nome resolvi aceitar a proposta da festa, afinal só o que ela tinha falado nas últimas semanas era nessa tal inauguração e ficar com minhas amigas seria uma forma de me distrair e parar de pensar em tudo que aconteceu.

    Havia meses que, sem desistir de mim elas me convidavam incessantemente para todo tipo de festa, barzinho, comemoração e eu apenas improvisava nas desculpas, não variava nem o tema, sempre falava que estava cansada, com muitos trabalhos atrasados da faculdade ou que estava me sentindo mal e não poderia acompanha-las. Mas dessa vez eu tinha tomado uma decisão, eu iria mudar, eu queria deixar essa sombra do meu passado para trás, eu queria me lançar para a claridade e absorver cada raio de luz; eu queria me regenerar, curar cada ferida que ainda insistia em sangrar e me tornar eu novamente.

    Eu não estava mais disposta a ser uma sombra, eu queria luz, calor, me sentir amada e conhecer outros caminhos para a felicidade.

    Olhei para ela e balancei a cabeça, em sinal de confirmação, mas respirei fundo já pressentindo o que me esperava.

    Ela gritou:

    -Ótimo, eu preparei uma loucura de produção para nós!

    Aquelas palavras soaram como uma sirene de alerta.

    Lembrando-me de outras situações em que ela nada suavemente me propunha usar suas roupas e combinações extravagantes, seja para ir à aula, ou a uma simples caminhada pelo parque, tentei então persuadi-la a não me produzir com as roupas dela, e apelando para a amizade, fiz uma voz bem doce e agradável.

    -Jhe, eu agradeço, mas acho que vou usar minhas roupas mesmo.

    Quase me fuzilando com o olhar ela virou-se para mim e disse:

    - Com as suas roupas sem graça, nem pensar. Já sei, nem precisa me dizer, você estava pensando em uma calça jeans e blusinha?

    Olhei para ela com uma cara de quem foi pega.

    - Jhessyka, nem precisa continuar o curso de comunicação, achou seu caminho, oh supervidente.

    Debochando dela e atentando contra a minha própria vida falei:

    - Consegue adivinhar a cor também, ou só a roupa?

    Ela ri, e joga a toalha molhada em mim.

    - Levanta dessa cama e vamos nos produzir, não posso e nem quero perder essa festa por nada.

    O celular toca uma música do Pear Jean, levanto da cama e começo a procurar, Jhessyka nem olha para trás, está enfiada no guarda roupas, concentradíssima procurando roupas como quem desbrava uma selva.

    Puxo os travesseiros, o edredom e o toque da música ainda mais alto, não consigo achar o celular e aquela música ficando cada vez mais alta.

    Só o que consigo pensar é como aquela música era melosa.

    - Procura em baixo da cama, disse Jhessyka sem nem olhar para trás, ainda com a cara enfiada no roupeiro.

    - Ah, claro e porque não estaria em baix....

    Estava. Para minha surpresa, incrivelmente só a minha, porque Jhessyka parecia nem ter pensando em outra possibilidade, o celular estava em baixo da cama.

    - Alo.

    - Ai que demora em atender o celular Liv, estava no banheiro?

    - Não, eu não encontrava o celular e nem pergunte onde ele estava.

    Era Celine, minha colega de faculdade que também iria à festa.

    - Está chovendo muito, vou esperar a carona do meu irmão, vou ter que me arrumar aqui em casa mesmo. Já vou chegar pronta, daqui uns 50 minutos estarei aí.

    - Tá certo.

    - Ah, e você vai ficar linda com a roupa que eu e a Jhe escolhemos.

    - Tá bom.

    - Tchau.

    Percebi que era um complô e que eu não teria muitas chances de sair dessa.

    Desse modo resolvi aceitar, afinal não poderia ser tão ruim assim.

    Pensei cedo demais.

    Colocando o celular na cama me virei e dei de cara com Jhessyka segurando em uma mão um vestido roxo, que com certeza era tamanho infantil, e na outra, um vestido com estampa florida bem delicada, esse não tão apertado aparentemente, mas curto na mesma proporção.

    Ponderei rapidamente qual seria o menos apertado ou o mais decente; sem muitas diferenças entre eles optei pela estampa de flores.

    - Quem era no celular, algum gatinho?

    - Não. Era Celine, virá de carona com o irmão, vai chegar daqui uns 50 minutos, já arrumada para a festa.

    - Vamos começar a nos aprontar então garota!

    Era tanta animação que ela disse isso enquanto me dava um tapa na bunda.

    Assustei-me com o tapa forte que ela me deu e mais ainda com tanta animação para uma inauguração de academia, que coisa mais estapafúrdia, o que poderia ser tão bom assim nessa festa.

    - Espero que esteja de banho tomado, não temos muito tempo, essa chuva atrasou meus planos, mas nada que não possa ser solucionado.

    - É claro que eu tomei banho, escovei os dentes, estou de unhas limpas, quer conferir mamãe?

    - A sua sorte que além de linda é bem humorada, lástima mesmo é ser antissocial, Olívia.

    - Não sou antissocial, aliás, tudo que vem com um anti na verdade é um pouco radical ou extremista e não gosto de ser extrema em nada, gosto de poder escolher, rever, voltar atrás, ponderar. É que no momento eu não sou a melhor companhia, nem para mim mesma, quanto mais para ir a uma festa.

    - Blá, blá, blá... Só ouvi até a parte do não sou! Depois desconcentrei com esse seu discurso moralmente correto, chato, certinho de merda.

    - Ah, Jhessyka!

    - É sério Liv, para de afundar em certezas e falsas moralidades. Deixa de ser correta em tudo. Esquece o passado!

    Enquanto ela falava, eu apenas a olhava e no fundo eu concordava com tudo que ela estava falando.

    - Você não está mais na cidadezinha do interior, não namora mais o caipira mais lindo do colégio, que eu tenho certeza que devia ter um tanquinho esculpido pela natureza selvagem e não está mais presa a nenhuma pressão de ser certinha ou a melhor em tudo.

    - Relaxa.

    Que choque de realidade que nada, para Jhessyka isso era pouco, ela era direta, precisa e sem dó, era quase uma especialista em lobotomia do desapego.

    Uma das coisas que faz me dar bem com ela e admirá-la é que definitivamente ela era verdadeira e suas atitudes coerentes com seus pensamentos, tudo que ela realmente pregava nos seus discursos de me acordar para a vida ela fazia no seu dia a dia. Eu gostaria de poder ser assim. Penso que todas essas conversas terapêuticas com minha confidente, amiga e colega de quarto, surtam efeito positivo na minha vida.

    A essa altura já estava com o vestido, mas não me sentia nada vestida, pelo contrário parecia que tinha roubado a roupa de uma criança e me entalado dentro dela.

    - Ufa, é para ser apertado assim mesmo? Falo com uma respiração ofegante.

    - Jheee, não estou nem respirando direito, essa costura aperta bem no diafragma, isso não é roupa, é quase uma tentativa de suicídio.

    - Dá uma voltinha para eu ver.

    - Que arraso, valorizou e muito tudo o que você insiste em esconder e olha que...

    Ela parou de falar e me olhou com um olhar estranho. Fiquei paralisada e apreensiva com aquele olhar, no fundo sabia que boa coisa não resultaria dali.

    - Esse vestido está marcando a calcinha Olívia.

    - Mas é claro que está, pelo simples e feliz fato de eu estar usando roupa íntima.

    - Não Liv, é sério, está marcando muito. O que você está usando por baixo do vestido, uma calçola, cueca, short?

    - É uma calcinha, ponto, só isso, não tem nada de diferente no tamanho dela.

    - Eu vou te mostrar como está bem visível a marca disso que você diz que é uma calcinha, vou tirar uma foto no celular, vira aí.

    Nem cheguei à responder e ela me virou e tirou a foto. Virei de volta e ela estava com o celular na mão me mostrando a foto.

    - Tenho que concordar que está parecendo um short por baixo do vestido, mas também pudera, esse vestido é fechado a vácuo, qualquer coisa vai marcar por baixo dessa peça pequena de vestimenta.

    Ela me olha com uma cara de quem estava prestes a me forçar a fazer alguma besteira, que para ela na certa apenas tratava-se de um detalhe.

    - Ahhhhh, não, nem ouse dizer o que eu tenho certeza que você está pensando Jhessyka Alves.

    - Eu não vou ir sem calcinha!

    - Não iria dizer isso sua doidinha, confesso que eu pensei, assim rapidamente na possibilidade, mas não. Você pode usar uma calcinha sem costura e pequena, menorzinha.

    Olhei-a com o olhar fixo.

    - Tá bom, é uma calcinha fio dental, não é confortável, mas também não vai marcar nada, vai ficar linda.

    Continuei olhando-a fixamente.

    - Mas é claro que a puritana não usaria. Aposto como o seu príncipe selvagem deve estar com uma caipirinha que adora usar pra ele calcinha de fio.

    - Jogou pesado hein.

    - Por mais que eu possa, talvez, por assim dizer... usar uma calcinha assim, eu não tenho nenhuma, e também não temos tempo para comprarmos uma, isso é claro, se tiver alguma loja aberta a essa hora.

    Ela bateu as palmas das mãos, me olhou e apontou o dedo indicador. Parecia que tinha reinventado a fórmula de Pitágoras.

    - Problema resolvido!

    - Eu tenho umas duas calcinhas que ainda estão com as etiquetas, comprei na promoção da Story Company. Com certeza cabem em você.

    Claro que cabem, temos a mesma idade, o mesmo peso e quase a mesma altura, sou quatro centímetros mais alta, mas como ela está sempre de salto alto e eu não, ela acaba ficando sempre mais alta.

    - Eu sei que vou me arrepender.

    - Ahhhh, você vai ver como nem vai dar para perceber a costura por cima do vestido.

    - Me passa isso aqui! Jhe, isso aqui não vai entrar em mim, olha o tamanho, nem querendo e me esforçando muito isso entra.

    - Entra sim, vai colocar essa calcinha, mentaliza aquele tanquinho esculpido pela generosa mãe natureza, sendo acariciado por uma piriguete de calcinha atolada!

    - Melhor com uma calcinha apertada do que sem nada, me passa a dita-cuja aqui!

    Com bem menos esforço que imaginei consegui colocar a tal peça minúscula e até que não tinha ficado tão ruim assim. Mas é óbvio que eu não iria dizer isso para Jhessyka, tão pouco pensar em repetir a dose uma próxima vez.

    Terminamos de nos arrumar, mas isso incluiu escolher sapatos, acessórios, uma seção de maquiagem e arrumar o cabelo, tudo num pacote maravilhoso de cinquenta minutos de tortura, tempo recorde em se tratando das produções que ela costumava fazer para ir à qualquer lugar.

    Passado esse tempo e para minha felicidade o celular toca, era Celine que já nos aguardava na portaria do prédio.

    Fomos de taxi até a festa.

    Chegando lá, já na entrada da festa uma fila enorme aguardava para entrar no local, me espantei porque não parecia a entrada de uma academia e sim de uma boate, uma badalada boate por sinal.

    Para não ter dúvidas da onde estávamos li o letreiro na fachada do prédio, que por sinal brilhava e piscava. Dizia Academia Iron Fitness, mas até aí poderia ser uma boate com nome estranho, resolvi perguntar para as meninas se estávamos no lugar certo, mas havia barulho demais já no lado de fora, certamente não me ouviriam.

    Entramos por uma entrada lateral, destinada a convidados Vips, Celine era muito conhecida em boates, barzinhos, casas de shows, delegacias, reformatórios, para ela não era difícil entrar em uma festa, sendo que não pedia, porém era sempre convidada para eventos e festas. Se nada desse certo na faculdade de jornalismo, ela poderia facilmente ganhar a vida como presença vip em festas, certamente lhe renderia muito, tanto no aspecto financeiro quanto no lucro emocional, já que amava festas e badalações.

    Lá dentro o ambiente realmente impressionava; tudo em tons fortes, com espelhos, painéis de madeira e fotos de pessoas incrivelmente bonitas, os garçons estavam sem camisa, apenas com gravata borboleta, calça e sapatos, pareciam mais dançarinos ou modelos e não garçons normais.

    O lugar estava lotado e a pouca luz, apenas com iluminação colorida, deixava o ambiente com aspecto de boate.

    Não precisava procurar muito, era só olhar para qualquer lado que o que se encontrava era lutadores de Muay Thai, caras bombados, com cada músculo do corpo definido, agora sim consigo entender o porquê de minhas amigas estarem tão animadas e empolgadas nos preparativos de roupas e apetrechos para essa inauguração.

    Consegui chegar perto de Celine com muito custo, pois não se podia dar nenhum passo sem esbarrar em alguém.

    - A Allisson virá?

    - Deve chegar daqui a pouco, ela me mandou mensagem dizendo que já estava em casa terminando de se arrumar.

    Allisson era minha terceira fiel escudeira, era loira, cursava Direito e como nós, tinha um péssimo gosto para homens, parecia que o que nos unia, além da amizade eram nossos fracassos amorosos, um mais desastroso que o outro. Mas de nós quatro, ela tinha digamos, um perfil mais preciso, só se envolvia com homens negros, apenas e somente homens de descendência africana. Allisson havia ido à uma palestra da faculdade do outro lado da cidade, por isso o atraso em chegar.

    Enfim eles baixaram um pouco o som da música, parecia que tinham ouvido meus pensamentos.

    - Está muito apertado aqui meninas, não consigo nem me mexer sem esbarrar em alguém.

    - Aproveita Liv, aqui só tem coisa boa, musculosa, durinha. Disse Celine

    - Garçom, aqui lindinho. Fala Jhessyka, acenando com a mão.

    - Desculpa, lindinho foi muito pouco pra você, com esses bíceps você está mais para Hércules! Jhessyka fala quase engolindo com os olhos o corpo musculoso do garçom.

    Aproveitei e peguei um drinque rosa da bandeja do garçom que Jhessyka estava assediando, todos os drinques eram coloridos, mas esse não parecia ser forte, tinha um gosto bom, docinho, até o cheiro era gostoso, tinha cheiro de chiclete de tutti-frutti.

    Distraio-me com o drinque, quando Celine pega minha mão e diz:

    - Vamos dar uma volta para conhecer o ambiente, não solta da minha mão, vem!

    Já estou ali mesmo e porque não.

    Começo a seguir Celine e Jhessyka, quando um braço forte esbarra em mim.

    - Desculpe princesa, eu não queria virar sua bebida. Diz uma voz forte bem no meu ouvido.

    -Droga molhou meu vestido.

    - Posso pegar outra bebida para você?

    - Não obrigada.

    Quando me viro novamente para frente já não vejo mais minhas amigas.

    - Ótimo, vou ficar com o vestido molhado e ainda sozinha. Esbravejo.

    - Eu posso reparar o meu erro te fazendo companhia?

    - Não.

    Viro as costas e vou em direção a uma placa de sanitários. Tento secar o vestido, mas ainda assim fica a marca rosa bem visível no tecido. O jeito é voltar para a festa e tentar achar as meninas e ir embora.

    Percorro todos os ambientes da academia e por incrível que pareça encontro aparelhos de ginásticas, o que é um espanto se tratando de um lugar que não parece uma academia e sim uma casa de festas. Mas não encontro nenhuma delas. E como o som estava alto nenhuma delas deve ter escutado as 14 vezes que eu liguei.

    O jeito é esperar, elas vão ter que vir atrás de mim, ai... Assim eu espero, pois não estou com a chave do quarto. Droga.

    Pego outra bebida, dessa vez verde, depois roxo, amarelo e por fim vermelho sangue.

    - Está bebendo o arco-íris inteiro?

    Aquela voz forte novamente.

    - E você vai pisar no meu pé e estragar o meu sapato dessa vez?

    - É a bebida que te deixa bem humorada ou você é espirituosa assim sóbria?

    Ignorei-o pensando que assim ele fosse embora.

    - Você gosta dessa música? Desculpe perguntar, é que você não tem jeito que curte música eletrônica.

    - E o que te faz pensar que eu gosto de música eletrônica?

    - Por que você está dançando e bem animada, por sinal.

    Ai droga, eu estava mesmo. O que está acontecendo comigo, eu não danço, nem sei dançar.

    Outro esbarrão, dessa vez mais suave.

    - Olívia, eu estava te procurando, as meninas falaram que você sumiu.

    Enfim uma voz conhecida. Era Allisson.

    - Te achei Allisson, nossa você está muito bonita, aposto que também está com uma calcinha de fio dental para não marcar a roupa.

    - Obrigada, é melhor você nem saber o que eu estou usando. Humm, agora sei por que estava sumida. Quem é seu amigo?

    - Ignora-o antes que ele estrague alguma coisa sua.

    Falo isso enquanto viro a cara para ele dando o meu melhor ar de desprezo, e continuo falando para Allisson:

    - Eu não sei o nome dele, mas deve ser Desastre ou Terremoto, alguma coisa assim que combine com ele.

    - Liv você bebeu e muito. Está bêbada.

    - Não, não, eu só provei uns drinques, mas acho que não tem álcool.

    - Provou a aquarela toda, dançou revirando os cabelos, e até cantou Lady Gaga. Disse o Desastre com um leve sorriso sarcástico no canto da boca.

    - Continuo te ignorando tá!

    Ele apenas levanta as mãos, em sinal de paz, mas continua ali, mais próximo de mim do que eu gostaria.

    - Alli, vamos sair daqui, onde estão Celine e Jhessyka?

    - Estão te procurando também, vou mandar uma mensagem para elas, vamos lá para a portaria esperá-las.

    - Mensagem, porque não pensei nisso antes.

    - Não vai se despedir de mim Olívia? Era ele novamente se intrometendo onde não era chamado e o pior, sabia agora meu nome, que cara chato.

    - Acertou não vou. Falei isso dando as costas para ele e puxando Allisson comigo.

    - Ah, só para registro de informação, adorei saber da calcinha de fio dental! Ele falou, digo gritou já que o som estava alto e mesmo assim eu ouvi, enquanto me afastava dele, arrastando Alli pela mão.

    - Idiota!

    - Acho que ele gostou de você Liv, disse Allisson com uma voz que parecia estar rindo.

    Achamos Jhessyka e Celine na portaria.

    - O que aconteceu com o vestido? Perguntou Celine.

    - E onde estava, estamos a mais de duas horas te procurando? Disse Jhessyka.

    - Nossa tudo isso, acho que eu perdi a noção do tempo.

    - E da bebida também, né Liv, que cheiro de álcool misturado com tutti-frutti é esse? Falou Jhessyka.

    - Bebi uns drinques, dois, três, talvez um pouquinho

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