Psicoterapia Existencial

De Walmir Monteiro

O homem não é um “ser desejante” no sentido de ter esse desejo como conteúdo de consciência. Não. Todo o desejo humano está fora dele, no mundo, e o homem somente deseja a partir de uma consciência intencional, de um ego transcendente que vai ao encontro desse mundo das coisas que operam desejo. Citando Sartre: “Não é em nenhum refúgio que nos descobriremos, é na rua, no meio da multidão, coisa entre as coisas, homem entre os homens”. Jamais vi citação tão decisiva, capaz mesmo de nos impulsionar a sair, a realizar, a aventurar. Provavelmente um dos nossos maiores enganos é achar que a vida acontece sem que a façamos acontecer. O homem é um ser-no-mundo. Dissemos que é no mundo, que é fora de si, que o homem encontra sentido para a existência. É no mundo que descobrimos coisas fundamentais como o fato de que temos grandes responsabilidades porque somos uma grande Liberdade, que vivemos num mundo decadente que todavia nos oferece tantas oportunidades de fazermos valer a nossa liberdade de escolha e as nossas potencialidades que não são poucas para alcançarmos realização, crescimento e dignidade. No mundo nos angustiamos, mas a angústia é também consciência de liberdade. Mesmo a morte é alavancadora quando nos traz a consciência de que é ela que dá sentido à vida. Quando Heidegger conceitua o ser-para-a-morte, quando descobrimos que tudo tem um fim, em vez de desanimarmos e nos afundarmos em angústia, voltamos nossas forças para a tarefa de viver a vida com o máximo de empenho, empregando todas as nossas forças, talentos e potenciais no afã de realizarmos o melhor que podemos para que sejamos felizes e plenos durante todo o tempo em que vivermos. Se não fosse a morte, se não fosse o fim, certamente viveríamos caindo na letargia, no desânimo, na falta de objetivo, já que nada nunca findará.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 22 de abr. de 2019