Telenovela, Indústria & Cultura, Lda
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Sobre este e-book
Eduardo Cintra Torres
Nasceu em Lisboa em 1957. Autor de 15 livros, entre os quais Televisão e Serviço Público (FFMS, 2011), A Multidão e a Televisão: Representações Contemporâneas da Efervescência Colectiva (UCE, 2013) e A Tragédia Televisiva: Um Género Dramático da Informação Audiovisual OCS, 2006), sendo o mais recente From Multitude to Crowds: Collective Action and the Media, de que foi co-editor e autor (Peter Lang Ed., 2015). Doutorado em Sociologia, Mestre em Comunicação e licenciado em História, publicou também dezenas de artigos e capítulos de livros em publicações nacionais e internacionais. Professor universitário há mais de uma década e jornalista desde 1983. Colunista em diversos jornais e revistas há 35 anos, é colaborador permanente desde 2003 no Jornal de Negócios e desde 2011 no Correio da Manhã, comentando na CMTV desde 2013. Autor de programas de rádio e de televisão desde os anos 80. Autor de materiais pedagógicos para o Ministério da Educação. Membro dos grupos de trabalho de iniciativa governamental sobre a televisão em 2002 e em 2011.
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Telenovela, Indústria & Cultura, Lda - Eduardo Cintra Torres
Telenovela, Indústria & Cultura, Lda.
A telenovela é o género de ficção preferido dos espectadores portugueses e o principal suporte da indústria audiovisual portuguesa. Durante seis meses, o autor acompanhou todas as fases de criação de uma telenovela de sucesso, Mar Salgado, desde a escrita até à sua apreciação pelos espectadores, passando pela produção, realização, representação e edição. Esteve presente em reuniões e gravações, visitou os bastidores. Acompanhou todos os passos técnicos da finalização de um episódio de Mar Salgado. Ouviu e entrevistou autores, produtores, realizadores, actores, técnicos e espectadores.
Este livro pretende dar a conhecer como se constrói a telenovela portuguesa e, em especial, como se vive, em todos os seus passos, a tensão entre a dimensão cultural e a dimensão industrial deste conteúdo televisivo. É o primeiro livro em que se visita, descreve e analisa a telenovela enquanto principal produto da fábrica de sonhos
que a televisão também é.
Eduardo Cintra Torres
Nasceu em Lisboa em 1957. Autor de 15 livros, entre os quais Televisão e Serviço Público (FFMS, 2011), A Multidão e a Televisão: Representações Contemporâneas da Efervescência Colectiva (UCE, 2013) e A Tragédia Televisiva: Um Género Dramático da Informação Audiovisual OCS, 2006), sendo o mais recente From Multitude to Crowds: Collective Action and the Media, de que foi co-editor e autor (Peter Lang Ed., 2015). Doutorado em Sociologia, Mestre em Comunicação e licenciado em História, publicou também dezenas de artigos e capítulos de livros em publicações nacionais e internacionais. Professor universitário há mais de uma década e jornalista desde 1983. Colunista em diversos jornais e revistas há 35 anos, é colaborador permanente desde 2003 no Jornal de Negócios e desde 2011 no Correio da Manhã, comentando na CMTV desde 2013. Autor de programas de rádio e de televisão desde os anos 80. Autor de materiais pedagógicos para o Ministério da Educação. Membro dos grupos de trabalho de iniciativa governamental sobre a televisão em 2002 e em 2011.
Retratos*
* A colecção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem viu – e vê – de perto.
Telenovela, Indústria & Cultura, Lda.
Eduardo Cintra Torres
logo.jpglogo.jpgLargo Monterroio Mascarenhas, n.º 1
1099-081 Lisboa,
Portugal
Correio electrónico: ffms@ffms.pt
Telefone: 210 015 800
Título: Telenovela, Indústria & Cultura, Lda.
Autor (texto e fotografias): Eduardo Cintra Torres
Director de publicações: António Araújo
Revisão de texto: Isabel Branco
Design: Inês Sena
Paginação: Guidesign
© Fundação Francisco Manuel dos Santos e Eduardo Cintra Torres, Fevereiro de 2016
Edição original – Dezembro de 2015
O autor desta publicação não adoptou o novo Acordo Ortográfico.
As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.
Edição eBook: Guidesign
ISBN 978-989-8838-11-7
Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt
Índice
Para começar
Autor, autores
O bisavô da telenovela chama-se folhetim
Um género estruturante da programação
A indústria cultural de massas: Mar Salgado, Lda.
Uma fábrica, um produto
A escrita
O gancho que agarra o espectador
Novela, novelo
Verosimilhança e fantasia
O tempo na novela: com tempo, sem tempo
Continuidade, o tribunal da verosimilhança
O realizador da telenovela: realizar o quê?
Um estilo audiovisual próprio
Interiores, exteriores
Uma cena interior: num gabinete do Hotel Salinas
Uma cena exterior: no mercado
Duas cenas exteriores: no hospital
A representação naturalista
Terminam as gravações do episódio
Montagem ou edição?
As cores da telenovela
O som da telenovela
Publicidade assim e assado
Merchandising social: vender temas sociais
Import, export
Um êxito de audiência
Falam os espectadores, e eles sabem muito
Uma cena especial para acabar em grande
Fontes e bibliografia
Agradecimentos
Fotografias
Para começar
Como se faz uma telenovela? Como se escreve, produz, realiza, apresenta? Quem vê e qual a sua opinião? Por ser o conteúdo de ficção mais visto, a telenovela é o esteio em que se ampara a pequena indústria audiovisual portuguesa. Dá trabalho a centenas de pessoas. Mantém a saúde financeira das empresas proprietárias dos canais. Ocupa o tempo mais precioso da programação, o horário chamado nobre. É vista por milhões, cujos hábitos, ideias e tendências alimenta e influencia, mas, apesar da atenção que lhe presta a imprensa especializada, passa despercebida no cardápio dos temas que a sociedade culta e mediática discute.
Como académico da área e crítico de televisão, eu mesmo prestei pouca atenção à novela nestes quase 20 anos de escrita sobre o media. Com este livro me penitencio: acompanhei durante oito meses a construção de uma telenovela, Mar Salgado. Reuni com os argumentistas e assisti ao seu trabalho. Ouvi responsáveis da empresa produtora, a SP Televisão, e do canal emissor, a SIC. Assisti a gravações, em estúdio, em exteriores e nas régies de realização. Acompanhei o planeamento burocrático das gravações e o trabalho de edição das imagens, da cor e do som. Visitei os lugares onde se guardam os cenários e o guarda-roupa. Entrevistei a autora do argumento, um dos protagonistas e a directora do projecto. Reuni os dados sobre a audiência da novela. Ouvi espectadores de Mar Salgado num grupo de foco, isto é, uma reunião para auscultar opiniões sobre determinado assunto. Falei com outros especialistas. Li trabalhos académicos sobre o género televisivo.
Como estratégia deste trabalho, decidi centrar-me num único episódio, escolhido ao acaso. Calhou ser o 298º episódio da empresa produtora, que acabou dividido entre os 273º e 274º episódios na emissão pela SIC. A partir dele, acompanhei todo o seu processo, desde o início da escrita até à sua apresentação na SIC, passando pela produção, realização e edição. Esta estratégia permitiu-me entender o que mais me interessava para este livro: como se concretiza a relação entre o processo industrial e o processo criativo na produção do mais importante género ficcional da televisão portuguesa. Deixei um pouco de lado a análise da narrativa, por ser um tema já bastante tratado a respeito da telenovela, mas não perdi a oportunidade de ouvir os espectadores, pois são eles que justificam a existência e o êxito do género. A narrativa, porém, não ficou de modo algum de fora: ela é inseparável do processo simultaneamente industrial e cultural, pelo que o livro a refere amiúde. O que se segue é a história de um episódio, de uma telenovela, da telenovela no Portugal de hoje, num livro que vai propositadamente fragmentado, como uma novela, com cenas
e capítulos
da construção cultural-industrial de um conteúdo, fragmentos que se vão entrelaçando e retomando, para proporcionar o retrato mais fiel possível de um género fundamental da televisão generalista nacional.
Autor, autores
Quem é o autor de uma telenovela? Tomemos o exemplo de Mar Salgado. É a argumentista principal, Inês Gomes? A unidade fabril
que escreve os episódios? A directora-geral do projecto, Patrícia Sequeira? O ou os realizadores? A empresa que concretiza a criação, a SP, e suas equipas técnicas? A produtora que a encomenda e emite, que intervém, que corta e cola episódios, a SIC? A Globo, que co-produz e supervisiona? E a audiência, que decide do êxito e intervém indirectamente, à distância, com o seu poder de veto?
O cinema inventou o autor
do filme, o realizador, mas numa telenovela a questão não se põe. Estudiosos brasileiros conseguem identificar uma marca do realizador nas produções da Globo, dado que há apenas um realizador por novela, mas no caso português pode haver, como em Mar Salgado, três realizadores, sendo um deles a directora-geral. Os mesmos estudiosos brasileiros procuram igualmente a marca do argumentista principal, indicando que alguns escrevem diálogos de maneira diferente, etc. Tal, porém, parece-me pouco, porque o género, isto é, o tipo de programa, tem um peso avassalador sobre todas as marcas identitárias concretas: o ser telenovela sobrepõe-se.
Para ser telenovela, a telenovela tem de ser um folhetim industrial, cumprindo um menu de características e obrigações tão grande que as marcas pessoais se diluem. São elas a serialização, a produção rápida, em série, industrial; a escrita em grupo, com espartilhos narrativos apertados, como a grande quantidade de personagens, a repetição de núcleos ricos-médios-pobres, o par ou os pares românticos, a mistura dos modos melodramático, trágico, cómico ou burlesco, a necessidade de ocasiões de colocação de produtos e de merchandising social, a duração e construção dos episódios, a repartição entre muitas cenas de estúdio e poucas cenas de exteriores, o tipo de realização, a forma de representar, etc.
Parece-me, entretanto, que a autoria de uma telenovela tem, como o poder político medieval, um primus inter pares, um primeiro entre pares: o autor do argumento. A narrativa, nos seus traços gerais, na definição e desenvolvimento dos enredos principal e secundários, na definição das personagens, na formatação narrativa de cada episódio (a grelha ou escaleta) tem um autor, um criador, um argumentista. Não há nada nem ninguém que salve uma telenovela se a estória não atrair audiência, disse-me o dono da fábrica
SP, António Parente. Nem a realização, nem a produção, nem os actores. O primado do argumento estende-se a toda a ficção televisiva. Quem se lembra dos inúmeros realizadores dos episódios do seriado Sopranos? Quem importava era o autor, David Chase. O mesmo sucede na telenovela. Inês Gomes criou o enredo de Mar Salgado e dirige toda a escrita do argumento. Ela não tem dúvidas em dizer-me sobre Mar Salgado: É minha, muito minha
. Também Gabriela Sobral, directora de Produção e Coordenação de Projectos na SIC, e António Parente valorizaram nas conversas que com eles mantive o argumento de Inês Gomes como fundamental para o êxito da novela. Enquanto quadro da SP, é função da autora desenvolver projectos de ficção. "Tive a ideia de Mar Salgado no Verão de 2013, quando tive de apresentar a sinopse. Tinha apresentado uma outra sinopse antes, com uma violação no enredo do núcleo principal, mas saiu, entretanto, um romance de um autor popular com o mesmo caso no enredo e, como
podiam dizer que era plágio", criou a sinopse de Lágrimas de Sal, que, um mês depois de apresentada à SIC, viria a chamar-se Mar Salgado. O título, acrescenta, não é importante: Já sabemos que ela [a SIC] o vai mudar. Nem investimos muito no título.
A autora começou a escrever guiões na Casa da Criação, uma empresa criada em 2001 pela Nicolau Breyner Produções (NBP), desde 1992 sob controle do empresário António Parente. A Casa da Criação foi responsável pela escrita de cerca de vinte telenovelas, contribuindo para profissionalizar uma geração de argumentistas de ficção televisiva. De lá veio também Pedro Lopes, actual director de Conteúdos da SP, principal autor de Laços de Sangue, que venceu o primeiro Emmy Internacional no ano seguinte para a ficção portuguesa, no galardão de telenovelas. Inês Gomes esteve também na Plural, a empresa da MediaCapital produtora de ficção e entretenimento, chegando à SP em 2010, onde já assinou telenovelas e séries.
Considera que a ficção televisiva portuguesa está cada vez melhor
, com melhoras imensas
nos últimos anos. Atribui em parte essa diferença muito grande
à SP, que puxa muito
,