A Internet Não É Legal Para Gestantes: Esclarecendo Dúvidas Do Dia a Dia Com Base Em Evidências Científicas Consistentes
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Sobre este e-book
Partindo de perguntas reais de suas pacientes, acumuladas ao longo de anos de experiência clínica, o autor se lança em uma jornada intensiva de pesquisa para oferecer as melhores respostas. Seu repertório permite traduzir os principais resultados científicos e implicações médicas em uma linguagem acessível, tornando o livro uma consulta valiosa e generosa para as mulheres que se tornam mães. Ao abordar a gravidez, a obra traz informações claras sobre a possibilidade de tomar café e praticar atividade física durante a gestação. Além disso, fornece orientações sobre o período seguro para viajar de avião e cuidados essenciais a serem adotados.
Em tempos de excessos, manipulações e desinformação, esta obra se destaca por oferecer um guia confiável, auxiliando as mães a viverem plenamente todas as transformações dessa experiência, sem a preocupação de pesquisas extenuantes pela internet. A internet não é legal para gestantes é uma leitura indispensável para quem busca conhecimento embasado e se importa com o bem-estar da mulher e do bebê durante o período tão especial da maternidade.
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A Internet Não É Legal Para Gestantes - Anderson Borovac-Pinheiro
Alimentos e dietas
Uma taça de vinho por dia vale na gestação? E durante o aleitamento?
Culturalmente falando, o raciocínio mais comum é o seguinte: se beber uma taça de vinho por dia pode fazer bem à saúde, por que a recomendação seria diferente durante a gestação? Afinal, é melhor que a gestante esteja relaxada; além disso, só um pouquinho não vai fazer mal. Porém será mesmo que o álcool não faz mal para a gestante ou para o bebê? Vamos conversar…
A preocupação dos médicos em relação à ingestão de álcool durante a gravidez — independentemente da dose, e isso veremos mais adiante — é relacionada ao fato de o álcool ser uma substância teratogênica. Na linguagem médica, isso significa que ele é capaz de causar dano ao embrião ou ao feto, causando perda gestacional, malformação e alterações funcionais e neurocomportamentais ao bebê/criança depois que ele nascer.
Existe um espectro do quanto o álcool pode afetar a criança, que vai desde efeitos no seu desenvolvimento neuropsicomotor — alteração de fala, da parte motora, do quanto anda ou de quanto tem de destreza ao movimentar as mãos para se alimentar, por exemplo — até a situação mais grave, que chamamos de Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).
Este é um fenômeno raro. Acomete de um a três bebês a cada mil nascidos vivos. Porém não há cura ou tratamento específico. Apresenta-se por meio de alterações nas características faciais, atrasos de crescimento, alteração anatômica do sistema nervoso central, alteração cardíaca e renal, assim como efeitos adversos ao desenvolvimento, como dificuldades de aprendizado, de memória, de atenção, de comunicação, de visão e de audição, e ao comportamento, como dificuldades escolares e de relacionamento; complicações que podem ou não ocorrer de forma combinada. A SAF é uma condição que pode culminar inclusive em óbito fetal.
Como o bebê é afetado? O álcool que a mãe ingere chega à corrente sanguínea, atravessa a placenta e atinge o embrião ou o feto. Enquanto a placenta exerce o efeito de barreira para outras substâncias ingeridas, isso não acontece no caso do álcool. Pela imaturidade do feto e seus baixos níveis de enzimas em comparação ao adulto, o metabolismo e a eliminação do álcool são mais lentos. Dito de outra forma, o álcool não é metabolizado da mesma forma, e o bebê o expele em sua forma mais primitiva, sem degradação, por meio da urina, no líquido amniótico. Esse mesmo líquido amniótico funciona como um reservatório e expõe ainda mais o feto aos efeitos do álcool, de forma prolongada. Além disso, ele é proporcionalmente muito menor: são gramas de peso em relação aos quilos da mãe. No caso do adulto, por exemplo, a depender da quantidade ingerida, o álcool já não está mais presente no organismo dentro de quatro a seis horas após o consumo. Isto não acontece com o feto.
Assim como no caso de outras substâncias teratogênicas, a relação do uso de álcool durante a gravidez com o aparecimento de efeitos adversos sobre o embrião ou o feto gera muitas dúvidas, principalmente por conta da dificuldade de testagem. A maior parte dos estudos se baseia em observação da prática clínica, por meio de estudos de caso, ou em estudos epidemiológicos retrospectivos.
Por isso, é realmente difícil estabelecer comparações ou mesmo chegar a um consenso. Por exemplo, duas participantes tomaram dois vinhos diferentes, porém as concentrações alcoólicas das bebidas eram diferentes, ou então uma paciente tomou um tipo de bebida, whisky, e outra tomou cerveja e outra, ainda, conhaque. É por isso que, a despeito do teor alcoólico da bebida ou da sua proveniência, não há dose segura de álcool que possa ser ingerida na gestação. Neste sentido, as principais sociedades de obstetrícia e pediatria no Brasil e no mundo recomendam não só a divulgação das características da síndrome que vão se esclarecendo pela investigação científica, para que as pessoas tomem uma decisão mais informada, assim como a abstinência ou suspensão completa do consumo de álcool tanto durante a gravidez quanto para mulheres que estejam tentando engravidar.
No período do aleitamento, também não há limite estabelecido de segurança. O leite materno contém de 0,5 a 3,3% da dose ingerida pela mãe. Pode parecer pouco, ainda mais se a dose consumida foi pequena, mas, da mesma forma que durante a gestação, não existe uma correlação clara entre a dose e os efeitos para o bebê. Por isso, é importante avaliar com o seu médico se o uso é seguro ou se representa algum risco.
Algumas abordagens dizem que, se a lactante fez uso de álcool, recomenda-se esperar pelo menos três horas antes de iniciar o aleitamento do bebê e, se possível, descartar o primeiro leite, aquele que estava sendo produzido enquanto ela ingeriu álcool. Estão disponíveis também alguns filtros, na forma de autoteste, que avaliam a quantidade de álcool no leite materno para saber se é seguro ou não oferecer ao bebê. Contudo todo teste tem uma questão de sensibilidade e de especificidade, isto é, o quanto você precisa ter de álcool no seu leite para que o teste funcione, ou seja, pode dar uma falsa sensação de segurança para a mãe. Além disso, o que a literatura científica deixa muito claro é que os efeitos a longo prazo do uso do álcool durante o aleitamento são completamente desconhecidos. Ou seja, assim como na gestação, o mais indicado ainda é a abstinência.
Enquanto algumas pesquisas mostram que cerca de 10% a 40% das mulheres brasileiras ingerem alguma dose de álcool no período da gestação, o consumo de álcool nessa fase da vida continua a representar a causa mais importante de deficiência mental não congênita. Também, segundo a Organização Mundial da Saúde, em diversos países a exposição pré-natal ao álcool é a principal causa evitável de defeitos congênitos e deficiências de desenvolvimento. A principal mensagem que fica é que esse é o único fator externo conhecido de prejuízo ao feto e ao bebê que pode ser prevenido e evitado. E, apesar de eu ter uma postura em geral contrária às proibições durante a gravidez, essa é uma que, dado o risco e a falta de segurança, não vale a pena negociar.
Recomenda-se
Para quem busca 100% de segurança durante a gestação e o aleitamento, o ideal é não consumir álcool durante esse período.
Pão, pão, queijo, queijo?
A dúvida sobre qual dieta seguir costuma ser frequente entre as grávidas. E, então, surge aquela pergunta: A gestante pode ou não pode comer queijos produzidos a partir de leites não pasteurizados?
Eu costumo dizer para minhas pacientes que a recomendação é evitar os seguintes tipos de queijo durante a gestação: o meia-cura, o camembert, o brie e o blue cheese. O motivo é que o consumo de alimentos crus e de queijos não pasteurizados pode trazer o risco de listeriose, uma infecção gastrointestinal provocada por uma bactéria chamada listeria.
Apesar de ser uma infecção rara, a listeriose é uma doença grave e, na gravidez, pode aumentar em 18 vezes o risco de complicações. Por isso, é melhor dar preferência aos queijos fabricados a partir de leite pasteurizado.
Confira a lista
Queijos permitidos (pasteurizados)
Cheddar
Cottage
Muçarela
Queijos que devem ser evitados (não pasteurizados)
Queijo branco
Queijo fresco
Feta
Brie
Camembert
Blue cheese
Recomenda-se
A ingestão de queijo durante a gravidez é inclusive aconselhada para aumentar a oferta de cálcio ao organismo. Basta escolher os queijos seguros.
Agora, se você não possuía essa informação e acabou ingerindo queijo não pasteurizado na gravidez, não se preocupe. Geralmente a infecção por Listeria produz sintomas precoces e, se você estiver assintomática, está tudo bem.
Dieta radical ou ideal?
A alimentação durante a gestação é um ponto de muitas dúvidas e polêmicas, mas não tem tanto mistério quanto parece. Contém spoiler: a recomendação, de um modo geral, é fazer a mesma (boa) dieta de sempre. Claro, será preciso intensificar alguns cuidados, pois se trata de um período especial, porém não é necessário aumentar a quantidade de ingestão, comendo por dois ou três, por exemplo.
O mais importante é que a grávida mantenha, ao longo de toda gestação, uma dieta saudável, balanceada e diversificada, composta de todos os grupos de alimentos. Ou seja, carboidratos, fibras, proteínas, legumes, verduras e gorduras.
O ideal é ingerir entre cinco e seis porções de alimentos por dia, divididos em café da manhã, almoço e jantar, além de dois a três lanches (no meio da manhã, no meio da tarde, e/ou na ceia). Desse modo, é possível evitar longas horas de jejum. Por exemplo, se a paciente jantar às seis da tarde e tomar café da manhã às seis da manhã, ficará em jejum por um período muito longo. Por isso, talvez ela deva introduzir uma ceia antes de dormir.
Dietas radicais
Com relação às chamadas dietas radicais
, vamos destacar as vegetarianas, as veganas e as low carb ou cetogênicas.
Vegetarianas e veganas
Os vegetarianos e os veganos têm crescido exponencialmente nos últimos anos. Sabe-se que essas dietas diminuem o risco de doenças cardíacas, diabetes e alguns tipos de câncer. E, para além da saúde, muitas pessoas têm optado por esse tipo de alimentação por questões ambientais, socioeconômicas, étnicas ou religiosas.
Há algumas variações dentro desse grupo: os vegetarianos, os veganos, os ovolactovegetarianos, os macrobióticos etc. Porém a maioria dos estudos disponíveis hoje tem como base a dieta dos vegetarianos e veganos.
O que se indica é que as pacientes vegetarianas e veganas tenham um acompanhamento especializado com um nutricionista ou nutrólogo, já que, na gestação, a demanda por proteínas, a depender de como era sua alimentação antes, pode aumentar.
O acompanhamento nutricional também é importante porque, além de buscar fontes ricas em proteína, essas pacientes devem estar atentas aos níveis de ferro, vitamina B12, cálcio e vitamina D, pois pode ser difícil manter as quantidades desses nutrientes de forma