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Fundamentos da Clínica Reichiana: Da Psicanálise à Orgonomia. Volume 2
Fundamentos da Clínica Reichiana: Da Psicanálise à Orgonomia. Volume 2
Fundamentos da Clínica Reichiana: Da Psicanálise à Orgonomia. Volume 2
E-book486 páginas8 horas

Fundamentos da Clínica Reichiana: Da Psicanálise à Orgonomia. Volume 2

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Sobre este e-book

O livro Fundamentos da clínica reichiana: da psicanálise à orgonomia integra, em uma mesma obra, os mais diversos elementos teóricos e técnicos que Reich, o pai das psicoterapias corporais, desenvolveu em mais de 30 anos de trabalho. Até os dias atuais, nenhuma outra obra concatenou o pensamento e a clínica reichiana em suas três vertentes básicas, a saber: análise do caráter, vegetoterapia e orgonomia. Este livro segue a trajetória de Reich desde seus tempos de Psicanálise, passando por seus conflitos e pela subsequente ruptura com Freud, momento a partir do qual passou a desenvolver os elementos básicos da Psicoterapia Corporal. Trata-se de um conhecimento com enorme poder terapêutico e ainda pouco explorado no meio acadêmico. Desse modo, esta obra é uma oportunidade valiosa para todos aqueles que desejam compreender a relação entre a nossa mente e o nosso corpo, e como as nossas neuroses estruturam-se e podem ser reconhecidas no nosso organismo. O nosso corpo fala. Resta saber se estamos dispostos a ouvi-lo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de nov. de 2022
ISBN9786525033396
Fundamentos da Clínica Reichiana: Da Psicanálise à Orgonomia. Volume 2

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    Fundamentos da Clínica Reichiana - Julio Goldman

    A DIMENSÃO CORPORAL

    No primeiro volume desta obra, publicado no ano de 2020, exploramos o período psicanalítico de Wilhelm Reich, durante o qual ele desenvolveu seu conceito de potência orgástica, sua técnica analítica denominada análise do caráter, seus estudos sociológicos tais como sua análise sobre o fenômeno do fascismo e sua tentativa de integrar a Psicanálise ao Materialismo Dialético de Karl Marx e Friedrich Engels, além de várias realizações de cunho social, tais como a criação da Sociedade Socialista para Consulta Sexual e Pesquisa Sexológica e fundação da Sexpol. Até o ano de 1934, aproximadamente, Reich foi um homem politicamente engajado.

    Também vimos que Reich se interessou, desde cedo, pela concretude dos conceitos psicanalíticos. Reich tinha aversão às especulações meramente teóricas. Para uma pessoa como ele, olhar para a concretude do corpo era algo natural. Foi dessa forma que ele foi gradualmente associando diversos conceitos psicanalíticos a estados corporais. Ao conceito de resistência, por exemplo, ele englobou a forma do paciente falar, olhar, deitar-se no divã, sorrir, cumprimentar etc. Expandiu, assim, o conceito de material analítico, abrangendo também as expressões corporais dos pacientes.

    Quando Reich se instalou em Oslo ao final de 1934, já afastado dos movimentos psicanalítico e marxista, ele viu-se livre para buscar algo que desde cedo o fascinara: a manifestação fisiológica da libido e da neurose em geral. Seus primeiros anos em Oslo foram marcados por uma relativa liberdade de trabalho. Seu livro Psicologia de massas do fascismo havia lhe proporcionado um bom reconhecimento no meio intelectual como um pensador que combatia o nazismo e o stalinismo. Também suas relações sociais foram marcadas por uma maior informalidade e intimidade. Na Noruega, seus amigos e colaboradores o chamavam de Willy, um contraste evidente com o tratamento de Dr. Reich que ele exigiu em outras épocas de sua vida.

    Reich havia acabado de ser expulso da Associação Psicanalítica Internacional, após catorze anos de trabalho. Um longo debate havia sido travado a respeito da possibilidade ou não do bem-estar na civilização. Reich havia rejeitado a necessidade de se postular uma pulsão de morte e um masoquismo primário no homem. Ele entendia que o princípio do prazer rege o funcionamento de qualquer pessoa, inclusive do caráter masoquista. Para Reich, tal pessoa não deseja sofrer, mas aliviar-se, mesmo que por meio da dor.

    Freud, no entanto, não validou nenhum desses pontos de vista, o que serviu de estímulo para que Reich buscasse demonstrá-los cientificamente. Foi a necessidade de compreensão científica a respeito do fenômeno do prazer e da angústia que o levou às fronteiras do domínio biológico, mesmo que Freud já houvesse abandonado essa pretensão há anos.

    Além disso, Reich tinha um outro bom motivo para aventurar-se pelo domínio biológico da experiência humana. Ao trabalhar com a sua técnica da análise do caráter, ele começou a perceber que os pacientes, ao serem mobilizados em seus traços de caráter, apresentavam mudanças não somente em suas posturas psíquicas, mas também em suas posturas físicas, não somente ao nível muscular, mas também em nível neurovegetativo, ou seja, alterações no que tange a peristalse, a tonalidade da pele, a sudorese, aos batimentos cardíacos, ao funcionamento das pupilas, etc.

    Nesse momento, Reich fazia-se as seguintes perguntas: Qual seria a relação entre a neurose e a estrutura física do indivíduo? Como seria possível compreender biologicamente o anseio pela felicidade? Como seria possível medir a energia biológica? Como se dá, de um ponto de vista fisiológico, o mecanismo do prazer e da angústia? Conforme vimos no primeiro volume desta obra, Reich já havia postulado, na década de 1920, uma antítese entre sexualidade e angústia, baseado em suas observações clínicas. Ele já havia percebido que, quando um paciente alcançava a satisfação sexual (no sentido da potência orgástica), seus sintomas neuróticos desapareciam. Analogamente, quando a satisfação sexual era interrompida, ressurgiam os sintomas. Neste momento, Reich estava interessando em comprovar cientificamente tais descobertas.

    Com esses objetivos em mente, Reich iniciou uma nova e ousada empreitada profissional. Ele passou a pesquisar o que havia de mais moderno nas mais diversas áreas científicas de sua época: a anatomia e fisiologia do sistema nervoso autônomo, os movimentos plasmáticos dos seres unicelulares, os processos bioquímicos relacionados à angústia e ao prazer, a bioeletricidade dos fluidos corporais, entre outros campos. A partir desses estudos, Reich chegaria a um dos marcos teóricos de seu trabalho.

    A antítese básica da vida

    Em 1931, foi publicada a obra Die Lebensnerver (O sistema nervoso), escrita pelo médico L. R. Müller (1870-1962). Nessa obra, Reich encontrou uma descrição pormenorizada das funcionalidades das duas divisões básicas do sistema nervoso autônomo: simpático e parassimpático.

    O sistema nervoso autônomo, também chamado de neurovegetativo, é o sistema responsável pelo controle da vida vegetativa, visando o estabelecimento de um equilíbrio interno (homeostase)¹. Mediante estímulos internos e externos, ele controla ações involuntárias, tais como a respiração, a circulação de sangue, a digestão, a temperatura corporal, entre outras. Esse sistema é constituído por neurônios ligados aos músculos lisos, músculo cardíaco e glândulas exócrinas, estruturas que não estão submetidas ao controle consciente.

    É importante frisar que esse sistema não é totalmente autônomo. Esse nome foi cunhado em uma época na qual os cientistas realmente acreditavam que esse sistema teria autonomia total. Hoje em dia, entretanto, sabe-se que o sistema nervoso central exerce influência sobre as ações homeostáticas. O córtex cerebral estimula o tálamo, que por sua vez estimula o hipotálamo, que estimula diretamente o sistema nervoso autônomo. Existem também ligações diretas entre o córtex e o sistema nervoso autônomo. Por exemplo, um pensamento do tipo vou ter que viajar de avião daqui a três dias pode gerar uma resposta autonômica de medo. Tanto a vegetoterapia de Reich como os exercícios de biofeedback² criados no final da década de 1960 são capazes de promover alterações das respostas autonômicas.

    Conforme dissemos, o sistema nervoso autônomo está funcionalmente dividido em simpático e parassimpático, que possuem funções opostas e complementares entre si. No indivíduo saudável, prevalece uma pulsação dinâmica entre ambos os sistemas, ou seja, uma oscilação funcional entre eles de acordo com as circunstâncias da vida. Vamos listar a seguir as funções específicas de cada um deles.

    Sistema simpático

    Em geral é compreendido como um sistema de alarme que prepara o organismo para reagir a algum tipo de perigo (luta ou fuga). Dito de outra forma, esse sistema estimula ações que permitem ao organismo responder a situações de estresse. Quando o organismo entende que está em uma situação de estresse, ele libera adrenalina que é o neurotransmissor responsável pelas reações de alarme.

    Portanto, uma ativação simpática é funcional quando está de acordo com o que a situação exige. Se está ocorrendo um incêndio à nossa volta, temos de estar preparados para lutar contra ele ou fugir. Em muitos momentos da vida, temos de estar preparados para lutar, isto é, para defender nosso território, nossos direitos etc. Por outro lado, uma ativação simpática é disfuncional quando a situação atual não representa concretamente nenhuma ameaça ao indivíduo. Se estou, por exemplo, atravessando uma ponte ou um túnel e começo a suar frio, respirar de forma ofegante e apresentar taquicardia, estou tendo uma reação que apenas vai me causar problemas. Não terá utilidade para mim naquele momento. No geral, as reações simpáticas incluem:

    dilatação das pupilas, para que seja possível enxergar melhor o perigo. A dilatação crônica das pupilas está associada ao medo;

    inibição das glândulas lacrimais (olhos secos, sem brilho). Seu estado crônico está relacionado à depressão;

    inibição das glândulas salivares (boca seca) em função de sua inutilidade em momentos de perigo, tal como ocorre com as glândulas lacrimais;

    estimulação das glândulas sudoríparas (pele úmida e fria), uma reação orgânica de luta. Um organismo úmido torna-se mais escorregadio e consequentemente mais difícil de ser apanhado por um predador;

    contração das artérias e consequentemente um aumento da pressão arterial. Seu estado crônico (hipertensão) é indicativo de um forte estado de angústia;

    aumento da frequência cardíaca. O coração necessita bombear mais sangue para os músculos;

    dilatação dos brônquios, que se relaxam para permitir uma maior entrada de oxigênio. Essa medida, assim como a estimulação cardíaca, visam um aumento da capacidade respiratória necessária para lutar ou fugir;

    inibição das glândulas digestivas, devido à sua inutilidade em momentos de estresse;

    estimulação das glândulas suprarrenais, aumentando assim a produção de adrenalina. As suprarrenais também promovem a conversão de proteínas e gorduras em glicose. Isso é importante na medida em que os músculos necessitam de sangue e glicose para entrarem em ação;

    inibição da micção;

    inibição das funções sexuais, desejo sexual diminuído.

    Sistema parassimpático (ou Vago)

    Esse sistema está relacionado majoritariamente à função de relaxamento orgânico. Ele possui uma ação geral vasodilatadora, mediante a liberação do neurotransmissor acetilcolina. Seus gânglios estão localizados principalmente no tronco cerebral e na medula sacral (pelve), isto é, nas extremidades do corpo onde prepondera o contato com o ambiente externo. Assim como o sistema simpático, sua ativação pode ser funcional ou não, o que dependerá das circunstâncias. Uma ativação parassimpática produz as seguintes respostas orgânicas:

    diminuição ou manutenção das pupilas em seu estado basal (globo ocular relaxado);

    estimulação das glândulas lacrimais – olhos brilhantes;

    estimulação das glândulas salivares – água na boca;

    inibição das glândulas sudoríparas – pele quente e seca;

    dilatação das artérias – frescor e rubor da pele;

    diminuição da ação cardíaca – coração calmo;

    estimulação e contração da musculatura bronquial – os brônquios se estreitam;

    estimulação das glândulas digestivas, facilitando a peristalse;

    redução da secreção de adrenalina;

    estimulação da micção;

    estimulação das funções sexuais, desejo sexual preservado.

    Ao estudar o livro de L. R. Müller, Reich considerou que o sistema parassimpático promove uma ação global de expansão orgânica, enquanto que o sistema simpático promove uma ação global de contração orgânica, ambas necessárias ao bom funcionamento do organismo. Se essa oscilação biológica for perturbada em uma direção ou outra, isto é, se fica cronificada na função de expansão ou na de contração, está presente uma perturbação do funcionamento total do organismo.

    Mais recentemente, na década de 1990, o neurocientista americano Stephen Porges, criador da Teoria Polivagal, descobriu que o sistema nervoso autônomo não é uno (conforme acreditava-se anteriormente), mas possui dois ramos: ventral e dorsal. A porção ventral é aquela responsável pelo descanso, pelo relaxamento, estando associada à necessidade evolutiva de interação social (cooperação). Como se sabe, uma das vantagens evolutivas da nossa espécie é justamente a nossa habilidade de convívio social, ou seja, a capacidade de viver em grupos grandes. A porção dorsal do sistema parassimpático, por sua vez, é responsável por uma resposta não de relaxamento, mas de imobilização, paralização, anestesia. Essa resposta é utilizada em situações de estresse nas quais não é possível fazer nada: o sistema desliga. Podemos tomar como exemplo um animal de pequeno porte que acabou de ser capturado por um leão. Diante de sua incapacidade de fugir ou lutar, seu organismo desliga (desligamento emocional), uma última forma de lidar com aquela situação.

    Portanto, de acordo com a Teoria Polivagal, amplamente aceita nos dias atuais, nosso sistema nervoso autônomo funciona de acordo com uma hierarquia na resposta aos estímulos. Primeiramente, é acionado o sistema parassimpático ventral (relaxamento, interação social). Caso essa resposta seja insuficiente para lidar com um determinado perigo, entra em ação o sistema simpático (luta ou fuga). Porém, se essa resposta também falhar, entra em ação o sistema parassimpático dorsal, que é o mais primitivo (mais antigo) do ponto de vista evolutivo, promovendo uma imobilização orgânica, um congelamento, um desengajamento emocional. Pessoas que passaram por traumas/abusos muito intensos, no passado, costumam apresentar esse tipo de resposta, isto é, uma ativação crônica desse sistema. Frequentemente, vítimas de abusos perdem a sua capacidade de fugir ou lutar, tornando-se presas ainda mais fáceis para futuros abusadores.

    Utilizando uma linguagem reichiana, entendemos que todo indivíduo neurótico possui uma tendência simpaticotônica ou parassimpaticotônica. No primeiro caso, tal indivíduo permanece cronicamente em estado de alerta, mesmo que não haja motivos concretos para isso. A ativação crônica do sistema simpático o impede de relaxar³. Vamos tomar como exemplo uma relação sexual. Se o sistema simpático sobrepuja o parassimpático, toda a função do prazer fica comprometida. No caso do homem, a própria capacidade de ereção é prejudicada.

    No caso da parassimpaticotonia, estamos falando de um organismo que perdeu a sua capacidade de ação agressiva no mundo. Diante de uma situação de luta ou fuga, ou qualquer situação cotidiana que requer um nível de esforço, tal pessoa não consegue movimentar-se de forma ágil, veloz. Não encontra forças, sente-se vencida. Isso não significa que esse indivíduo não experimente angústia. Pelo contrário, a parassimpaticotonia está geralmente associada a um organismo que chegou a um grau máximo de simpaticotonia, gerando uma pane no sistema. O sistema simpático fica desligado, não podendo mais ser ativado quando necessário. Portanto, por trás dessa defesa, está um enorme medo de lutar pela própria vida.

    Ao que tudo indica, Reich foi o primeiro médico e psicanalista a relacionar um estado neurótico a uma disfunção do sistema nervoso autônomo, o que abriu-lhe perspectivas totalmente novas. Seus trabalhos posteriores com o corpo, incluindo sua nova metodologia de trabalho, chamada vegetoterapia, derivaram diretamente desses estudos iniciais sobre o sistema nervoso autônomo.

    Reich não voltou a sua atenção para o estudo do sistema nervoso central, até porque em sua época o conhecimento da anatomia e fisiologia do cérebro era ainda embrionário. Da época de Reich para cá, pesquisas neurocientíficas se desenvolveram extraordinariamente, um conhecimento valioso e altamente útil aos psicoterapeutas corporais. Destacarei aqui algumas questões que considero relevantes.

    O sistema nervoso de qualquer vertebrado está separado em central e periférico. O sistema nervoso central é composto pelo encéfalo mais a medula espinhal, que está alojada no interior da coluna vertebral. O encéfalo corresponde a tudo aquilo que está dentro da caixa craniana, não somente o cérebro. O sistema nervoso central é o responsável pelo processamento e integração de informações, bem como pela execução de ações voluntárias.

    O sistema nervoso central não é uma estrutura uniforme. De acordo com a teoria evolutiva de Paul D. MacLean (1913-2007), o cérebro humano é trino, uma vez que é composto por três estruturas diferentes e sobrepostas, cada uma delas representando um estrato evolutivo específico. A respeito disso, Ferri (1992/2011, p. 129) considerou que:

    estas três formações são expressões da recapitulação filogenética no interior do processo ontogênico que garantem a sobrevivência e as atividades mais altas da vida cognitiva e emotiva e refletem a relação que nos liga aos nossos progenitores, aos grandes répteis ..., aos mamíferos primitivos..., aos bípedes... e a várias formas de Homo mais recentes.

    Portanto, todos nós carregamos em nossa própria constituição uma vasta memória filogenética de interação com o meio ambiente, uma memória que não abarca somente a espécie humana, mas todas as espécies que nos precederam no planeta. Nossos antepassados habitam em nós, fazem parte de nós. Em função disso, em muitos momentos da vida não conseguimos agir de forma racional, humana, e isso não necessariamente é um problema. Querer dominar a nossa natureza, assim como querer dominar a natureza à nossa volta, costuma criar-nos um problema muito maior. Vamos passar agora ao estudo de nossas estruturas cerebrais.

    O cérebro primitivo, também chamado de paleoencéfalo, reptiliano ou complexo R, é o cérebro presente nos répteis, sendo o mais antigo do ponto de vista filogenético. Ele se localiza no centro do cérebro humano, sendo composto por boa parte da formação reticular (incluindo mesencéfalo, ponte e bulbo) e núcleos da base (complexo pálido-estriado). É esse sistema que governa, prevalentemente, a nossa vida desde à concepção até o terceiro mês de vida intrauterina. Isso não significa que ele não funcione depois desse período. Pelo contrário, ele atua por toda a nossa vida. Porém, até o terceiro mês de vida intrauterina, esse é o sistema que rege a nossa existência.

    O cérebro reptiliano é o responsável por mais de 90% de tudo o que acontece com o nosso corpo no dia a dia. Sua função principal está relacionada à manutenção da vida e sobrevivência da espécie. Em função disso, ele controla a parte autonômica (involuntária) do sistema nervoso. A esse cérebro compete as funções de luta pelo alimento (caça), pelo território e pelo acasalamento.

    Vale frisar que esse cérebro não possui um bom nível de ajuste ou flexibilidade diante das situações. Para ele, qualquer estímulo é uma ameaça em potencial, estando sempre em estado de alerta. Trata-se da própria sobrevivência, ou seja, matar ou morrer. O seu rígido esquema operacional responde com agressão a tudo aquilo que lhe pareça hostil. Sua funcionalidade também está relacionada a toda uma gama de comportamentos ritualísticos, repetitivos. Isso também está ligado à sobrevivência pessoal, pois qualquer situação nova, fora do padrão, já é interpretada como potencialmente perigosa. Fazer tudo da mesma maneira possui uma vantagem, do ponto de vista da sobrevivência.

    Portanto, o cérebro reptiliano é a porção réptil que habita dentro de nós, dedicado majoritariamente às funções mais primitivas da vida (sobrevivência, segurança, acasalamento etc.). Não é nada comum vermos um jacaré fazendo carinho em outro animal, uma vez que a dimensão afetiva, possibilitada pelo sistema límbico, está ausente. Para o cérebro reptiliano não existem dois, só existe um. Não há relação. O outro é apenas uma fonte de perigo, alimento ou acasalamento.

    Em seu estado de funcionamento normal, o cérebro reptiliano é fundamental para nossa saúde. Ele controla nossa defesa pessoal, a defesa do nosso território na vida, regula nossa função hormonal e nossos ritmos biológicos, tal como a fisiologia do sono. Por outro lado, se ele estiver hiperativado, essa pessoa terá um enorme problema na vida. É esse o caso dos indivíduos psicóticos ou borderlines. Sua condição crônica de angústia de morte está associada à hiperativação dessa estrutura, deixando o indivíduo em um estado constante de ameaça e luta pela sobrevivência.

    Além de nossa agressividade instintiva, o cérebro reptiliano é a sede do nosso medo instintivo de morrer. Quando uma pessoa está em uma crise de pânico, por exemplo, é esse o cérebro que está hiperativado, mais precisamente uma estrutura chamada locus cerúleo, responsável por sintetizar grandes quantidades de adrenalina, que conforme vimos é o neurotransmissor associado ao estado de alerta. Também nos estados agudos de crises de abstinência, vemos uma hiperativação dessa estrutura cerebral. Em suma, o cérebro reptiliano é a nossa estrutura cerebral mais antiga e responde pelas funções mais primitivas.

    Passemos agora à nossa segunda estrutura cerebral, o sistema límbico, que envolve externamente o cérebro reptiliano. Esse sistema é composto por diversas estruturas tais como o tálamo, o hipotálamo⁴, a amígdala e o hipocampo. Esse sistema representou o primeiro passo evolutivo na transição dos répteis para os mamíferos antigos, animais de sangue quente, há cerca de setenta milhões de anos. O sistema límbico, denominador comum a todos os mamíferos, adiciona a esses seres uma dimensão emotiva-afetiva, ou seja, ele é responsável por tudo aquilo que sentimos ou experimentamos. Todas as memórias afetivas, agradáveis ou desagradáveis⁵, são manejadas pelo sistema límbico. Isso representou uma mudança significativa na relação mãe-filhotes, já que implica em um maior cuidado, uma maior aproximação entre ambos. A respeito disso, Ferri (1992/2011, p. 132) escreveu que, com o advento do sistema límbico nascem o desejo, a ansiedade, o temor, o medo, a raiva, o prazer, o alívio, a calma, a satisfação.

    De um ponto de vista funcional, é esse o sistema prevalente entre o quarto mês de vida intrauterina⁶ e os seis anos de idade, época da saída do complexo de Édipo e solidificação da estrutura de caráter. É nesse sistema que atua majoritariamente a Psicoterapia Reichiana, isto é, no campo emocional. Vale ressaltar que o sistema límbico, ao contrário do cérebro reptiliano, já reflete a existência de um outro, ou seja, a possibilidade de uma relação.

    Portanto, com o advento do sistema límbico, nascem as trocas, as brincadeiras, a alegria, o fascínio, a vitalidade. A vida passa a ter um sabor. Basta compararmos um cachorro a um jacaré para termos uma noção da diferença entre essas estruturas cerebrais. Porém, é importante destacar que todo esse sabor das relações só poderá ser desfrutado por alguém caso a sua função reptiliana básica estiver equilibrada, isto é, se a ameaça de morte não for demasiadamente intensa.

    A terceira estrutura cerebral e a mais recente do ponto de vista evolutivo é o neocórtex ou cérebro neopalial. Funcionalmente, é esse o cérebro que rege a nossa vida a partir dos seis ou sete anos de idade. Todavia, a partir dos 12 meses de vida ele já está em plena atividade. A partir desse período nós passamos a agir, e não somente reagir.

    Foram necessários dois milhões de anos para que essa estrutura se desenvolvesse e se juntasse às duas precedentes. Com o advento do neocórtex, o homem pôs-se de pé, passou a olhar em sua volta e indagar-se para onde estava indo. Surge aqui a visão tridimensional, as dimensões do futuro e do passado, o antes e o depois, a causalidade, os cálculos mentais. Nasce o gérmen da capacidade científica, o homem cria a roda, aprende a manejar o fogo, cria armas mais potentes e torna-se capaz de dominar o restante dos animais.

    O neocórtex está localizado na parte mais externa do cérebro, ou seja, mais perto da interação com o ambiente externo. Conforme dissemos, a diferença dos seres humanos em relação aos demais animais deve-se, em grande parte, a esse sistema. Ele é o responsável por toda a gama de processos cognitivos, tais como o pensamento, a linguagem, a atenção, a memória etc. Dentre as suas funções principais também destacam-se: a percepção sensorial, os comandos motores e a localização no espaço e no tempo.

    Por meio do neocórtex, os estímulos físicos captados pelo cérebro reptiliano e os afetos codificados pelo sistema límbico são transformados em consciência, o que o torna responsável por contextualizar, relativizar ou organizar nossos instintos e emoções. É o neocórtex quem deve dizer: isso é importante, já aquilo não é tão importante assim. De fato, em nossas vidas, muitas vezes temos de agir de forma racional. Um exemplo comum é a pessoa que, embora atraída por um produto na vitrine da loja, precisa abrir mão dele, pois prevê (calcula) que não terá dinheiro suficiente no final do mês.

    Por outro lado, é o sistema límbico que humaniza a frieza racional do neocórtex. Quando arriscamos a nossa vida por um ideal, por um amor, por um filho, por um amigo, estamos agindo a partir de nossos afetos, e não da razão ou do instinto de sobrevivência. Porém, em condições ideais, deve prevalecer uma pulsação funcional, integrada, no que se refere a essas três estruturas cerebrais sobrepostas. Quando isso não ocorre, a saúde do indivíduo está comprometida. Vamos a alguns exemplos.

    Existem pessoas nas quais predomina cronicamente a função reptiliana. São pessoas que não fazem contato, não interagem, estão constantemente acuadas ou prontas para atacar. Existem, também, outras pessoas nas quais predomina a função límbica, ou seja, pessoas que são só emoção, sentimentalistas, dramáticas, exageradas. Costumam meter os pés pelas mãos, já que não sabem agir de forma racional. Existem, ainda, pessoas predominantemente corticais, que são excessivamente racionais, calculistas, analíticas, teóricas, mas estão desconectadas dos seus sentimentos profundos, tornando-se pessoas frias, distantes, superficiais. Um psicopata, por exemplo, possui a combinação de uma hiperativação do néocortex (planejamento, cálculo) e do cérebro reptiliano (matar ou morrer) somado a uma hipoativação do sistema límbico (bloqueio afetivo).

    Após esse breve percurso pelo nosso cérebro, voltemos às pesquisas de Reich durante a década de 1930. Uma outra área do conhecimento explorada por ele foi a da bioquímica da angústia. Em 1932, o casal de psiquiatras Walter e Kate Misch publicaram um artigo sobre o tratamento da neurose de angústia por meio de agentes químicos. Essencialmente, eles descobriram que a aplicação de acetilcolina nesses pacientes diminuía consideravelmente suas sensações de angústia. Conforme vimos, a acetilcolina é o neurotransmissor responsável pela estimulação do sistema nervoso parassimpático, relacionado a um estado global de relaxamento orgânico.

    Ainda no campo da Química, Reich conheceu o trabalho de F. Kraus e S. G. Zondek, que haviam descoberto que determinados tipos de sais, em especial o potássio, estimulavam a hidratação (intumescência, dilatação) dos tecidos corporais, enquanto que outros, sobretudo o cálcio, estimulavam sua desidratação. Desse modo, Reich descobriu que a ingestão de potássio aumenta a tonicidade dos músculos periféricos e promove um relaxamento do músculo cardíaco (diástole), enquanto que a ingestão de cálcio promove a perda do tônus dos músculos periféricos (flacidez) e uma contração do músculo cardíaco com seu respectivo aumento da pressão arterial.

    Outro campo científico que Reich enveredou foi o da Biologia. Por meio do trabalho do biólogo Max Hartmann e do zoologista Ludwing Rhumbler, Reich aprendeu que, dependendo do estímulo, as amebas podem movimentar-se basicamente em duas direções: em direção ao estímulo ou evitando-o. Esse estudo era particularmente interessante para Reich, uma vez que esses pesquisadores conseguiram observar ao microscópio não somente os movimentos externos da ameba, mas também seus movimentos internos, isto é, suas correntes de plasma.

    Os pesquisadores descobriram que o movimento da ameba em direção ao estímulo era acompanhado por correntes de plasma para a superfície da ameba, enquanto que a evitação do estímulo era acompanhada pelo direcionamento do plasma para o centro da ameba. Mesmo quando a ameba estava em repouso, os pesquisadores observaram movimentos pulsáteis na forma de contrações e expansões alternadas, com seus devidos movimentos plasmáticos internos.

    Integrando esta vasta gama de conhecimentos, Reich estabeleceu polaridades fisiológicas que anteriormente ele havia apenas concebido teoricamente. Nesse momento, ele passou a considerar que os impulsos biológicos poderiam ser decompostos em duas direções básicas: expansão (para fora do eu) e contração (para dentro do eu). Além disso, Reich passou a correlacionar a experiência do prazer com a função expansiva promovida pelo sistema nervoso parassimpático (ramo ventral), com as reações químicas promovidas pelo potássio e pelo neurotransmissor acetilcolina e com o fluxo plasmático da célula em direção à periferia (membrana). A angústia, por sua vez, estaria relacionada à função global do sistema nervoso simpático (luta ou fuga), às reações químicas do cálcio e do neurotransmissor noradrenalina e ao fluxo plasmático em direção ao centro do organismo.

    Ao estabelecer essas relações, Reich realizou um salto quântico em seu trabalho, pois passou a enxergar uma identidade funcional nos mais diversos domínios da experiência. Tanto o prazer (domínio psíquico), como a reação parassimpática (domínio neurovegetativo), como a ação colinérgica (domínio químico), como a tonicidade (domínio muscular), como o movimento plasmático em direção à periferia (domínio celular), formam uma identidade funcional no que se refere a um princípio funcional comum: a expansão do sistema orgânico total. Em 1934, Reich publicou esses novos postulados em seu recém-criado Jornal de Economia Sexual e Psicologia Política, um periódico que foi lançado após seu rompimento com a Associação Psicanalítica Internacional.

    Antes de finalizarmos esse tópico, considero importante fazer uma observação a respeito desse tema (a antítese básica da vida), que costuma gerar dúvidas e/ou preconceitos em relação ao pensamento de Reich: tais associações não devem ser interpretadas de forma mecânica. Não significam, portanto, que o sistema nervoso parassimpático é bom e sempre traz prazer ao indivíduo, enquanto que o sistema simpático é ruim e sempre traz desprazer. Significa apenas que eles, enquanto função, possuem uma relação funcional com o prazer ou desprazer, o que é diferente de determinar mecanicamente o prazer ou o desprazer.

    Outro erro comum, mesmo entre os psicoterapeutas reichianos, é considerar que a expansão é igual ao prazer ou sempre promove o prazer, enquanto que a contração é igual ao desprazer. No pensamento reichiano, o que determina o prazer é uma maior pulsação, o que abrange ambos os movimentos: para dentro (contração) e para fora (expansão). Podemos, aqui, tomar como exemplo uma pessoa em estado maníaco, que está cronicamente expandida (neurótica) e experimenta uma grande euforia, que não deve ser confundida com a experiência do prazer.

    Os experimentos bioelétricos

    Para Reich, especialmente nessa sua nova fase de trabalho, não bastava desenvolver uma nova teoria, mas era também necessário comprová-la experimentalmente. Sua ideia para a realização desse empreendimento baseou-se essencialmente nos estudos do clínico austríaco F. Kraus, um dos aperfeiçoadores do aparelho de eletrocardiograma, que havia sido criado em 1887 pelo fisiologista inglês Augustus Waller. Já no ano de 1924, o neurologista alemão Hans Berger desenvolveu o primeiro aparelho de eletroencefalograma, demonstrando o duplo ritmo (alfa e beta) da atividade elétrica do nosso cérebro.

    Kraus havia escrito, em 1926, que as substâncias vivas consistem de coloides e sais minerais, que, quando dissolvidos em fluidos corporais, geram íons positivos ou negativos, tornando-se substâncias eletrolíticas (condutoras de eletricidade). Kraus enxergava os organismos vivos como sistemas de carga (armazenamento de energia) e descarga (trabalho).

    Foi Kraus quem cunhou o termo corrente vegetativa, o qual Reich utilizou pela primeira vez no Congresso de Lucerna (1934). Portanto, em sua última conferência no âmbito da Psicanálise, Reich já dava indícios de uma transição no rumo de seus esforços, que enveredavam pelo caminho da Fisiologia e Biologia. Essa conferência, intitulada Contato psíquico e corrente vegetativa, foi transcrita e publicada como um artigo no ano seguinte (1935). Esse artigo, por sua vez, foi posteriormente incorporado ao livro Análise do caráter em sua segunda edição, no ano de 1944.

    Baseando-se nos conceitos de Kraus, Reich considerou, em um breve artigo denominado O orgasmo como uma descarga eletrofisiológica (1934), que o orgasmo natural deveria ser algum tipo de descarga bioelétrica que ocorreria em quatro tempos sequenciais:

    Tensão: nessa fase inicial, ocorre um acúmulo mecânico de sangue nos órgãos genitais, inchando ou dilatando esses órgãos;

    Carga: a tensão deve gerar uma carga bioelétrica. Durante o ato sexual, os parceiros experimentam uma excitação contínua⁷ até o momento dessa carga atingir a um grau máximo;

    Descarga: no ápice da excitação, contrações musculares involuntárias promovem a descarga da energia acumulada. O grau de prazer depende do grau de redução da tensão;

    Relaxamento: após a descarga, ocorre um esvaziamento dos líquidos corporais (refluxo da corrente sanguínea), gerando uma distensão ou relaxação mecânica.

    Com a introdução dessa teoria bioelétrica, Reich encontrou uma explicação para o fato de que muitos pacientes, no ato sexual, mantém a ereção sem experienciar nenhuma sensação de prazer. Se o órgão sexual está recheado de sangue, por qual motivo o indivíduo não experimenta prazer? Reich sempre ficou intrigado com o fato de que alguns pacientes chegavam a ejacular sem ter a experiência do prazer. Porém, ele agora havia encontrado um fundamento que explicasse esse fenômeno. Para Reich, a experiência do prazer está presente somente quando existe uma carga bioelétrica associada à tensão mecânica (ereção). Sem essa carga, não há prazer. Da mesma forma, uma tensão sexual não é necessariamente reduzida após uma ejaculação. Muitas pessoas, após terem relações sexuais, continuam tensas. De acordo com o entendimento de Reich, é necessário ter carga para experienciar o prazer, assim como é necessário descarregá-la para poder relaxar. Sua teoria bioelétrica do orgasmo também explicava por que, logo após um orgasmo satisfatório, o desejo sexual torna-se praticamente nulo: o indivíduo está sem carga, e torna-se necessário um novo tempo e novos estímulos para que ele possa carregar-se novamente.

    Reich postulou que todo indivíduo neurótico possui uma alteração, em maior ou menor grau, nesse processo de quatro tempos. Existem pessoas, por exemplo, que não conseguem se carregar, apresentando um deficit de energia disponível no corpo. São pessoas que apresentam dificuldades em sustentar movimentos na vida. Existem outras pessoas que se carregam, mas não possuem estrutura para conter a energia no corpo, ou seja, precisam descarregar logo. São pessoas agitadas, ansiosas. Existem ainda pessoas que fazem o oposto, contendo demasiadamente a energia no corpo, tal como os masoquistas e os compulsivos. A atitude compulsiva, por exemplo, gera mais carga do que descarga, o que produz um estado crônico de estase energética.

    De um ponto de vista qualitativo, temos de analisar a forma pela qual o indivíduo se carrega ou descarrega, isto é, quais as modalidades possíveis de carga e descarga. Por exemplo, existem pessoas que só conseguem descarregar por meio de atitudes sádicas, histéricas, compulsivas etc. Estamos falando de modelos neuróticos de descarga, uma vez que eles se constituem como mecanismos de defesa contra uma descarga mais eficiente. Embora tais atitudes promovam algum nível de alívio no indivíduo, elas funcionam como uma barreira ao estabelecimento da potência orgástica.

    Reich possuía agora uma base teórica sobre a qual poderia desenvolver uma metodologia de pesquisa. A Noruega era, a princípio, um local ideal para esse desenvolvimento, uma vez que Reich tinha o apoio da Universidade de Oslo, instituição que possuía um dos melhores laboratórios do mundo. Esse foi justamente um dos motivos de Reich ter escolhido morar na Noruega. Lá, muitos psiquiatras e psicanalistas interessaram-se em trabalhar e estudar com Reich⁸.

    No Instituto de Psicologia da Universidade de Oslo, Reich promoveu uma série de conferências sobre a formação da estrutura de caráter e sua ancoragem fisiológica. No espaço da universidade, Reich criou um laboratório onde podia estudar Fisiologia, Biologia e Biofísica. Durante essa época, foram realizados diversos experimentos científicos que eram publicados em seu jornal independente que funcionou na Noruega por um período de cinco anos. Vamos descrever, resumidamente, um desses experimentos, que foi especialmente importante para o desenvolvimento de suas futuras pesquisas.

    Conforme dissemos, Reich queria investigar a relação entre a sensação psíquica de prazer e a atividade elétrica da pele (carga). Mais especificamente, ele queria saber se existem diferenças significativas na atividade elétrica da pele nas diferentes zonas erógenas e, principalmente, durante os estados de angústia e prazer. Nenhum cientista havia empreendido semelhante estudo. Contudo, o neurologista Otto Veraguth (1870-1944) e o fisiologista Ivan Tarkhanov (1846-1908) já haviam descoberto o chamado fenômeno psicogalvânico, isto é, a comprovação experimental de que manifestações psíquicas como angústia, tristeza e raiva eram acompanhadas por oscilações elétricas da superfície da pele.

    Após uma vasta pesquisa da literatura dessa área, Reich conseguiu desenvolver, em 1935, um aparelho para medir o potencial elétrico da pele. Esse aparelho, sofisticado para a época, consistia em "dois eletrodos ligados a uma cadeia de tubos eletrônicos

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