O efeito Marcelo: O comentário político na televisão
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Sobre este e-book
Rita Figueiras
Doutorada em Ciências da Comunicação, Professora Associada da Universidade Católica Portuguesa, onde leciona na licenciatura, mestrado e doutoramento em Comunicação. O seu trabalho centra-se na relação entre os media e o poder, desenvolvendo investigação na área da Comunicação Política, Economia Política dos Media e Jornalismo Político. Tem uma vasta obra sobre o comentário e os comentadores.
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O efeito Marcelo - Rita Figueiras
O efeito Marcelo
Uma vez trouxe um leitão para o estúdio. Noutra, foi uma torta gigante e o respetivo pasteleiro. Com um discurso pedagógico e simples e dotes de entertainer, Marcelo Rebelo de Sousa democratizou o acesso à opinião esclarecida e massificou um produto de nicho. A sua aparição dominical na TVI tornou-se a medida-padrão do comentário televisivo. Ainda hoje, nenhum comentador escapa à comparação, nenhum media ou político ignora a força do formato.
Mas quem são os sucessores do Professor
? Como encaram a sua função e que temas privilegiam? Por que motivo tão poucos são mulheres? Que espaços têm à disposição? Com que distribuição partidária? Este livro analisa a evolução do comentário político na televisão portuguesa. Que é como quem diz, o efeito Marcelo
.
Rita Figueiras
É doutorada em Ciências da Comunicação e professora associada da Universidade Católica Portuguesa, onde leciona na licenciatura, no mestrado e no doutoramento em Comunicação. O seu trabalho centra-se na relação entre os media e o poder, desenvolvendo investigação nas áreas de comunicação política, economia política dos media e jornalismo político. Tem uma vasta obra sobre o comentário e os comentadores.
Retratos*
* A colecção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem viu – e vê – de perto.
Efeito Marcelo
O comentário político na televisão
Rita Figueiras
logo.jpglogo.jpgLargo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso
1099-081 Lisboa,
Portugal
Correio electrónico: ffms@ffms.pt
Telefone: 210 015 800
Título: O efeito Marcelo: o comentário político na televisão
Autor: Rita Figueiras
Director de publicações: António Araújo
Revisão de texto: Rita Cabral
Design: Inês Sena
Paginação: Guidesign
© Fundação Francisco Manuel dos Santos e Rita Figueiras, Fevereiro de 2019
A autora desta publicação adotou o novo Acordo Ortográfico.
As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade da autora e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada à autora e ao editor.
Edição eBook: Guidesign
ISBN 978-989-8943-68-2
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Introdução
1. Bem-vindo ao mundo do comentário e dos comentadores
2. Formatos e protagonistas
3. Evolução do comentário político: 2000–2017
Conclusão
Introdução
«Estamos aqui de pulsos cortados e de coração apertado. Custa-nos ver partir o Professor Marcelo. Esta é uma homenagem da TVI a uma das suas principais figuras e mais duradouras figuras. Marcelo Rebelo de Sousa faz parte da história desta estação. Escreveu com o seu próprio punho alguns dos capítulos mais gloriosos do sucesso da informação da TVI. Portanto, na entrada desta sua nova fase de vida, de certa forma, também abre um novo capítulo para a informação da TVI aos domingos. É um desafio que está lançado. Substituir alguém que, por definição, é insubstituível.»
O diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, disse estas palavras no último dia de Marcelo Rebelo de Sousa como comentador, em outubro de 2015. A emissão especial de 38 minutos foi inteiramente dedicada ao «professor» (como os jornalistas da estação lhe chamavam) e contou com a presença de seis dos pivôs (Judite Sousa, José Alberto Carvalho, Júlio Magalhães, Ana Sofia Vinhas, José Carlos Castro e João Maia Abreu) que o acompanharam ao longo dos anos. Os seus dois filhos também estiveram no estúdio, juntando-se à homenagem no fim da emissão. Se fosse hoje, o momento teria terminado com uma selfie, certamente tirada pelo próprio Marcelo.
Antes de encerrar o noticiário, Sérgio Figueiredo acrescentou: «deixe-me agradecer-lhe as audiências». De facto, o professor foi líder incontestado, e esta emissão especial bateu todos os recordes. A média de audiências do seu comentário situou-se nos 30 % de share (percentagem de espectadores que assistiram ao espaço de opinião tendo em conta o total de pessoas a ver televisão àquela hora), mas naquele domingo de despedida obteve 35,7 %. Estes valores impressionam, e impressionam ainda mais se tivermos em conta que a quota de mercado da TVI — o canal de televisão mais visto no país — se situou nos 22,5 % nesse ano.
O comentário, tal como hoje o conhecemos, chegou à televisão portuguesa em 2000, com a contratação de Marcelo Rebelo de Sousa pela TVI. O formato evoluiu ao longo do tempo e foi-se moldando às suas características de personalidade e capacidades comunicativas. Esta evolução revela a forma descomplexada com que encarou o papel de comentador e o estatuto simbólico de professor universitário. Em 2015, por exemplo, partilhou com Cristina Ferreira — a apresentadora mais popular do país — a capa do primeiro número da revista Cristina, tendo sido, inclusive, entrevistado por ela nessa edição.
Marcelo desenvolveu uma nova forma de fazer comentário. Com uma linguagem acessível a quase todos, democratizou o acesso à opinião esclarecida e massificou um produto de nicho, até então consumido apenas pela elite nacional. Com um discurso pedagógico e simples — simplista e nem sempre exato, segundo vozes críticas —, conseguiu comunicar com os mais variados auditórios e ser relevante para todos eles.
Marcelo introduziu também uma componente de entretenimento no seu comentário. Não me refiro apenas ao dinamismo e à exuberância com que abordava os assuntos e ao uso de linguagem coloquial e expressões populares. O comentador integrou no seu espaço de opinião momentos dignos do daytime televisivo. Uma vez trouxe um leitão da Bairrada para a mesa do comentário. Noutro dia levou para estúdio uma torta gigante, acompanhada do pasteleiro que a confecionara, e frequentemente oferecia doces, em direto, a Judite Sousa. Chegou ainda a incluir entrevistas no seu espaço. Conversou com Ruy de Carvalho no estúdio, e com Cristiano Ronaldo em Madrid. Numa emissão feita a partir de sua casa, mostrou o neto recém-nascido.
Esta atitude descomplexada revelou-se igualmente na ampliação e diversificação dos temas abordados. O professor falava de política nacional e internacional, de economia e de assuntos judiciais, mas também de futebol e das novelas da TVI. Além da agenda institucional, destacava associações recreativas e festividades no país profundo, e concluía os seus programas com a apresentação de livros (razão pela qual eram com frequência motivo de destaque à segunda-feira em algumas livrarias).
Por outro lado, o seu comentário reconfigurou o perfil de audiências do noticiário da TVI, integrando as classes A e B (espectadores mais escolarizados e com níveis elevados de rendimento) no auditório do noticiário de domingo. O comentador contribuiu, ainda, para que fosse dada mais atenção a este espaço informativo, com os outros media a fazerem eco das suas opiniões e o Jornal Nacional a ganhar o estatuto de definidor da agenda de outros meios, de jornalistas de referência e das esferas de poder.
A sua contratação pela TVI guindou a figura do comentador na sociedade portuguesa a um patamar totalmente novo. Por sua causa, o domingo tornou-se o dia premium do comentário nos canais generalistas: no mês em que terminou a colaboração de Marcelo, a opinião de Luís Marques Mendes transitou para o domingo. Paulo Portas comenta nesse dia (TVI), tal como fez José Sócrates (RTP1).
O «efeito Marcelo» é evidente e ajuda a compreender as razões pelas quais o comentário político se tornou uma componente estruturante das emissões televisivas e os espaços individuais de opinião se converteram no