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A Europa não é um país estrangeiro
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E-book121 páginas1 hora

A Europa não é um país estrangeiro

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Sobre este e-book

A Europa Não É Um País Estrangeiro é uma abordagem original e coerente às várias declinações da ideia de Europa. Trata-se de uma viagem pelos símbolos, palavras, factos e memórias imperfeitas do continente, desde as suas fronteiras e geografia, história e conflitos, até à liberdade, prosperidade, imperialismo e imagem do “outro”, passando pela sua curiosa relação com a sua mais óbvia descendência, os Estados Unidos da América.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jun. de 2019
ISBN9789898943712
A Europa não é um país estrangeiro
Autor

José Tavares

José Tavares, doutorou-se em Economia na Universidade de Harvard, onde se especializou em Economia Política, e é professor na Nova School of Business and Economics e Research Fellow no Centre for Economic Policy Research, de Londres. Os seus trabalhos de investigação foram comentados na revista Time e nos jornais New York Times, Handelsblatt, e La Repubblica, entre outros. Co-organizou, com Francesco Caselli e Mário Centeno, o volume After The Crisis: Reform, Recovery, and Growth in Europe, publicado na Oxford University Press.

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    A Europa não é um país estrangeiro - José Tavares

    Prefácio

    Tive a felicidade de me tornar amigo do José Tavares ao mesmo tempo que ele se tornava europeísta. Este ensaio é tanto o espelho da Europa quanto do José. Se tudo o que escrevemos é, de certa forma, autobiográfico, este ensaio é-o duplamente. O José escreve sobre a Europa ao ritmo do seu pensamento e isso torna o texto denso, imenso, e um prazer.

    A Europa não é uma construção nova. A Europa teve a forma de impérios, vários. A Europa teve a forma de ditaduras, antigas. A Europa teve uma forma fragmentada, fechada, supremacista e derrotada. Felizmente, todas estas formas de Europa falharam. Porque a verdadeira Europa é plural.

    Depois de milénios em que se tentou construir a Europa à custa de poder, pólvora e força, a Europa unida surgiu como o resultado do mais longo e sustentável período de prosperidade que os seus povos alguma vez viveram. Só há uma forma de destruir esta Europa: é voltarmos as costas ao que dela exigimos ao longo dos últimos 70 anos. E abrirmos as portas ao facilitismo, ao oportunismo e, como consequência, ao populismo. Ao argumento que cabe em e voa à velocidade de um tweet. E que morre à velocidade do seguinte. Não conseguiremos chegar à Europa que o José descreve se abraçarmos uma análise que não é analítica e um número que não é definitivo.

    A Europa nunca se deixou encantar por facilitismos. Não será desta vez. A Europa nunca se deixou encantar por hegemonias. Não será agora. É isto que o José nos descreve. O José descreve uma Europa da resistência, do pensamento e do duradouro, que se sobrepõe ao que é simples e efémero. E eu quero competir com ele pelo título do mais europeísta dos Europeus, porque neste pódio têm lugar, pelo menos, mais 350 milhões de vencedores. E devemos gerar mais europeístas por esse mundo fora.

    A Europa construiu o euro, a sua moeda. Mas também construiu um espaço de mobilidade para os seus cidadãos. Em paz e democracia. Nenhum outro espaço desta dimensão foi, na história da Humanidade, conseguido desta forma. E isto é um sucesso merecido. Todos sabemos que o sucesso nasce da correção dos insucessos. É assim na ciência e, portanto, na vida das sociedades. A digressão pela Europa que o José nos traz mostra como ela é imperfeita, porque feita por nós. Mas podemos permanecer otimistas. Porque a Europa só pode ficar ainda mais perfeita para os nossos filhos.

    Mário Centeno

    Preâmbulo

    Joachim e Ruzena pareciam-lhe criaturas que viviam apenas com uma pequena fração do seu ser no tempo ao qual pertenciam, na idade a que correspondiam os seus anos; e a parte maior deles estava noutro sítio, talvez noutra estrela ou noutro século, ou talvez simplesmente na infância.

    Hermann Broch, os Sonâmbulos

    [Parte 1, Capítulo 2]

    Esta é uma obra de especulação e síntese, embora não necessariamente por esta ordem. Entre a reiteração rigorosa e a possibilidade de uma iluminação escolherei sempre a segunda. Embora a originalidade não seja a minha maior preocupação, não farei nenhum esforço para a evitar. A Europa merece um mapa teleológico, por nebuloso que seja. O continente dá sinais de se acomodar a um certo sonambulismo. Um coração e um futuro são mais urgentes que a lógica e as instituições do presente.

    Em grande medida, o esforço deste ensaio é interpretativo. As fontes sobre a identidade europeia são um conjunto bastante rico e diverso. Os especialistas beneficiam da proximidade das fontes primárias. Não é esse o meu contributo. Se há neste ensaio pretensão de originalidade, ela está na relação entre as ideias mais enraizadas e persistentes sobre a Europa, real ou imaginada, e o seu futuro.

    A distância quase sempre facilita o autoexame. A primeira vez que me senti verdadeiramente europeu foi enquanto estudante de doutoramento na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Não sei se, solidamente regressado à Europa, consigo recordar de forma muito clara como era ser europeu naquela altura. Envolvia certamente uma mistura variável de serenidade, cosmopolitismo delicado, proximidade da língua materna e uma curiosidade sincera em relação aos outros, bem como um paternalismo suave e um orgulho relativamente abstrato. Devo confessar que nunca terei a certeza se isto era o europeu que há em mim, ou se era simplesmente eu. Em qualquer dos casos, o pudor recomenda que me recolha atrás do qualificativo europeu.

    Muitas visões críticas do futuro da União Europeia apresentam a identidade europeia como um dado adquirido, tomando a seguir posição quanto à razoabilidade das instituições que surgiram na Europa na segunda metade do século XX. Aponta-se a mecânica da paz e da prosperidade como substituto da coesão perversa dos nacionalismos e das xenofobias. Enquanto alguns louvam as nações como a única força política com capacidade revolucionária, há um contraste evidente entre o pensar depressa — e fácil — do nacionalismo e o pensar devagar das instituições internacionais de união e integração. Eu prefiro pensar devagar. Ir para além do nacional, evitando ao mesmo tempo ficar "paralisado pelo consumismo ou pela cultura oficial das instituições

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