Heterodoxia
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Heterodoxia - Nome
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HETERODOXIA: UMA CIÊNCIA HETERODOXA
Dan Nome
Baldacini
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INDICE:
Introdução……….5 História………….8
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Introdução:
Este é um romance. Seria evidentemente um romance logo no começo do texto, intuído pela grande maioria das pessoas alfabetizadas, para quem tem uma noção do que seja um romance. Por que, então, avisar do que se trata o livro antes do texto? Por dois motivos:
O primeiro é por causa do título, que talvez seja menos evidente o seu tom humorístico, capcioso, que se assemelha em estilo aos livros de filosofia ou outra ciência mais positivista e causal. Uma introdução clara pouparia a decepção de um possível leitor confuso, que deixaria de lado este livro que tem o seu valor de relevância para quem não se contenta somente com o entretenimento puro e procura apreender algo (ou relembrar) que se possa empregar na vida e melhorá-la.
O outro motivo vem para defender-me do argumento de que o título é curto e a obra é longa (rapidamente o leitor folhearia o livro e teria a liberdade de sentir-se interessado no começo da narrativa de forma mais isenta), podendo ocorrer a qualquer um, assumindo a minha parcela de culpa, como autor, pelo primeiro motivo quase conduzir a esse questionamento. Fato é que tradicionalmente os livros contêm introduções, estas são mais técnicas e nada têm do charme de uma boa narrativa. Avisando que ainda está por vir um romance, alivio a minha consciência do peso de entediar quem quer que seja com dados técnicos sobre a composição do livro e meus incentivos pessoais.
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Quando eu avisei que era um romance, alguém mais esclarecido poderia acrescentar sem risco de estar errado que se trata de um tipo de arte primordialmente burguês. Escrevo num período complicado do cenário político, apesar da liberdade conquistada a custo de estabelecê-la inofensiva ao estamento e não pela luta de pessoas corajosas, com uma polarização enorme entre as tendências de esquerda
e as tendências de direita
, amizades são desfeitas, ataques são planejados no âmbito da jurisprudência e até da violência, quase tudo registrado nas câmeras ou em textos, no mundo real e no virtual (este sendo um subconjunto do real, mas é sempre bom salientar).
Alguns períodos na história do ocidente guardam semelhanças com o presente que impressionam. Houve, na república de Weimar, por exemplo, uma crescente negligência para com as ciências ditas exatas
, concomitantemente se espalhou e fortaleceu uma porção de crenças improváveis como a astrologia. A mesma irracionalidade ressurge quase um século depois. Porém, à época, existia uma potência intelectual como a murada Troia, com seu escudo argumentativo do devir: a Dialética Negativa. É uma espécie de consciência de que não é possível chegar à verdade com as ferramentas atuais do pensamento, então, para acelerar o processo a caminho da verdade, proposições opostas são formuladas na intenção de apontar suas falhas e sintetizar novas propostas com os melhores elementos das primeiras. Todo sistema tem suas falhas, ainda mais um que tenha como base o idealismo hegeliano, contudo, é de uma dificuldade enorme provar
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uma desvantagem num sistema que tem como objetivo o erro. Quando revisitada uma ideologia hedonista, Marcuse aponta que os mecanismos da sociedade administra nossos interesses e limita nossos desejos, o prazer genérico (ou seja: a liberdade e não a proibição) como objetivo se torna inabalável, porque nenhum outro valor humano é tão atraente e porque não faz sentido reprimir (ou substituir) o que empiricamente faz bem por um bem ainda maior (que permanece incógnito).
Este escudo contra qualquer argumentação ficou no passado. O século XXI é o século da sujeição metafísica. Cada ideologia tenta impôr sua ética para cima dos outros. A autodenominada esquerda levanta bandeiras como o controle do idioma para recuperar a justiça entre as diferentes pessoas (em gênero, etnia, (o que erroneamente se entende por classe)), como se existisse um grupo social imune ao ataque idiomático. O problema da injustiça é como uma crise hídrica. Claro que é sempre bom tomarmos cuidado com o nosso próprio comportamento, não é legal xingar os amigos e nem gastar muito tempo no chuveiro, mas o problema maior não é nosso. O agronegócio consome muitas vezes mais água que a população em suas residências, seguido da indústria, então a economia deve vir de dessas instâncias maiores que o indivíduo para haver uma mudança efetiva. A injustiça tem um grande número de variáveis, algumas palpáveis
como a diferença salarial e outras intangíveis
como a personalidade de um agressor em potencial.
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Na década de 1990, nos Estados Unidos, maiores controladores do consumo cultural, houve um grande esforço para tirar o tabuísmo (palavrões, palavras agressivas ou obscenas) das produções culturais, como cinema e música. Essa restrição tomou um caminho curioso. Ao mesmo tempo que fomentou uma maior liberdade nos meios de comunicação alternativos ou independentes (veja a ausência de censura nos vídeos da internet), imprimiu no senso comum um critério de julgamento constrangedor pela falta de lógica (vulgo: preconceito). Caso haja palavrões em uma obra, esta será considerada uma forma baixa de arte
. Eis a premissa. A juventude não tem muito repertório para se defender e, ao contrário de elevar o padrão de complexidade cultural, reagiu assumindo a produção mais livre como forma baixa porém a abraçando como a escolhida para o consumo. Acultura e o público consumidor foram se influenciando mutuamente em direção a diminuição de complexidade da arte.
A virada está acontecendo nos anos mais recentes, todo estímulo extremo gera uma contrapartida, muitos sistemas simples têm em seus padrões a regressão a média. Acontece que com falta de critério na elaboração de conteúdos a função da arte ficou relegada ao escapismo. Alguns filósofos contribuíram para manter o conceito artístico nos trilhos, primeiro cito Vilém Flusser que sugere que a poesia seja o ato de trazer à realidade as palavras que estiverem ainda na esfera do não expresso (o novo é difícil e raro). Agora cito Roland Barthes que atribui à arte a função de inexprimir o exprimível como fez um dos grandes
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romancistas modernos da forma mais clara vista até aquele momento, Marcel Proust. Infelizmente, a relevância de uns poucos indivíduos pensando complexamente é muito pouca, numa estrutura social em que se valoriza a ignomínia, o mostrar e não contar barthesiano acabou se industrializando, principalmente no cinema, sem uma boa crítica, por isso seus pensamentos passaram confinados a círculos fechados de intelectuais e acadêmicos em seu tempo. Era ainda momento de derrocada, a guerra gera descrença na utilidade até da ciência prática, apesar de aderirmos a ela pelo prazer, sem importar muito seus mecanismos. Imagine só o quanto ficou soterrada pelo utilitarismo a hipótese de que, indiretamente, a poesia poderia contribuir para o aumento na complexidade do pensamento humano.
Leonardo Polo, filósofo espanhol, teórico do conceito do abandono do limite mental, ao criticar a obra kantiana do conhecimento, expõe a noção kantiana de tempo como já superada e a contrapõe com outras interpretações. Assim sendo: Para Kant, o tempo é uma unidade categórica, função da imaginação, newtoniano. Para a psicologia tomista, como o nome sugere, o tempo não é uma unidade, é dividido, não pertence à imaginação e, sim, à memória e a cogitiva; a memória como conhecimento intencional do passado e a cogitiva seria a especulação do futuro. Mas mais importante que a demonstração da superação da noção kantiana de tempo, pelo menos para nós do Heterodoxia, é a brevíssima história da história do tempo que polo conta para apresentar outras conceituações. Na Grécia antiga, por exemplo (também presente em todas as culturas de caráter primitivo),
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o tempo era anímico, antropomorfizado em Aión, titã da eternidade. Normalmente os personagens na mitologia possuem vários epítetos, para mostrar suas relações em várias áreas de atuação. Seu outro nome é Chronos, o mesmo titã, remetendo a tempo. E a vivência, a experiência do tempo, era significada por época. O tempo anímico é um conjunto de épocas, cada época sucessivamente pode estar contida no ano, semana e até dia, caracterizada pelos acontecimentos que a marcam. Lembrando que não havia relógios para fazerem abstrações quantitativas. Daí os críticos apontarem na Ilíada uma ingenuidade. Cada época sendo única qualitativamente, toda nova época é um renascer da anterior, "O Aión se transforma em eternidade quando o eixo das épocas é a juventude. (…) A juventude perene é a juventude renascente: é, definitivamente, a eternidade – perpétua imatureza." Polo chama essa concepção epocal de pré-científica, o tempo cósmico seria o tempo circular, com as épocas se repetindo. Até os modernos, que consideram as diferentes épocas a partir do futuro, tornando-as abertas, em contraste com as épocas fechadas do passado.
Existe uma semelhança autorreferente desse processo de amadurecimento conceitual no homem que vive na sociedade ocidental. Quando em sua imaturidade o homem experimenta o mundo com o ponto de vista do animismo, posteriormente desvalorizando os fenômenos como meras repetições e, por fim, esperando do futuro uma condução mais arbitrária.
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Dentro de cada fase, outra semelhança autorreferente. A assimilação dos fenômenos passa pelos processos acima descritos. O primeiro contato com qualquer novidade é caótico, os próximos vão tendendo à banalização, finalmente entendendo como o funcionamento procede pode-se reproduzir as condições daquilo que fora novidade. Foquemos no primeiro estágio. A literatura surgiu da poesia e não da prosa. Os textos basilares de todo o logocentrismo são epopeias como Gilgamesh, Ilíada, Bíblia. Versos anímicos que tentam sintetizar o mundo, acabam contribuindo para a restrição das possibilidades interpretativas do mundo, já desmitologizando de alguma forma, guiando os povos para a exegese (Que é um tipo de hermenêutica). Isso é ótimo porque muitas das conquistas humanas em direção a uma vida mais confortável e consciente ocorreram por conta dessa simplificação do universo. Acontece que esse direcionamento chega a ruas sem saída. É preciso retroceder se quisermos explorar outras novidades. A esse retrocesso benéfico, Arthur Koestler dá o nome de pedomorfismo. Eis a importância e a atratividade das metáforas, da poesia e da literatura, das artes visuais.
Embora limites sejam desagradáveis para a vida, são forças motrizes de superação e adaptação. No caso de um idioma ancorado na tradução, como é a língua alemã, de lógica internalizada que estabelece campo fértil para ideias planejadas, a coisa acontece de maneira simples, uma proibição gera uma força de oposição adaptada instantaneamente, muito menos regida pela força do acaso.
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O idioma português brasileiro reflete seu empirismo em todas as áreas. Demorou-se a libertação desse estilo à arquitetura, mesmo com exemplos de planejamento em toda a parte em outros países, no século XIX, entretanto, a libertação chegou no centro e permaneceu na periferia, onde a arquitetura permanece experimental, onde o design parte da necessidade e não a projeta virtualmente, como em outros países. Outras áreas da sociedade estão impregnadas de induções errôneas, no trabalho, em geral mais sensível à falta de otimização, é o que dá a aparência de que não há conserto. Quando há uma restrição arbitrária à língua, no Brasil, a resposta é mais complexa, porque existe um processo desencadeado no qual a primeira instância é a rebeldia oposta polar. Encontra-se um meio de transgressão, aceita-se as terríveis consequências, depois a análise de caso define se faltou adaptação ou potência na oposição.
A exposição de vertentes irracionais, como a do ocultismo gnóstico, que a expansão de seus fiéis traz, é fatal para sua permanência. Sua explicação é, já, desmistificadora, suas contradições se tornam cada vez mais evidentes quanto mais tipos de interpretações existem. Hoje a angústia do vazio e da liquidez se faz sentir perto do limite e uma cultura mais complexa começa a ser reconstruída de lugares antes improváveis, como na periferia das grandes cidades.
No século XIX e XX, um fenômeno chama a atenção pela aparente novidade e pelo número de adeptos nas artes,
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principalmente nas letras, onde ele deve ser mais descritivo e justificado. O caso é a preocupação com o estilo ao ponto de autores insistirem na autorreferência. Nas artes plásticas, a popularidade da fotografia é apontada de maneira simplificada como causa do interesse em subjetivizar o olhar, já que a imagem técnica já garantia um registro muito mais realista do que a pintura poderia expressar. (Depois se compreendeu que nem a foto poderia reproduzir o mundo como verdade, que toda imagem produzida é também uma escritura.) Na poesia, Mallarmé foi o mais prolífico escritor que tinha como tema a própria poesia, sua forma, principalmente. Na prosa, o melhor exemplo que se pode dar é o de Marcel Proust, porque, apesar da sua profunda preocupação com o estilo de contrapontos entre longos períodos e frases paratáticas, sempre de acordo com o conteúdo do discurso, suas variações no posicionamento do narrador,