O diário de Luke
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O diário de Luke - Lucas Lucena dos Santos
Capítulo 1
Chuva de sangue
Sabe quando sua vida não faz muito sentido e você fica se perguntando se nada de interessante vai acontecer?
Então, sua vida está prestes a mudar.
Muito prazer, chamo-me Luke, bem-vindo ao meu diário.
Tudo começou quando eu tinha 19 anos e trabalhava em uma farmácia, não era grande coisa, ficava no caixa a maior parte do tempo, e às vezes arrumava algumas prateleiras. Todos os dias eram parecidos, a rotina de sempre, igual em todo lugar. Mas um dia aconteceu algo que mudaria toda a minha vida, para sempre.
Nesse dia em específico chovia muito, era outono, lembro-me como se fosse ontem quando ela entrou, olhos verdes tão vivos que não pareciam humanos, pele branca como neve, usava uma maquiagem meio gótica nos olhos, jaqueta de couro, jeans rasgados e um All Star sujo.
— Uau! Que chuva – disse ela, enquanto olhava para mim.
Eu não sabia o que dizer, era muito ruim com essas coisas, com certeza dava pra ver meu rosto vermelho de vergonha porque eu sentia ele quente. Tentei manter a calma e responder a ela com algo legal, mas eu gaguejei alguma coisa sobre dilúvio. Nossa, cara, eu era ridículo. Senti-me um idiota, queria enfiar minha cabeça em um buraco, eu sei que você já passou por coisa parecida, então não me julgue tanto, ok?
Ela pagou suas compras e saiu sorrindo, provavelmente por educação. A vergonha foi passando enquanto eu pensava que nunca mais a veria, sabe? Era só mais uma cliente aleatória, pensei.
Na mesma noite, quando voltava para casa, senti algo estranho, como se estivesse sendo observado por alguém ou alguma coisa. Ainda chovia muito e a rua estava com pouca iluminação, mas dava para ver as pessoas correndo na rua, em busca de alguma proteção da chuva, exceto por um casal de idosos que vinha em minha direção usando um guarda-chuva vermelho vivo, caminhando como se aquela chuva toda não fosse problema. Aparentavam ter uns 700 anos de tão velhos e quando chegaram mais perto pude vê-los melhor. A senhora tinha cabelos tão esbranquiçados, era como se toda a vida tivesse a deixado somente as lembranças da juventude que se sobressaíam em seus olhos, e estes — não sei se estava vendo direito — eram amarelos; já o senhor tinha os cabelos um pouco mais cinza, aparentava ser mais novo que ela ou mais bem cuidado, usava calças bege e camisa social com um colete de lã xadrez e ela um vestido marrom de tecido fino.
Um casal de idosos comum como qualquer outro, aparentemente. Quando passaram por mim senti toda a felicidade ir embora, senti um calafrio que arrepiou a minha espinha. Que merda era aquilo? Que sensação horrível, pude ver a velha sorrindo, um sorriso irônico e assustador ao mesmo tempo, ainda mais com aqueles olhos amarelos. Cara, eu devia estar muito cansado porque nada daquilo fazia sentido.
Depois de umas quadras, e muitas dúvidas sobre o que acabara de ver, finalmente cheguei em casa; a propósito, eu morava com a minha tia Helena, ela sempre foi muito legal comigo, ensinava-me a diferença do certo e do errado, mas também me ensinava a não ser trouxa. Estava faminto depois de um dia cheio como esse, ela havia feito lasanha quatro queijos com brócolis, meu prato preferido de toda a vida, amava todo aquele queijo e o brócolis, brócolis são miniárvores, sabiam? Me sentia um gigante devorando miniárvores. Morávamos nós dois apenas, meus pais morreram num acidente de carro quando eu tinha apenas 7 anos, foi o que me disseram antes de vir morar com a tia Helena.
— Luke! Como foi hoje no trabalho? Não se meteu em confusão de