TV Olho: A História da Primeira TV de Rua do Brasil
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TV Olho - Rodrigo Dutra
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Dedico este livro aos produtores e realizadores audiovisuais de periferia, que mesmo sem recursos reinventam e reafirmam suas histórias, memórias e valores por meio do vídeo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, inicialmente, aos meus pais, por terem me criado tão bem em situações nem sempre confortáveis; à minha filha, Sofia, que ilumina meu ânimo e me condiciona um propósito de vida; à minha companheira, Carolina Braga, por estar comigo carinhosamente durante a escrita deste livro e ter chorado e sorrido junto tudo o que aconteceu ao longo deste percurso.
À Capes, pela concessão da bolsa de pesquisa, aos professores do Programa de Pós-graduação em Educação, Comunicação e Cultura em Periferias Urbanas (PPGECC/Uerj), especialmente aos que trabalham com estudos visuais, e à minha orientadora, Liliane Leroux, que me deixou bastante livre para conduzir a pesquisa dentro do campo da história.
Ao Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas (NuVISU), por toda a experiência de estar agregado a um grupo de pesquisa e ter feito eu conhecer pessoas, com quem fundei a minha primeira produtora de vídeos; e em especial à Lúcia Marapodi (técnica em audiovisual/NuVISU), por ter me emprestado a placa de captura.
À Silvia de Mendonça que, além de fazer parte, apresentou-me ao personagem principal dessa história.
Por fim, agradeço ao Francisco Carlos Damásio, que abriu sua casa e seus arquivos para que eu pudesse mergulhar de cabeça no projeto TV Olho.
APRESENTAÇÃO
Este livro analisa a trajetória da TV Olho cujo cerne de atuação poderia ser categorizado dentro de gêneros que marcaram essa época: TV Comunitária, TV de Rua, TV Móvel Itinerante e outros.
Durante a investigação, percebi alguns aspectos em sua criação, objetivos, gestão e produção que a credenciam como um movimento singular e distinto dos fenômenos mais conhecidos, tais como a TV Maxambomba, a TV Viva de Recife e a Bem TV. Quando iniciei a pesquisa, deparei-me imediatamente com o problema da falta de material sobre a TV Olho. Parecia que ela estava apagada da memória das pessoas e também dos arquivos. Por sorte ou destino, encontrei Silvia de Mendonça, que havia atuado como apresentadora da TV Olho. Dias depois, Silvia passou-me os contatos de Francisco Carlos Damásio, um dos fundadores dessa TV.
Damásio recebeu-me em sua residência e me apresentou o acervo: 76 programas montados e, aproximadamente, 500 horas de material filmado sobre a cidade de Duque de Caxias dos anos 1980, além de uma vasta iconografia dos trabalhos da TV Olho e alguns recortes de jornal.
Na parte de registro audiovisual, embora a vontade inicial fosse a de utilizar todo esse material, a necessidade de ser realista com relação ao tempo e ao recurso disponível me impôs a decisão de trabalhar apenas com os 76 programas montados e exibidos ao público.
Este livro, além de ser o primeiro estudo completo e de fôlego sobre o que foi o projeto TV Olho, contribuirá para maior compreensão a respeito da produção e da distribuição do vídeo popular e independente no Brasil.
A TV Olho foi durante muito tempo esquecida por pessoas que fizeram parte da sua trajetória; infelizmente, também não foi objeto do trabalho de historiadores. Tal postura deriva das dificuldades encontradas por boa parte deles em trabalhar com o material fotográfico e/ou fílmico. Apesar da predominância do filme como mídia de massa moderna que, como tal, oferece recursos valiosos para historiadores, é grande a dificuldade em encará-lo como uma fonte ou como forma de comunicação histórica.
Se a história do filme começa em 1890, ele será objeto de interesse acadêmico
por volta de 1920 na perspectiva de uma história estética que o afirmava apenas como forma de arte e, por essa razão, focava em uma seleção reduzida de obras consideradas importantes e realizadas apenas em países centrais como EUA, França, Inglaterra, Rússia e Alemanha¹. A partir dos anos 1960, porém, na trilha aberta pela politique des auteurs francesa, surgem análises histórico-sociais de filmes que dão origem à constituição de um campo disciplinar que busca diferenciar-se de uma história do cinema (ou mesmo da arte) e levam à fundação da International Association for Media and History. Inicia-se, então, os primeiros estudos que procuram teorizar acerca da representação histórica por meio do cinema, sendo o mais conhecido deles a obra Cinema e história, de Marc Ferro (1977, todavia lançada no Brasil apenas em 1993).
Neste livro, sigo as vias propostas por Ferro: tanto uma leitura histórica do filme (no caso, as produções da TV Olho) quanto uma leitura cinematográfica da história (a representação da Baixada Fluminense em termos de espaços, relações, povo, cultura etc., por meio da programação e dos modos de fazer criados pela TV Olho).
Para traçar corretamente o perfil da TV Olho e seu contexto, usei como recursos a realização intensiva de entrevistas e conversas com Francisco Carlos Damásio (seu principal realizador), bem como uma densa pesquisa de acervo que envolveu notícias em jornais, fotos e filmes. A análise comparada também foi utilizada como método, por meio do qual identifiquei continuidades e inovações entre a TV Olho, o circuito comercial de TV da época e outras TVs de Rua.
Dividi as imagens estáticas que encontrei em coleções e as cataloguei como: 1) Reportagens sobre a TV Olho; 2) Publivideo; 3) Serviço de Censura e Diversões Públicas (SCDP); 4) Fotos da TV Olho; 5) Fotos de Damásio na Agência Nacional; e 6) Encarte Publicitário da TV Olho. Foi um árduo trabalho, pois tive que criar instrumentos de pesquisa necessários para acessá-los com agilidade e