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Futebol, o estádio global
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E-book101 páginas1 hora

Futebol, o estádio global

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Sobre este e-book

Quem nunca foi treinador de bancada levante o braço. Não há estudos, mas, em 10 milhões de portugueses, não será arriscado afirmar que 10 milhões já viram um jogo, comentaram um lance, deram palpites sobre uma grande penalidade. Ou, simplesmente, cantaram o hino com a selecção nacional. Antes de o futebol ser o jogo de todos, aqui e além fronteiras, a história foi bem diferente. Do anonimato dos jogadores ao mercado de milhões, a transformação deste desporto em espectáculo de massas deve muito a factos, mas também ao inexplicável: a magia de um pé direito, o génio de um guarda-redes, as superstições de balneário. Era uma vez uma bola redonda. Universal e apaixonante, este é o retrato que faltava da grande paixão nacional.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de set. de 2017
ISBN9789898863232
Futebol, o estádio global
Autor

Fernando Sobral

Fernando Sobral e jornalista do Jornal de Negócios e colaborador do Correio da Manhã e da revista Espiral do Tempo. Trabalhou no Semanário, O Independente, Se7e e Diário Económico, entre outros. É autor de vários livros de ficção e não-ficção, como Ela Cantava Fados, O Segredo do Hidroavião, Os mais poderosos da Economia portuguesa ou Barings, o Banqueiro de Portugal (estes dois em co-autoria).

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    Futebol, o estádio global - Fernando Sobral

    Introdução – A paixão total

    O futebol joga-se em qualquer lado. Só precisa de um terreno, de duas latas ou montinhos de areia para fazer uma baliza, de uma bola e de uns quantos jogadores. Se não há sapatos, joga-se descalço. Sendo simples, todos se apaixonam por ele. E os portugueses não escaparam a isso: foi amor à primeira vista. Por isso o futebol é, em Portugal, o desporto nacional. Uns jogam-no e os outros discutem-no de forma apaixonada. Por detrás desta paixão gloriosa o futebol foi-se modificando ao longo das décadas. Tornou-se adulto, com as consequências positivas e negativas desse crescimento. A eficiência substituiu, em muito, a imaginação. A estratégia obliterou a sorte. Continua a ser um entretenimento, mas é também, e cada vez mais, um negócio. O futebol mudou no mundo e transformou-se em Portugal. Dois momentos marcam a relação deste país com o desporto-rei. Um foi fixado a preto e branco. O outro a cores. No Mundial de 1966, depois da Selecção ter perdido com a Inglaterra, Eusébio ficou imortalizado a chorar através da célebre fotografia de Nuno Ferrari. Meio século depois, lesionado e fora do jogo decisivo da final com a França, Cristiano Ronaldo, salta frenético, junto ao banco de suplentes, nos momentos que antecederam a vitória no Europeu de 2016. Entre a derrota de 1966 e a vitória de 2016 tudo pareceu mudar. Numa coisa continua a ser igual: «O futebol é ganhar, ganhar e ganhar e voltar a ganhar», como dizia o treinador espanhol Luis Aragonés. Mas se ganhar é imperativo, sem alegria, emoção e incerteza, o futebol não moveria multidões. Os melhores futebolistas sabem isso: sendo sérios a jogar pretendem divertir-se e divertir-nos. Joga-se bem para ganhar. E, para ganhar, não importa só ter os melhores talentos e um devoto amor à camisola. É preciso muito mais. O futebol, outrora um jogo simples para divertir os trabalhadores das fábricas, tornou-se a alegria de todas as classes, idades e raças, de homens e mulheres. Existe para estar ao serviço dos adeptos. Por isso os clubes eram outrora mais do que negócios. E, mal ou bem, continuam a ser.

    Outra coisa liga Eusébio e Cristiano Ronaldo: a sua origem, nas margens da vida fácil. É dali que vêm os maiores alquimistas do futebol, os que driblam o seu destino e conquistam a glória. No entanto, ambos pertencem a mundos diferentes. Eusébio viveu num futebol onde a televisão não era rainha. Era um herói. Cristiano Ronaldo vence no universo dos deuses do pequeno ecrã, das redes sociais, do marketing. É uma celebridade. Eusébio, víamo-lo a preto e branco em pequenos televisores. Cristiano Ronaldo, acompanhamo-lo em plasmas de alta definição ou na Internet. O mundo era pequeno no tempo de Eusébio. No de Cristiano Ronaldo não tem fronteiras. O futebol continua a ser feito de artistas e de craques. Só que hoje é feito de empresários, de patrocínios, de salários e transferências estratosféricas. O futebol era, antigamente, apenas um desporto. Transformou-se num espectáculo profissional. E, nesses dois mundos, tornou-se o rei dos desportos em Portugal. Respira-se futebol neste país e por isso ele tinha o direito de sonhar com algo grande. Os principais clubes deram-lhe o sabor da vitória: o Benfica ganhou duas vezes a Taça dos Campeões Europeus. O Futebol Clube do Porto ganhou uma vez a Taça dos Campeões Europeus e uma vez a Liga dos Campeões, sua sucessora. E venceu duas vezes a Liga Europa (anteriormente Taça UEFA) e o Sporting ganhou uma vez a Taça dos Vencedores das Taças. Faltava a glória suprema: em 2004, um Portugal empolgado, foi à final do Europeu de Futebol que se realizou no nosso país, onde tinha uma equipa brilhante e jogava um futebol vistoso, mas perdeu. A vitória no Europeu de 2016 foi a cereja no topo do bolo, o corolário de uma profissionalização interna, da internacionalização de muitos dos melhores talentos nacionais como Figo, Rui Costa, Pauleta, Cristiano Ronaldo, Futre, Paulo Sousa (que aprenderam novos ritmos competitivos, mais agressivos) e também de uma nova geração de treinadores que passaram a ser disputados em todo o mundo. José Mourinho tornou-se o mais destacado, mas já antes Carlos Queiroz tinha também deixado a sua marca em importantes clubes e selecções, fruto do seu trabalho nas camadas jovens portuguesas. Outros seguiram o seu caminho, como Leonardo Jardim (hoje no Mónaco), Paulo Bento (até há pouco no Olympiakos), Paulo Fonseca (Shaktar Donetsk), André Villas-Boas (na China), Paulo Sousa (na Fiorentina), num total de 200 treinadores portugueses no exterior, do Burkina Faso à China, Lituânia, Índia, Angola, países árabes ou Israel. A impressão digital de Portugal no futebol mundial é maior do que os seus títulos.

    No futebol são quase sempre as características dos jogadores que impõem um estilo, embora hoje os rigores da profissionalização tenham alterado a natureza do jogo, cada vez mais atento a tudo o que significa controlo. Perdeu-se a espontaneidade, o célebre jogo bonito brasileiro, que tanto empolgava o mundo. Os resultados tornaram-se mais valiosos do que os dribles. Mas esse é o fruto proibido de uma mudança que se verificou nas últimas décadas. E que começou a despontar com a globalização tímida que foi a realização dos campeonatos mundiais de futebol na década de 1930 e que se acentuou nas décadas de 1980 e 1990, a reboque da política de expansão da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e da UEFA (Union Européenne de Football

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