Mil Dibujos - Volume Um
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Mil Dibujos - Volume Um - Fausto Braga - Amoc
Mil DIBUJOS
ANDRE MANOEL
Volume I
CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
___________________________________________
M00
Carvalho, André Manoel de Oliveira, 1993 -
Mil dibujos. 1ª. Edição. Rio de Janeiro.
Clube de autores, 2017. Volume 1
622 p. 14, 8 x 21, 0
ISBN 978-85-000-0000-X
CDD-M869. 1
____________________________________________
Índice para catálogo sistemático:
1. Artes plásticas. 2. Desenho. I. Título.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida - em
qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. - apropriada ou estocada
em sistema de banco de dados, sítios eletrônicos ou aplicativos, sem expressa autorização do autor.
2
Para meus pais, Ony Braga de Carvalho e Marlene Alves de
Oliveira Carvalho, professores de sucessivas gerações,
por tudo e pelo o quanto sempre fizeram, desde o seu
nascimento, pela educação de mais este tesouro em nossa
família, André Manoel de Oliveira Carvalho.
Para minhas irmãs, Paula, Flávia e Luciana, pelo apoio
constante, o trato harmônico e os laços de amizade com o
escritor e o desenhista.
Para a irmã Umbelina, do Colégio Nossa Senhora da
Ressureição, que desde os primeiros anos instruiu-nos à
convivência pacífica, à seriedade e constância nos estudos,
caminhos esses traduzidos nas diretrizes da Família
Ressureição: "Conduzir a pessoa através de processos de
transformação de seu interior para torná-la senhora de si,
autônoma e feliz".
Outubro de 2017
Fausto José de Oliveira Carvalho
3
4
Explicação
André começou a riscar a lápis com pouco mais de um ano, antes de
falar e andar, no sobrado da Tijuca, para onde havíamos nos mudado da Rua
Maria Angélica; no Jardim Botânico. Fornecemos-lhe o basicão, folhas de papel e
lápis de cera. Comprei-lhe o livro em branco, encadernado de tecido marrom;
quinhentas páginas numeradas; na intenção de guardar desenhos.
Com o andar do tempo notei que ele, como qualquer criança da mesma
idade, segurava lápis de cera com a mão toda, forçava o papel, quebrava lápis,
amassava folha. Notando a dificuldade, deitei no chão com ele algumas vezes e
mostrei-lhe como segurar lápis como adulto, com os primeiros dedos e o polegar
em posição de opositor. Não demorou quê, insistindo neste detalhe, pegou jeito
e daí em diante não quebrava lápis; não amassava folhas.
Costumava rabiscar à noite, quando eu chegava do serviço. A rotina dos
primeiros anos era chegar à noite do trabalho, tomar banho e jantar. Depois da
novela mamãe me entregava ele de banho tomado e bem alimentado de peito,
para eu ficar um pouco com ele, dar um descanso a ela e colocar para dormir.
No segundo andar do sobrado havia um salão enorme, vazio, taqueado,
com pé direito de quatro metros e vinte, amplo, calmo e espaçoso. Na janela da
frente avistava-se uma luz vermelha, de advertência aos aviões, nas montanhas
da Tijuca. Ficávamos ali fazendo cera, esperando sono chegar; ele engatinhando
e fazendo arte no livro de desenhos; quando dava soninho era contar história
inventada, porque de histórias americanas já a mamãe se incumbia de entulhar,
e ninar de costas para a janela para que ele pudesse ficar olhando a luz vermelha
ao longe na montanha, piscando até adormecer com os anjinhos, como se diz.
5
Os primeiros garranchos com tentativas de ilustrar rosto humano foram
escarafunchados com um ano e alguns meses. Mostrei-lhe, fazendo um círculo
com olhos, nariz e boca; e ele entendeu: Porque criança pequena que ainda não
fala, quando entende, costuma sorrir da alegria do entendimento. De certa
forma, estes detalhes se veem na evolução dos desenhos da figura humana.
Cabeça, rosto, olhares, rouparia, foram olhares centrais e assim evoluíram ao
longo de toda a produção posterior. Desenhos com temática repetida quando na
primeira infância são escassos, cones de sorvete, peixes, poucos carros, poucas
casas e, curiosamente, predileção por sapatos e mais sapatos, cabelos, vestidos,
casais, famílias, letras, números e personagens dos filmes infantis.
Hoje tenho certeza de que graça à convivência harmônica nos primeiros
anos — às histórias amalucadas de dormir; muita vez inventadas e adaptadas ao
sabor do momento; às músicas criadas ou da moda, aos desenhos, versinhos,
brinquedos; à calmaria d’um pai empregado, ensinando Tesouro a desenhar;
cantar, dançar e celebrar a alegria da vida — devemos a garantia de que n’alma
esta habitará o espaço mnemônico das amizades francas que se sobrepõem às
distâncias e formam o caráter.
O tempo foi passando e os desenhos foram aumentando de acordo com
o dia-a-dia. Com três para quatro anos estava a escola e curso de desenho do
Daniel Azulay na Tijuca. Mais à frente, aos seis anos e já morando comigo no
Recreio dos Bandeirantes, ingressou no curso; também e então, de franquia do
Daniel Azulay, na Avenida das Américas; e basicamente dividia o tempo entre
escola, afazeres escolares, curso de desenho e social no condomínio, para onde
havíamos nos mudado. André sempre foi adulto e cauteloso com dinheiro, fazia
panfleto, dava aula de matemática aos de recuperação no condomínio e sempre
mantinha economia para gastos extras com passeios, comida fora, figurinhas e
alguma roupa. Também me dava presentes de dia dos pais, etc.
Findo o ensino médio, ingressou na faculdade de Design com meia bolsa.
Antes pouco da formatura viajou com bolsa integral do governo para estágio
anual nas pradarias do Tio Sam; formou-se este ano com nota máxima da banca.
Bem empregado, paga as suas contas, não vê televisão, gosta de ler em inglês,
gosta da horta aqui de casa, de gastronomia, de cinema, está juntando dinheiro
para novas viagens, com saúde e feliz, benza-deus!
6
É como eu sempre digo: Tudo começa com uma boa ideia, lápis e papel.
Ou graveto, como na fantástica história de O Porquinho desenhista. Naquela fase
que contamos estórias com vozes tenebrosas de monstros, gargalhadas de bruxa
e onomatopeias fantasmagóricas, uma das originais