Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim
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Minhas Memórias E Reflexões Da Vida Desde Antes Do Início Até Depois Do Fim - Antonio Sampaio Teixeira
MINHAS MEMÓRIAS E
REFLEXÕES DA VIDA
DESDE
ANTES
DO
INÍCIO ATÉ DEPOIS DO
FIM...
Antonio Sampaio Teixeira
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 2
Antonio Sampaio Teixeira 3
Dedicatória:
A você que me premia lendo esta singela, porém, carisma
obra para mim, reiterando o agradecimento e a promessa,
especiais, alhures declarados.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 4
Antonio Sampaio Teixeira 5
AGRADECIMENTOS
Antes e acima de tudo, agradeço a Deus pela minha
existência e por me conceder inspiração e perseverança para tornar
realidade o meu sonho de escrever um livro.
Agradeço também, sensibilizado, aos que muito me
ajudaram na elaboração desta singela, porém, caríssima obra para
mim: Minha querida esposa, Marli, quem desde o primeiro
capítulo, dedicou-se com esmero à leitura corretiva e ao
oferecimento de críticas valiosas à efetivação do meu livro.
Vanessa Gualberto Teixeira Lima ― Psicóloga ―, minha
querida sobrinha, pois, ao ler o meu perfil no face book
,
incentivou-me com sua mensagem: "Está parecendo começo de
livro, tio!"
Débora Lima Aires Custódio ― Bacharela em Letras e
Editora de Livros ―, minha querida sobrinha, a quem apresentei
os rascunhos embrionários do livro e me indicou o norte a seguir
no meu intento.
Haroldo Felinto ― Professor e Escritor ―, estimado
primo, em quem me inspirei para escrever um livro.
Jóia Oliveira – Bióloga―, parente estimada, pela proveitosa
manifestação incentivadora.
Andrea Silva Araújo ― Pedagoga e Psicopedagoga ―,
prezada amiga, pela valiosa contribuição na estilística e melhoria
deste trabalho.
Amanda Guedes Pereira ― Advogada ―, estimada colega,
que se debruçou com afinco para a imprescindível correção e
devida adequação ortográfica atual do texto.
E, finalmente, ao meu querido sobrinho, Francisco José
Lima Felix ― Bacharel em Ciências Contábeis ―, porque foi
providencial na diagramação, ilustração e encaminhamento à
efetiva publicação deste livro.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 6
Antonio Sampaio Teixeira 7
SUMÁRIO:
Breve apresentação...................................................................................... 11
PRIMEIRA PARTE .................................................. 15
1. Minha chegada a este mundo de meu Deus no espaço e no tempo e
do que a antecedeu. ..................................................................................... 17
2. Do meu nascimento e das experiências vividas na primeira infância.
........................................................................................................................ 19
3. A estória
do lendário Poço do Vaqueiro e outros causos
; a
descoberta de lugares e a continuação das minhas primeiras
experiências de vida. ................................................................................... 25
4. A primeira mudança de sítio, o início da minha ocupação laboral e a
minha primeira traquinagem. ..................................................................... 30
5. Um incidente que me fez pensar que ia morrer e um medo que me
revelou em herói .......................................................................................... 35
6. As minhas andanças por Bonsucesso e o primeiro caminhão que
andou na vila ................................................................................................ 38
7. O que aconteceu com o filho de um vaqueiro e as consequências de
quem bulia com moça de família boa ...................................................... 43
8. Os tempos bons e o tempo das vacas magras
................................ 46
9. A minha primeira grande viagem e o meu primeiro contato com a
cidade. ............................................................................................................ 49
10. A volta dos tempos bons ..................................................................... 59
11. A história do Cru ou Cozinhado
.................................................... 64
12. Quando comecei a frequentar a escola e como o meu touro virou
vaca; a mudança de sítio e o vexame espetacular na baixa da égua. .... 78
13. A posse do nosso novo sítio e os trágicos acontecimentos no
âmbito familiar intercalados por Santas Missões na comunidade. ...... 82
14. Impactante mudança da vida rural para a vida urbana ................... 88
15. Como me tornei enfermeiro e as benesses e percalços da profissão
........................................................................................................................ 91
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 8
16. A descoberta do meu verdadeiro nome, a longa viagem de trem
com memoráveis eventos e a mudança para a capital. ........................ 103
17. A minha experiência de vida na capital, o meu desenvolvimento
social e a impossibilidade de seguir a carreira militar. ......................... 106
18. O meu último sonho acalentado, a minha volta ao sertão
revivendo o passado em meio a entes queridos, a origem da nossa
família e o seu entrelaçamento com outras na região. ......................... 112
19. O prosseguimento dos preparativos da minha mudança para São
Paulo. ........................................................................................................... 128
20. A grande aventura da longa viagem da mudança para São Paulo
com seus eventos e desarranjos
. ......................................................... 131
21. A minha chegada em São Paulo, as emocionantes despedidas entre
os colegas da viagem, o encontro com meu irmão e reflexões sobre a
grande aventura da mudança. .................................................................. 142
SEGUNDA PARTE .......... Erro! Indicador não definido.
22. A nova experiência de vida e a profissão de vendedor balconista
em São Paulo. ............................................................................................. 148
23. A primeira mudança de emprego, suas consequências e minha
integração em São Paulo. ......................................................................... 157
24. Minha primeira viagem na desafiante profissão de caixeiro viajante.
...................................................................................................................... 163
25. Uma breve parada em São Paulo e a realização da segunda viagem
como caixeiro viajante. ............................................................................. 181
26. A aventura venturosa como inspetor de vendas pelos estados do
nordeste e do meu reencontro com a família... .................................... 185
27. Fundação da minha primeira empresa em São Paulo e o retorno
como caixeiro viajante pelos Estados do Sul. ....................................... 203
28. O revezamento das viagens pelos estados do sul e do nordeste. 205
29. Uma aventura amorosa que fez mudar o meu itinerário e quase
terminar a minha história. ........................................................................ 211
30. A aquisição do meu Jeep Willys e a minha primeira viagem como
caixeiro-viajante motorizado. .................................................................. 215
31. O incidente que mudou o plano da minha primeira viagem de jipe
pelo nordeste. ............................................................................................. 217
Antonio Sampaio Teixeira 9
32. A grande aventura pelos estados do nordeste com o meu Jeep
Willys. .......................................................................................................... 224
33. O revezamento das viagens, a ampliação dá área de trabalho e as
complicações políticas no brasil. ............................................................. 234
34. Quando despertou em mim a ideia de casamento e aconteceu o
primeiro noivado. ...................................................................................... 238
35. O trabalho envolvendo meus irmãos e as causas do rompimento
do primeiro noivado. ................................................................................ 245
36. Infausto falecimento do meu irmão David e a grande mudança da
família. ......................................................................................................... 250
37. O ajuntamento da família em São Paulo e os desdobramentos
empresarial e familiar. ............................................................................... 256
38. Nova e agradável aventura amorosa com importante influência em
minha atividade empresarial e vida familiar. ......................................... 260
39. Os preparativos para o noivado, o fortalecimento empresarial e a
celebração do meu casamento. ................................................................ 265
TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE ............................ 276
40. Os desafios de nova grande mudança na vida. .............................. 277
41. Nascimento dos nossos filhos, casamentos na família e outros
marcantes acontecimentos no âmbito familiar e empresarial. ............ 280
42. A saída do Francisco da sociedade na empresa e a viagem que fiz
com a Marli para apresentar a minha terra natal .................................. 283
43. A mudança do Ely para São Paulo e as complicações com a
desapropriação dos prédios da empresa. ............................................... 286
44. O nascimento da nossa filha, grandes mudanças na vida familiar e
social, iniciação dos meus estudos formais e a efetiva desapropriação
sofrida. ......................................................................................................... 289
45. A mudança para Poços de Caldas, os empreendimentos na cidade,
o retorno a São Paulo e o reinicio das atividades da empresa. ........... 296
46. A emocionante viagem com meus pais para rever entes queridos
no Ceará. ..................................................................................................... 299
47. A retomada das atividades em São Paulo, a minha iniciação na
política e a admissão de um sócio na empresa. .................................... 305
48. A profunda tristeza pelo falecimento de minha mãe. ................... 310
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 10
49. Importantes acontecimentos na família, na empresa e o resultado
das eleições. ................................................................................................ 311
50. Minhas atividades partidárias, os empregos públicos e marcantes
acontecimentos no seio familiar. ............................................................. 321
51. Venturas de elevada alegria e desventuras de profunda tristeza. . 335
52. Acontecimentos enigmáticos e misteriosos .................................... 340
53. Desfechos no âmbito da família e o encerramento deste trabalho
...................................................................................................................... 346
Referências bibliográficas ......................................................................... 352
Antonio Sampaio Teixeira 11
Breve apresentação
Minhas memórias e reflexões da vida
, de Antonio
Sampaio Teixeira, de agradável leitura, é obra que constitui
uma real contribuição ao empreendedorismo brasileiro de
pessoas que, por sua luta pessoal, construíram esta nação.
De origem modesta – foi homem da roça, nos seus
primeiros 14 anos de vida—, transformou-se num brilhante
empresário, jornalista e advogado, com decisiva
participação, no Estado de São Paulo, para conformar o
perfil da 5ª Economia das Américas. São Paulo perde
apenas para os EUA, Canadá, Brasil e México.
A formação do povo brasileiro foi realizada com pessoas
do porte de Antonio Sampaio Texeira, que, vencendo
dificuldades, construiu família, gerou empregos e exerceu a
cidadania.
Sua história vale a pena ser lida, porque certamente
servirá de exemplo para a juventude brasileira.
Alegra-me, pois, fazer esta breve apresentação de seu
livro autobiográfico.
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS,
Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP,
UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das
Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME,
Superior de Guerra - ESG e da Magistratura do Tribunal
Regional Federal – 1ª Região; Professor Honorário das
Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru)
e Vasili Goldis (Romênia); Doutor Honoris Causa das
Universidades de Craiova (Romênia) e da PUC-Paraná, e
Catedrático da Universidade do Minho (Portugal); Presidente do
Conselho Superior de Direito da FECOMERCIO - SP; Fundador
e Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária –
CEU-Escola de Direito/Instituto Internacional de Ciências
Sociais - IICS.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 12
Antonio Sampaio Teixeira 13
Apreciação
Minhas Memórias e Reflexões da Vida Desde o Início até
Depois do Fim, não representa o exibicionismo fáctuo nem o
desejo de destaque no cenário cotidiano ou literário, porém,
um esboço inteligente da vida preguessa do autor.
Tudo que foi escrito neste compêndio tem farto material
informativo de sua vida literária, sua luta pela sobrevivência,
ultrapassando barreiras, até chegar ao ápice desejado.
Trata-se de um livro escrito contendo 355 páginas
mostrando sua chegada ao mundo, o perfil histórico de sua
trajetória e da experiência de vida que condignamente
atravessou barreiras que deram para o infinito.
Acrescento ainda, trata-se de um trabalho de fôlego do
nobre escritor, sua história de vida aqui registrada e que
muito servirá para a família recordar, não olvidando os
acontecimentos vividos no passado. Da leitura e pesquisa
levado a cabo pelo escritor, inteirou-se da preocupação e
realçando diversos aspectos literários apresentados.
Aproveito este espaço para parabenizar o autor (Dr.
Antonio Sampaio Teixeira), fazendo uso de um pensamento
próprio: "Somos o que pensamos, quando não pensamos
não somos ninguém".
Fraternalmente,
Haroldo Felinto – Escritor, poeta e dicionarista.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 14
Antonio Sampaio Teixeira 15
PRIMEIRA PARTE
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 16
Antonio Sampaio Teixeira 17
1. Minha chegada a este mundo de meu Deus no
espaço e no tempo e do que a antecedeu.
inha chegada a este mundo de meu Deus pela
M
Galáxia Via Láctea e Sistema Solar, aconteceu no
planeta terra; e neste, pelo Hemisfério Ocidental e
América do Sul, no Brasil; onde, no estado do Ceará, no
então município de Afonso Pena, hoje Acopiára; no
antigo distrito de Bonsucesso, atual Trussu; no sítio Poço
da Pedra, na casa dos meus pais, por desígnios de Deus,
minha mãe me deu à luz. Foi no último século do 2º
milênio do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo; no
14º dia do 12º mês do 5º ano da 4ª década do Século.
Assim, iniciou-se a história da minha vida. Antes,
porém, de discorrer sobre o desenrolar dos
acontecimentos dali em diante, trato aqui do que
aconteceu durante os nove meses que antecederam ao
meu nascimento.
Tudo começou num ato do mais sublime amor entre
meu pai e minha mãe. Num estado de êxtase de elevada
e divina cumplicidade afetiva e espiritual da sexualidade,
fui lançado juntamente com centenas de milhões de
outros concorrentes ao encalço de um único e exclusivo
destino. Predestinado a ser campeão, saí na maior
carreira que era possível; às cotoveladas por todos os
lados, de cabeça altaneira e balançando o rabinho,
cheguei em primeiro lugar, alcançando o óvulo maduro
de minha mãe e nos unindo por desígnios de Deus,
encerramo-nos em mim.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 18
Daí então, embora contemplado com os mecanismos e
nutrientes envolvidos
no
meu
crescimento
e
desenvolvimento intrauterino; enclausurado no ventre
materno em absoluto isolamento do ambiente externo,
na mais invisível escuridão e ensurdecedor silêncio;
vivendo sem existir, sem saber onde estava, para onde ia
e, tampouco, quando ia chegar, resignadamente
vivenciava a eternidade.
Chegado aquele dia inaugural da minha vida, no
momento em que minha mãe me deu à luz, abri o maior
berreiro1. Chorava me esgoelando quando a parteira,
abrindo um pouquinho a porta do camarim, declarou
para os presentes que aguardavam ansiosos a
auspeciosa notícia: É macho! Naquele instante um soluço
cortou o meu berreiro e não chorei mais.
Embora tenha estabelecido como marco inicial de tudo
aquele momento especial, nove meses antes do começo
da história da minha vida, entendo, por evidências que
me animam a pensar assim, que já existia desde sempre
antes do advento da minha concepção no ventre
materno.
É de consenso a assertiva de que tudo que tem
começo tem fim; assim, contrario sensu
, tudo que não
tem fim não tem começo. Sendo também voz comum
que a nossa existência, no sentido amplo, não se acaba
quando morremos; que, no que diz respeito à parte
espiritual continuamos eternamente existindo, ou seja,
não temos fim; logo, se não terei fim, não tive começo.
1 Berreiro: Choro alto de criança
Antonio Sampaio Teixeira 19
Por isso, autorizo-me acreditar que existo desde sempre
antes de nascer.
"Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e te
constitui profeta entre as nações". −Jeremias 1:5.
2. Do meu nascimento e das experiências vividas
na primeira infância.
em! Agora, menos fictícia e filosófica e mais intuitiva
B e histórica, retomo aqui a minha história. O meu
nascimento aconteceu ao amanhecer de um sábado
especial, dia de festa em nossa família, pois era
aniversário do meu pai e do meu avô materno. Os
familiares, em grande número, estavam desde a
madrugada, cuidando dos preparativos para o tradicional
banquete de aniversário. Banquete aquele, que por
minha causa ganhou dimensões muito especiais naquele
dia.
A história de cada um se caracteriza pelas suas
diferenças; pelos percalços e venturas ao longo do
tempo. No meu caso, não fugindo à regra, como todo
mundo nasceu também nasci pequenininho. Porém,
diferenças marcam a minha história desde as
circunstâncias diante das quais hoje aguardam os
nascituros; pois não encontrei os recursos tecnicológicos
avançados das maternidades nos meios urbanos mais
desenvolvidos e, tampouco, o glamour dos berços e
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 20
equipamentos comuns nos tempos modernos. Não!
Comigo aconteceu diferente; nasci numa casa simples da
zona rural de uma das regiões mais pobres e atrasadas
do Brasil; e o que me aguardava prontinha para onde me
agasalhar, era uma redinha branca tecida no tear manual
dos meus avós com algodão colhido nas roças da própria
fazenda e ornada com lindas varandas de renda.
Varandas de renda lindas produzidas pelas mãos
caprichosas das minhas tias que, dedilhando dezenas de
bilros2 sobre grandes almofadas, iam marcando com
espinhos de mandacaru, ponto por ponto, àquela
preciosidade; relíquea feita com todo carinho para o
enxoval nupcial de minha mãe como aconchego ao
primeiro filho e, depois, guardada com o maior zelo para
recepcionar os de então, futuros caçulinhas.
Por isso, certamente como lembrança dos dias que por
ela passaram os meus irmãos mais velhos, já trazia
marcas caracteristicas das artes que obraram. Sendo
que, evidentemente, eu também produzi nela, marcas
das primeiras artes
que obrei.
Tenho o sentimento de que a minha infância foi a
maior graça que pode experimentar um ser humano.
Mamãe muito amorosa, dedicada e prestimosa; papai
sempre presente, provedor, protetor e disciplinador
exemplar; meus imãos bons companheiros e modelo de
fraternal amizade. E, aumentando mais a felicidade, um
convívio harmonioso com avós, tias, tios e demais
familiares. Tudo em meio à natureza esplendorosa.
2 Bilros: Peças de madeira ou metal usadas para fazer
rendas.
Antonio Sampaio Teixeira 21
Entes queridos da minha família em Trussu em 1938. Da
esquerda para a direita, em pé na primeira fileira: Chico Felinto, Zé
Felinto, Zé Lima, Raimundo Felinto, Cecílio Felinto, Maria Amélia,
Etelvina (vovó), Lila, Telina e Dulcina. Segunda fileira: Maria Alice,
Edwiges, Ivone, Nilza, Isaias, João Felinto, Valdetário e Antonio
Sampaio Teixeira (eu). Terceira fileira: Ernani, Laécio, Horácio,
David, Newton, Nair Teixeira, Gercina e Stela.
Da minha madrinha Nilza, uma prima ainda
adolescente que, por escolha dos meus pais, levou-me a
Pia Batismal, fazendo-me ingressar na vida cristã, guardo
também maravilhosas lembranças. Foi quem me ajudou a
dar os primeiros passos; quem me ensinou a andar! Foi
no dia do meu aniversário de primeiro ano de vida.
Naquele dia ganhei um lindo par de sapatos de croche;
sapatinhos feitos com muito amor pelas mãos habilidosas
das minhas tias.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 22
Orgulhoso e encantado com os sapatinhos nos pés e
as mãos seguras pela carinhosa madrinha, saí dando os
meus primeiros passos. E, diante dos olhares atentos de
todos em uma torcida vibrante, andei volteando pela
grande sala; e, aos poucos me soltando daquelas mãos
protetoras, comecei a andar sozinho, inciando ali a minha
longa caminhada e inaugurando também o meu primeiro
tombo.
O tempo foi passando, eu fui crescendo e a cada
instante me deslumbrando com os encantos da vida;
interagindo com as mais variadas criaturas dos reinos da
natureza, em alegre entretenimento ao lado de entes
queridos. Para mim, aquele mundo era o que bastava,
pois, embora restrito aos arredores das casas dos meus
pais e avós maternos, que eram vizinhas, passava a
sensação de que alí havia tudo; de que não faltava nada.
O vasto terreiro da varanda, que começava no batente
da grande porta de entrada social da casa, terminava
depois de uma enorme cajazeira. Uma árvore de tronco
imponente com frondosa e exuberante copa; frutífera e
abrigo de variadas espécimes de aves que ali se
aninhavam e faziam a sua algazarra. Onde a gente se
entretia jogando bola de meia recheada com palha de
milho; jogando bila3 com capsulinhas de vidro ou de
barro; ou brincando em galamartes4 e balanços de
madeira rústica.
3 Bila: (bolinha-de-gude). Bolinha de vidro ou de barro.
4 Galamarte: Um dos brinquedos mais populares da zona
rural no Nordeste. Peça comprida de madeira roliça rústica
apoiada horizontalmente no centro por outra peça de madeira
Antonio Sampaio Teixeira 23
Ah! Não dá para esquecer. No tempo da safra de
cajá, toda manhã o chão, embaixo da cajazeira,
amanhecia coberto de saborosos cajás maduros. E para
aumentar a colheita, outros eram derrubados com
rebolos arremessados nos cachos de frutos madurinhos.
Ali todo dia era dia de festa. Muitas vezes até os adultos
também se divertiam jogando bola, peteca feita com
palha de espigas de milho ou atirando pião e carrapetas5
pelo chão; transformando aquele lugar em verdadeiro
teatro das brincadeiras
.
De um lado do terreiro, vovó cultivava, bem guardado
por cerca de pau a pique6, um lindo canteiro de flores de
diferentes matizes e aromas; dentre as quais se
destacavam rosas, boninas, camélias, bulgaris, açucenas,
manacas, muçambês e outras. Um lugar aprazível e
encantador, que dava prezer em ver e sentir o cheiro das
flores!
Bem ao lado da cancelinha de entrada, havia um pé
de bredo
(flamboiã) muito copado, com suas bagens
verdes, sempre enfolhado e florido; e também uma
encantadora primavera roxa, obras da natureza,
certamente, dando as boas vindas a quantos o visitavam.
No grande quintal contíguo ao terreiro da cozinha,
tinha árvores frutíferas desde as mais comuns:
mamoeiros, mangueiras, laranjeiras; até as de frutas
fincada no chão, na vertical, sobre a qual ela gira levando uma
pessoa em cada ponta.
5 Carrapeta: tipo de pião pequeno, artesanal que para
rodopiar não precisa de ponteiras.
6 Pau-a-pique: cerca feita de madeira vertical lado a lado.
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 24
típicas da região: pinha, umbu, pitomba7, cajarana,
graviola, juá, trapiá, etc. Também havia naquele quintal,
tão dadivoso, hortas com verduras e legumes variados;
assim como de plantas e ervas medicinais as mais
benfazejas: Mentruz, losma, cedreira, marcela, alecrim,
magericão; enfim, ervas e menzinhas para todos os
males: desde chás para dor de cotovelo
e unguentos
para sarar perebas, até emplastros para a cura de
apendicite.
Quintalzinho prodigioso! Dádiva de Deus constituía
indústria e laboratório de alimentos e remédios!
Felizmente fui criado sem conhecer remédio. Doenças
graves, ali naquele tempo, eram raras. Pessoas morriam
sem ficar doentes.
O que ocorria, ocasionalmente, era coisa simples:
dordolho, difruço, quebranto, frieira, impinja, potó,
bicho-de-pé, verruga, piolho, etc. E tudo era curado com
benzimento e menzinhas; aliás, piolho mamãe curava
com aprazimento. Quando mamãe via algum filho
coçando a cabeça, logo chamava e mandava deitar a
cabeça sobre suas pernas e começava a abrir caminhos
nos cabelos com os dedos, carinhosamente, dizendo: "se
eu achar um piolho feche os olhos e trinque os dentes,
porque vou matar com martelada".
Qual quê! Quando encontrava um, ela matava com as
unhas. A gente até ouvia o estalo do bichinho: tic
.
7 Pitomba: é o fruto da pitombeira (Talisia esculenta),
árvore presente desde a Região Amazônica até a Mata Atlântica,
do Nordeste do Brasil.
Antonio Sampaio Teixeira 25
Pertinho da nossa casa, banhando as nossas terras,
desfrutávamos da prodigalidade do Rio Trussu. Aonde
depois de uma íngreme ladeira, por uma escada natural
de pedras sobre pedras, chegava-se ao Poço da Pedra.
Grande represa construída por Deus e que, pela sua
importância, deu nome àquela propriedade. Desse
grande poço, quando cheio, precipitava-se enorme
cachoeira, cujas águas caíam enchendo outro: o lendário
Poço do Vaqueiro.
"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a
pena ter nascido". − Fernando Pessoa.
3. A estória
do lendário Poço do Vaqueiro e
outros causos
; a descoberta de lugares e a
continuação das minhas primeiras experiências de
vida.
oço do Vaqueiro que ganhou este nome por conta de
P uma tragédia ocorrida em tempos muito remotos e
que deu causa a muitas estórias
de assombração no
local. Entre tais, esta que originou o seu próprio nome:
"Há muito tempo passado, cuja data, de tão antiga, é
desconhecida; numa noite de lua nova, escura e
chuvosa, um vaqueiro montado em seu cavalo de campo,
em alta velocidade ao encalço de um touro fugidio;
seguido por seu cachorro amigo, precipitou-se pela
íngreme ribanceira do poço, juntamente com os animais
mencionados, morrendo todos afogados nas águas do rio
Minhas memórias e reflexões da vida desde antes do início até depois do fim 26
em grande cheia; exceto o cachorro, que voltando para
casa do seu dono, todo molhado e latindo muito, acordou
o fazendeiro. O cachorro não parando de latir, atraiu o
dono da casa que o seguiu na direção do rio. O cachorro
quando se adiantava um pouco parava latindo, e ao ser
alcançado, avançava novamente; e assim continuou até
o local onde caíram todos deixando marcas dos cascos
do cavalo e do touro".
Nunca mais havendo notícia do vaqueiro nem dos
animais, deu-se como certo que todos morreram
afogados e foram