A Reforma Litúrgica De Bento Xvi
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A Reforma Litúrgica De Bento Xvi - Márcio Carvalho
MÁRCIO CARVALHO
ADRIANO ROSA DA SILVA
A reforma litúrgica de Bento XVI
Passo-a-passo para a comunidade
Martyria
2013
© 2013 – Martyria Editora
Todos os direitos reservados.
Vendas: www.martyria.com.br
contato@martyria.com.br
ISBN: 978-85-67109-05-3
SIGLAS
IGMR Instrução Geral do Missal Romano
SC Sacrossanctum Concilium, Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
RS Instrução Redemptionis Sacramentum, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
A situação da Liturgia hoje
Estamos acostumados a ouvir das pesquisas que o número dos fiéis católicos ora diminui, ora aumenta e que varia conforme as regiões e culturas. Sabemos também que o número real de católicos é impossível de se determinar quando se leva em conta a participação na vida da Igreja. Se o preceito de participar da Missa aos Domingos fosse critério de catolicidade, ficaríamos ainda mais assustados com os números.
Por que a grande maioria dos católicos não participa da Missa como deveria?
Uma resposta simples está na boca do povo: a Missa é chata e desinteressante. Para muitos ela é sem sentido. Alguns destes católicos de boa vontade se esforçam em procurar uma boa paróquia, um sacerdote que celebre bonito, uma celebração em que se sintam bem.
Diante desse quadro, de quem é a culpa?
O leitor melhor formado, numa resposta apressada, poderia dizer que a culpa é desse católico que ainda não entendeu o sentido da liturgia. Mas não estaria ele procurando entender, e não encontrando quem ensinasse? Mais uma vez, o apressado diria: o povo não participa dos encontros de formação, das catequeses litúrgicas, não corre atrás. Ora, a melhor catequese é a liturgia bem celebrada. Ninguém vai procurar aprender aquilo que lhe parece desinteressante. A instrução é posterior à iniciação nos mistérios, como nos ensina a mistagogia dos Santos Padres. A grande confusão na cabeça dos fiéis é reflexo da grande confusão litúrgica e doutrinária que eles presenciam.
Liturgistas fiéis à Tradição da Igreja apontam com desgosto os sinais de descaso para com a liturgia, que quando não são grandes heresias, induzem a tal: o sacrário com o Santíssimo Sacramento já não indica a presença de Deus; o sacerdote é o grande ator e centro das atenções; proíbe-se sinais de piedade e reverência como a comunhão na boca e de joelhos; o destinatário da celebração é o povo, não mais Deus; diz-se que o Sacramento não é eficaz se não é entendido; o altar não é mais que uma mesa comum; os ministérios são confundidos, cada qual fazendo o que não lhe compete; a beleza é desconsiderada nas vestes, nos objetos, no templo, no canto e na música.
Se a culpa é da própria forma com que são conduzidas as celebrações, qual é o remédio?
A grande segurança do católico é que ele faz parte da Igreja de Cristo, que é una, santa, católica e apostólica. Essas notas características da Igreja estão presentes também na liturgia. A celebração do mistério de Deus é regulada pela autoridade da Igreja, que vem de Cristo pelos Apóstolos, que reflete por todo o mundo a unidade da fé que professamos.
A unidade da liturgia, reflexo da unidade da Igreja, não pode ser confundida por uma única forma de celebrar. De fato, existem diversos ritos litúrgicos aprovados com diferentes formas de celebração, mas todos celebram o mesmo mistério e a mesma fé. Por isso são aprovados. Existe, inclusive, muita flexibilidade e espaço para uma autêntica criatividade nos ritos litúrgicos aprovados. O que passa despercebido em certos usos litúrgicos inadequados, alguns aparentemente inofensivos e cheios de boas intenções, é que podem induzir a uma compreensão equivocada do mistério que está sendo celebrado, e por isso rompem a unidade litúrgica. Por vezes, a prática litúrgica em desconformidade com as normas gera divisão na Igreja.
Não parece haver caminho mais seguro e acertado para remediar a liturgia: a observância das normas, o esforço por celebrar bela e dignamente os sagrados mistérios. A liturgia é o rosto da Igreja, sua fonte de vida, seu vigor. Salvando a liturgia, a Igreja terá forças para salvar o mundo.
Reforma litúrgica?
A Igreja é, desde sempre, sujeita a reformas. Imutável na sua essência, que é o Cristo, a Igreja procura sempre a melhor forma de continuar sua missão e comunicar a salvação aos homens de seu tempo. Em termos de liturgia, a última grande reforma ocorreu no Concílio Vaticano II (1962-1965).
Todo o Concílio Vaticano II foi motivado pela necessidade de atualização da forma de evangelizar frente aos tempos modernos. Por isso foi chamado de Concílio Pastoral, e não Dogmático, como foram os anteriores. O Vaticano II não formulou nenhum novo dogma, mas propôs ações e reformas em vista de uma melhor adaptação da Igreja ao novo cenário mundial.
No campo da liturgia, o Concílio propôs, através da Constituição Sacrosanctum Concilium, os seguintes princípios:
- os fiéis devem participar plena, consciente e ativamente das celebrações litúrgicas;
- revalorizar a Sagrada Escritura.
Consequentemente:
- revisar os livros litúrgicos;
- promover a participação do povo através das aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, ações, gestos e atitudes corporais e o silêncio sagrado;
- os ritos devem ser nobres, simples, breves e claros;
- os ritos podem ser traduzidos para a língua local, por autoridade competente;
- revisar o calendário litúrgico.
Estes foram os princípios básicos que nortearam a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Daí vieram todas as demais orientações práticas que deram andamento à reforma.
Acontece que nem tudo acontece como previsto ou pedido no papel. O Concílio sofreu de uma má aplicação, não só na liturgia, mas principalmente neste campo. O principal motivo apontado é um falso conceito de liberdade e a ignorância. Formou-se uma mentalidade de que a adaptação é mais importante que a norma, chegando a suprimi-la.
A relativização da norma faz com que ela perca seu sentido, que é manter a unidade da Igreja e garantir o direito de todo fiel à liturgia. Assim se expressou a esse respeito o Santo Padre Bento XVI: "O primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação ativa. Aquela resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa (cf. 1 Pd 2,4-5.9)".
Um dos pontos fortes do pontificado do Papa Bento XVI é promover o que vem sendo chamado de reforma da reforma
: retomar o caminho do Concílio Vaticano II e purificar a Igreja e a liturgia das interpretações equivocadas. Esse trabalho já desempenhava antes de chegar ao trono de Pedro, quando ainda era Cardeal Ratzinger: no livro Introdução ao espírito da liturgia, expressou o desejo de que na Igreja aconteça um novo movimento litúrgico, que, de fato, vem tomando forma nos últimos anos.
Bento XVI tem provocado esse novo movimento litúrgico e realizando a reforma da reforma não a toque de decretos, como poderia fazer, mas através do trabalho prudente e do exemplo. Aliás, trabalho prudente foi um dos aspectos pedidos pela Constituição Sacrosanctum Concilium, negligenciado na prática.
O Papa tem ensinado pelo exemplo, com seu modo reverente e piedoso de celebrar, mostrando a centralidade de Deus no culto e resgatando sinais litúrgicos da grande tradição da Igreja. Tudo isso vindo do Papa provoca admiração e coragem em muitos bispos e padres, e fascina muitos jovens, a quem ele confia o futuro da Igreja.
A mudança, a reforma, não acontece da noite para o dia. Rumo aos cinquenta anos do Concílio, não o vimos plenamente aplicado. Não será também tão rápida a correção dos abusos e a criação de uma nova mentalidade litúrgica.
Passos para uma reforma litúrgica local
As sugestões que aqui são dadas partem do princípio já mencionado que somente a observância das normas litúrgicas poderá manter sua unidade e purificá-la de todo elemento estranho e nocivo. Não propomos nada além do que já é previsto nas normas e rubricas. A novidade é que, na maioria das vezes, estas normas são desconhecidas por aqueles principais responsáveis pela celebração. Muitos celebram segundo o costume
, sem mesmo olhar os livros litúrgicos. Outros confiam demais em subsídios demasiadamente criativos (se não fossem assim, não venderiam tanto).
É óbvio que todo abuso deve ser eliminado de imediato. Mas aqui sugerimos algumas ações mais simples de serem executadas em primeiro lugar, que não correm o risco de causar muita estranheza na comunidade. A paciência, a prudência e a escuta atenta serão fatores importantes na consecução do nosso objetivo, a saber: que a liturgia seja digna, bela, e principalmente, lugar de encontro pessoal com Deus. Em se tratando da Eucaristia, a Santa Missa, que todos tenham a consciência e a devida reverência a tão grande mistério sacramental, Cristo imolado e ressuscitado presente em nossos altares.
Não precisamos dizer que os protagonistas dessa reforma serão principalmente os que têm mais responsabilidade sobre a liturgia. Como a reforma é prática e será adotada localmente, cabe ao sacerdote que preside a celebração a principal colaboração. Em conjunto estarão os ministros mais próximos, sejam sacerdotes concelebrantes, diáconos, acólitos e outros ministros leigos. Todos estes deverão aderir ao projeto de reforma litúrgica e agir em unidade.
Insistimos que serão os pequenos gestos e o exemplo principalmente do presidente celebrante que iniciarão e motivarão o processo de reforma. Assim age o nosso inspirador, o sucessor de São Pedro, o Papa Bento XVI.
Também é desnecessário dizer que só faz algo bem aquele que tem o conhecimento necessário. Na liturgia, o conhecimento vem dos livros litúrgicos oficiais e suas normas. Nenhum livro, subsídio ou material didático, por melhor que seja, substituirá a leitura aprofundada e constante dos livros litúrgicos oficiais. Indicamos as leituras obrigatórias:
- Missal Romano, principalmente a Instrução Geral para o Missal Romano (IGMR), facilmente encontrada na internet, e em todas as sacristias;
- Instrução Redemptionis Sacramentum da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos