O Caminho Do Sol
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O Caminho Do Sol - Trajano Amaral
O Caminho do Sol
Livro 01
A primeira vez que fui
Trajano Amaral
Direitos autorais reservados exclusivamente ao autor.
O Caminho do Sol, por Trajano Amaral
Ao leitor
Caro amigo leitor. Agradeço que esteja com este exemplar diante
de você agora. Esta história surgiu na busca de um caminho que
chegasse ao sol. Não sei se há caminhos que levem ao sol ou se ele
vem até nós. O livro faz parte de um conjunto, contando a história
de Renato que ao ser tocado pelo sol com uma cor diferente
resolve se arriscar numa aventura fugindo temporariamente de
uma vida monótona. Não conheço ainda todos os passos do
personagem e jamais os conhecerei por completo. Eles existiram
antes da história e existirão depois que eu não a vir mais. Os meus
personagens são para mim como pessoas que me dão uma história
única e real. Eles são vivos, falam comigo e eu com eles numa
troca constante. E é isto que quero que faça. Permita-se trocar
com eles e também comigo.
Este é um trabalho sequencial, cujo objetivo é encontrar o
caminho que não termina no sol. Serão sete publicações
sequenciais para completarem todo o livro. Espero que seja uma
leitura proveitosa e que retorne às próximas edições. Aguardo sua
leitura.
Acompanhe toda a obra nas próximas publicações:
Livro 01 (a primeira vez que fui)
Livro 02 (quando eu voltei)
Livro 03 (o que quero contar ao mundo)
Livro 04 (a segunda vez que eu fui)
Livro 05 (o caminho que não termina no sol)
Livro 06 (vá)
[ 2 ]
O Caminho do Sol, por Trajano Amaral
Dedicatória
A você que sorri pra mim todos os dias de forma inevitável.
[ 3 ]
O Caminho do Sol, por Trajano Amaral
Capítulo 01 – O Convite do Sol
Era manhã. Cansado e desanimado, com os pés enfiados em um
sapato duro que já não ofendia os calcanhares porque se
acostumaram forçosamente a ele, ou porque me esqueci de sentir a
dor. Era mais um dia, depois de outro dia e antes do seguinte.
Tomei meu café sem pressa, pois sempre acordei cedo para ir à
escola e agora não seria diferente. O corpo já havia se acostumado
ao nascer do sol. Era um dos poucos prazeres do dia. E o daquele
dia nascia com uma beleza inexplicável. E quando ele tocou a
xícara de café com leite e aqueceu a minha mão e a pintou de uma
cor laranja linda e suave, parece que algo se moveu dentro de mim.
Algo que nunca havia se movido antes. E eu olhei a cor até o café
esfriar e eu perder o ônibus do estágio. Sim, o estágio. Eu acabava
de me formar em administração e tinha conseguido um estágio em
uma empresa transnacional, um trabalho tranquilo e muito bem
remunerado. Estavam gostando muito de mim lá e eu, certamente,
ficaria com o emprego no fim do ano. Já se passavam três meses
de estágio e daqui a oito meses eu já seria um profissional bem
empregado, respeitado e bem pago. O departamento de relações
exteriores precisava de alguém como eu, que sabia o que dizer às
pessoas. Sempre gostei de pessoas. Convencê-las a mudar o seu
modo de vida não parecia um grande problema. Não tomei o café,
é claro. Saí correndo, mas não deu. O ônibus se foi. Era a segunda
vez que isto acontecia, a solução era ir para a saída de uma
cidadezinha consideravelmente perto do bairro onde morava para
ir no outro ônibus da empresa. Eles me deixavam ir sem
problemas. Entrei em um ônibus qualquer e desci na avenida,
atravessei por baixo do viaduto e peguei a estrada para uma
cidadezinha aqui ao lado da minha. Eram uns vinte minutos de
caminhada, mas dava para interceptar o ônibus da empresa que
vinha de lá.
[ 4 ]
O Caminho do Sol, por Trajano Amaral
O sol estava forte, já era mais forte do que belo, comum no início
do ano, esquenta rápido. Então eu caminhei até a entrada da
cidade, parei em um velho ponto de ônibus e me sentei para
refrescar. O ônibus ainda levaria uns dez minutos. Estava muito
quente e resolvi atravessar a rua e ir até uma barraca que vendia
coco gelado. Havia um carro parado do lado, um carro grande e
velho, não me lembro o modelo. Cheguei, pedi meu coco, e
enquanto o cara furava, saiu uma mulher do carro. Ela era
incompreensivelmente linda e interessante, o que tornava a sua
presença ali intrigante. Olhos negros, cabelos clareados
artificialmente caindo sobre o rosto, calça jeans colada, bota velha,
bem gasta, camiseta colada no corpo, muitos anéis e um enorme
óculos de sol de lente quase verde preso à camiseta. Ela saiu do
carro, eu a olhei, ela me olhou. Colocou os óculos. Se aproximou.
– Posso passar na sua frente? Ela perguntou e eu a deixei pegar o
coco. Ela tomou sem pressa e, adivinha, o meu ônibus passou e
não me viu. Fiquei desesperado e ela ria da minha cara. Me
colocou no carro e, como agradecimento pela gentileza disse que
me levaria ao trabalho.
– Qual o seu nome? – Isadora. E o seu? – Renato. – o que faz
nessa empresa Renato? – trabalho com relações internacionais. Na
verdade sou estagiário, mas no fim do ano estarei empregado,
estou lá há três meses e já conquistei o meu espaço. – você tem
quantos anos? Vinte e dois. – uau. E já tem seu futuro profissional
definido? – na verdade não. Aos vinte e três já estarei empregado,
aos vinte e cinco quero um cargo de confiança, aos trinta abro
minha empresa na área ou vou para a presidência. Então, tenho
dois caminhos dentro do comércio internacional. Só sei que terei
uma Mercedes aos trinta, isso é fato. – sua Mercedes vai te levar
tão longe quanto essa lata velha me leva? – mais longe e mais
rápido, com certeza. – é Renato. Você não vai viver. Chegamos. –
como assim não vou viver? – não vai descer? – como assim não
vou viver? – vai acordar na mesma hora todos os dias. Amar o
[ 5 ]
O Caminho do Sol, por Trajano Amaral
mesmo tipo de mulher. Comer a mesma comida e mudar quando
o médico disser que está velho e isto vai ser aos quarenta. Vestir as
mesmas roupas. Conhecer as mesmas pessoas. Ganhar mais
dinheiro do que precisa e, ainda, do que poderá gastar, e isto vai se
tornar seu objetivo fundamental, sua vida vai girar em torno disso.
E nunca saberá quantas cores tem o sol, pois sempre achará que é
uma só. – e não é? – o que você acha? – hoje quando eu acordei
tive a impressão do sol estar com uma cor diferente. – então ele
convidou você. – convidou? Pra que? Como assim? – convidou
você a ir. – ir? Pra onde? – não tem onde. Somente ir. – isso não
faz sentido. – é, não faz. Se quiser ir te dou uma carona menino. –
me chama de menino como se fosse uma velha. Quantos anos
tem? Vinte, vinte e cinco no máximo. Mas nem parece. – quarenta
e dois. – quantos? Como assim? Não é possível. – eu fui. As
pessoas que o sol convida a ir não envelhecem. – eu quero ir.
Posso ir qualquer dia? – só se ele convidar você mais uma vez.
Nem sempre