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Além das Fronteiras do Mapa: 11 Exploradores Que Expandiram os Limites do Mundo Conhecido
Além das Fronteiras do Mapa: 11 Exploradores Que Expandiram os Limites do Mundo Conhecido
Além das Fronteiras do Mapa: 11 Exploradores Que Expandiram os Limites do Mundo Conhecido
E-book280 páginas4 horas

Além das Fronteiras do Mapa: 11 Exploradores Que Expandiram os Limites do Mundo Conhecido

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Sobre este e-book

Do aclamado autor do livro Os Maiores Generais da História, esta nova e emocionante obra narra os maiores exploradores da história e como suas descobertas formaram o mundo moderno. 

Seja Rabban Bar Sauma, o monge chinês do século 13 enviado pelos mongóis ao Ocidente para formar uma aliança militar contra o Islã; Marco Polo, que abriu uma janela do Oriente à Europa; ou o capitão James Cook, cujas viagens marítimas criaram a economia global do século 21, cada um desses exploradores tiveram um impacto indelével na sociedade moderna. 

Este livro abrange os 11 maiores exploradores da história. Alguns viajaram com fins religiosos - caso de Ibn Battuta, que viajou do norte da África à Indonésia em 1300, visitando os locais de peregrinação islâmica entre e se tornando conselheiro de mais de 30 chefes de Estado. Outros viajaram com fins lucrativos, como Fernão de Magalhães, que queria consolidar a participação da Espanha no comércio de especiarias. Houve quem viajasse pela pura emoção da aventura – caso do explorador vitoriano Richard Francis Burton, que aprendeu 29 línguas, foi disfarçado como muçulmano em uma peregrinação a Meca e escreveu 50 livros sobre temas que vão desde a tradução do Kama Sutra até um manual de exercícios para baioneta. E ainda há aqueles que viajaram pelo amor à descoberta, como Ernest Shackleton, que liderou duas dezenas de homens até os confins do mundo, na tentativa de atravessar a Antártida a pé. 

Seja qual for o motivo, esses exploradores ainda hoje nos inspiram a ultrapassar os limites da realização humana – e descobrir algo sobre nós mesmos no processo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de set. de 2015
ISBN9781507107010
Além das Fronteiras do Mapa: 11 Exploradores Que Expandiram os Limites do Mundo Conhecido

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    Além das Fronteiras do Mapa - Michael Rank

    Índice

    ––––––––

    Introdução: Até os Confins da Terra

    1. Rabban Bar Sauma (1220-1294): A Europa Medieval Vista Por Olhos Chineses

    2. Marco Polo (1254-1324): Abrindo as Portas Para o Oriente

    3. Ibn Battuta (1304-1368): O Eterno Peregrino

    4. Almirante Ming Zheng He (1371-1433): O Mestre dos Mares na Época em Que a China Dominava os Oceanos

    5. Hernán Cortés (1485-1547): Conquistador, Motineiro e Dominador dos Astecas

    6. Fernão de Magalhães (1480-1521): O Capitão da Aterradora Viagem Pelos Mares Sem Fim

    7. Capitão James Cook (1728-1797): O Poseidon da Inglaterra

    8. Sir Richard Francis Burton (1821-1890): Espião, Soldado, Linguista, Espadachim e Peregrino Secreto a Meca

    9. Sir Henry M. Stanley (1841-1904): Dr. Livingstone, eu presumo?

    10. Ernest Shackleton (1874-1922): A Marcha Congelada Até o Centro da Terra

    11. Neil Armstrong (1930-2012): De Piloto de Testes a Ponte Entre Dois Mundos

    Conclusão Exploração em um Mundo Sem Fronteiras

    Bibliografia

    Entre em Contato Com Michael

    Sobre o Autor

    Introdução: Até os Confins da Terra

    ––––––––

    Ben Saunders sabia que encontraria vários problemas ao embarcar em uma jornada através do Polo Norte em 2004, sozinho e sem apoio. A perpétua escuridão, temperaturas atingindo -45º C e o risco de cair no mar gelado deixaram a viagem angustiante. Esse último era particularmente uma ameaça muito real; as águas agitadas do Oceano Ártico quebravam constantemente na superfície. À noite, ele dormia em uma tenda polar, e apenas alguns centímetros de gelo o separavam das profundezas infinitas.

    Porém, entre os piores desafios, e a questão sobre a qual mais tinha dúvidas a respeito da viagem, era o que fazer quando a natureza exigia dele, pois a exposição da pele por um minuto que fosse poderia congelar a área em questão. Era algo que nenhum homem gostaria de perder.

    Se faz muito frio ou muito vento, os dedos ficam dormentes. Você mete a mão lá dentro e espera segurar a coisa certa, porque não dá para sentir nada. Dez por cento das vezes [você] percebe, na verdade, que não está segurando nada. Aí você faz xixi na perna, que começa a congelar, e então fecha o zíper antes que comece a ficar muito frio. Não é tão angustiante quanto parece, mas tem que ser muito rápido.

    Saunders enfrentou desafios para se aliviar em temperaturas abaixo de zero, mas procurou descobrir mais sobre si mesmo do que o aliviar a bexiga em condições polares enquanto se preparava para a viagem. Quando partiu de uma pequena estação meteorológica na costa norte da Sibéria, seu objetivo era superar os limites da resistência e conquistar um ambiente totalmente inóspito para o homem.

    Parecia que aquele lugar não me queria lá, disse ele em entrevista à NPR em 2013. Muitas vezes me imaginava... como uma dessas imagens térmicas infravermelhas em uma calota de gelo gigante. E [é] azul escuro, sabe, muito mais do que congelado. E então aparece um pequeno pontinho de calor. Eu tinha consciência de que eu era aquele grãozinho de calor, e de como aquilo era precioso.

    O propósito da viagem era atravessar de esqui a capa congelada do Polo Norte, feito só realizado por outras duas pessoas em toda a história. Ele então atravessaria o conjunto de ilhas que compunham o extremo norte polar do Canadá e ponto de entrada para o continente norte-americano. Em março de 2004, ele foi deixado por um helicóptero russo Mil Mi-8 no Cabo Arktichevsky, na Sibéria, e partiu em direção ao amanhecer ártico com apenas os esquis, um telefone via satélite e uma arma – para afastar ursos polares hostis.

    A jornada durou 72 dias, sem contato com nenhum outro ser humano, trafegando sobre a superfície congelada do oceano, arrastando 180 quilos de comida e materiais a uma temperatura média -35º C e ventanias de até -55º C. Durante grande parte da exploração, ele era o único ser humano dentro em uma área de oito milhões de quilômetros quadrados. No dia 14 de maio, Saunders avistou civilização, acenando para um piloto que o pegou no lado canadense do Oceano Ártico em um avião de esqui, modelo Kenn Borek Air Twin Otter.

    Saunders dedica essa viagem em memória a George Mallory, alpinista inglês que participou das três primeiras expedições britânicas ao topo do Monte Everest em 1920. Mallory e seu parceiro de escalada, Andrew Irvine, desapareceram em 1924, na tentativa de alcançar a primeira ascensão ao pico. Os restos mortais de Mallory só foram descobertos 75 anos depois, em 1999, por uma expedição. Ainda não se sabe se ele conquistou a montanha ou morreu tentando.

    Mallory pode ou não ter alcançado seu objetivo, mas é uma espécie de santo padroeiro dos exploradores modernos. Ele acreditava que uma viagem tão perigosa não tinha que ser justificada por um propósito mais elevado, como descoberta científica, inteligência militar ou informações para a expansão de uma nação, como foi o caso da Expedição Lewis e Clark entre 1804 e 1806. Para os críticos, ele disse que havia algo no homem que respondia ao desafio da montanha. É um desafio que chama por nós e atinge uma parte profunda do nosso ser, que deseja superar os mais difíceis obstáculos. Em suma, ele acreditava na exploração pelo amor em explorar.

    Mallory já foi imortalizado de várias maneiras. Um alto pico em Sierra Nevada, na Califórnia, foi batizado de Mount Mallory. Já sido tema de vários filmes, incluindo o filme de 1991 chamado Galahad do Everest. O ator britânico Benedict Cumberbatch está escalado para estrelar um filme descrevendo sua fatídica subida ao Everest.

    O legado de Mallory inspirou ainda mais Saunders a empreender uma expedição muito mais perigosa ao Polo Sul após sua bem sucedida travessia pelo Polo Norte. Saunders desejava seguir os passos do Capitão Robert Falcon Scott, que, em janeiro de 1912, tentou caminhar da costa da Antártida ao Polo Sul – e voltar. Ele liderou a expedição Terra Nova, uma viagem no fim na Idade de Ouro da exploração, entre o fim do século XIX e início do século XX, quando equipes de cientistas e exploradores procuravam descobrir o que restava dos cantos mais escondidos do mundo. Scott e seus quatro homens puxavam um trenó cheio de suprimentos para o Polo Sul em uma mísera draga pelo gelo, pelos confins do mundo, a fim de serem os primeiros a chegar ao polo. Foram batidos um mês antes por uma equipe de noruegueses, que usaram cães de trenó para transportar suas mercadorias. Os cinco retornaram à costa decepcionados, mas, devido às condições extremas e às dificuldades encontradas ao longo do caminho, todos morreram 18 km antes do ponto de chegada.

    Saunders estava determinado a se tornar o primeiro homem a caminhar da costa da Antártida ao Polo Sul e voltar, apesar de grande parte do continente já ter sido mapeada. No início de fevereiro 2014, ele e seu coexplorador, Tarka L'Herpiniere, terminaram uma jornada 2.900 km e 105 dias, sem nenhum apoio, desde a costa da Antártida até o Polo Sul, ida e volta. Ele seguiu diretamente os passos da expedição Scott e viajou da mesma maneira, transportando cargas de até 180 quilos em cada trenó. Ele também compartilhou a experiência emocional da expedição de Scott por estar constantemente com frio, fraco e cansado. Saunders notou, nos últimos dias da viagem, que a verdade é que os dias estão... infernais agora, e é tudo o que podemos fazer para nos manter em movimento, lutando contra o desejo cada vez mais forte de parar e descansar (ou desistir de vez). O gozo destes próximos dias, temo, só vêm em retrospectiva.

    Porém, alcançar os cantos mais distantes do globo não requer tal exploração dos limites humanos. Hoje, navios de cruzeiro trazem até os mais sedentários com facilidade à Antártida. Pacotes de férias permitem que turistas voem sobre as costas e fotografem paisagens deslumbrantes. Documentários mostram pinguins marchando, para o deleite de turistas mais preguiçosos, que preferem ficar em uma sala aquecida com um balde enorme de pipoca.

    Então, por que fazer essa viagem? Qual é o propósito da exploração no século XXI, quando tanto do globo já foi descoberto, mapeado, fotografado e catalogado? O que se pode ganhar realizando uma viagem tão perigosa se não há mais novas informações a serem obtidas?

    A fim de compreender as motivações que obrigam os exploradores a arriscarem mortamente para descobrir novas terras, este livro analisa a vida e as jornadas dos 11 maiores exploradores da história – alguns que exploraram puramente por uma questão de aventura e outros que, desde a Idade Média, pisaram em terras desconhecidas, quando pouco do mundo era mapeado, e muito menos compreendido. Ele analisará as vidas e circunstâncias individuais de cada um, e o que os inspirou a viajar. Fernão de Magalhães viu uma oportunidade para transformar Portugal de um pequeno Estado costeiro a uma potência, assumindo o controle do comércio das especiarias mundiais no século XVI, com sua circunavegação do globo. Ernest Shackleton buscou honra para a Inglaterra, e ele próprio, ao embarcar em uma perigosa jornada liderando uma equipe para atravessar o continente antártico.

    Este livro também considera as condições históricas que obrigaram esses exploradores a procurarem novas terras, e o que possibilitou suas jornadas. Marco Polo só foi capaz de viajar por terra a partir da Itália, através da Ásia Central, até a corte de Kublai Khan, devido às recentes conquistas mongóis, que levaram paz e estabilidade ao longo dos milhares de quilômetros da Rota da Seda. O monge nestoriano Rabban Bar Sauma completou a mesma viagem, na mesma época e sob a mesma proteção política mongol, mas começando da China rumo a oeste, até a Europa.

    Os exploradores deste livro foram escolhidos por suas qualidades específicas. O escritor holandês Gijs van Wulfen é o único que não reúne as quatro características dos grandes exploradores. Em primeiro lugar, deve haver um senso de urgência. Esse senso de urgência, mais frequentemente do que não, é impulsionado pela concorrência internacional e a rivalidade. Neil Armstrong comandou a missão Apollo 11 como parte da corrida espacial inaugurada por JFK para vencer a URSS na corrida à Lua. Hernán Cortés fez parte de um projeto imperial espanhol para consolidar o controle do Novo Mundo e as rotas de comércio para a Ásia, quebrando, assim, o gargalo do comércio entre a Europa e o Extremo Oriente criado pelo Império Otomano.

    A segunda coisa a considerar é a paixão. Muitos dos maiores exploradores na história foram peregrinos religiosos que acreditavam que essas viagens lhes conferiam bênção espiritual ou uma comunhão mais íntima com Deus. Ibn Battuta visitou os locais mais sagrados do Islã no século XIII na Península Arábica, bem como locais na Anatólia, o Império Persa, na Ásia Central, e o Egito, tudo isso quando as viagens por terra eram consideravelmente perigosas; viajar mais do que algumas centenas de quilômetros significava estar em terra estrangeira, com costumes e idiomas estranhos. Rabban Bar Sauma viajou milhares de quilômetros por terra para visitar os locais de peregrinação cristã na Palestina e visualizar as rotas das primeiras viagens missionárias de Paulo.

    A terceira coisa a considerar é a coragem. Viajar a uma terra desconhecida induz medo, pois o explorador não sabe o que encontrará lá devido à própria natureza da viagem. Na Idade Média, a maioria da classe culta da Europa desconhecia praticamente tudo sobre as terras além dos domínios do continente de origem. O conhecimento do Oriente era restrito a descrições do geógrafo romano Plínio, o Velho, e sua História Natural, além de relatos das viagens de Alexandre, o Grande, no século quatro a.C. Fábulas sobre corridas de seres humanos com cabeça de cachorro ou monstros de um pé eram senso comum. Até o século XVII, pensava-se que os habitantes de Formosa, ou Taiwan, andavam sobre as mãos e viviam no subsolo. Pensava-se que as terras ao sul do equador eram intransitáveis ​​devido ao aumento de calor no Trópico de Câncer. Esse medo do desconhecido induzia cartógrafos medievais e modernos a desenharem monstros nas bordas dos mapas.

    Por isso, era preciso considerável coragem desses viajantes para explorar terras desconhecidas e arriscar a vida em meio a nativos hostis, doenças exóticas ou feras temíveis. Sir Henry M Stanley sabia, quando viajou pelas selvas da atual Uganda para encontrar David Livingstone, que as doenças tropicais davam uma expectativa de vida de seis meses a viajantes europeus. Richard Francis Burton penetrou no interior da Somália frequentemente lutando contra tribos – foi até mesmo atingido por uma lança na bochecha, deixando cicatrizes permanentes no rosto. Hernán Cortés levou seu contingente de conquistadores espanhóis ao centro da capital asteca e testemunhou vários sacrifícios humanos, provavelmente se perguntando se ele seria o próximo a ter o coração, ainda batendo, tirado do peito e exibido diante da multidão pelo sumo sacerdote. Quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin desceram na superfície da lua, ouviram os alarmes, mas continuaram adiante, apesar de as chances de resgate em caso de mau funcionamento do equipamento fossem zero.

    A quarta coisa a considerar, e que historiadores modernos muitas vezes ignoram, a fim de atribuírem ao explorador uma qualidade digna, mas que pode não ter possuído, diz respeito a uma certa classe de exploradores – não todos, com certeza – que viveram pela aventura. Muitos exploradores possuíam uma combinação de coragem, habilidade e oportunismo que os deixava vistos como ameaças ou até mesmo criminosos em suas sociedades de origem. Hernán Cortés explorou o continente mexicano como ato de rebelião contra seu governador; Fernão de Magalhães traiu Portugal ao explorar em nome da Coroa espanhola, quando sua terra natal negou um patrocínio de viagem às Ilhas das Especiarias; e Richard Francis Burton era conhecido na Inglaterra vitoriana pelo interesse em sexo e sexualidade entre culturas primitivas; circulavam rumores na sociedade erudita que seus conhecimentos sobre as práticas dos habitantes da África e da Índia vieram de própria experiência pessoal. O escritor Andre Norton diz que essa classe de exploradores é chamada de bandeirante; a História tem uma abordagem sentimental sobre esse tipo de homem, mas somente quando ele já está morto. O presente é um período muito difícil para ele viver. O bandeirante é capaz de sair de seu condicionamento social, o que, em situações perigosas, indica flexibilidade; mas, em tempos de paz, faz dele uma ameaça à soberania e à sociedade.

    A última qualidade de nossos exploradores é a perseverança. Quando o navio Endurance, de Ernest Shackleton, foi destruído pelas geleiras do Polo Sul, a tripulação teve que continuar em três barcos a remo, acampar em camadas de gelo e sobreviver com carne dos cães de trenó e gordura de foca. Ficaram no mar por 497 dias até desembarcarem na Ilha Elefante, completamente deserta e isolada. Shackleton navegou 1.300 km de mares violentos em um pequeno barco salva-vidas até as Ilhas Geórgia do Sul à procura de um navio de resgate. Ele e mais quatro homens voltaram e resgataram os 22 que deixaram para trás. Todos se salvaram, apesar do baixo índice de sobrevivência nas expedições árticas. Quando Fernão de Magalhães tentou sua circunavegação do globo, no século XVI, teve que garantir aos seus nervosos e iletrados marujos que não cairiam pelos cantos da Terra. Ele enfrentou provas muito mais difíceis no decorrer da viagem, como quando o estoque de comida e água esgotou durante a travessia pelo infinito Oceano Pacífico. Veio a fome e um interminável surto de escorbuto; a viagem ainda foi marcada por ataques de índios, naufrágios e motins dos marinheiros. Ele continuou até morrer nas Filipinas, em 1521.

    Quando um explorador possui essas quatro qualidades, é capaz de obter resultados significativos. Isso acontece mesmo se ele for um viajante solitário, como Rabban Bar Sauma; um comandante naval liderando uma força expedicionária, como o almirante chinês Zheng He; ou um cientista em missão financiada por milhões de dólares e tecnologia de ponta, como quando Neil Armstrong entrou em no foguete Saturno V durante o Programa Apollo. Todos esses exploradores, que aventuraram por piedade, glória pessoal ou simples ganância, não deixaram relatos memoráveis ​​nem causaram um impacto significativo na história.

    Uma nota final que deve ser feita antes de começar trata de uma omissão flagrante neste livro. Cristóvão Colombo não está na lista dos maiores exploradores, apesar de ser o primeiro nome que aparece em discussões sobre viajantes famosos. Essa omissão não tem nada a ver com sua infame exploração das culturas indígenas americanas. Este autor revira os olhos sempre a academia ocidental exibe sua feroz originalidade intelectual todo Dia de Colombo ao condenarem esse explorador italiano com o velho clichê de que ele foi pessoalmente responsável por 400 anos de escravidão. Julgar uma figura histórica por não se encaixar aos padrões atuais dos direitos humanos não adianta nada exceto excomungar quase todos os que nasceram antes do século XX ou distorcer figuras históricas para fins ideológicos ou políticos.

    Na verdade, Colombo foi excluído aqui porque suas viagens não foram tão impressionantes, se comparadas aos dos outros exploradores. Sua primeira viagem através do Atlântico levou apenas cinco semanas. Ele parou em ilhas, confraternizou ou escravizou nativos e voltou para a Península Ibérica cinco meses depois. As viagens subsequentes de Colombo duraram pouco mais de um ano, e foram basicamente para administrar as colônias, transportar soldados e explorar o continente americano. Embora a importância de suas descobertas não possa ser subestimada – e ele deva ser elogiado por ter pisado em terras estrangeiras, enquanto outros teriam medo de contrair doenças exóticas ou serem comidos por canibais -, as dificuldades que ele encontrou foram menores das encontradas por outros viajantes. Colombo não passou décadas marchando sobre a Ásia debaixo de tempestade ou faminto. Ele não perdeu os dentes por escorbuto durante os meses em mar aberto. Não desbravou as péssimas condições árticas por meses a fio, nem sofreu queimaduras, hipotermia ou cegueira pela neve. Ele não aprendeu, muito menos decifrou, nenhuma outra língua, como fez Richard Francis Burton com volumes inteiros de literatura árabe e persa. Como este livro está mais interessado na jornada de exploradores do que na importância de suas descobertas, Colombo foi excluído. Mas é pouco provável que isso fará com que ele role no túmulo. Afinal, sua fama é considerável, há um feriado nos EUA em sua homenagem e ele é até nome da capital de Ohio, sobre a qual pode pendurar seu chapéu de três pontas.

    Vamos agora embarcar nós mesmos na exploração e nos aprofundar na vida dessas 11 figuras. Ao analisar suas experiências e motivações, podemos aprender as características que fazem uma pessoa dar um passo em direção ao desconhecido.

    Talvez isso nos permita dar nosso passo para o desconhecido também.

    Capítulo 1: Rabban Bar Sauma (1220-1294) – A Europa Medieval Vista Pelos Olhos Chineses

    ––––––––

    Cerca de 800 anos atrás, um jovem monge partiu com seu discípulo em uma perigosa peregrinação religiosa. Eles deixaram a segurança de sua terra natal, então império mais poderoso da Terra, e começaram uma viagem rumo às terras bárbaras, além dos limites do mundo conhecido. Sabia-se pouco sobre esses reinos estrangeiros, pois a comunicação entre eles estava interrompida desde a antiguidade. Porém, o que esse jovem monge sabia era que seus costumes religiosos só não eram mais estranhos que seus hábitos, e eles não tinham o que ele entendia ser um comportamento civilizado.

    Os dois calcularam os custos da viagem. O monge, para testar seu aluno, o assustou ao descrever o que enfrentariam na viagem. Teriam severas fadigas, passariam por terras assustadoras e chegariam com tribulações que invariavelmente surgem quando se visitam países estrangeiros. Ele prometeu, no entanto, que, se fossem bem-sucedidos, haveria tesouros esperando por eles nessas terras distantes. Seu discípulo entendeu que os tesouros seriam espirituais, e rapidamente concordou. Mas seus amigos não os apoiavam da mesma forma. Quando ouviram suas intenções de viajarem através das terras bárbaras, imploraram para que eles mudassem de ideia.

    Porventura não sabeis o quão distante essa região a que vós quereis ir seja?, indagaram aos dois monges. Ou, talvez, não têm a menor ideia, ou se esqueceram o quão difícil será viajar por essas estradas, e que nunca chegarão lá? Mas nada adiantou. Os dois homens santos venderam seus bens para financiar a viagem e gentilmente repreenderam seus conhecidos com palavras do Evangelho de Lucas: o Reino dos Céus estava dentro deles. Eles há tempos tinham assumido suas roupas monásticas e já se consideravam homens mortos, sem medo de se sacrificarem pela glória de Deus. O que era, para eles, viajar por terras tão perigosas?

    Rabban Bar Sauma escreveu esse relato no auge do domínio mongol sobre o Oriente Médio e a Europa. Quando os leitores ocidentais ouvem falar de um diário de viagem medieval recontando uma viagem entre a Europa e o Extremo Oriente, esperam algo semelhante às aventuras de Marco Polo – o itinerário de dois monges europeus dispostos a enfrentar hordas mongóis e o risco de morte que implica uma peregrinação religiosa à Terra Santa. Lá, eles seguem as etapas da Paixão em Jerusalém e, se Deus assim conceder, permitem seu regresso à proteção da Europa medieval.

    O que realmente aconteceu foi o total oposto. Rabban Bar Sauma e seu aluno Rabban Markos eram dois homens do clero que residiam no coração da China mongol. Do Oriente, partiram em uma jornada de milhares de quilômetros até chegar a Jerusalém. Viajaram como homens santos e enviados oficiais do Império Mongol à Europa – dois homens cristãos,

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