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Os Vídeos De Oto
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E-book208 páginas2 horas

Os Vídeos De Oto

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Sobre este e-book

Quincas e Ludi são uma dupla de investigadores de questões filosóficas e mitológicas que têm um canal de vídeo dedicado a isso na internet. Uma série de acontecimentos sombrios e misteriosos acabam levando esses dois a atuarem como detetives investigando um caso de desaparecimento: o desaparecimento de um videoblogger chamado Oto. Oto por sua vez estava investigando uma grande trama de política e corrupção, que parecia envolver de algum modo uma sereia. Quincas e Ludi vão encontrando vídeos deixados por Oto e vão decifrando aos poucos o que aconteceu com ele.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de mar. de 2022
Os Vídeos De Oto

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    Os Vídeos De Oto - João Ribeiro De A. Borba

    Apresentação

    Os vídeos de Oto (Sereia) a princípio não era material para um romance, mas o primeiro rascunho básico para uma longa série de vídeos na internet — ideia que ainda não foi descartada.

    Quando estava iniciando o projeto, fascinado pelo mito das sereias e recolhendo cenas na internet que poderiam me ajudar a idealizar as minhas, sofri um colapso nervoso, e tive que abandonar o projeto.

    Este romance é o fruto de uma retomada. Revisitei uma longa sequência de diagramas que havia feito com anotações para os vídeos, e recolhi essas anotações para transformá-las neste livro.

    Os dois personagens principais Ludi e Quincas, e mais alguns outros, estão presentes também no meu livro Sombras de lobo: Humor negro & fantasia, que já está publicado. Ludi e Quincas reaparecem aqui em novas aventuras, desta vez assumindo, ou tentando assumir mais profundamente o papel de detetives.

    Em Sombras de Lobo o personagem mais focalizado — ainda que muitas vezes indiretamente — é Quincas. Neste Os vídeos de Oto Quincas e Ludi são focalizados mais equilibradamente, entre os dois talvez com mais atenção para Ludi.

    O primeiro capítulo de Os vídeos de Oto — o capítulo Mergulho de Alice (Naufrágio de um sonho) já estava presente na forma de conto no livro Sombras de lobo, e se o leitor já o tiver lido e se lembrar dele, poderá pular direto para o segundo capítulo (estou brincando, na verdade prefiro que seja lido de novo, por via das dúvidas, porque é um capítulo com informações cruciais). Existe apenas uma pequena diferença neste capítulo de um livro para o outro: em Sombras de lobo Ludi passava pouco tempo deprimido entre o desaparecimento de sua noiva e sua já enlouquecida convicção de ser detetive. Em Os vídeos de Oto, ele passa aproximadamente um ano inteiro deprimido.

    Ao longo do livro, você acompanhará as aventuras de Ludi e Quincas conforme investigam o desaparecimento de um videoblogger chamado Oto Caramelo, que vivia às voltas com supostas conspirações e perseguindo uma suposta sereia mítica.

    Espero estar oferecendo uma boa leitura, também uma boa diversão — porque esta é uma das principais ambições deste livro.

    Parte 1. Mergulho de Alice (Naufrágio de um sonho)

    1.

    Quando era criança, Ludi ouvia pacientemente sua irmã mais nova por parte de mãe (o nome dela era Irisbel) recitar a lista das coisas que queria ser quando crescesse: queria ser uma bruxa má, queria ser um monstro do pântano (mas não aquele dos quadrinhos, porque era muito bonzinho)… mas entre as coisas mais esquisitas, ela dizia que queria ser um vidro de ácido, ou então ela queria ser um açougueiro com o avental bem sujo de sangue. Aí ela parava, olhava para ele e dizia:

    — Você devia ser detetive. Porque está sempre com um ponto de interrogação na cara. Mas nunca ía me encontrar na brincadeira de esconde-esconde, porque eu posso ser muitas coisas, posso ser até um facão de cozinha escondido em cima da pia, e você não tem imaginação. Quer ver só? O que você quer ser quando crescer?

    Era uma conversa que se repetia muitas vezes, em diferentes variações, e Ludi respondia sempre do mesmo jeito:

    — Não quero ser detetive. Quando crescer quero ser gente grande. Só isso.

    Ludi não gostava de brincar de esconde-esconde com a irmãzinha.

    Aí ela ficava emburrada:

    — Se você tivesse coração eu ia ser mesmo uma faca, pra me enfiar em você.

    Ela dizia alguma coisa assim e saía correndo, magoada. Mais tarde, na adolescência, foi se tornando sarcástica, e se escondendo atrás de uma risada amarga em vez de sair correndo. Era muito passional, a sua irmãzinha. Que culpa ele tinha se o seu único sonho de criança era ser adulto?

    Estava pensando nisso quando sua noiva Alice entrou cantarolando sorridente, com um saco de pães:

    — Bom dia, amor! Trouxe pão. Trabalhando de sábado?

    Ludi estava no sofá com o notebook no colo, e uma xícara de café esfriando na mesinha ao lado.

    — Escrevendo uma mensagem pro Quincas. Achei que parecia meio perdido levando as coisas dele, ontem. Foi muito tempo morando com a gente pra sair assim, de repente.

    — Foi você quem achou melhor a gente ter o espaço da casa só pra nós dois, agora que estamos com o casamento marcado, Ludi — lembrou Alice — e não vou dizer que não gostei da ideia. Por mais que adore o Quincas. Nosa casinha não é grande. E talvez eu esteja pensando em termos filhos…

    — Está pensando nisso?

    — Eu disse talvez. Por enquanto ainda temos o Quincas, e é como se fosse um. Precisamos pensar um pouco nele até ele conseguir dar um jeito na vida por conta própria.

    — Tenho receio que ele não consiga se virar muito bem sozinho.

    — Ludi, ele já foi até casado, e se virou muito bem morando sozinho com a esposa.

    — Sério mesmo que você acredita nisso? O casamento durou só um ano. Depois arranjei emprego pra ele lá na universidade como meu substituto, enquanto fazíamos nossa viagem, e como foi? Um desastre. Ele parou de tomar os remédios e você viu no que deu. Quase que não consigo meu lugar de volta quando voltamos de viagem, só pelo fato de ter indicado um maluco, como eles disseram.

    Alice colocou o saco de pães ao lado do café, e girando num passo de dança gracioso, deu a volta em Ludi para sentar ao seu lado com um braço ao redor do seu pescoço, brincando com os cabelos dele com a outra mão:

    — Vamos mudar de assunto. Vamos lembrar direitinho como foi que a coisa começou: você me pediu em casamento… e eu disse… siiiiiiiimmm! — ela jogou os braços esticados para o alto, de pura alegria. Depois abraçou a cabeça de Ludi dando-lhe mil beijinhos no rosto — E aí ficamos noivos! E agora precisamos de um lugar para ficarmos juntinhos só nós dois.

    — Está me sufocando! — riu Ludi.

    Alice se afastou imitando uma criança emburrada que faz biquinho… depois começou a rir. Alice sempre conseguia o que queria.

    — Ele vai ficar bem, Ludi. Ele adora a gente e a gente adora ele. Ficou super feliz com a notícia. E se ele saiu aqui de casa, bom, a gente mesmo está pagando o aluguel do apartamento novo dele, até ele ter como fazer isso por conta própria. Eu sei que é como um filho pra gente, mas temos que ser realistas: ele deve ter a sua idade. Essa é a verdade. Você já fez de tudo por ele. Ele não tinha currículo nenhum. Nem nome ele tinha, estava completamente desmemoriado quando o encontramos naquela estrada. Aliás foi a única coisa que acabou lembrando: o primeiro nome. Sobrenome, nada. Mas virou seu assistente. Assistente de professor, agora tem currículo. E você conhece a competência dele, tem alguma coisa que ele não consiga fazer? Acho que ele é capaz de qualquer coisa que queira no mundo. Só falta mesmo é autoestima.

    — É verdade. Mas quando pára de tomar as pílulas passa a ter autoestima demais, e perde completamente o pé da realidade.

    — Ele não vai mais parar os medicamentos. Só parou antes por causa da crise de separação no casamento. Então é isso, Ludi. Essa é a vez dele. Chegou a hora de abrir as asas, ser um pouco menos dependente.

    — Tem razão.

    — E olha só, não estamos abandonando o Quincas nem nada assim. Temos o nosso projeto. Nós três.

    — O nosso projeto maluco — repetiu Ludi, irônico.

    Na verdade Ludi não estava convencido de levar adiante o projeto. Toda essa coisa de investigadores de assuntos filosóficos e mitológicos o incomodava. Primeiro tinha tido uma série de sonhos estranhos, por várias noites seguidas, em que uma voz dizia que ele estava destinado a ser um detetive. Uma voz masculina, repetindo aquela besteira que sua irmãzinha esquisita vivia dizendo na infância. Coisa ridícula. Era um professor, não um detetive, nem gostava muito de filmes de detetives, e nunca lia romances policiais. Por que tinha sonhado tantas vezes com aquilo? Era só o escuro e aquela voz masculina, falando sobre o seu destino. Não fazia sentido. De onde veio aquilo. Devia ter alguma explicação. Mas ele tinha uma suspeita: achava que de algum modo algumas antigas lembranças de sua irmã na infância o estavam afetando.

    Depois a coisa ficou mais estranha: foi naquele dia em que Alice o acordou empolgada, de joelhos na cama ao lado dele dizendo:

    — Tenho uma novidade, Ludi, você vai adorar: vamos virar detetives, você o Quincas e eu! — jogando os braços para o alto — Que tal?!

    Não quero ser detetive, qualquer que seja a ideia maluca por detrás disso — foi a primeira coisa que pensou naquele dia. Mas não deixou isso vir à boca. Não disse nada. Alice estava muito empolgada, e ele tinha já experiência suficiente para saber que, o que quer que fosse, ela faria acontecer. Alice sempre conseguia o que queria.

    Agora ali estava ela, falando novamente do projeto.

    — Projeto maluco — riu ela — Mas você viu como o Quincas ficou entusiasmado quando tive a ideia. É importante pra ele. Na verdade pra nós três, porque ele é nosso amigo mais íntimo, ele faz parte da nossa história juntos e de certo modo é um elo vivo entre nós, e esse projeto é um laço importante para mantermos com ele. Um projeto que a gente pode levar adiante pela vida afora, nem que seja como uma diversão, mas sabendo que talvez acabe se tornando mais do que isso, depende dos resultados.

    — É — suspirou Ludi — vai ser divertido fazermos isso, os três juntos.

    — Vai ser perfeito! Uma antropóloga e dois professores de filosofia! — disse Alice, entusiasmada — Recolhemos as missões que o público dos nossos vídeos for pedindo. Selecionamos os mistérios mais interessantes e começamos a investigar. Selecionamos só os mistérios dos quais a gente possa tirar algum assunto filosófico ou mítico. Eu investigo os aspectos míticos da coisa, que são a minha especialidade dentro da antropologia, e vocês dois os aspectos filosóficos. Vai ser como brincarmos de detetives. Quincas vai ser o apresentador na internet, ele é quem mais vai aparecer, vai ser ótimo pra ele. Vai ganhar visualização, ficar mais conhecido.

    — Pode dar certo.

    — Se não der de qualquer modo vai ser divertido. Já tenho até um nome para o projeto, Ludi — e Alice fez um gesto no alto, afastando as mãos com o polegar e o indicador de cada uma delas esticado como se visualizasse um letreiro entre elas: ALUQUINFILM.

    — Como é que é? ALUQUINFILM?

    — Isso mesmo — disse Alice, decidida — Alice, Ludi e Quincas Investigações Filosóficas e Mitológicas. Gostou do jogo de palavras? Filosóficas e Mitológicas ficou FILM. Não é bacana?

    — Não sei, não pensei ainda, você vai falando tão depressa…

    — Pufh, você é um estraga-prazeres Ludi — brincou ela — Não sou eu quem fala depressa, é você quem pensa devagar. Já falei desse nome para o Quincas e ele gostou.

    — Então pra mim também está bem.

    — Eu sabia. Vocês dois são previsíveis. É só empurrar um que o outro vai junto, rsrsrs. Vou fazer um pão na chapa. — disse ela se levantando e apanhando o saco de pães — Vai querer um também?

    Ele respondeu que queria também um pão na chapa. O que não disse é que não queria atender aquela voz dos pesadelos escuros… não queria ser detetive. Não entendia a empolgação de Alice e Quincas com a ideia: parecia coisa de historinha infanto-juvenil! Mesmo nas histórias policiais para adultos, ele sempre sentia alguma coisa nesse sentido, como se a história tentasse capturar o lado adolescente ainda presente no fundo da pessoa. Agora convivia com essa sensação incômoda de que a vida — mais precisamente Alice (mas também daquela voz de pesadelos no escuro) — o estavam empurrando para essa fantasia um tanto ridícula, de ser uma espécie de detetive.

    2.

    O dia transcorreu como um sábado normal — exceto talvez por uma conversa de Ludi com Quincas por telefone, que durou mais de uma hora, e na qual conversaram como se não se vissem há meses.

    À noite, Ludi teve um pesadelo interessante.

    Sonhou (para variar) que estava no escuro. Num vasto lugar escuro, mas desta vez uma sombra gigante e retangular como que se abria à sua frente, e era um livro, desses antigos de capa dura. O livro devia ter três ou quatro vezes a sua altura, e estava aberto agora, em pé na posição de leitura, ficando muito muito largo. E Ludi ouviu uma voz, ordenando:

    — Você aí, volta para dentro do livro.

    Junto com o som da voz, uma fileira de bolhas (como bolhas de sabão) saía do livro de acordo com o ritmo das sílabas.

    E Ludi ficou irritado:

    — Não! — apontou para o livro, de onde vinha a voz… e se sentia cada vez mais irritado — Você é que vai parar de engolir a gente nesse livro. É imperdoável o que fez com a Alice. Ela é uma mulher jovial mas intensa, cheia de vida, e tem uma percepção profunda das coisas da vida. Ela é uma mulher muito madura, mas você fez dela uma tagarela superficial com jeito de adolescente! Só porque queria alguém que explicasse a situação geral dos personagens na história. Fez que ela falasse um monte de coisas sobre o Quincas, e sobre o projeto que temos, nós três, só pra poder dar sequência à história sem maiores dificuldades. Não aceito!

    — VOLTA PRO LIVRO! — Vociferou

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