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Ser Ator em Portugal
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E-book89 páginas1 hora

Ser Ator em Portugal

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Sobre este e-book

Quando se diz «ator», há quem oiça «astronauta». É o tipo de vocação que os adultos podem desmanchar com um sorriso condescendente. E, na verdade, para estes profissionais não existe um sistema claro de regras laborais e de segurança social, estabilidade, horizonte mínimo. Mas ser ator é, sobretudo, buscar coerência, autenticidade, aceitar a sala de ensaios como um campo de batalha onde tudo pode acontecer, subir ao palco, colocar-se sob os holofotes, para «estar com» e fazer acontecer um mistério de cada vez único e irrepetível. Este é um livro escrito por um dramaturgo para dar a ver os «bastidores» da vida dos atores em Portugal. Foi composto a partir dos depoimentos de vários profissionais, que surgem como personagens sem nome, para representarem em conjunto um certo «ator desconhecido».
Veja o vídeo de apresentação da obra em youtu.be/9z946aq6NEI
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de mai. de 2022
ISBN9789899064621
Ser Ator em Portugal
Autor

Jacinto Lucas Pires

Jacinto Lucas Pires escreve romances, contos, peças de teatro, filmes, música. O seu último romance, Oração a Que Faltam Joelhos (Porto Editora, 2020), ganhou o Prémio John dos Passos. Durante a pandemia, lançou ainda um livro de contos: Doutor Doente (Húmus, 2021). No teatro, trabalha com diferentes grupos e encenadores. Coveiros é a sua última peça, estreada em 2021, pela Escola do Largo, com encenação de Marcos Barbosa. Recebeu o Prémio Europa — David Mourão-Ferreira (Universidade de Bari/Instituto Camões, 2008) e o Grande Prémio de Literatura dst 2013, com o romance O Verdadeiro Ator.

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    Ser Ator em Portugal - Jacinto Lucas Pires

    Ser ator em Portugal

    Quando se diz «ator», há quem oiça «astronauta». É o tipo de vocação que os adultos podem desmanchar com um sorriso condescendente. E, na verdade, para estes profissionais não existe um sistema claro de regras laborais e de segurança social, estabilidade, horizonte mínimo. Mas ser ator é, sobretudo, buscar coerência, autenticidade, aceitar a sala de ensaios como um campo de batalha onde tudo pode acontecer, subir ao palco, colocar-se sob os holofotes, para «estar com» e fazer acontecer um mistério de cada vez único e irrepetível.

    Este é um livro escrito por um dramaturgo para dar a ver os «bastidores» da vida dos atores em Portugal. Foi composto a partir dos depoimentos de vários profissionais, que surgem como personagens sem nome, para representarem em conjunto um certo «ator desconhecido».

    Jacinto Lucas Pires

    Escreve romances, contos, peças de teatro, filmes, música. O seu último romance, Oração a Que Faltam Joelhos (Porto Editora, 2020), ganhou o Prémio John dos Passos. Durante a pandemia, lançou ainda um livro de contos: Doutor Doente (Húmus, 2021). No teatro, trabalha com diferentes grupos e encenadores. Coveiros é a sua última peça, estreada em 2021, pela Escola do Largo, com encenação de Marcos Barbosa. Recebeu o Prémio Europa — David Mourão-Ferreira (Universidade de Bari/Instituto Camões, 2008) e o Grande Prémio de Literatura dst 2013, com o romance O Verdadeiro Ator.

    Retratos*

    * A coleção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem o viu — e vê — de perto.

    logo.jpg

    Largo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso

    1099-081 Lisboa,

    Portugal

    Correio electrónico: ffms@ffms.pt

    Telefone: 210 015 800

    Título: Ser Ator em Portugal

    Autor: Jacinto Lucas Pires

    Director de publicações: António Araújo

    Revisão de texto: Ângela Pereira

    Validação de conteúdos e suportes digitais: Regateles Consultoria Lda

    Design: Inês Sena

    Paginação: Guidesign

    Fotografia da capa: Paulo Pimenta, 2017, Matosinhos, O Grande Tratado de Encenação, encenação de Gonçalo Amorim, texto de Rui Pina e Gonçalo Amorim, interpretação de Catarina Gomes, Sara Barros Leitão e Paulo Mota

    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e Jacinto Lucas Pires, Maio de 2022

    Livro redigido com o Acordo Ortográfico de 1990.

    As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.

    Edição eBook: Guidesign

    ISBN 978-989-9064-62-1

    Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt

    Ser ator em Portugal

    Jacinto Lucas Pires

    logo.jpg

    Começo este livro por causa de uma maçã. Sentado à minha secretária de todos os dias, basta levantar os olhos da página e — lá está ela, sólida, indesmentível, redondamente certa. Uma maçã vermelha, do tamanho de um coração. Uma maçã de faz de conta que é tal e qual uma maçã de comer. Tem até um autocolantezito rasgado como as que trazemos da mercearia. Quietíssima ali, no parapeito da janela, mas mudando com a luz que vai e vem; com uma serenidade, dir-se-ia, pensante. Apetece pegar nela e trincá-la. Só de a olhar, parece que consigo sentir-lhe o cheiro fresco, ligeiramente ácido, o cheiro agudo e matinal que há na palavra «maçã». Parece que até consigo ver a macieira magra, recortada contra um céu azul, de onde ela foi tirada. A verdade é que a trouxe do Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, a dois passos de onde escrevo estas linhas. Em 2017, numa venda de património que a companhia Cornucópia organizou depois de ter anunciado o seu fim, descobri esta maçã-adereço e decidi trazê-la comigo. Agora ela lembra-me o teatro que vi, o teatro que sonhei, as histórias que me inspiraram e inspiram. Em que espetáculos terá sido usada? E para quê, e como? Seria o fruto simbólico do começo do mundo, o presente envenenado das histórias infantis, a sobremesa simples de um dia como os outros? Ao olhar para ela, vejo muita coisa, sim, mas principalmente o que não está lá, o que lhe falta para dar vida à sua ideia tão sólida: o gesto do ator. O ator.

    Sou dramaturgo e, por isso, suspeito. Mas sei que não estou sozinho na minha admiração pelos atores. Pelo que eles nos oferecem de ligação ao lugar, ao concreto; uma sensação de presença num mundo cada vez mais ausente — o redescoberto espanto de pegar numa maçã! E pelo que, ao mesmo tempo, nos dão de passagem para esse outro lugar, que é o espaço da imaginação e do pensamento — onde uma maçã pode sugerir um cheiro, uma memória, pode evocar uma imagem e acender uma ideia. Não se trata de os pôr num pedestal, de os separar do mundo; pelo contrário. Quero é vê-los mais de perto, mais completamente, da forma mais justa que for capaz.

    Uma mulher come uma maçã debaixo do holofote do princípio do mundo; um homem equilibra uma maçã na cabeça esperando o tiro do amigo. A atriz, o ator.

    Sim, não consigo deixar de me espantar com os atores, uma e outra vez. (É também isso que eles nos ensinam, em palco: que todas as vezes são a primeira, que cada vez é única e irrepetível.) E, no entanto, mesmo trabalhando há mais de vinte anos no teatro, dou-me conta de que não sei quase nada sobre o que é a vida de um ator, de uma atriz, em Portugal. Pessoas que trabalham semanas, meses, para, durante umas horas, em cena, se fazerem outras sem mentira; mas que também têm famílias, contas para pagar, sonhos de futuro, doenças, desemprego, convicções políticas. O que me leva a uma questão mais geral. Estarão ligados o fascínio que o ator provoca em todos nós e o desconhecimento geral sobre a sua condição? Alimentar-se-ão até um ao outro?

    O actor é um grande Nome cheio de holofotes.

    O Nome que cega.¹

    Escrevo este livro a partir de conversas com atores. Se deixo os nomes de fora, é na esperança de assim conseguir qualquer coisa parecida com um retrato coletivo. Escrevo imaginando-os como mil, e um só. O ator precisa de pessoas, salas cheias, mas é tão solitário naquele momento antes do começo. A atriz, o ator, no espelho. No camarim (que bonita palavra esta, «camarim», não é?, parece que traz sinos dentro), olhando-se em silêncio, mas na verdade atirando-se para lá do seu rosto, vendo-se para lá de si. Tentando criar um espaço de calma, de energia, onde possa imaginar ideias com o corpo e a voz. Inclinando-se na

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