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Santos
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E-book173 páginas2 horas

Santos

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Sobre este e-book

Para muitas pessoas de fora do ambiente cristão protestante, o cotidiano do evangélico comum parece carecer de alegria, graça e beleza e ter em excesso austeridade, desânimo e alienação. Nada pode estar mais longe da realidade. Com histórias de cristãos que conheceu e episódios do cotidiano familiar, o autor, neste novo livro, compõe um painel variado do dia-a-dia cristão, revelando o quanto podem ser belos, engraçados e inspiradores. “É meu desejo que os contos reais deste livro sejam fonte de ânimo, alegria, beleza e inspiração, especialmente naqueles dias difíceis onde uma boa história pode ser o remédio que falta para nos ajudar a levantar a cabeça e buscar no Senhor forças para continuar a jornada”. O cotidiano evangélico, com suas alegrias, aspirações, dores e lutas, quando visto na vida dos santos, é belo, alegre e inspirador.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de jun. de 2015
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    Pré-visualização do livro

    Santos - Kelson Mota T. Oliveira

    APRESENTAÇÃO

    Para muitas pessoas de fora do ambiente cristão protestante, especialmente aquelas de linha liberal, o cotidiano do evangélico comum parece carecer de alegria, graça e beleza e ter, em excesso, austeridade, desânimo e alienação. Uma vida nada inspiradora, insossa até. Para outros, principalmente os de confissão católica, é uma completa incógnita e fonte de muita especulação – um mistério embrulhado em um enigma, parafraseando um conhecido estadista. As causas para essa visão limitada e tacanha são muitas e variadas, e não vale o esforço de analisá-las uma a uma. Entretanto, todas têm em comum estar fundamentadas na ignorância de como vivem realmente os evangélicos sinceros em sua rotina diária.

    Algumas pessoas que, circunstancialmente, se aproximam do dia-a-dia de um evangélico coerente com sua fé, se surpreendem ao saber de seus gostos pessoais sobre cinema, política e gibis, das brincadeiras com as filhas, da separação de tarefas no lar, da comunicação em família e, por vezes, até da escolaridade. O olhar que, geralmente, lançam é do tipo "não sabia que crente era assim, achava que não tinham vida própria ou que eram ignorantes etc.".

    Não são raros os que me dirigem esse tipo de olhar, e não estou só nessa condição. Todo evangélico tem alguma história a contar a este respeito. Quando encontro alguém que se dispõe a ouvir mais detidamente acerca da vida evangélica, aproveito para contar algumas histórias do cotidiano de cristãos que conheci – verdadeiros santos – que me inspiraram e que, pelo exemplo deixado, continuam a me animar na labuta diária que é a vida marcada pela cruz. Outras vezes, conto (ou escrevo) algumas das histórias de minha pequena família, na esperança de compor um painel variado da vida cristã e pontuar o quanto podem ser belos, engraçados e inspiradores.

    No entanto, a ideia de escrever este livro tem origem no livro que escrevi anteriormente Crentes: Quando a realidade evangélica é mais fantástica que a ficção, com contos reais sobre uma característica pouco conhecida dos evangélicos: as situações em que a fé cruza os limites do que entendemos por real, resultando em perplexidade, curiosidade, espanto ou em franca gargalhada. Algumas pessoas argumentaram, após seu lançamento, que poderia passar a impressão de que, no meio cristão evangélico, as coisas são um tanto incoerentes ou dignas de risadas e questionaram a ausência de histórias inspiradoras. Depois de alguma reflexão, concordei que havia alguma procedência na observação, e me pus a lembrar das muitas histórias que vivi ou ouvi acerca de crentes que viveram corretamente o chamado de Cristo, cujas vidas e atos foram fonte de alegria e inspiração para muitos. São os santos que vivem nesta terra, nos quais o Senhor Deus tem todo prazer. Ao mesmo tempo, passei os olhos em várias crônicas que escrevi, acerca do cotidiano familiar, e que, segundo as muitas respostas que recebi, à época em que foram escritas, se traduziram em forte alerto para alguns e fonte de muita alegria para outros. Após rigorosa seleção, resolvi incorporar algumas, devidamente revisadas.

    Há histórias de todo tipo – todas reais – desde as emocionantes, passando pelas de cunho histórico e filosóficas, até as engraçadas, bem como algumas que nos fazem duvidar da realidade – ‘A Breve vida de Korff’ é uma delas. O objetivo desta seleção é compor um painel multifacetado da vida cotidiana evangélica, com suas dores e prazeres, sem preocupação com a cronologia ou a ligação entre as histórias.

    É meu desejo que os contos reais deste livro sejam fonte de ânimo, alegria, beleza e inspiração, especialmente, naqueles dias difíceis quando uma boa história pode ser o remédio que falta para nos ajudar a levantar a cabeça e buscar, no Senhor, forças para continuar a jornada. O cotidiano evangélico, com suas alegrias, aspirações e lutas, quando visto na vida dos santos, é belo, alegre e inspirador.

    A Ele toda Glória!

    Manaus, junho de 2015.

    Kelson Mota T. Oliveira

    UM NOIVO FERIDO A CAMINHO DO ALTAR

    Leais são as feridas feitas pelo que ama (Pv 27.6a)

    D

    entre as muitas memórias com que uma vida de igreja nos brinda, nenhuma me fere tanto, e de forma leal, quanto o incidente que quase resultou no adiamento ou cancelamento do meu casamento.

    Tudo começou com uma singular oração ao Senhor, em janeiro de 1998, após ter intitulado pomposamente aquele ano como o ano que orarei por uma transformação de caráter. Fiz um pedido simples, que se repetiu ao longo dos meses e estava muito satisfeito com minha nobre resolução, mas confesso, não estava preparado para as consequências de uma resposta do Senhor Deus a essa oração.

    Lembro claramente do sentimento, à época, de achar que só por fazer tão humilde pedido já demonstrava grande humildade de minha parte. Pedir algo tão santo fazia muito bem ao meu ego e não esperava, de fato, ser mais humilde do que já era. Como eu era bom aos meus próprios olhos! Como estava errado! Estupidamente errado!

    Sabem aquela velha história que diz: cuidado com o que desejas, pois poderás obtê-lo? Pois é, meu pedido por maior humildade de caráter foi atendido.

    ***

    Até o ano em questão sempre me considerei invulnerável, à parte dos outros mortais. Depender de outras pessoas sempre me soava como fraqueza e estava fora de questão. Demonstrar sincera gratidão ao ser acrescentado em alguma área, por alguém mais simples, era sempre uma dificuldade. Chorar, queixar-me de dores, mostrar-me fraco na presença de outros era impensável. Como cristão, conseguia projetar uma bem-sucedida imagem de humildade, mas meu coração estava longe de sê-lo.

    Motivos para pensar assim, eu os tinha de sobra. Raramente ficava doente, era dono de excepcional resistência à dor, nenhuma dificuldade para aprender, de forma rápida e consistente, qualquer assunto, eu era profissionalmente estável desde os 23 anos, nenhuma aflição quanto à solidão, dor ou medo das pessoas, possuía um grande apreço pelas próprias conquistas e um falar bem articulado. Tinha meu próprio mundo particular e o casamento que se aproximava seria a cerejinha que faltava no bolo de uma vida quase sem perturbações interiores.

    A resposta à oração veio na última semana de outubro de 1998, pouco menos de cinco semanas para a realização do casamento. Um presente adiantado do Senhor, por assim dizer.

    ***

    Certa noite, visitando minha noiva Elaine para mostrar os convites do casamento, sem qualquer aviso prévio, eu fui tomado de dores fortes e excruciantes. Perdi totalmente o controle muscular e comecei a me debater e contorcer. Minha noiva, ainda que assustada, com a ajuda das colegas da república, internou-me, às pressas, na Santa Casa de Misericórdia de São Carlos.

    Fui amarrado, sedado, anestesiado e, mesmo assim, continuei sentindo dores horríveis. O diagnóstico, após exames, apontou crise renal agudíssima, tendo como causa provável um minúsculo cálculo renal de dimensões menores que um grão de pimenta-do-reino. Conclusão: eu deveria ser operado dali a quatro dias.

    Com o passar dos dias, as dores se intensificaram e os anestésicos e sedativos, que só poderiam ser administrados em intervalos de 12h, começaram a surtir menos efeito. Assim, a cada dia, aumentava o tempo em que passava sentido dores.

    Até o quarto dia, eu aguentei firmemente o sofrimento físico. Em minha superioridade (e ingenuidade em relação ao caráter do Senhor) achava que estava ali para falar de Deus para enfermeiras e doentes. Nem mesmo clamei ao Senhor pela abreviação das dores, certo dos propósitos messiânicos de minha estada no hospital. Tinha a firme certeza que as coisas se resolveriam facilmente, como tudo até então.

    Conforme programado, fui operado e o minúsculo cálculo retirado. Foi o único momento da internação em que tive uma pausa total nas dores devido à anestesia peridural. Entretanto, as coisas não saíram como planejadas e as dores aumentaram em muito após a cirurgia. Comecei também a ter fortes dores estomacais e desarranjos intestinais.

    Não conseguia comer ou beber, não conseguia dormir sem estar sedado. Eu não conseguia continuar dormindo quando os anestésicos perdiam o efeito. Passei a dormir menos de três horas por dia.

    Com o agravamento do quadro pós-operatório minhas esperanças foram abaladas. O aumento da dor, a ineficácia dos sedativos e anestésicos e o receio dos médicos em me administrarem drogas mais fortes, aos poucos foram abalando minha autoconfiança e autossuficiência. Os períodos de dor foram progressivamente aumentando e comecei a urrar e a socar paredes e ao meu próprio corpo para encontrar algum alívio. Ansiava, como um viciado, pela hora dos sedativos e implorava por mais quando as dores voltavam três horas depois.

    Eu era um homem como qualquer outro. Um homem ferido.

    Senti-me fraco, desamparado e com necessidade de ter alguém do meu lado, mas minha família estava no Amazonas e não podia ajudar. A Elaine, por causa do horário restrito de visitas, não podia estar sempre no hospital e ainda havia pendências do casamento a se resolver. As lágrimas começaram timidamente a rolar, primeiramente durante as noites solitárias, sem ninguém à vista, em meio às dores e socos, depois abertamente na presença de minha amada.

    ***

    No sétimo dia de internação, comecei a apresentar um quadro generalizado de depressão. Parei de lutar contra a dor e me entreguei sem reservas ao sofrimento. Não conseguia ingerir nenhum líquido e já não respondia às pessoas que me visitavam. Não conseguia mais orar, nem pensar em Deus e nem mesmo lembrar como era a minha vida anterior. A dor era a única realidade, a única coisa que fazia sentido.

    Lembro-me, vagamente, da minha noiva, tentando orar comigo, mas parecia-me algo distante e as palavras me soavam vazias. Naquela noite, fui consumido pela dor e percebi a extensão de minha fragilidade, ignorância e soberba. Lembrei, na madrugada, da passagem do livro de Salmos que dizia "no dia da angústia clamo a Ti, porque me ouves". Clamei ao Senhor e me humilhei em Sua presença, mas as dores só aumentaram. À dor física acrescentara-se a dor da solidão e do sentimento do desamparo de Deus.

    ***

    Oitavo dia de internação, finalzinho da tarde, os médicos se reuniram no quarto e comunicaram que fizeram tudo o que estava ao alcance, mas não sabiam a origem da dor. Teorizaram que o problema poderia ter evoluído de um quadro renal para neurológico, com alguma coisa a ver com os nervos da coluna. Não deram esperanças de melhora, apenas que teriam de administrar sedativos mais fortes para resguardar minha sanidade mental. Qualquer chão que ainda houvesse em meu coração fora retirado de meus pés. Não sobrara nada em que me apoiar. Senti-me como os de Laodiceia, pobre, cego, nu e miserável.

    Naquela noite, tive a última e mais dolorosa crise de dor. Estava quebrado e esmagado. Pedi a Elaine que orasse a Deus comigo. Com muito choro e humildade, clamei novamente ao Senhor e disse-Lhe que estava em meus limites físicos e psicológicos. Reconheci Seu amor para comigo naquele hospital. Pedi-lhe perdão por minha insensibilidade, autossuficiência e autoconfiança. Agradeci-O pela mulher que havia posto em minha vida e que me enchia de cuidados e da qual necessitava. A ferida da alma estava exposta a quem se dispusesse a ver e, como todo cancro aberto, a imundície começou lentamente a ser drenada.

    No decorrer da oração comecei sentir algo em minha bexiga. Logo em seguida, apresentei incontinência urinária. Pequenos pedaços de rim, sangue coagulado e líquido meio esbranquiçado e denso foram expelidos. Várias vezes, isso aconteceu durante duas ou três horas. De tardezinha, sedaram-me com um novo e mais forte coquetel de

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