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Paradoxos Temporais
Paradoxos Temporais
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E-book285 páginas3 horas

Paradoxos Temporais

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Sobre este e-book

O que você faria se pudesse enviar uma mensagem para qualquer pessoa no passado ou futuro? Quais seriam os benefícios de se possuir uma máquina do tempo? É seguro alterar fatos no passado? Neste livro, essas e outras questões são colocadas à prova pelo poderoso empresário Sérgio Alcântara e pelo destemido repórter Richard Novaes. Acompanhe os dilemas pessoais e éticos que surgem juntamente com a invenção de diferentes versões de máquinas do tempo e descubra as possíveis consequências de se causar Paradoxos Temporais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de nov. de 2021
Paradoxos Temporais

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    Paradoxos Temporais - Edmilson Ferreira

    PARADOXOS

    TEMPORAIS

    Edmilson Ferreira

    2021

    Copyright © 2021 Edmilson Ferreira

    Todos os direitos reservados.

    Título: Paradoxos Temporais

    Autor: Edmilson Ferreira

    Revisão: Vilma de Oliveira

    Design de Capa: Edmilson Ferreira

    Imagem de Capa: Edmilson Ferreira (pintura digital)

    Design e montagem: Edmilson Ferreira

    Primeira edição digital publicada em Novembro de 2021.

    Primeira edição impressa em Dezembro de 2021.

    À minha esposa, Jacqueline,

    que sempre me compreende e apoia;

    à minha irmã, Vilma,

    que está sempre presente e disponível em minha vida;

    e à minha mãe, Elisete,

    a quem devo tudo o que sou.

    Bingo

    1.

    Passava das dez horas da noite quando Richard saiu do táxi na porta do Hotel Philby, um dos mais tradicionais do distrito de Laranjeiras. O hotel ficava bem distante do aeroporto, em um bairro que se tornou famoso devido ao tamanho e à beleza das enormes e luxuosas casas aos pés da serra que circunda a cidade.

    Richard tinha recebido um convite um tanto esquisito, que ele só aceitou por causa de quem o esperava naquele hotel: Dr. Sérgio, um empresário bem sucedido, muito conhecido na cidade, apesar de ninguém saber ao certo qual a sua área de atuação. O convite foi feito em tom de mistério, sem nenhum detalhe específico que esclarecesse o motivo de o jovem rapaz ter sido escolhido para aquela entrevista. Mas como ele já tinha escrito alguns artigos para jornais, os quais receberam boas críticas, imaginou que se tratava de algo relacionado ao marketing. Talvez o homem quisesse que ele escrevesse boas resenhas sobre algum empreendimento novo, ou quem sabe sobre o próprio hotel onde ele acabara de chegar. Afinal de contas, se o Dr. Sérgio possuía uma das mansões mais famosas do distrito, não seria estranho se também fosse um dos donos do Hotel Philby. De qualquer forma, o aspirante a repórter não queria gastar mais do seu tempo imaginando coisas, pois já se encontrava no elevador, a caminho de seu quarto. Estava muito cansado e não via a hora de deitar na confortável cama do requintado hotel. No dia seguinte, provavelmente bem cedo, deveria receber as instruções para se encontrar com o Dr. Sérgio.

    Quando o elevador abriu suas portas no vigésimo segundo andar, Richard percorreu o curto corredor assobiando uma melodia improvisada. Entrou no espaçoso quarto e não conseguiu conter o sorriso ao ver o luxo do lugar. Nem em sonho ele seria capaz de pagar por uma estadia daquelas, mesmo que fosse apenas por um dia. A cama, enorme, estava coberta com um edredom estampado com formas abstratas em marrom e bege. No chão, um carpete tão felpudo que suas fibras penetravam entre os dedos dos pés descalços do rapaz, que já tinha abandonado os sapatos e meias perto da porta. Colocou sua mochila de couro ao lado da cama e deixou-se cair no colchão. De tão macia a espuma, sentiu como se estivesse recebendo o abraço carinhoso de uma senhora idosa com vestido de cetim. Respirou fundo e pensou consigo: você merece isso, não merece?. Mas seus momentos de prazer foram interrompidos por três firmes batidas na porta.

    Richard levantou-se num instante, pensando ter feito algo errado, como se fosse uma criança prestes a receber uma bronca. Será que tinha se enganado de quarto? Não! Era o quarto certo. Quem diabos iria procurá-lo tão tarde da noite? Sem demora, foi até a porta e abriu.

    — Pois não!

    O jovem rapaz quase caiu para trás, tamanho foi o susto! O próprio Dr. Sérgio, em pessoa, estava de pé, ali mesmo, na sua frente.

    — Fico contente que tenha aceitado meu convite, meu caro — disse o homem, com voz grave e expressão impassível. — Você poderia fazer a gentileza de me acompanhar?

    Richard não conseguiu responder imediatamente. Olhou para os próprios pés, depois para o rosto de Sérgio. Abriu a boca para dizer algo, mas só conseguiu levantar o dedo indicador, pedindo um instante enquanto dava pequenos passos para trás. Lamentando não ter tido tempo de conhecer o banheiro da suíte, que pensava ser tão luxuoso quanto o resto, calçou os sapatos sem meias e retornou à porta, fazendo um breve gesto com a cabeça para que o importante homem o conduzisse aonde quer que fosse.

    — Espero que não se importe de começarmos hoje mesmo, Richard — disse Sérgio. — Acho que o assunto que temos a tratar é muito relevante para perdermos mais tempo.

    — De modo algum — disse Richard, educadamente, enquanto entravam no elevador. — Eu apenas não esperava vê-lo tão repentinamente. Poderia me dizer do que se trata?

    — Cada coisa a seu tempo, meu caro. No momento, só posso adiantar que você foi escolhido a dedo. Fiz questão de supervisionar pessoalmente a seleção dos candidatos a participarem de meu projeto. Até o momento, suas qualidades estão cem por cento dentro das minhas expectativas.

    — Até o momento… — observou Richard. — Significa que ainda não se decidiu?

    A porta do elevador se abriu. Estavam no vigésimo quinto andar.

    — Foi por isso que não pude esperar até amanhã — esclareceu Sérgio, conduzindo o rapaz a uma espécie de escritório. A sala era ampla e tinha janelas de vidro espelhado que iam do chão ao teto. À direita, havia uma estante repleta de livros, alguns bem grossos, outros um pouco menores. Na parede oposta, apenas uma prateleira de metal cromado com uma jarra de vidro cheia de água e alguns copos virados para baixo. Richard sentou-se em uma das cadeiras e Sérgio na outra. Entre eles, uma mesa longa e estreita que, na opinião do rapaz, não combinava com o resto dos móveis, mas sua madeira escura e fria lembrava em muito a personalidade daquele imponente homem sentado à sua frente. Sobre a mesa, apenas um gravador, um pedaço de papel e uma caneta dourada, que Sérgio pegou e começou a escrever habilmente.

    — Quer dizer que fui trazido aqui hoje para ser testado? — perguntou Richard.

    — Não — respondeu Sérgio, secamente. — Isso não é um teste. Na verdade, eu preciso encontrar algo na sua história que me ajude a convencer você. Algo que não consegui encontrar enquanto pesquisava sobre sua vida.

    — Desculpe, senhor, mas eu já estou disposto a fazer… seja lá o que for — tentou argumentar Richard, sorrindo um pouco sem graça. — Se não for nada ilegal, é claro. Será uma honra trabalhar com o senhor. E tenho certeza que obterei uma boa compensação pelo meu trabalho.

    Sérgio parou de escrever e olhou, por um instante, no fundo dos olhos de Richard. O rapaz engoliu seco ao ver a face inexpressiva e, ao mesmo tempo, intimidadora do homem.

    — Você acha — disparou Sérgio — que será contratado para fazer algo em que já tem experiência e, portanto, tem boa chance de se dar muito bem com isso. Certamente, imagina que, por ter sido selecionado por alguém como eu e estar aqui, face a face comigo neste hotel chique, tudo vai dar certo e encerraremos a noite tomando uísque no bar do terceiro andar. Porém, você não tem ideia do que este projeto significa para mim, e muito menos sabe o que está em jogo. Portanto, vou lhe dar um conselho: você deveria deixar de lado tudo o que acha que sabe, ficar em silêncio enquanto faço minhas anotações e responder com o máximo de sinceridade as minhas perguntas. Se não puder ser assim, receio não ter tanta certeza de que escolhi corretamente.

    Richard ficou mudo e concordou com a cabeça. Sérgio voltou a escrever e não parou até preencher quase toda a folha de papel. Levantou-se, foi até a porta, perguntou a alguém do lado de fora se estava tudo pronto. Depois, fechou-a e sentou-se novamente. Puxou um pouco a manga do paletó para conferir as horas em seu relógio de pulso prateado, depois ligou o gravador.

    — Sexta-feira, quinze de junho, dez e cinquenta e quatro da noite. Aqui é Sérgio Alcântara, estou com Richard Novaes. Este é o experimento R-01. — Após uma pausa breve, Sérgio continuou. — Richard, você se lembra bem de como era na sua escola, quando você tinha treze ou catorze anos?

    — Sim, senhor.

    — Havia algum aluno que lhe perseguia, batia ou fazia outros tipos de maldade?

    — Houve uma vez — respondeu Richard, esforçando-se para lembrar — que um menino do oitavo ano jogou meu lanche na privada. Eu fiquei muito chateado, mas ele levou uma suspensão e não voltou mais a me incomodar.

    — Mais algum fato relevante a respeito disso?

    — Não que eu me lembre — disse Richard, sacudindo levemente a cabeça.

    Sérgio riscou a primeira linha de seu papel e continuou:

    — Você já quebrou algum osso do corpo? Um braço? Uma perna?

    — Quebrei um dedo do pé ao chutar uma bola cheia de pedras que os garotos da rua colocaram no campinho para pregar peça nos outros. Foi muito dolorido, isso eu jamais vou esquecer. Fiquei duas semanas com uma tala no pé, mancando e tomando remédios para dor.

    Sérgio riscou a segunda linha de seu papel.

    — Você tem algum trauma de infância? Algo que tenha incomodado por algum tempo e que você ainda tenha sentimentos negativos a respeito?

    — Uma vez eu me apaixonei por uma garota. Estava no primeiro ano do curso de técnico em contabilidade. Fiquei o ano todo pensando em como seria quando começássemos a namorar, pois pensava que ela também gostava de mim. No fim do ano, finalmente resolvi me declarar, mas ela já tinha namorado. Foi difícil demais de superar. Fiquei meses na fossa por causa disso.

    Sérgio apertou um botão no gravador e perguntou:

    — Podemos trabalhar com isso?

    Uma voz distante respondeu no aparelho:

    — Não, senhor. Poderia até ser, mas seria muito arriscado. Não recomendo.

    Sérgio riscou a terceira linha em seu papel e continuou:

    — Você já teve algum bicho de estimação?

    — Sim. Um cachorro.

    — Fale-me sobre ele.

    — Eu o ganhei quando tinha uns quatro anos. Dei o nome de Bingo, sabe, por causa daquela música. É um ótimo nome para um filhote, mas ficou meio esquisito quando ele ficou velho. No fim, eu só o chamava de Bim.

    — E como morreu esse cão, o Bingo? — interessou-se Sérgio.

    — Ele foi ficando velho e, com a idade, veio a cegueira. Os dentes começaram a cair e tinha ficado difícil tomar conta dele. Mas eu nunca o deixei de lado. Molhava a ração e levava para passear quando podia. O coitado me seguia até o portão todas as vezes que eu saía para a escola. Acabava sempre batendo o focinho no muro ou nas paredes.

    Richard, que até então estava sorrindo, engasgou por um instante e seus olhos lacrimejaram.

    — Uma vez, quando eu chegava da escola, não percebi que o Bim estava atrás do portão, louco para sair para passear. Assim que eu abri, ele saiu correndo. Não deu tempo de pegar a coleira. O coitado correu para o meio da rua e, como não enxergava, não se deu conta do perigo. Um carro vinha descendo, silencioso, parecia não estar engrenado, mas vinha bem rápido. Pegou o coitado em cheio. O motorista nem viu o que aconteceu. Foi embora sem olhar para trás. Fiquei revoltado com a situação e queria que o maldito fosse punido! Mas vi que não adiantava. Quem ia se importar com a morte de um cachorro velho e cego? Pelo menos, Bingo teve uma vida boa e foi bem cuidado até seus últimos dias.

    — E você sabe que dia isso aconteceu? Lembra-se da data?

    — Bem… eu estava no sétimo ano… tinha terminado de fazer a prova final de alguma matéria. Então, foi na primeira semana de dezembro de dois mil e trinta e três.

    Sérgio apertou novamente o botão do aparelho e disse:

    — E aí?

    A voz distante respondeu:

    — Já estamos enviando as coordenadas, senhor.

    Sérgio parou o gravador, grifou e circulou a quarta linha de suas anotações. Richard conseguiu ler, de relance, o que estava escrito: Bicho de estimação.

    — Agora — declarou Sérgio, sorrindo pela primeira vez desde que se encontrara com Richard —, esperaremos por uns minutos.

    — De que se trata isso tudo, doutor? — perguntou Richard.

    — Você já vai descobrir, meu caro.

    Richard estava inquieto. Passava as mãos pelas pernas e pelo cabelo, suspirando várias vezes. A sala estava muito fria, mas mesmo assim ele suava de nervoso.

    Um homem bateu à porta e entrou em seguida.

    — A mensagem foi enviada, doutor — disse ele.

    — Obrigado, Maurício! — respondeu Sérgio. — Vamos começar!

    — Devo sair? — perguntou o homem.

    — Fique, por favor — respondeu Sérgio. — Por precaução.

    — Então? — perguntou Richard, incomodado com o mistério.

    Sérgio ligou novamente o gravador e disse:

    — Responda em poucas palavras: Como morreu seu cachorro, Bingo?

    — Ele saiu correndo pelo portão e foi atropelado — disse Richard.

    — Como morreu seu cachorro, Bingo?

    — O quê? — estranhou Richard. — Eu já disse!

    — Responda! — ordenou Sérgio.

    — Atropelado!

    — Como morreu seu cachorro, Bingo? — insistiu Sérgio.

    — Atropelado! Estava cego e correu para a rua quando eu chegava da escola…

    — Não precisa dizer tantos detalhes! — interrompeu Sérgio. — Como morreu seu cachorro, Bingo?

    — Não vejo nenhum propósito nisso! — reclamou Richard, em tom bem ríspido.

    — Mantenha o foco! Como ele morreu? — gritou Sérgio.

    — Eu já disse! — retrucou Richard. — Morreu de velhice!

    — Continue! — disse Sérgio, agora bem mais calmo, conferindo as horas em seu relógio.

    — Ele não conseguia mais se alimentar! Tinha ficado cego e começou a definhar lentamente. Tivemos que pedir a um veterinário que acabasse com seu sofrimento, mas eu cuidei dele até o fim! Fiz o que pude!

    — E quando foi isso? — perguntou Sérgio, mais calmamente.

    — Sei lá — disse Richard. — Eu estava no meio do último ano de colégio, acho.

    Sérgio desligou o gravador. Maurício, que ainda estava na sala, observava a cena, sem dizer nada.

    — Aceita um copo de água? — perguntou Sérgio.

    Richard apenas acenou com a cabeça.

    — Desculpe a exaltação, meu caro rapaz, mas eu precisava me concentrar no experimento.

    — O senhor pode me explicar o que significa tudo isso? — pediu Richard, mais em tom de súplica que de reclamação.

    — Como eu disse antes, era necessário encontrar uma maneira de convencê-lo a participar do meu projeto. Agora, acredito que vou conseguir.

    — Ainda não estou entendendo — declarou Richard.

    — Veja, meu jovem — continuou Sérgio —, se eu começasse a explicar o propósito do meu projeto, você acharia que eu estou louco, ou no mínimo que sou ambicioso ou sonhador demais. Porém, agora eu tenho a introdução perfeita para minha explanação.

    Sérgio ajeitou-se na cadeira, apertou alguns botões no gravador e iniciou a reprodução do áudio:

    Sexta-feira, quinze de junho, dez e cinquenta e quatro da noite. Aqui é Sérgio Alcântara, estou com Richard Novaes. Este é o experimento...

    — Vamos pular para a parte que interessa — interrompeu Sérgio, avançando o áudio em alguns segundos.

    A gravação continuou:

    Podemos trabalhar com isso?

    Não, senhor. Poderia até ser, mas seria muito arriscado. Não recomendo.

    Você já teve algum bicho de estimação?

    Sim. Um cachorro.

    Fale-me sobre ele.

    Eu o ganhei quando tinha uns quatro anos. Dei o nome de Bingo, sabe, por causa daquela música. É um ótimo nome para um filhote, mas ficou meio esquisito quando ele ficou velho. No fim, eu só o chamava de Bim.

    E como morreu esse cão, o Bingo?

    Ele foi ficando velho e, com a idade, veio a cegueira. Os dentes começaram a cair e tinha ficado difícil tomar conta dele. Mas eu nunca o deixei de lado. Molhava a ração e levava para passear quando podia. O coitado me seguia até o portão todas as vezes que eu saía para a escola. Acabava sempre batendo o focinho no muro ou nas paredes. Ficou mais de um ano nesse estado, até que não conseguiu mais se alimentar. Tivemos que levá-lo a uma clínica e o veterinário sugeriu que terminássemos com o sofrimento dele. Ele morreu nos meus braços, mas foi melhor assim!

     Nesse momento, o áudio apresentou um chiado e não se pôde compreender nada.

    — O que você quer com isso? — perguntou Richard.

    — É assim que você se lembra de nossa conversa? — retrucou Sérgio.

    — É óbvio! Que tipo de pergunta é essa?

    — Você se lembra disso — continuou Sérgio — e eu também, mas é agora que as coisas ficam interessantes! Escute!

    A gravação continuou a chiar por alguns segundos, depois voltou a ficar nítida:

    Responda em poucas palavras: Como morreu seu cachorro, Bingo?

    Ele saiu correndo pelo portão e foi atropelado.

    Como morreu seu cachorro, Bingo?

    O quê? Eu já disse!

    Responda!

    Atropelado!

    — Isso é impossível! — gritou Richard.

    — Mas é a sua própria voz! — argumentou Sérgio. — Não acredita em si mesmo?

    A gravação continuava:

    Não vejo nenhum propósito nisso!

    Como ele morreu?

    Eu já disse! Morreu de velhice! Não conseguia mais se alimentar!...

    Sérgio desligou o gravador.

    — O que significa isso? — perguntou Richard.

    — O que você acha? — devolveu Sérgio.

    — Vocês desenvolveram um algoritmo que simula diálogos que nunca existiram?

    — Pense melhor, meu rapaz — instigou Sérgio, voltando a gravação em alguns segundos. — Vamos ouvir novamente.

    Responda!

    Atropelado!

    Como morreu seu cachorro, Bingo?

    Atropelado! Estava cego e correu para a rua quando eu chegava da escola…

    Não precisa dizer tantos detalhes!

    Sérgio parou a gravação nesse ponto.

    — Tente se lembrar — disse ele. — Alguma vez, quando você chegava da escola, seu cachorro tentou sair correndo pelo portão?

    Richard se esforçou para buscar alguma memória parecida com o que ele disse.

    — Uma vez, ele chegou a correr para a rua, mas um homem estava passando na hora e conseguiu pegá-lo pela coleira. Foi uma sorte tremenda! Lembro que um carro passou a toda velocidade no mesmo instante! Bim teria sido atropelado naquele dia.

    — Você se lembra de como era esse homem que salvou seu cão? — indagou Sérgio.

    — Só o vi naquele dia — disse Richard, pensativo. — Não me recordo bem dele… Pensando melhor, havia uma coisa em seu rosto! Era uma mancha, mais escura que a pele, que ia da sobrancelha até o topo da testa.

    — Maurício! — chamou Dr. Sérgio. — Quero que conheça o Sr. Richard Novaes.

    O homem, que estava até então perto da porta, aproximou-se e apertou a mão de Richard.

    — Muito prazer!

    O jovem repórter ficou boquiaberto ao ver a marca de nascença na testa de Maurício. Ele era o estranho que salvara a vida de Bingo.

    — Como pode ser? — questionou Richard. — Desde quando vocês estão me vigiando?

    — Minha pesquisa a seu respeito se iniciou há duas semanas — declarou Sérgio. Maurício confirmou.

    Richard não conseguiu falar mais nada. Em sua mente, um turbilhão de pensamentos o deixava confuso a ponto de nada que acontecia naquela sala fazer sentido para ele. A adrenalina corria como nunca em seu sangue e ele olhou desesperado para Sérgio.

    — Não se preocupe, eu vou explicar tudo o que você quiser saber — informou o empresário. — Mas cada coisa a seu tempo. Aceita água agora?

    Richard só acenou que sim. Maurício o serviu.

    — Para que possamos dar andamento à nossa conversa — explicou Sérgio —, preciso que assine um contrato de confidencialidade.

    — Sem problemas — concordou Richard.

    — Ótimo! Pode voltar ao seu quarto, pois já está tarde. Devo lhe informar que a linha telefônica de lá não funciona. Além disso,

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