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Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim
Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim
Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim
E-book851 páginas4 horas

Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim

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Sobre este e-book

“Minhas Memórias e Reflexões da Vida Desde Antes do Início até Depois do Fim” é uma interessante história de vida com muitas “estórias” e “causos” recheados de mentiras verdadeiras e verdades incríveis. Contempla um misto de realidade e ficção com profundas reflexões sobre a vida que vale a pena ler.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mar. de 2016
Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim

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    Pré-visualização do livro

    Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim - Antonio Sampaio Teixeira

    MINHAS MEMÓRIAS E

    REFLEXÕES DA VIDA

    DESDE

    ANTES

    DO

    INÍCIO ATÉ DEPOIS DO

    FIM...

    Antonio Sampaio Teixeira

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 2

    Antonio Sampaio Teixeira 3

    Dedicatória:

    A você que me premia lendo esta singela, porém, carisma

    obra para mim, reiterando o agradecimento e a promessa,

    especiais, alhures declarados.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 4

    Antonio Sampaio Teixeira 5

    AGRADECIMENTOS

    Antes e acima de tudo, agradeço a Deus pela minha

    existência e por me conceder inspiração e perseverança para tornar

    realidade o meu sonho de escrever um livro.

    Agradeço também, sensibilizado, aos que muito me

    ajudaram na elaboração desta singela, porém, caríssima obra para

    mim: Minha querida esposa, Marli, quem desde o primeiro

    capítulo, dedicou-se com esmero à leitura corretiva e ao

    oferecimento de críticas valiosas à efetivação do meu livro.

    Vanessa Gualberto Teixeira Lima ― Psicóloga ―, minha

    querida sobrinha, pois, ao ler o meu perfil no face book,

    incentivou-me com sua mensagem: "Está parecendo começo de

    livro, tio!"

    Débora Lima Aires Custódio ― Bacharela em Letras e

    Editora de Livros ―, minha querida sobrinha, a quem apresentei

    os rascunhos embrionários do livro e me indicou o norte a seguir

    no meu intento.

    Haroldo Felinto ― Professor e Escritor ―, estimado

    primo, em quem me inspirei para escrever um livro.

    Jóia Oliveira – Bióloga―, parente estimada, pela proveitosa

    manifestação incentivadora.

    Andrea Silva Araújo ― Pedagoga e Psicopedagoga ―,

    prezada amiga, pela valiosa contribuição na estilística e melhoria

    deste trabalho.

    Amanda Guedes Pereira ― Advogada ―, estimada colega,

    que se debruçou com afinco para a imprescindível correção e

    devida adequação ortográfica atual do texto.

    E, finalmente, ao meu querido sobrinho, Francisco José

    Lima Felix ― Bacharel em Ciências Contábeis ―, porque foi

    providencial na diagramação, ilustração e encaminhamento à

    efetiva publicação deste livro.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 6

    Antonio Sampaio Teixeira 7

    SUMÁRIO:

    Breve apresentação...................................................................................... 11

    PRIMEIRA PARTE .................................................. 15

    1. Minha chegada a este mundo de meu Deus no espaço e no tempo e

    do que a antecedeu. ..................................................................................... 17

    2. Do meu nascimento e das experiências vividas na primeira infância.

    ........................................................................................................................ 19

    3. A estória do lendário Poço do Vaqueiro e outros causos; a

    descoberta de lugares e a continuação das minhas primeiras

    experiências de vida. ................................................................................... 25

    4. A primeira mudança de sítio, o início da minha ocupação laboral e a

    minha primeira traquinagem. ..................................................................... 30

    5. Um incidente que me fez pensar que ia morrer e um medo que me

    revelou em herói .......................................................................................... 35

    6. As minhas andanças por Bonsucesso e o primeiro caminhão que

    andou na vila ................................................................................................ 38

    7. O que aconteceu com o filho de um vaqueiro e as consequências de

    quem bulia com moça de família boa ...................................................... 43

    8. Os tempos bons e o tempo das vacas magras ................................ 46

    9. A minha primeira grande viagem e o meu primeiro contato com a

    cidade. ............................................................................................................ 49

    10. A volta dos tempos bons ..................................................................... 59

    11. A história do Cru ou Cozinhado .................................................... 64

    12. Quando comecei a frequentar a escola e como o meu touro virou

    vaca; a mudança de sítio e o vexame espetacular na baixa da égua. .... 78

    13. A posse do nosso novo sítio e os trágicos acontecimentos no

    âmbito familiar intercalados por Santas Missões na comunidade. ...... 82

    14. Impactante mudança da vida rural para a vida urbana ................... 88

    15. Como me tornei enfermeiro e as benesses e percalços da profissão

    ........................................................................................................................ 91

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 8

    16. A descoberta do meu verdadeiro nome, a longa viagem de trem

    com memoráveis eventos e a mudança para a capital. ........................ 103

    17. A minha experiência de vida na capital, o meu desenvolvimento

    social e a impossibilidade de seguir a carreira militar. ......................... 106

    18. O meu último sonho acalentado, a minha volta ao sertão

    revivendo o passado em meio a entes queridos, a origem da nossa

    família e o seu entrelaçamento com outras na região. ......................... 112

    19. O prosseguimento dos preparativos da minha mudança para São

    Paulo. ........................................................................................................... 128

    20. A grande aventura da longa viagem da mudança para São Paulo

    com seus eventos e desarranjos. ......................................................... 131

    21. A minha chegada em São Paulo, as emocionantes despedidas entre

    os colegas da viagem, o encontro com meu irmão e reflexões sobre a

    grande aventura da mudança. .................................................................. 142

    SEGUNDA PARTE .......... Erro! Indicador não definido.

    22. A nova experiência de vida e a profissão de vendedor balconista

    em São Paulo. ............................................................................................. 148

    23. A primeira mudança de emprego, suas consequências e minha

    integração em São Paulo. ......................................................................... 157

    24. Minha primeira viagem na desafiante profissão de caixeiro viajante.

    ...................................................................................................................... 163

    25. Uma breve parada em São Paulo e a realização da segunda viagem

    como caixeiro viajante. ............................................................................. 181

    26. A aventura venturosa como inspetor de vendas pelos estados do

    nordeste e do meu reencontro com a família... .................................... 185

    27. Fundação da minha primeira empresa em São Paulo e o retorno

    como caixeiro viajante pelos Estados do Sul. ....................................... 203

    28. O revezamento das viagens pelos estados do sul e do nordeste. 205

    29. Uma aventura amorosa que fez mudar o meu itinerário e quase

    terminar a minha história. ........................................................................ 211

    30. A aquisição do meu Jeep Willys e a minha primeira viagem como

    caixeiro-viajante motorizado. .................................................................. 215

    31. O incidente que mudou o plano da minha primeira viagem de jipe

    pelo nordeste. ............................................................................................. 217

    Antonio Sampaio Teixeira 9

    32. A grande aventura pelos estados do nordeste com o meu Jeep

    Willys. .......................................................................................................... 224

    33. O revezamento das viagens, a ampliação dá área de trabalho e as

    complicações políticas no brasil. ............................................................. 234

    34. Quando despertou em mim a ideia de casamento e aconteceu o

    primeiro noivado. ...................................................................................... 238

    35. O trabalho envolvendo meus irmãos e as causas do rompimento

    do primeiro noivado. ................................................................................ 245

    36. Infausto falecimento do meu irmão David e a grande mudança da

    família. ......................................................................................................... 250

    37. O ajuntamento da família em São Paulo e os desdobramentos

    empresarial e familiar. ............................................................................... 256

    38. Nova e agradável aventura amorosa com importante influência em

    minha atividade empresarial e vida familiar. ......................................... 260

    39. Os preparativos para o noivado, o fortalecimento empresarial e a

    celebração do meu casamento. ................................................................ 265

    TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE ............................ 276

    40. Os desafios de nova grande mudança na vida. .............................. 277

    41. Nascimento dos nossos filhos, casamentos na família e outros

    marcantes acontecimentos no âmbito familiar e empresarial. ............ 280

    42. A saída do Francisco da sociedade na empresa e a viagem que fiz

    com a Marli para apresentar a minha terra natal .................................. 283

    43. A mudança do Ely para São Paulo e as complicações com a

    desapropriação dos prédios da empresa. ............................................... 286

    44. O nascimento da nossa filha, grandes mudanças na vida familiar e

    social, iniciação dos meus estudos formais e a efetiva desapropriação

    sofrida. ......................................................................................................... 289

    45. A mudança para Poços de Caldas, os empreendimentos na cidade,

    o retorno a São Paulo e o reinicio das atividades da empresa. ........... 296

    46. A emocionante viagem com meus pais para rever entes queridos

    no Ceará. ..................................................................................................... 299

    47. A retomada das atividades em São Paulo, a minha iniciação na

    política e a admissão de um sócio na empresa. .................................... 305

    48. A profunda tristeza pelo falecimento de minha mãe. ................... 310

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 10

    49. Importantes acontecimentos na família, na empresa e o resultado

    das eleições. ................................................................................................ 311

    50. Minhas atividades partidárias, os empregos públicos e marcantes

    acontecimentos no seio familiar. ............................................................. 321

    51. Venturas de elevada alegria e desventuras de profunda tristeza. . 335

    52. Acontecimentos enigmáticos e misteriosos .................................... 340

    53. Desfechos no âmbito da família e o encerramento deste trabalho

    ...................................................................................................................... 346

    Referências bibliográficas ......................................................................... 352

    Antonio Sampaio Teixeira 11

    Breve apresentação

    Minhas memórias e reflexões da vida, de Antonio

    Sampaio Teixeira, de agradável leitura, é obra que constitui

    uma real contribuição ao empreendedorismo brasileiro de

    pessoas que, por sua luta pessoal, construíram esta nação.

    De origem modesta – foi homem da roça, nos seus

    primeiros 14 anos de vida—, transformou-se num brilhante

    empresário, jornalista e advogado, com decisiva

    participação, no Estado de São Paulo, para conformar o

    perfil da 5ª Economia das Américas. São Paulo perde

    apenas para os EUA, Canadá, Brasil e México.

    A formação do povo brasileiro foi realizada com pessoas

    do porte de Antonio Sampaio Texeira, que, vencendo

    dificuldades, construiu família, gerou empregos e exerceu a

    cidadania.

    Sua história vale a pena ser lida, porque certamente

    servirá de exemplo para a juventude brasileira.

    Alegra-me, pois, fazer esta breve apresentação de seu

    livro autobiográfico.

    IVES GANDRA DA SILVA MARTINS,

    Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP,

    UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das

    Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME,

    Superior de Guerra - ESG e da Magistratura do Tribunal

    Regional Federal – 1ª Região; Professor Honorário das

    Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru)

    e Vasili Goldis (Romênia); Doutor Honoris Causa das

    Universidades de Craiova (Romênia) e da PUC-Paraná, e

    Catedrático da Universidade do Minho (Portugal); Presidente do

    Conselho Superior de Direito da FECOMERCIO - SP; Fundador

    e Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária –

    CEU-Escola de Direito/Instituto Internacional de Ciências

    Sociais - IICS.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 12

    Antonio Sampaio Teixeira 13

    Apreciação

    Minhas Memórias e Reflexões da Vida Desde o Início até

    Depois do Fim, não representa o exibicionismo fáctuo nem o

    desejo de destaque no cenário cotidiano ou literário, porém,

    um esboço inteligente da vida preguessa do autor.

    Tudo que foi escrito neste compêndio tem farto material

    informativo de sua vida literária, sua luta pela sobrevivência,

    ultrapassando barreiras, até chegar ao ápice desejado.

    Trata-se de um livro escrito contendo 355 páginas

    mostrando sua chegada ao mundo, o perfil histórico de sua

    trajetória e da experiência de vida que condignamente

    atravessou barreiras que deram para o infinito.

    Acrescento ainda, trata-se de um trabalho de fôlego do

    nobre escritor, sua história de vida aqui registrada e que

    muito servirá para a família recordar, não olvidando os

    acontecimentos vividos no passado. Da leitura e pesquisa

    levado a cabo pelo escritor, inteirou-se da preocupação e

    realçando diversos aspectos literários apresentados.

    Aproveito este espaço para parabenizar o autor (Dr.

    Antonio Sampaio Teixeira), fazendo uso de um pensamento

    próprio: "Somos o que pensamos, quando não pensamos

    não somos ninguém".

    Fraternalmente,

    Haroldo Felinto – Escritor, poeta e dicionarista.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 14

    Antonio Sampaio Teixeira 15

    PRIMEIRA PARTE

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 16

    Antonio Sampaio Teixeira 17

    1. Minha chegada a este mundo de meu Deus no

    espaço e no tempo e do que a antecedeu.

    inha chegada a este mundo de meu Deus pela

    M

    Galáxia Via Láctea e Sistema Solar, aconteceu no

    planeta terra; e neste, pelo Hemisfério Ocidental e

    América do Sul, no Brasil; onde, no estado do Ceará, no

    então município de Afonso Pena, hoje Acopiára; no

    antigo distrito de Bonsucesso, atual Trussu; no sítio Poço

    da Pedra, na casa dos meus pais, por desígnios de Deus,

    minha mãe me deu à luz. Foi no último século do 2º

    milênio do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo; no

    14º dia do 12º mês do 5º ano da 4ª década do Século.

    Assim, iniciou-se a história da minha vida. Antes,

    porém, de discorrer sobre o desenrolar dos

    acontecimentos dali em diante, trato aqui do que

    aconteceu durante os nove meses que antecederam ao

    meu nascimento.

    Tudo começou num ato do mais sublime amor entre

    meu pai e minha mãe. Num estado de êxtase de elevada

    e divina cumplicidade afetiva e espiritual da sexualidade,

    fui lançado juntamente com centenas de milhões de

    outros concorrentes ao encalço de um único e exclusivo

    destino. Predestinado a ser campeão, saí na maior

    carreira que era possível; às cotoveladas por todos os

    lados, de cabeça altaneira e balançando o rabinho,

    cheguei em primeiro lugar, alcançando o óvulo maduro

    de minha mãe e nos unindo por desígnios de Deus,

    encerramo-nos em mim.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 18

    Daí então, embora contemplado com os mecanismos e

    nutrientes envolvidos

    no

    meu

    crescimento

    e

    desenvolvimento intrauterino; enclausurado no ventre

    materno em absoluto isolamento do ambiente externo,

    na mais invisível escuridão e ensurdecedor silêncio;

    vivendo sem existir, sem saber onde estava, para onde ia

    e, tampouco, quando ia chegar, resignadamente

    vivenciava a eternidade.

    Chegado aquele dia inaugural da minha vida, no

    momento em que minha mãe me deu à luz, abri o maior

    berreiro1. Chorava me esgoelando quando a parteira,

    abrindo um pouquinho a porta do camarim, declarou

    para os presentes que aguardavam ansiosos a

    auspeciosa notícia: É macho! Naquele instante um soluço

    cortou o meu berreiro e não chorei mais.

    Embora tenha estabelecido como marco inicial de tudo

    aquele momento especial, nove meses antes do começo

    da história da minha vida, entendo, por evidências que

    me animam a pensar assim, que já existia desde sempre

    antes do advento da minha concepção no ventre

    materno.

    É de consenso a assertiva de que tudo que tem

    começo tem fim; assim, contrario sensu, tudo que não

    tem fim não tem começo. Sendo também voz comum

    que a nossa existência, no sentido amplo, não se acaba

    quando morremos; que, no que diz respeito à parte

    espiritual continuamos eternamente existindo, ou seja,

    não temos fim; logo, se não terei fim, não tive começo.

    1 Berreiro: Choro alto de criança

    Antonio Sampaio Teixeira 19

    Por isso, autorizo-me acreditar que existo desde sempre

    antes de nascer.

    "Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te

    conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e te

    constitui profeta entre as nações". −Jeremias 1:5.

    2. Do meu nascimento e das experiências vividas

    na primeira infância.

    em! Agora, menos fictícia e filosófica e mais intuitiva

    B e histórica, retomo aqui a minha história. O meu

    nascimento aconteceu ao amanhecer de um sábado

    especial, dia de festa em nossa família, pois era

    aniversário do meu pai e do meu avô materno. Os

    familiares, em grande número, estavam desde a

    madrugada, cuidando dos preparativos para o tradicional

    banquete de aniversário. Banquete aquele, que por

    minha causa ganhou dimensões muito especiais naquele

    dia.

    A história de cada um se caracteriza pelas suas

    diferenças; pelos percalços e venturas ao longo do

    tempo. No meu caso, não fugindo à regra, como todo

    mundo nasceu também nasci pequenininho. Porém,

    diferenças marcam a minha história desde as

    circunstâncias diante das quais hoje aguardam os

    nascituros; pois não encontrei os recursos tecnicológicos

    avançados das maternidades nos meios urbanos mais

    desenvolvidos e, tampouco, o glamour dos berços e

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 20

    equipamentos comuns nos tempos modernos. Não!

    Comigo aconteceu diferente; nasci numa casa simples da

    zona rural de uma das regiões mais pobres e atrasadas

    do Brasil; e o que me aguardava prontinha para onde me

    agasalhar, era uma redinha branca tecida no tear manual

    dos meus avós com algodão colhido nas roças da própria

    fazenda e ornada com lindas varandas de renda.

    Varandas de renda lindas produzidas pelas mãos

    caprichosas das minhas tias que, dedilhando dezenas de

    bilros2 sobre grandes almofadas, iam marcando com

    espinhos de mandacaru, ponto por ponto, àquela

    preciosidade; relíquea feita com todo carinho para o

    enxoval nupcial de minha mãe como aconchego ao

    primeiro filho e, depois, guardada com o maior zelo para

    recepcionar os de então, futuros caçulinhas.

    Por isso, certamente como lembrança dos dias que por

    ela passaram os meus irmãos mais velhos, já trazia

    marcas caracteristicas das artes que obraram. Sendo

    que, evidentemente, eu também produzi nela, marcas

    das primeiras artes que obrei.

    Tenho o sentimento de que a minha infância foi a

    maior graça que pode experimentar um ser humano.

    Mamãe muito amorosa, dedicada e prestimosa; papai

    sempre presente, provedor, protetor e disciplinador

    exemplar; meus imãos bons companheiros e modelo de

    fraternal amizade. E, aumentando mais a felicidade, um

    convívio harmonioso com avós, tias, tios e demais

    familiares. Tudo em meio à natureza esplendorosa.

    2 Bilros: Peças de madeira ou metal usadas para fazer

    rendas.

    Antonio Sampaio Teixeira 21

    Entes queridos da minha família em Trussu em 1938. Da

    esquerda para a direita, em pé na primeira fileira: Chico Felinto, Zé

    Felinto, Zé Lima, Raimundo Felinto, Cecílio Felinto, Maria Amélia,

    Etelvina (vovó), Lila, Telina e Dulcina. Segunda fileira: Maria Alice,

    Edwiges, Ivone, Nilza, Isaias, João Felinto, Valdetário e Antonio

    Sampaio Teixeira (eu). Terceira fileira: Ernani, Laécio, Horácio,

    David, Newton, Nair Teixeira, Gercina e Stela.

    Da minha madrinha Nilza, uma prima ainda

    adolescente que, por escolha dos meus pais, levou-me a

    Pia Batismal, fazendo-me ingressar na vida cristã, guardo

    também maravilhosas lembranças. Foi quem me ajudou a

    dar os primeiros passos; quem me ensinou a andar! Foi

    no dia do meu aniversário de primeiro ano de vida.

    Naquele dia ganhei um lindo par de sapatos de croche;

    sapatinhos feitos com muito amor pelas mãos habilidosas

    das minhas tias.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 22

    Orgulhoso e encantado com os sapatinhos nos pés e

    as mãos seguras pela carinhosa madrinha, saí dando os

    meus primeiros passos. E, diante dos olhares atentos de

    todos em uma torcida vibrante, andei volteando pela

    grande sala; e, aos poucos me soltando daquelas mãos

    protetoras, comecei a andar sozinho, inciando ali a minha

    longa caminhada e inaugurando também o meu primeiro

    tombo.

    O tempo foi passando, eu fui crescendo e a cada

    instante me deslumbrando com os encantos da vida;

    interagindo com as mais variadas criaturas dos reinos da

    natureza, em alegre entretenimento ao lado de entes

    queridos. Para mim, aquele mundo era o que bastava,

    pois, embora restrito aos arredores das casas dos meus

    pais e avós maternos, que eram vizinhas, passava a

    sensação de que alí havia tudo; de que não faltava nada.

    O vasto terreiro da varanda, que começava no batente

    da grande porta de entrada social da casa, terminava

    depois de uma enorme cajazeira. Uma árvore de tronco

    imponente com frondosa e exuberante copa; frutífera e

    abrigo de variadas espécimes de aves que ali se

    aninhavam e faziam a sua algazarra. Onde a gente se

    entretia jogando bola de meia recheada com palha de

    milho; jogando bila3 com capsulinhas de vidro ou de

    barro; ou brincando em galamartes4 e balanços de

    madeira rústica.

    3 Bila: (bolinha-de-gude). Bolinha de vidro ou de barro.

    4 Galamarte: Um dos brinquedos mais populares da zona

    rural no Nordeste. Peça comprida de madeira roliça rústica

    apoiada horizontalmente no centro por outra peça de madeira

    Antonio Sampaio Teixeira 23

    Ah! Não dá para esquecer. No tempo da safra de

    cajá, toda manhã o chão, embaixo da cajazeira,

    amanhecia coberto de saborosos cajás maduros. E para

    aumentar a colheita, outros eram derrubados com

    rebolos arremessados nos cachos de frutos madurinhos.

    Ali todo dia era dia de festa. Muitas vezes até os adultos

    também se divertiam jogando bola, peteca feita com

    palha de espigas de milho ou atirando pião e carrapetas5

    pelo chão; transformando aquele lugar em verdadeiro

    teatro das brincadeiras.

    De um lado do terreiro, vovó cultivava, bem guardado

    por cerca de pau a pique6, um lindo canteiro de flores de

    diferentes matizes e aromas; dentre as quais se

    destacavam rosas, boninas, camélias, bulgaris, açucenas,

    manacas, muçambês e outras. Um lugar aprazível e

    encantador, que dava prezer em ver e sentir o cheiro das

    flores!

    Bem ao lado da cancelinha de entrada, havia um pé

    de bredo (flamboiã) muito copado, com suas bagens

    verdes, sempre enfolhado e florido; e também uma

    encantadora primavera roxa, obras da natureza,

    certamente, dando as boas vindas a quantos o visitavam.

    No grande quintal contíguo ao terreiro da cozinha,

    tinha árvores frutíferas desde as mais comuns:

    mamoeiros, mangueiras, laranjeiras; até as de frutas

    fincada no chão, na vertical, sobre a qual ela gira levando uma

    pessoa em cada ponta.

    5 Carrapeta: tipo de pião pequeno, artesanal que para

    rodopiar não precisa de ponteiras.

    6 Pau-a-pique: cerca feita de madeira vertical lado a lado.

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 24

    típicas da região: pinha, umbu, pitomba7, cajarana,

    graviola, juá, trapiá, etc. Também havia naquele quintal,

    tão dadivoso, hortas com verduras e legumes variados;

    assim como de plantas e ervas medicinais as mais

    benfazejas: Mentruz, losma, cedreira, marcela, alecrim,

    magericão; enfim, ervas e menzinhas para todos os

    males: desde chás para dor de cotovelo e unguentos

    para sarar perebas, até emplastros para a cura de

    apendicite.

    Quintalzinho prodigioso! Dádiva de Deus constituía

    indústria e laboratório de alimentos e remédios!

    Felizmente fui criado sem conhecer remédio. Doenças

    graves, ali naquele tempo, eram raras. Pessoas morriam

    sem ficar doentes.

    O que ocorria, ocasionalmente, era coisa simples:

    dordolho, difruço, quebranto, frieira, impinja, potó,

    bicho-de-pé, verruga, piolho, etc. E tudo era curado com

    benzimento e menzinhas; aliás, piolho mamãe curava

    com aprazimento. Quando mamãe via algum filho

    coçando a cabeça, logo chamava e mandava deitar a

    cabeça sobre suas pernas e começava a abrir caminhos

    nos cabelos com os dedos, carinhosamente, dizendo: "se

    eu achar um piolho feche os olhos e trinque os dentes,

    porque vou matar com martelada".

    Qual quê! Quando encontrava um, ela matava com as

    unhas. A gente até ouvia o estalo do bichinho: tic.

    7 Pitomba: é o fruto da pitombeira (Talisia esculenta),

    árvore presente desde a Região Amazônica até a Mata Atlântica,

    do Nordeste do Brasil.

    Antonio Sampaio Teixeira 25

    Pertinho da nossa casa, banhando as nossas terras,

    desfrutávamos da prodigalidade do Rio Trussu. Aonde

    depois de uma íngreme ladeira, por uma escada natural

    de pedras sobre pedras, chegava-se ao Poço da Pedra.

    Grande represa construída por Deus e que, pela sua

    importância, deu nome àquela propriedade. Desse

    grande poço, quando cheio, precipitava-se enorme

    cachoeira, cujas águas caíam enchendo outro: o lendário

    Poço do Vaqueiro.

    "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a

    pena ter nascido". − Fernando Pessoa.

    3. A estória do lendário Poço do Vaqueiro e

    outros causos; a descoberta de lugares e a

    continuação das minhas primeiras experiências de

    vida.

    oço do Vaqueiro que ganhou este nome por conta de

    P uma tragédia ocorrida em tempos muito remotos e

    que deu causa a muitas estórias de assombração no

    local. Entre tais, esta que originou o seu próprio nome:

    "Há muito tempo passado, cuja data, de tão antiga, é

    desconhecida; numa noite de lua nova, escura e

    chuvosa, um vaqueiro montado em seu cavalo de campo,

    em alta velocidade ao encalço de um touro fugidio;

    seguido por seu cachorro amigo, precipitou-se pela

    íngreme ribanceira do poço, juntamente com os animais

    mencionados, morrendo todos afogados nas águas do rio

    Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 26

    em grande cheia; exceto o cachorro, que voltando para

    casa do seu dono, todo molhado e latindo muito, acordou

    o fazendeiro. O cachorro não parando de latir, atraiu o

    dono da casa que o seguiu na direção do rio. O cachorro

    quando se adiantava um pouco parava latindo, e ao ser

    alcançado, avançava novamente; e assim continuou até

    o local onde caíram todos deixando marcas dos cascos

    do cavalo e do touro".

    Nunca mais havendo notícia do vaqueiro nem dos

    animais, deu-se como certo que todos morreram

    afogados e foram

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