Minha Casa É Minha Mochila
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Pré-visualização do livro
Minha Casa É Minha Mochila - Marcos Lamoreux
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Minha casa é minha mochila
2
Arte por Fabiano Klotz
Foto por Ted Somerville
Revisão por Marina Legroski
Segunda edição
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PREFÁCIO
Marcos é uma pessoa literalmente extraordinária.
Sempre ímpar e nunca par
, como diria o Noção de Nada. Como se não bastasse sua própria existência
ser um exemplo de resistência, enquanto jovem,
negro e morador da periferia, há anos ele dedica sua
vida a multiplicar e difundir essas resistências nos
espaços que coabita, seja através do veganismo, do
hardcore punk ou do estudo das populações
indígenas e quilombolas, a que ele tanto se dedica.
Mas isso tudo ainda não é suficiente para o
Marquinho
, como gosto carinhosamente de chamá-
lo. Ele quer mais. Ele quer o mundo todo. E em seu
livro ele compartilha conosco um relato mais
detalhado de suas famosas histórias, sempre
encenadas teatralmente nos intervalos dos shows
que frequentamos e nos almoços de domingo,
fazendo todxs xs presentes se contorcerem de rir, e
que foram vividas ao longo de anos de andanças pela
América Latina e por outras partes do planeta. A vida
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é curta demais para não ser vivida, e o mundo vasto e
belo demais para não ser desbravado. E o Marcos é
uma das pessoas com coragem suficiente para
transformar as distâncias em possibilidade.
"The world is a beautiful place but we have to make it that way.
Whenever you find home we'l make it more than
just a shelter.
And if everyone belongs here it will hold us all
together.
If you're afraid to die, then so am I."
Fred Zgur
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Diagnostico e tratamento (Introdução a um idioma
morto)
A síndrome do eterno viajante é a necessidade de
querer estar constantemente em outros lugares. É
sentir que não se pode ser feliz vivendo em um só
lugar, uma ansiedade de pensar que se está
perdendo alguma coisa, outros costumes, outros
cheiros, outros sabores. É não se limitar apenas ao
que conhece, ser prisioneiro de uma ânsia por
liberdade e ter uma necessidade de quebrar
fronteiras e distancias.
É a necessidade de se perder no tempo, não sabendo
em que dia ou mês está, nem que horas são e se
perder no espaço, conhecendo lugares novos ou os
lugares que já conhecemos de diferentes formas para
assim realmente entender e aproveitar o tempo e
espaço. É não suportar o aprisionamento que a "vida
moderna" te proporciona.
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Viajar também pode significar desapegar-se, do
dinheiro, do medo e de sentimentos e emoções, da
nossa visão sobre certas coisas. Se perder pra se
encontrar. Às vezes uma coisa que não cheira bem,
que não é confortável, tem gosto ruim ou é feia para
nossos padrões te ajuda a se integrar por completo e
a entender muitas coisas, de uma natureza em
particular ou nossa realidade mesmo que milhares de
quilômetros de distancia de onde nascemos e/ou
vivemos. Toda a informação que se adquire e todo o
conhecimento absorvido mesmo sem intenção
didática te dão ferramentas, basta usar.
Muitas pessoas se contentam apenas em sonhar,
uma fuga da realidade depositando suas esperanças
em algo que jamais irá se concretizar, criam
expectativas, mas toda expectativa é fora da
realidade. Não tentam mudar a realidade que
oprime, sufoca e mata. A velocidade em que as coisas
acontecem é cada vez maior e agora são tempos
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difíceis para os sonhadores. Cada minuto de olhos
fechados vai parecer uma eternidade.
Quando viajo eu definitivamente não quero gastar
fortunas com aviões e hotéis caros que me remetem
ao exato lugar de onde saí: uma cidade cinza e
pasteurizada onde tudo é igual. Podemos nos
distanciar 5 quilômetros ou 5 metros e descobrir
coisas e pessoas incríveis. Somos o que queremos ser
e não nossa condição. Expandir nossos limites para
crescer, ampliar o que entendemos por destino e
poder crer que nossas ações, grandes ou pequenas,
contribuirão com algo que inspire, que de
tranquilidade, que nos faça agradecer por cada dia,
refletir e inclusive sorrir. Relacionamos-nos com
pessoas que podem viver contextos complexos e
paradoxais aos nossos e não damos atenção a isso.
Devemos buscar o grande potencial que tem a
cultura e suas formas de se expressar para criar
novos mundos possíveis, com cenários de criação e
reconstrução para nos unirmos e reconhecer nossa
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diversidade, sem ficar de braços cruzados. Estar em
constante movimento, ser a possibilidade de nos
aproximarmos e compartilhar experiências que
gerem transformação social.
Mas antes devemos destruir tudo, para uma nova
vida começar, pois a vontade de destruir é a mesma
vontade de criar.
Essas são algumas das muitas ideias que há muito
tempo senti estarem presas em mim, sou péssimo
em me expressar e me fazer entender. Quero focar
em assuntos importantes, coisas que acredito,
porém, não quero ser muito didático. Esse livro é
para ser lido e relido, a todo tempo questionando
cada linha, verso, paragrafo que soe estranho ou
familiar. Quero mostrar como minhas viagens me
transformaram no que eu sou, mas é algo que se
vivencia, a experiência em si, te