SPINOZA: Vida e Pensamento
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Sobre este e-book
A obra de Spinoza, particularmente "Ética - Demonstrada à maneira dos geômetras," influenciou o pensamento de inúmeros grandes filósofos posteriores, tais como Hegel, Johann Fichte, Friedrich von Schelling, os empiristas John Locke e David Hume, e os pensadores do século XIX e XX como Ernst Mach, William James, Bertrand Russell, entre vários outros. Em SPINOZA: Vida e Pensamento, o leitor terá uma breve biografia e o pensamento deste que é considerado um dos maiores pensadores da filosofia moderna.
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SPINOZA - Baruch Spinoza
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SPINOZA
Vida e Pensamento
1a edição
img1.jpgIsbn: 9786558942269
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Prefácio
Prezado Leitor
Baruch Spinoza (1632-1677) foi um filósofo holandês; um dos grandes pensadores da linha racionalista, da qual faziam parte Leibniz e René Descartes.
Descendente de judeus, Spinoza aprendeu a língua hebraica na nova escola judaica na época em que a Holanda presenciava um grande crescimento econômico.
Suas ideias eram consideradas nocivas pelos teólogos e religiosos e, como todo homem que pensa à frente de seu tempo, Spinoza sofreu muitas perseguições religiosas e da imprensa. Foi acusado de blasfemador e afastado da Sinagoga de Amsterdã, sendo deserdado pela família. Para sobreviver, teve que trabalhar como polidor de lentes para lunetas. O conservadorismo religioso e filosófico de sua época fez com que vivesse no ostracismo em boa parte de sua vida e somente no século XX suas ideias foram reconhecidas. Spinoza defende que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e que a Bíblia é uma obra metafórico alegórica, que não pede leitura racional e não exprime a verdade sobre Deus.
A obra de Spinoza, particularmente Ética - Demonstrada à maneira dos geômetras, influenciou o pensamento de inúmeros grandes filósofos posteriores, tais como Hegel, Johann Fichte, Friedrich von Schelling, os empiristas John Locke e David Hume, e os pensadores do século XIX e XX como Ernst Mach, William James, Bertrand Russell, entre vários outros
Uma excelente leitura.
LeBooks Editora
APRESENTAÇÃO
Sobre o autor e obra
img2.jpgTenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.
Baruch Espinoza
Spinoza começou bem cedo a se ofuscar em função do seu pensamento. Pouco se sabe dos detalhes da sua vida particular. Ninguém sabe, por exemplo, o que pensava sobre sexo. Tudo o que sabemos sobre ele o favorece, algo tão raro quanto a sua filosofia. Sobretudo, o que queria descobrir era uma vida de bem-aventurança para o homem, uma alegria suprema e contínua por toda a eternidade
.
Agora que está a salvo morto — portanto, sua magnitude não será vitimada pela inveja, exceto pela de uma minoria — é o mais amado ou, no mínimo, o mais respeitado dentre os filósofos que surgiram num ambiente de preconceito, intolerância, incompreensão, insensibilidade e crueldade.
Junto com alguns filósofos maiores — PLATÃO, HUME e KANT — Spinoza se destaca. Dificilmente, alguém discordaria que seu lugar está entre os seis maiores homens de todos os tempos e até mesmo que ele empresta um tipo de significado para a palavra grande.
A filosofia de Spinoza era por demais abrangente e, embora fosse considerada inspiradora, foi motivo de várias interpretações, das mais sérias às mais estapafúrdias. Uma escola de pensamento insensata mas intelectualmente plausível, juntamente com os vários fanáticos do seu tempo, chegou a declarar que ele era ateu. Muitos foram os que beberam na fonte de Spinoza: Locke, um homem de coração vazio, ambicioso, puritano, empírico e racionalista, utilizou os preceitos dele. Foi também utilizado tanto pela direita como pela esquerda, por BURKE, por Thomas Jefferson, aquele político que tinha raros e leves defeitos como tal e que fora o terceiro presidente dos Estados Unidos, por autoritários disfarçados de libertários, por apóstolos da liberdade como PAINE e ROUSSEAU, e por pós-marxistas e até nazistas.
Baruch Spinoza era filho de marranos portugueses, forçados a se converter ao cristianismo, mas vivendo secretamente como judeus. Seus pais eram de origem espanhola e fugiram de Portugal para escapar da Inquisição. Estabeleceram-se em Amsterdã, onde gozaram de um certo grau de tolerante segurança e o pai de Spinoza conseguiu tornar-se um comerciante de sucesso.
Baruch foi para uma escola judaica, um aspecto geralmente desdenhado da sua educação. Lá estudou o misticismo judeu e as teologias árabe e judaica. Um dos seus principais professores foi o também marrano Manassah ben Israel, indicado rabino aos 18 anos e que mais tarde desempenharia um importante papel no retorno dos judeus à Inglaterra — um notável liberal do seu tempo. O trabalho de Abraham Herrera o aproximou da CABALA, da qual ele se separou cautelosamente por causa do fetichismo inevitavelmente a ela associado, mas que teve uma profunda influência sobre sua filosofia.
A crise surgiu quando as autoridades judaicas, ansiosas por demonstrar sua respeitabilidade aos administradores calvinistas de Amsterdã, tentaram persuadir Spinoza, por suborno, promessas e ameaças, a renunciar às suas opiniões panteístas e heterodoxas. Ele se recusou e foi não só excomungado, como também amaldiçoado (com quase todas as pragas do Universo) pela comunidade, o que, em se tratando de um pensador, é um sinal certo de distinção.
Antes de publicar qualquer coisa já era famoso entre filósofos e intelectuais, mas durante a sua vida tornou-se tão notório como ateu, que só pôde publicar dois trabalhos: um livro sobre o pensamento de DESCARTES, cuja filosofia ele foi o primeiro a corrigir de forma efetiva, e, em 1670, o Tractatus Theologico-Politicus (Tratado Teológico-Político), que apareceu anonimamente, sob um disfarce. Quanto ao livro sobre Descartes, ele o escreveu para um aluno e pode muito bem não retratar corretamente suas opiniões. Foi muito censurado por causa de seus textos, pois pregava o livre pensamento e a tolerância total. Além disso, foi o primeiro a explicar as Escrituras como documentos históricos. Isso fez dele o pai do estudo racional da Bíblia. Nesse livro, ele também foi muito influenciado por THOMAS HOBBES, cuja ideia de um contrato social ele interpretou de um modo mais liberal e democrático. Paralelamente à publicação do livro, explodiu a violência da multidão contra os De Witt, déspostas esclarecidos da Holanda, logo após a vitória da marinha inglesa sobre a holandesa. A causa da derrota foi atribuída à tolerância ao ateísmo. Spinoza escreveu contra essa loucura.
Ele só conseguiu levar uma vida adequada como esmerilhador de lentes, e foi a poeira dessas lentes que causou sua morte prematura por tuberculose. Às vezes aceitava um pequeno auxílio financeiro dos amigos. Em 1573 recusou a cadeira de filosofia em Heidelberg, esclarecendo que um filósofo devia manter sua independência. Disse ao eleitor palaciano que lhe oferecera o cargo que queria continuar seus estudos de acordo com a sua própria opinião
. A sua vida inteira foi, de fato, dedicada à discussão, de mente aberta, sobre as suas ideias e as alheias. Assim como existem os que pensam na arte pela arte, Spinoza discutia as ideias pelas ideias -, certamente, a vida ideal para um filósofo. Pagou caro por ser um livre-pensador, pois fora acusado de herege e ateu, perigosamente comprometido com o pensamento secular.
Os racionalistas, ao contrário dos empíricos, acreditavam que a verdade pode ser alcançada principalmente pela razão, sem auxílio algum da experiência sensorial. O termo racionalismo não implica ateísmo, e dos três grandes racionalistas — os outros dois eram Leibniz e Descartes — Spinoza foi o mais coerente. Não podia aceitar a divisão de mente e corpo em duas entidades como o queria Descartes; uma divisão que levou e levaria a imensas dificuldades. Qual era a exata natureza da interação causai entre eventos físicos e mentais, se é que havia uma interação?
Spinoza rejeitou a distinção e a substituiu pelo monismo substancial
, a visão de que o Universo consiste em uma única substância, que é Detís e que é autodependente. Descartes insistia em que havia um infinito número de substâncias, incluindo, para começar, cada corpo e mente individuais. Para Spinoza, tudo é dependente de todo o resto e consequentemente tudo individual não é outra coisa senão uma modificação ou mode, um fragmento de uma única realidade, razão pela qual a palavra monismo é altamente apropriada. Nada tem realidade, a não ser como parte de uma única substância. Podemos pensar e conceber essa substância como física ou mental, mas de um modo ou de outro, e por mais definitivo que isso nos pareça, estamos de fato vendo a mesma coisa. Nessa teoria há um forte elemento de bom senso. Como muitos acreditam ainda hoje em dia, quando de uma forma simples concebemos mentalmente um indivíduo, o consideramos como um ser; quer falemos (ou pensemos) dele psicológica ou fisicamente, é sempre um único indivíduo. Para Spinoza, uma ocorrência física pode ser explicada em termos mentais, e uma ocorrência mental pode ser explicada em termos físicos. O pensamento era para Spinoza, como na Cabala, o modo mais elevado
, porque conhece
a extensão
(a extensão física no espaço), enquanto a extensão não conhece o pensamento.
Ao contrário dos empíricos, como Locke em parte o era, Spinoza não levava muito em consideração, por assim dizer, as percepções sensoriais. O pio Locke, tão sovina quando se tratava de elogiar aqueles que o haviam influenciado, ouvia os Salmos serem lidos para ele em voz alta e falsamente retinha suas credenciais racionalistas, pois na crença em Deus ele encontrava a falta do inconcebível. Em filosofia, entretanto, ele seguia ambiciosamente a corrente empírica. Spinoza, antes dele, achava que as percepções sensoriais eram inadequadas
. Elas são confusas porque vemos o mundo exterior
, insistia ele, de um modo imperfeito — como uma reprodução dos nossos processos físicos.
Para Spinoza, o Universo, equivalente a Deus ou