Ser Ator em Portugal
()
Sobre este e-book
Veja o vídeo de apresentação da obra em youtu.be/9z946aq6NEI
Jacinto Lucas Pires
Jacinto Lucas Pires escreve romances, contos, peças de teatro, filmes, música. O seu último romance, Oração a Que Faltam Joelhos (Porto Editora, 2020), ganhou o Prémio John dos Passos. Durante a pandemia, lançou ainda um livro de contos: Doutor Doente (Húmus, 2021). No teatro, trabalha com diferentes grupos e encenadores. Coveiros é a sua última peça, estreada em 2021, pela Escola do Largo, com encenação de Marcos Barbosa. Recebeu o Prémio Europa — David Mourão-Ferreira (Universidade de Bari/Instituto Camões, 2008) e o Grande Prémio de Literatura dst 2013, com o romance O Verdadeiro Ator.
Relacionado a Ser Ator em Portugal
Ebooks relacionados
TAP sua cena & sua sombra: O teatro de amadores de Pernambuco (1941-1991) - Volume 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSeis textos breves para estudantes de teatro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os que ficam Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPreparação de Atores na Ficção Televisiva Brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO que mantém o Teatro vivo: Ritual, fluxo, jogo e improvisação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Segredos Da Interpretação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO loiro no cinema: um estudo analítico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeatro de reprise: Improvisando com e para grupos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Demitido: Textos para teatro e TV Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Sol Está Quente & A Água Está Ótima: e outros casos do Detetive Parker Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGrotowski e a estrutura-espontaneidade do ator-criador: Encontros e travessias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNão se mata pintassilgo e outros textos curtos para teatro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO ator impuro: Quatro ensaios breves sobre teatro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA condição do ator em formação: Por uma fenomenologia da aprendizagem e uma politização do debate Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlém da Commedia Dell´árte: A Aventura em um Barracão de Máscaras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEclipse Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDor e Silêncio: Performance e Teatro Sobre o Holocausto Nazista Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Fala Do Ator Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTreinamento para sempre Nota: 5 de 5 estrelas5/5Construindo minha Dramaturgia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeatro, sociedade e criação cênica: textos escolhidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAbsurdo e censura no teatro português: A produção dramatúrgica de Helder Prista Monteiro: 1959-1972 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSulerjitski: mestre de teatro, mestre de vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notas"Ator sem consciência é bobo da corte": O teatro engajado brasileiro nos anos 1960 e 1970 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCatálogo Da Música No Cinema Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma Escuta do Sussurro: Reflexões sobre Ritmo e Escuta no Teatro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória Da Dança Volume I Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Mulher Como Cinema Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Ser Ator em Portugal
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Ser Ator em Portugal - Jacinto Lucas Pires
Ser ator em Portugal
Quando se diz «ator», há quem oiça «astronauta». É o tipo de vocação que os adultos podem desmanchar com um sorriso condescendente. E, na verdade, para estes profissionais não existe um sistema claro de regras laborais e de segurança social, estabilidade, horizonte mínimo. Mas ser ator é, sobretudo, buscar coerência, autenticidade, aceitar a sala de ensaios como um campo de batalha onde tudo pode acontecer, subir ao palco, colocar-se sob os holofotes, para «estar com» e fazer acontecer um mistério de cada vez único e irrepetível.
Este é um livro escrito por um dramaturgo para dar a ver os «bastidores» da vida dos atores em Portugal. Foi composto a partir dos depoimentos de vários profissionais, que surgem como personagens sem nome, para representarem em conjunto um certo «ator desconhecido».
Jacinto Lucas Pires
Escreve romances, contos, peças de teatro, filmes, música. O seu último romance, Oração a Que Faltam Joelhos (Porto Editora, 2020), ganhou o Prémio John dos Passos. Durante a pandemia, lançou ainda um livro de contos: Doutor Doente (Húmus, 2021). No teatro, trabalha com diferentes grupos e encenadores. Coveiros é a sua última peça, estreada em 2021, pela Escola do Largo, com encenação de Marcos Barbosa. Recebeu o Prémio Europa — David Mourão-Ferreira (Universidade de Bari/Instituto Camões, 2008) e o Grande Prémio de Literatura dst 2013, com o romance O Verdadeiro Ator.
Retratos*
* A coleção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem o viu — e vê — de perto.
logo.jpgLargo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso
1099-081 Lisboa,
Portugal
Correio electrónico: ffms@ffms.pt
Telefone: 210 015 800
Título: Ser Ator em Portugal
Autor: Jacinto Lucas Pires
Director de publicações: António Araújo
Revisão de texto: Ângela Pereira
Validação de conteúdos e suportes digitais: Regateles Consultoria Lda
Design: Inês Sena
Paginação: Guidesign
Fotografia da capa: Paulo Pimenta, 2017, Matosinhos, O Grande Tratado de Encenação
, encenação de Gonçalo Amorim, texto de Rui Pina e Gonçalo Amorim, interpretação de Catarina Gomes, Sara Barros Leitão e Paulo Mota
© Fundação Francisco Manuel dos Santos e Jacinto Lucas Pires, Maio de 2022
Livro redigido com o Acordo Ortográfico de 1990.
As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.
Edição eBook: Guidesign
ISBN 978-989-9064-62-1
Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt
Ser ator em Portugal
Jacinto Lucas Pires
logo.jpgComeço este livro por causa de uma maçã. Sentado à minha secretária de todos os dias, basta levantar os olhos da página e — lá está ela, sólida, indesmentível, redondamente certa. Uma maçã vermelha, do tamanho de um coração. Uma maçã de faz de conta que é tal e qual uma maçã de comer. Tem até um autocolantezito rasgado como as que trazemos da mercearia. Quietíssima ali, no parapeito da janela, mas mudando com a luz que vai e vem; com uma serenidade, dir-se-ia, pensante. Apetece pegar nela e trincá-la. Só de a olhar, parece que consigo sentir-lhe o cheiro fresco, ligeiramente ácido, o cheiro agudo e matinal que há na palavra «maçã». Parece que até consigo ver a macieira magra, recortada contra um céu azul, de onde ela foi tirada. A verdade é que a trouxe do Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, a dois passos de onde escrevo estas linhas. Em 2017, numa venda de património que a companhia Cornucópia organizou depois de ter anunciado o seu fim, descobri esta maçã-adereço e decidi trazê-la comigo. Agora ela lembra-me o teatro que vi, o teatro que sonhei, as histórias que me inspiraram e inspiram. Em que espetáculos terá sido usada? E para quê, e como? Seria o fruto simbólico do começo do mundo, o presente envenenado das histórias infantis, a sobremesa simples de um dia como os outros? Ao olhar para ela, vejo muita coisa, sim, mas principalmente o que não está lá, o que lhe falta para dar vida à sua ideia tão sólida: o gesto do ator. O ator.
Sou dramaturgo e, por isso, suspeito. Mas sei que não estou sozinho na minha admiração pelos atores. Pelo que eles nos oferecem de ligação ao lugar, ao concreto; uma sensação de presença num mundo cada vez mais ausente — o redescoberto espanto de pegar numa maçã! E pelo que, ao mesmo tempo, nos dão de passagem para esse outro lugar, que é o espaço da imaginação e do pensamento — onde uma maçã pode sugerir um cheiro, uma memória, pode evocar uma imagem e acender uma ideia. Não se trata de os pôr num pedestal, de os separar do mundo; pelo contrário. Quero é vê-los mais de perto, mais completamente, da forma mais justa que for capaz.
Uma mulher come uma maçã debaixo do holofote do princípio do mundo; um homem equilibra uma maçã na cabeça esperando o tiro do amigo. A atriz, o ator.
Sim, não consigo deixar de me espantar com os atores, uma e outra vez. (É também isso que eles nos ensinam, em palco: que todas as vezes são a primeira, que cada vez é única e irrepetível.) E, no entanto, mesmo trabalhando há mais de vinte anos no teatro, dou-me conta de que não sei quase nada sobre o que é a vida de um ator, de uma atriz, em Portugal. Pessoas que trabalham semanas, meses, para, durante umas horas, em cena, se fazerem outras sem mentira; mas que também têm famílias, contas para pagar, sonhos de futuro, doenças, desemprego, convicções políticas. O que me leva a uma questão mais geral. Estarão ligados o fascínio que o ator provoca em todos nós e o desconhecimento geral sobre a sua condição? Alimentar-se-ão até um ao outro?
O actor é um grande Nome cheio de holofotes.
O Nome que cega.¹
Escrevo este livro a partir de conversas com atores. Se deixo os nomes de fora, é na esperança de assim conseguir qualquer coisa parecida com um retrato coletivo. Escrevo imaginando-os como mil, e um só. O ator precisa de pessoas, salas cheias, mas é tão solitário naquele momento antes do começo. A atriz, o ator, no espelho. No camarim (que bonita palavra esta, «camarim», não é?, parece que traz sinos dentro), olhando-se em silêncio, mas na verdade atirando-se para lá do seu rosto, vendo-se para lá de si. Tentando criar um espaço de calma, de energia, onde possa imaginar ideias com o corpo e a voz. Inclinando-se na