O Que Faz Você Feliz
()
Sobre este e-book
Relacionado a O Que Faz Você Feliz
Ebooks relacionados
Felicidade em alta performance: hábitos saudáveis e emoções positivas para uma vida plena Nota: 1 de 5 estrelas1/5Superando a si mesmo: uma viagem interior em busca do autoconhecimento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntendendo a Mim Entendendo a você Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA ciência da felicidade: Escolhas surpreendentes que garantem o seu sucesso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Caminho Cósmico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Novo Mundo É Possível Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOPINIÃO MOMENTÂNEA Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs 100 Segredos Das Pessoas Felizes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Boa Sorte: Coaching para a vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5Somos um pouco de tudo: Autoconhecimento, Ciência e Espiritualidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Leis do Sucesso: Um guia espiritual para transformar suas esperanças em realidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe Salto E Avental Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPsicologia Positiva Nota: 5 de 5 estrelas5/5Decisões: Encontrando a Missão da sua Alma Nota: 4 de 5 estrelas4/5Não Se Apegue Ao Desapego Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPorque é que não sou feliz?. goza a vida sem complicações Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAutossolução Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSe ligue em você! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlém do Dinheiro: Desvendando os Segredos da Organização Financeira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasViva feliz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Hipótese da Felicidade: encontrando a verdade moderna na sabedoria antiga Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDesperta O Teu Ser Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRecortes Clínicos De Psicogenealogia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrimavera Da Prosperidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEleições Municipais Nota: 0 de 5 estrelas0 notas30 Receitas Para A Felicidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSegredos para a Felicidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilhos, Como Entender, Amar E Transformá-los Em Adultos Extraordinários Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVocê Acredita No Acaso? Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Negócios para você
Seja foda! Nota: 5 de 5 estrelas5/5O poder da ação: Faça sua vida ideal sair do papel Nota: 4 de 5 estrelas4/5Mapeamento comportamental - volume 1 Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Do mil ao milhão: Sem cortar o cafezinho Nota: 5 de 5 estrelas5/5Estratégias Gratuitas de Marketing Digital: Alavanque seus ganhos na internet Nota: 4 de 5 estrelas4/5O código da mente extraordinária Nota: 4 de 5 estrelas4/5Coaching Communication: Aprenda a falar em público e assuma o palestrante que há em você Nota: 4 de 5 estrelas4/5Programação Neurolinguística em uma semana Nota: 4 de 5 estrelas4/5A melhor estratégia é atitude: Bora vender Nota: 5 de 5 estrelas5/5Finanças Organizadas, Mentes Tranquilas: A organização precede a prosperidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDinheiro: 7 passos para a liberdade financeira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Desvendando O Metodo De Taufic Darhal Para Mega Sena Nota: 4 de 5 estrelas4/5O milionário instantâneo: Uma história de sabedoria e riqueza Nota: 5 de 5 estrelas5/5A ciência de ficar rico Nota: 5 de 5 estrelas5/5Assertividade em uma semana Nota: 5 de 5 estrelas5/5Falando Bonito: Uma reflexão sobre os erros de português cometidos em São Paulo e outros estados Nota: 4 de 5 estrelas4/5Gestão de Empresa: Tópicos Especiais em Gestão Empresarial Nota: 5 de 5 estrelas5/510 Dicas de Ouro para ter Sucesso na Venda Direta Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Estranho Segredo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Como Organizar Sua Vida Financeira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Seja o empresário da sua ideia: Como criar um grande negócio, ser autoridade e ganhar dinheiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Educação financeira na escola Nota: 3 de 5 estrelas3/5Como ser um grande líder e influenciar pessoas Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de O Que Faz Você Feliz
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
O Que Faz Você Feliz - Fabiano Vieira
FABIANO MOURÃO VIEIRA
O QUE FAZ VOCÊ FELIZ
OS RESULTADOS DE MEIO SÉCULO DE PESQUISAS
CIENTÍFICAS SOBRE O BEM-ESTAR SUBJETIVO.
Curitiba
Edição do Autor (2016)
2
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................... .5
2. GENÉTICA, IDADE, INTELIGÊNCIA E
PERSONALIDADE............................................................... .19
3. BELEZA, SAÚDE E DROGAS......................................... .38
4. CASAMENTO E SEXUALIDADE................................... .53
5. INTERAÇÕES SOCIAIS E ESTILOS DE VIDA............. .70
6. ASPIRAÇÕES SOCIAIS E ADAPTAÇÃO....................... .85
7. AUTOCONTROLE E ENFRENTAMENTO................... .103
8. POUPANÇA, TRABALHO E EDUCAÇÃO................... .116
9. DESIGUALDADE E COMPARAÇÃO SOCIAL............ .130
10. MEIO AMBIENTE, URBANIZAÇÃO E
CRIMINALIDADE.............................................................. .146
11. PAÍSES E DEMOCRACIA............................................ .163
12. RENDA, DESEMPREGO E INFLAÇÃO..................... .176
13. RELIGIÃO E O SENTIDO DA VIDA........................... .192
14. CONCLUSÕES.............................................................. .209
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................. 217
3
4
1. INTRODUÇÃO
A vida no mundo contemporâneo nos lembra, a todo
instante, que devemos ser felizes. Não é só uma lembrança. Às
vezes, é uma cobrança mesmo. Precisamos sorrir o tempo
inteiro, quando estamos em público e demonstrar felicidade
sempre que pudermos. Como a vida é cada vez mais pública e
com menor privacidade, por conta das novas tecnologias
sociais, a necessidade de estarmos felizes pode tanto ajudar
como prejudicar. Pressionados pela família, pelos amigos e
pelos colegas de trabalho, ou pela igreja e pela televisão, as
pessoas apelam para toda sorte de amuletos, superstições,
técnicas e crenças que prometam um acréscimo qualquer em
seu bem-estar.
Para quem quer dicas sobre o assunto, há mais de
trezentos mil títulos de livros de autoajuda disponíveis nas
estantes físicas e virtuais das livrarias. Se as fórmulas ou
reflexões nesses livros fossem realmente eficazes, não
precisaríamos de tantos títulos diferentes. A literatura é prolixa,
na maioria das vezes, porque nunca foi descoberta a fórmula da
felicidade. Mas a busca continua, como a procura de um Santo
Graal, o cálice usado por Jesus na Última Ceia, capaz de
devolver a paz ao reino humano. Enquanto ninguém o
encontra, o número de livros de autoajuda só cresce.
Obviamente, não existe fórmula para a felicidade. E,
claro, este não é um livro de autoajuda. A felicidade é um
assunto sério e não merece ser tratada sem método e rigor. Para
nossa alegria, já temos os resultados de quarenta anos de
pesquisa científica comprometida e rigorosa para ajudar a
5
refletir sobre o tema. É preciso reconhecer que as pesquisas
realizadas têm muito mais a ensinar sobre o tema de modo
profundo e rigoroso do que os milhares de volumes de
autoajuda.
Certamente devemos profundo respeito a todos os
escritores de autoajuda que gastaram anos e anos se dedicando,
com afinco, à reflexão sobre o tema e, depois, tentando ensinar
o que aprenderam. Esses autores estudaram os aspectos
práticos do assunto, explorando temas que a ciência não teria
como adentrar. A ciência escrita não se dedica a refletir sobre
as minúcias das relações humanas. É incapaz de auxiliar
alguém a discutir o relacionamento com sua esposa, a superar
uma separação, a aceitar uma doença incurável, a se erguer
após um período de luto, a ajudar um amigo, a romper com um
namoro ou a trocar de emprego. Os livros de autoajuda
exploram uma área em que a ciência não pode entrar, por ser
fria e objetiva. E, nessa tarefa, produzem muita confusão sobre
o tema, ainda que como consequência indireta de bons
motivos. Por isso, é preciso entender, com cuidado, o que afeta
ou não afeta a felicidade, desconstruir mitos, falsear
proposições arraigadas em nossa cultura, esclarecer relações
causais confusas e separar os efeitos de muitas variáveis, por
meio de um processo analítico que os livros de autoajuda, em
seus esforços de síntese e de revelação, são incapazes de fazer.
Por muito tempo a ciência desprezou o tema, felicidade,
por considerar subjetivo demais. É relativamente fácil
reproduzir um experimento em química, física ou biologia, o
que permite, grosso modo, observações comuns e iguais em
qualquer lugar em que o experimento for executado, seja nos
Estados Unidos, na China ou no Brasil. Nas ciências humanas,
a replicabilidade dos experimentos não é tão pura quanto nas
ciências exatas, mas, ainda assim, é possível observar, de modo
relativamente imparcial, um fenômeno, e a partir daí inferir
leis, regras, previsibilidades e sistemas, criando uma ciência
6
relativamente objetiva. Mas aceitar como objeto de pesquisa
válido a opinião das pessoas a respeito de sua própria
felicidade e satisfação com a vida pareceu, durante muitas
décadas, uma concessão demasiada a se pedir ao método
científico consolidado nas universidades. O tema e a técnica de
aferição da felicidade, por meio de questionários, só passaram
a ser aceitos no âmbito científico quando os próprios dados
colhidos demonstraram grande regularidade e poder explicativo
do comportamento humano. Por meio dos efeitos da felicidade
e da tristeza, muito estudados, pode-se confirmar e observar o
fato de que, quando as pessoas alegam estar tristes, elas
geralmente estão mesmo tristes e, quando afirmam estar
felizes, elas geralmente estão mesmo felizes. Como os dados
são subjetivos, eles revelam tendências, probabilidades, regras
comuns e prováveis. É claro que existem exceções.
Quando dizemos que o desemprego traz infelicidade, é
óbvio que queremos indicar uma regra geral e não determinista.
Na ciência esse é um modo bastante aceito de expressar as
ideias. O leitor não acostumado com a literatura científica deve
ficar atento, portanto, para o modo com o qual as asserções são
feitas. Quando dizemos que pessoas casadas são mais felizes
que pessoas solteiras, não queremos dizer que não existem
casados mais infelizes do que solteiros nem que não existem
solteiros mais felizes do que casados. A diversidade humana é,
por certo, notável, mas por meio de médias é possível extrair
regras gerais que indicam uma tendência. Os cuidados
necessários para se entenderem as proposições apresentadas
pelos estudos de felicidade não param por aí. Dizer que as
pessoas casadas são mais felizes do que pessoas solteiras não
revela, necessariamente, que casar traz felicidade. Como
veremos, boa parte do efeito da felicidade no casamento reflete
o fato de que pessoas mais felizes têm uma propensão maior a
se casar.
Boa parte da confusão que o conhecimento do lugar
7
comum, raso, sem método ou proveniente de impressões ou
livros de autoajuda, provoca sobre o tema da felicidade,
provém de uma confusão sobre causas e efeitos. Por exemplo, a
observação superficial de que pessoas mais felizes são
religiosas e sociáveis pode produzir uma regra ilusória de que
frequentar festas e igrejas traz felicidade. Ignora-se, por vezes,
o fato de que a lógica pode ser invertida, ou seja, pessoas
felizes, quando comparadas com pessoas tristes, frequentam
mais festas e igrejas. A ciência não deixa escapar os fatos mais
óbvios e frequentes. Em linha com uma observação imparcial e
menos subjetiva, é fácil imaginar que uma pessoa se sentindo
bem queira conversar, brincar, ver gente e se divertir, enquanto
alguém triste e deprimido escolha ficar em casa, para fazer
alguma atividade sozinha e em paz.
Tendo em vista que a felicidade é tão importante nos
dias de hoje, é comum que culturas, produtos e instituições
tentem se apropriar da felicidade como fruto das ideias,
concepções ou objetos que veiculam ou vendem. Todo mundo
quer ser dono da fórmula da felicidade. São igrejas que
defendem que sem os seus deuses as pessoas não podem ser
felizes. São agências de turismo que passam a imagem de que
só se é feliz, mesmo, em uma praia no Caribe. São cervejarias
que mostram que a alegria só é possível com um copo cheio.
São instituições financeiras que tentam convencer os sujeitos
de ideias absurdas, como ser necessário se endividar para ser
feliz. São imobiliárias que prometem a felicidade por meio de
um bairro melhor ou um quarto a mais. O resultado de tamanho
excesso de mensagens que exageram em suas promessas é uma
enorme confusão sobre aquilo que é mesmo importante para a
felicidade. Por isso, a importância crucial de estudos que nos
lembrem, por mais irônico do que possa parecer, do óbvio. É
evidente que a experiência de um desemprego, de um luto, de
uma separação ou de uma doença é muito mais impactante do
que não poder ir ao Caribe nas férias ou não poder trocar de
8
celular ou comprar um carro zero quilômetro. Mas nem
sempre, em nosso corrido e estressante dia a dia, recebendo
tantas mensagens equivocadas e exageradas, lembramos do que
é realmente importante.
As pesquisas que usam metodologias científicas têm
revelado que as pessoas não têm tanta dificuldade em se
perceber e dizer se estão felizes ou tristes. Em princípio, as
dúvidas seriam comuns para os sujeitos mais críticos, lógicos e
questionadores, como é o caso dos cientistas e filósofos,
usando a acepção coloquial do termo.
De qualquer modo, tente esquecer, um pouco, o que
você aprendeu sobre psicologia, economia ou filosofia na
escola e pense, de maneira simples e direta, se você está ou não
feliz no momento em que lê essas palavras. Evite duvidar se a
felicidade existe ou questionar se é ou não possível responder
um sim ou não. Se você achar difícil, reflita, então, sobre
alguma pessoa próxima de você: a esposa, o namorado, a filha,
o pai, o vizinho ou um amigo. Dependendo de como você é,
parece mais fácil julgar a felicidade dos outros do que a sua
própria. Quando avaliamos os outros, não escondemos nossos
pensamentos. Já quando nós nos avaliamos, podemos mentir
para nós mesmos ou querer ocultar alguma verdade de nossas
palavras ou expressões. De qualquer forma, algum critério você
deverá ter usado.
Seja para avaliar a sua própria satisfação com a vida ou
a dos outros, na maioria das vezes associamos a felicidade ao
ânimo de uma pessoa. Quanto mais animada ela está, mais
dizemos que ela está feliz. Mas o que é uma pessoa animada?
Em geral, é um sujeito que sorri bastante, se movimenta com
frequência, fala com mais intensidade e gosta do convívio
social. Pense no contrário, visualizando a imagem de alguém
desanimado. Seu semblante é sério, seus músculos da face
estão caídos, seu corpo está sem movimento e prostrado.
Também é uma pessoa que fala pouco e muitas vezes quer ficar
9
sozinha.
Se você se recusa a pensar em pessoas, porque acha
complexo demais o problema posto, pode imaginar os cães, por
exemplo. Observe um cão que, depois de horas ou dias,
reencontra seus donos. Essa é uma típica situação em que se
reconhece o cão como feliz. Seu rabo move-se muito
rapidamente, suas pernas produzem saltos, seu corpo inteiro se
movimenta e ele produz latidos curtos e frequentes, com olhos
abertos e respiração forte. Ao mesmo tempo, ele quer contato,
quer ser visto e tocado. O cachorro é o animal mais humano de
todos, por ser doméstico, porque gosta de estar do lado de
alguém. Mas não só por isso. Ele manifesta o contentamento de
modo facilmente reconhecível pelos humanos.
Em princípio, não é preciso filosofar para discutir a
felicidade. Descrever o comportamento de alguém reconhecido
naturalmente como feliz parece ser suficiente. Mas as
discussões que decorrem a partir daí, estas sim envolvem a
ciência, a psicologia, a antropologia, a medicina, a economia e
a filosofia, principalmente. Parece natural imaginar que todos
nós queremos ser felizes, mas, desafortunadamente, não
podemos tomar isso como um dado sem buscar entender as
raízes de tal fenômeno.
Sob certo prisma, ser feliz é melhor do que ser triste por
causa de uma balança neuroquímica que nos traz prazer e a
sensação de bem-estar quando estamos felizes, e dor e mal-
estar quando estamos tristes. Não podemos esquecer que existe
um cérebro por trás de nossas emoções, caso contrário teremos
de buscá-las em algum ente imaterial, como o espírito ou a
alma. Parece natural pensar que, se pudéssemos escolher, todos
optariam por nascer e morrer felizes.
Será que estamos destinados a buscar a felicidade? Ou
podemos encontrar paz na tristeza? Embora dificilmente
alguém optaria, em sã consciência, de modo racional, em uma
análise rasa, ser infeliz ao invés de ser feliz, na prática isso
10
pode ocorrer,sim. Assim como plantas, bactérias ou insetos,
estamos programados geneticamente para sobreviver e nos
reproduzir. Não se trata apenas de nossa sobrevivência e
reprodução, mas de manter viva nossa família, nossa
comunidade e nossa humanidade. A pessoa triste pode ser útil
na luta pela sobrevivência. Pessoas tristes são mais
preocupadas e conseguem, deste modo, ser mais responsáveis e
capazes de antecipar os problemas potenciais da vida. São os
mais preocupados que constroem as casas mais sólidas e os
maiores estoques de alimentos, capazes de tolerar secas
prolongadas, enchentes, nevascas e períodos de escassez de
víveres.
Por óbvio, existe algum limite ótimo na tristeza.
Enquanto um nível moderado de preocupações e ideias
pessimistas parece excelente para um bom planejamento e
tomada de decisões favoráveis à comunidade, uma pessoa
excessivamente triste se torna um fardo, porque é incapaz de
trabalhar e de contribuir, em última instância, para a
sobrevivência do grupo.
Se perguntássemos em nossa volta sobre o tema, todo
mundo gostaria de ser muito feliz, não apenas moderadamente
feliz. Mas ser excessivamente feliz também causa muitos
problemas. Pessoas felizes demais, como se pode observar
dentre aqueles que vivem fases de êxtase na bipolaridade, são
irresponsáveis, gastam muito dinheiro, não se preocupam com
o amanhã, fazem planos mirabolantes e irrealizáveis. A
felicidade excessiva conduz a uma péssima administração dos
recursos, o que representa uma ameaça à sustentabilidade de
qualquer grupo social.
Para o sucesso humano, portanto, o ideal é mesclar a
felicidade e a tristeza, tanto em nível individual como em nível
coletivo. No mundo contemporâneo, no entanto, há muito
desprezo pelas pessoas pessimistas e depressivas, porque se
imagina que elas sejam nocivas para as organizações e
11
sociedades. Em verdade, as sociedades deveriam agradecer a
existência desses sujeitos, porque contribuem para um nível
adequado de tristeza coletiva às suas próprias custas,
permitindo que muitos possam ser felizes, sem apresentar
maiores riscos para a coletividade. Sempre precisará haver
algumas pessoas moderadamente tristes para abrir espaço para
a felicidade da maioria. Em princípio, o que se deve buscar é o
maior nível de felicidade ou bem-estar coletivo compatível
com o sucesso humano.
Ao que parece, a felicidade está associada justamente ao
quanto obtivemos de sucesso humano. Mas o que é tal sucesso,
em termos biológicos? É a própria reprodução da espécie
humana, tanto em nível individual como em nível coletivo. O
nascimento, a coroação do fato de que a vida segue adiante, é o
ponto máximo da felicidade e sucesso humano, enquanto a
morte é a representante maior de seu fracasso. Por isso a
alegria que traz um bebê e a tristeza de uma morte de alguém
querido. Como a reprodução também é uma tarefa coletiva,
ajudar os outros a viver e a se reproduzir também deve ser
fonte de felicidade.
Para que a sociedade se reproduza, as pessoas precisam
trabalhar para obter recursos essenciais à continuidade da vida.
Há mais de dez mil anos, as pessoas caçavam e pescavam para
sobreviver. Hoje elas precisam de empregos. Todavia, os
instintos não mudaram. A alegria de se abater uma grande caça
é semelhante à comissão que um vendedor obteve após fechar
uma venda volumosa. Ambas significam a garantia da
sobrevivência por um bom tempo sem se preocupar.
Se tudo, de certa forma, parece ser uma questão
matemática, de sinais positivos e negativos e de quantidades
neuroquímicas, é fácil postular a transitividade de todos os
fatores que trazem a felicidade ou sua oposição, a tristeza. Isso
é especialmente importante nos estudos sobre o bem-estar,
porque deste modo se descobrem as causas inversas. Por
12
exemplo, se provo que uma grande caça produz prazer e
satisfação, então posso postular que voltar de uma caça com
mãos vazias é motivo de tristeza. O exemplo em tela é bem
comum em relatos etnográficos: o homem sai de manhã para
caçar e volta envergonhado e cabisbaixo à casa se não teve
sucesso em sua empreitada. Não se trata apenas de aplacar a
sua fome, que pode ser amenizada com um punhado de farinha
insossa, mas de garantir a boa saúde de sua família, que
representa o que nós estamos chamando de sucesso humano. A
tristeza, a culpa e a vergonha turbinam o pensamento reflexivo,
fazem a pessoa ver mais longe, revisar cada uma de suas ações
pregressas para perceber onde errou e, assim, aprimorar suas
faculdades de caça para aumentar a probabilidade de sucesso
no dia seguinte.
Às vezes há certo exagero em se pensar o que foi que
deu errado. Outras vezes há períodos em nossas vidas em que
muitas coisas, de fato, dão errado em sequência ou ao mesmo
tempo. De um terceiro modo, nossa neuroquímica pode estar
desequilibrada, com falta de neurotransmissores, inibidores,
recaptadores e outras moléculas. Daí, emergem os quadros
depressivos, que aparecem como tristezas disfuncionais, que
não ajudam nem o indivíduo nem a sociedade. A pessoa perde
o domínio sobre o que e como pensar, seus pensamentos
ganham autonomia sobre os fatos e o mundo parece se inverter.
Perdas excessivas e contínuas de algo sem o encontro
de uma solução satisfatória podem induzir à depressão, assim
como o inverso também é verdade, quadros depressivos podem
levar ao desencontro de soluções satisfatórias. O difícil de se
entender, quando se analisam os processos mentais, é
justamente a via causal de mão dupla que o cérebro dá. O
estado depressivo reforça o pensamento depressivo, como se
produzisse o próprio combustível para mais depressão, a ponto
de o cérebro parecer ganhar vida própria e não responder mais
aos fatos externos. Como nesse ramo o inverso, na maioria das
13
vezes, também é válido, algo semelhante acontece nos estados
eufóricos. O pensamento excessivamente excitado põe mais
lenha na fogueira da euforia, sendo que nem mesmo dívidas,
perdas de emprego ou brigas familiares são suficientes para
sacar o indivíduo do mundo da alegria excessiva.
A grande matemática da felicidade aconselha seguirmos
o caminho do meio, nos mesmos moldes que nos alertou
Aristóteles há dois mil anos. Precisamos cuidar de nunca
adentrarmos nos mundos sombrios dos humores extremos, ao
mesmo em tempo que devemos usar a felicidade como guia de
nossas vidas, como fonte de sentido, sem nos esquecer de fazer
bom uso dos períodos tristes para aprofundar nossa reflexão e
ampliar nossa sensação de sentido, que por certo contribuem
para aumentar o nível geral de satisfação com a vida.
De qualquer modo, é preciso reconhecer que muito do
que sabemos sobre a felicidade provém justamente do estudo
sobre a infelicidade. Embora seja nebuloso descobrir as
nuances que diferenciam as pessoas muito felizes, o drama
observável das pessoas muito infelizes que cometem suicídios
ou não conseguem se levantar de seus leitos, trazem fontes
muito seguras de conhecimento. A busca pela felicidade, que se
tornou fundamental como norte das políticas públicas e dos
planejamentos pessoais, não passa, necessariamente, por
revelar somente as experiências boas da vida, mas também
exige conhecer como superar as fases ruins.
Como se verá ao longo dos capítulos, as pesquisas sobre
a satisfação com a vida, em cada um dos tópicos abordados,
parecem recordar o que nós já sabemos. É estranho escrever ou
ler um livro sobre um assunto que, depois de lido, faz parecer
que nós já o dominávamos. Mas com tantas distrações e ideias
erradas nos ocupando a mente, esse exercício, de relembrar e se
desapegar das ilusões, de criticar as falsas imagens, afastar
fantasmas e denunciar os ídolos estranhos, é fundamental para
uma vida fácil e saudável. As decisões tornam-se mais fáceis;
14
as rotinas, mais leves; o convívio social e familiar, mais
agradável.
Nossa genética nos presenteia com um nível
determinado de felicidade, maior ou menor, em torno do qual
oscilamos ao longo da vida, para cima ou para baixo. Não é
preciso ser nenhum doutor da observação e do tratamento de
dados extensos para concordar que os genes exercem enorme
influência. Pensemos nos amigos de infância, em primos ou
colegas de escola, que conhecemos desde a adolescência.
Alguns são mais animados, sociáveis e felizes, enquanto outros
são mais quietos, pensativos, antissociais e soturnos. Quando
os vemos anos depois, eles continuam, aproximadamente, com
pequenas variações temporárias, do mesmo jeito, alegres ou
tristonhos. Para o bem ou para o mal, dificilmente ocorrem
grandes revoluções pessoais que mudam para sempre o nível
de felicidade das pessoas. Quando isso acontece, trata-se de um
milagre, um evento raro, improvável, que vai de encontro ao
senso comum e a lógica com a qual estamos habituados. Tudo
tende ao equilíbrio, aquele mesmo ponto ou nível de satisfação
que conhecemos desde a adolescência. Embora lamentemos
que a felicidade de um amor, de um carro novo, de um
reconhecimento no trabalho, de um diploma tão esperado ou de
um presente singelo não dure para sempre, sentimo-nos
seguros, confiantes e esperançosos assim mesmo, porque temos
a certeza de que os revezes também terão seu tempo de
validade. E para sobrevivermos, é preferível um mundo em que
os efeitos das novidades passam a um universo em que os
traumas, os pesadelos, as perdas, os sofrimentos não tenham
fim. Nosso cérebro, para reduzir as chances de que caiamos em
algum inferno impossível de sair, encurta nossa memória,
assim nos cobrando o decaimento dos afetos positivos de
nossas alegrias. Como as punições, as coisas ruins que
acontecem conosco gravam com muito mais força e nitidez em
nossas conexões neuronais do que os bons eventos e as
15