Novos Caminhos
De Kika Dias
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Novos Caminhos - Kika Dias
Prefácio
Novos caminhos é um romance que aborda a resiliência humana. Aline e Mariana, são duas amigas, que em determinados momentos veem suas vidas abaladas por uma série de acontecimentos. No decorrer dos anos convivem na amizade, em família e no amor. Cada uma, vive a vida, de maneira completamente distinta. Aline, doce, tímida, inteligente, leal e romântica; Mariana, intensa, imprevisível, solidária, destemida e imune ao amor (é o que ela pensa).
O destino que as une, presenteia-as com uma amizade verdadeira, entretanto, coloca-as diante de realidades conflitantes.
Romances impensáveis, dúvidas e decisões, esperam o leitor, proporcionando momentos em que somos indubitavelmente levados a questionar: — Precisamos mudar para sermos felizes? — Amar impõe condições? — O amor é necessariamente indispensável em nossas vidas? — O amor nos torna pessoas melhores?
Leia, reflita e ame (incondicionalmente?).
Prólogo
Uma batida forte, seguida de um estrondo. Senti meu corpo arremessado, como um bumerangue. Muitos destroços e um cheiro acre de sangue e metal. Não senti dor, anestesiado, me vi flutuando, pairando no ar. Como se eu assistisse tudo de fora, naquele instante, eu era um mero expectador.
Vi, minha namorada, caída, machucada e desacordada, fui tomado pelo desespero, comecei a chorar... havia outra pessoa, atônito, não consegui identificar...
De repente, um clarão, uma luz, com ela, a sensação de paz, enfim paz... Sorri, e fitei o rosto da Aline, sem saber que aquela seria a última vez...
Capítulo I - O início do fim
Aline
A sala de aula estava agitada, era a última semana letiva, as crianças preparavam a apresentação de Natal. Mesas dispostas de frente uma para outra, formavam ilhas repletas de papéis coloridos, tesouras, colas, glíters, guaches e pincéis.
Sentada em minha mesa, observava as disputas que travavam por opiniões e materiais. — suspirei. Ninguém além de mim, queria tanto o final do semestre, sentia-me cansada, esgotada física e mentalmente.
Lúcia, colega de trabalho e inspetora de alunos, olhou pelo visor da porta e fez um sinal para que eu saísse.
— Ei turma, comportem-se! — Volto logo!
Abri a porta e encontrei-a aflita no corredor.
— Aline, você deu sorte que fui eu que o atendi, é o Rico, quer falar com você.
Ameaçou entrar sem permissão, caso eu não te chamasse.
— Ele sabe, que não gosto que me procure aqui. — falei.
— Deve ser urgente. Vai lá, ele está na minha sala. Eu fico com as crianças por enquanto.
Agradeci e segui com passos apressados pelo corredor. Abri a porta da sala da coordenação, meu coração batia acelerado e minhas mãos suavam.
Estava sentado no sofá de canto, as mãos segurando a cabeça entre os joelhos, quando me viu levantou com um pulo, parecia estar transtornado.
— Rico, o que você está fazendo aqui?
— Você não atende minhas ligações e nem responde minhas mensagens. — falou com um olhar inquietante.
— suspirei. — Aqui não, eu já te pedi. Meu lugar de trabalho é sagrado...
— Desculpa, eu não tive alternativa, preciso falar com você. — suplicou.
— Preciso de um tempo, dessa vez foi demais até para mim!
— Eu sei, mas eu não tive culpa. Foi a garota, ela fez de propósito.
— Pode ser, mas se você não estivesse bêbado, nada disso aconteceria.
— Ela me provocou, pediu para uma amiga tirar a foto e postar nas redes sociais.
— E te beijou sem seu consentimento? Já ouvi essa história um milhão de vezes.
Estava tão embriagado que não reagiu? Você acredita que isso ameniza o que eu estou sentindo?
— Eu te amo Line, sou um babaca estúpido e inconsequente!
— Babaca, estúpido, inconsequente e alcoólatra! Não consigo mais Rico. Você precisa se tratar. Fomos muito longe com tudo isso. Tenho que me afastar, preciso me amar mais do que amo você. Agora é uma questão de sobrevivência.
— Você está terminando comigo? Eu não vou saber o que fazer, sem você do meu lado!
— Pra que precisa de mim? Pra resolver suas merdas?
— Te amo, por favor não fala assim!
— Quem ama, não mágoa. Eu estou péssima, fui completamente exposta. O que você quer? Que eu finja que nada aconteceu?
— Já te pedi desculpas, ela se aproveitou da minha fraqueza. Você não estava comigo, bebi, fiz besteira...
— Novidade! Preciso entrar, estou no meu trabalho. Rico, vou para a casa dos meus pais passar as festas de fim de ano. Por favor, respeita meu momento. Procura aquela clínica que eu te falei. Vamos ficar sem nos falar por enquanto. Se trata, quando voltar, conversamos...
— Posso pelo menos te ligar no Natal e no Ano Novo? — pediu se humilhando.
— Claro, mas só nessas datas. Vai ser melhor para nós dois.
Levantei, beijei seu rosto apressada. — Tchau, se cuida!
Voltei para a sala de aula, meu corpo todo tremendo, respirei fundo antes de abrir a porta e encarar a minha realidade.
— Oi! Está tudo bem? — perguntou Lúcia.
— Na medida do possível. Obrigada.
— De nada, você sabe que pode contar comigo. Vê se no próximo ano, faz uma limpeza das coisas que só te fazem mal. Você merece algo melhor.
— Eu sei e vou fazer. Decididamente, vou ser feliz!
A semana passou depressa, Rico cumpriu o combinado e não me procurou mais.
Eu, estava por um triz, fingia não ligar, mas, sabia que quando me permitisse sentir verdadeiramente, ia sofrer. Portanto, bloqueei meus sentimentos. Sempre fui boa nisso...
Tudo arrumado, carro revisado e abastecido. Chamei o elevador e desci com as minhas duas malas. Logo atrás vinha Mariana, minha amiga, dona do apartamento onde ocupo um quarto. Carregada de bagagens, como se fosse viajar para o exterior.
Finalmente, após vários convites, ela resolveu me acompanhar na visita a casa dos meus pais.
Nos conhecemos na época da faculdade. Coincidentemente, no mesmo momento que conheci o Rico.
Eu tinha chegado a São Paulo havia dois meses, passei no vestibular para pedagogia na USP e a princípio morava no alojamento do Campus.
Era noite, a festa de boas-vindas seguia animada, como não gosto de som alto e bebida, fiz uma social
e saí sorrateiramente. Contornei o prédio distraída, o barulho podia ser ouvido da rua. Estava escuro quando atravessei, não deu tempo de correr, quando um carro veio em minha direção, me atingiu, me arremessando de volta a calçada. Fiquei zonza, tudo girava e meu tornozelo doía muito.
— Desculpa. Eu não vi você atravessando a rua! – ouvi, um cara dizer.
— Ela estava na faixa de pedestre, você está bêbado, é obvio que não conseguiu ver nada! — gritou uma garota que vinha passando e parou para ajudar.
O cara se apresentou dizendo que se chamava Ricardo, me pegou no colo e me levou até a enfermaria. A garota pegou minha mochila no chão e nos seguiu resmungando.
— Você devia fazer um boletim de ocorrência, poderia ter morrido. — comentou a garota.
— Tudo bem, foi só o tornozelo. Não precisa. — respondi, assustada.
Olhei para o carinha bonitinho, que após me colocar na maca, estava sentado todo encolhido na cadeira de plástico da enfermaria.
— Desculpa aí... — sussurrou novamente.
— Você deu sorte. — disse o enfermeiro. — Foi só uma torção. Vou imobilizar, vai precisar ficar de repouso, te darei atestado de uma semana.
— Uma semana? — respondi. — Não posso ficar todo esse tempo sem assistir aula!
— Ei! Seu pé está muito inchado. Ordens médicas, você tem para onde ir? —
perguntou a garota.
— Moro no alojamento. — falei sentando na cama.
— Sem condições... — Vem comigo, meu apartamento é grande e bem mais confortável que o alojamento.
— Mas... eu nem te conheço! — respondi confusa.
— Mariana, estudante de psicologia. — falou estendendo a mão e sorrindo.
— Sou, Aline. Pedagogia. — respondi, correspondendo ao aperto de mãos.
— Ok, apresentadas! — Você vem comigo, vai precisar de ajuda.
Coloquei as pernas para fora da maca, meu tornozelo foi enfaixado. Fiz uma careta de dor. O cara que permanecia sentado observando, levantou rapidamente quando percebeu que eu estava com dificuldade para descer.
— Eu te ajudo. — falou oferecendo o ombro para eu me apoiar, enquanto passava o braço pela minha cintura. — Posso levar vocês, se quiserem.
— Não precisa, você bebeu. Ainda bem que estou de carro. — falou Mariana.
Sorri para ele e agradeci, entrei no carro da minha nova amiga, que ainda passou no alojamento para pegar minhas coisas.
Fiquei no apartamento da Mariana até poder apoiar o pé no chão e não sentir dor.
Ela foi bem legal comigo, mesmo me conhecendo recentemente. O apartamento era bonito, bem decorado e aconchegante. No final daquela semana de repouso, fui convidada a morar com ela.
— Aline, preciso de uma pessoa para dividir o apartamento, por que você não vem morar comigo?
— Poxa, obrigada! — Mas eu não tenho dinheiro.
— Quem falou em dinheiro? — respondeu sorrindo. — O apartamento é meu, posso te convidar, não posso?
— Mas e as despesas? Água, luz, condomínio?
— Meus pais pagam. — As despesas não vão aumentar tanto assim, com você!
—Tem certeza?
— Claro! Estou cansada de ficar sozinha nesse apartamentão. É muito grande só para mim.
— Ok, mas eu estou procurando um estágio e assim que eu tiver dinheiro, te ajudo com as despesas.
— Se insiste. — respondeu erguendo os ombros.
Uma semana depois, estava de volta a faculdade e para minha surpresa, encontrei com o carinha que me atropelou na saída da