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Vamos ao Teatro
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E-book117 páginas1 hora

Vamos ao Teatro

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Sobre este e-book

Não há última deixa: mesmo com todos os preconceitos e mortes anunciadas, o teatro existe desde que existe o mundo. E, durante a pandemia CoVid-19, continuou a existir. O que se lê neste livro comprova isso mesmo e, mais ainda, que um espetáculo teatral é um ser vivo que nasce e morre todos os dias e cuja existência depende de uma grande equipa.
Este é o álbum de família da peça Só Eu Escapei, levada à cena no Teatro Aberto, em Lisboa, entre o Outono de 2020 e a Primavera de 2021. São páginas-retratos de todos os parentes: o encenador, a dramaturgista, as atrizes, os responsáveis pela cenografia, o guarda-roupa, a luz, o som. A história de mais uma equipa única e irrepetível, a confirmar de novo a resistência de uma arte intemporal.
Veja o vídeo de apresentação da obra em youtu.be/lDXaowMbbgE
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de fev. de 2022
ISBN9789899064560
Vamos ao Teatro
Autor

Dina Soares

Dina Soares é jornalista desde 1987. Licenciada em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalhou em diversos meios de comunicação social entre os quais os jornais Expresso, Diário de Lisboa e Semanário, a TVI e a Rádio Renascença. O seu gosto pelo teatro traduz-se agora neste livro que procura ser um périplo por todas as artes, artistas e artífices imprescindíveis a um espetáculo teatral.

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    Vamos ao Teatro - Dina Soares

    Introdução: teatro e pandemia

    No dia em que eu ia começar a trabalhar neste livro, os teatros fecharam. Era quarta-feira, 11 de março de 2020. Na véspera, a Câmara Municipal de Lisboa tinha anunciado que todos os equipamentos culturais da cidade eram obrigados a suspender as suas atividades, numa tentativa de conter a propagação da Covid-19. Os primeiros casos da doença em Portugal tinham sido confirmados a 2 de março, e nove dias depois registavam-se já 59 situações de infeção. No Teatro Aberto, a peça «Alma», de Tiago Correia, estava a meio da sua carreira. «Golpada», de Dea Loher, peça estreada em 2019, preparava-se para regressar em setembro e «Só Eu Escapei», de Caryl Churchill, a peça que me propusera acompanhar, ia começar a ganhar vida.

    E assim aconteceu… quatro meses e meio mais tarde.

    Não foi a primeira vez que uma pandemia fechou os teatros. Tal como os jornais lembraram assim houve notícia dos primeiros cancelamentos, também a vida e a carreira de William Shakespeare foram muito afetadas pela peste bubónica, a maior pandemia da história da humanidade. A mais icónica das pragas veio da Ásia para a Europa no século XIV, onde ganhou o temível nome de Peste Negra. Estima-se que, entre 1347 e 1351 tenha provocado a morte de 25 milhões de europeus. E por cá ficou, durante 600 anos, regressando ciclicamente por surtos até ao início do século XX.

    Shakespeare terá sobrevivido à doença em criança, quando um grande surto levou um quarto da população de Stratford-upon-Avon, a sua cidade natal. Já em Londres, entre 1603 e 1613, durante os anos de ouro da sua carreia enquanto dramaturgo, sofreu com os encerramentos sucessivos das casas de espetáculo devido à praga, que obrigou o teatro a parar mais de 60 % do tempo. Só em 1604, mais de 30 mil londrinos terão morrido, infetados pela bactéria Yersinia pestis. Num artigo publicado no jornal britânico The Guardian, a 22 de março de 2020, o jornalista e escritor Andrew Dickson dá conta da possibilidade de Shakespeare ter aproveitado esses tempos de quarentena para escrever a peça Rei Lear, o mais sombrio dos seus dramas. A hipótese não está confirmada, mas que a peste contagiou a obra do Bardo, isso é certo. Se o surto de peste em Verona não tivesse obrigado frei João, o mensageiro de frei Lourenço, a ficar em quarentena, este teria conseguido chegar a Mântua a tempo de avisar Romeu de que a morte de Julieta era fingida. Romeu não se teria suicidado junto ao corpo da sua amada e, quem sabe, teriam fugido para bem longe e vivido felizes para sempre.

    A quarentena provocada pelo SARS-CoV-2 também não conseguiu paralisar os artistas e as companhias de teatro. Uma semana depois de ter fechado as portas, o Teatro Aberto ligou os écrans e começou a apresentar algumas peças do seu repertório em streaming. Cinco peças registadas em vídeo saltaram dos arquivos. Uma prova de vida, no dizer de João Lourenço, diretor artístico deste teatro. «Nós tínhamos de mostrar que estávamos vivos. As iniciativas digitais serviram para, no meio disto tudo, nos lembrarmos que ainda estamos vivos e que o teatro ainda existe.» Um ano depois, durante o segundo confinamento, em fevereiro de 2021, o teatro da Praça de Espanha deu outro salto, com um espetáculo pensado para estrear online. Com «Palavras em Palco — Um caminho para Caryl Churchill», a encenadora Marta Dias preparou uma representação destinada a dar a conhecer melhor a obra dos autores do repertório do teatro. Uma vez mais, uma demonstração de alento, mas não um espetáculo de teatro. Nas palavras de João Lourenço, «No teatro não há streaming. Isso já não é teatro. No teatro, o outro tem de estar na frente, seja onde for, em que situação for, mas tem de estar no mesmo espaço.»

    Carlos Pimenta é ator, encenador e responsável pela licenciatura em Artes Performativas da Universidade Lusófona. Em janeiro de 2020, pouco mais de um mês antes do primeiro confinamento, defendeu a sua tese de doutoramento sobre «Teatro e Tecnologia. Criação, produção receção — Do deus ex machina ao teatro virtual». Na sua opinião, o que as companhias puseram online é como uma peça transmitida na televisão. «Não é teatro, é um produto de televisão, um documento de um espetáculo de teatro. A performance só existe no presente. Quando deixa de existir no presente, passa a ser um documento.»

    De natureza diferente foi o que fez, por exemplo, o Teatro Nacional XXI com a peça «O Corpo de Helena». Cinco atores, em geografias físicas diversas, juntaram-se num palco virtual para levar à cena uma tragédia grega. A companhia fundada por Albano Jerónimo manteve, no entanto, o caráter efémero das apresentações teatrais presenciais, com três récitas diretas, únicas e irrepetíveis para um público virtual. «Aí podemos falar de teatro online», admite Carlos Pimenta, que aponta outra situação possível:

    Uma peça está a ser representada num teatro. Há um grupo a assistir na plateia e outro a assistir online, a partir de casa. Estão todos a ver o mesmo ao mesmo tempo. Mas em que condições estão cada um desses grupos? Os que estão na plateia, eu sei em que condição estão: estão fisicamente juntos. Os outros estão fora daquele espaço. Existe simultaneidade e efemeridade, mas do lado do espectador que está em casa, existe uma consciência forte do meio, enquanto no teatro não há nada que medeie a relação entre o espectador e o ator que está no

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