Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Na terra
Na terra
Na terra
E-book726 páginas6 horas

Na terra

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Esta é a história da vida do Gerci e de sua empresa familiar. Todos os fatos aqui relatados são verdadeiros. São relatos escritos com muita simplicidade e sabedoria – temas dos mais simples aos mais complexos, que interessam a todos nós. Eles podem ser considerados como raio de luz capaz de iluminar e despertar a nossa mente e aquecer nosso coração.
Sua vida foi pontuada por muita dor e sofrimento causados por vários traumas, mas ele descobriu – ao longo do tempo – que conhecendo a si mesmo, o seu lado escuro, a sua história, a sua vergonha, os seus medos e suas ideias, os seus sofrimentos vão se acentuando e vão ficando mais claros, as emoções abarrotadas se acalmam e ele vai limpando o corpo, a mente, purificando e aquietando a alma.
Gerci aprendeu a olhar o tempo como um mestre generoso, que anda devagar porque já teve pressa. Descobriu que pode ser amoroso e gentil consigo mesmo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2022
ISBN9786553870857
Na terra
Autor

Gerci Volpato

Empresário

Autores relacionados

Relacionado a Na terra

Ebooks relacionados

Memórias Pessoais para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Na terra

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Na terra - Gerci Volpato

    I

    NA TERRA ONDE NASCI

    Rio Pequeno é a terra, o vilarejo onde nasci e vivi até meus dois anos. Fica lá em Santa Catarina, município de Braço do Norte, perto de Aiurê, de Orleans, da Forcadinha, do Grão Pará, de Furnas, de Forquilhinha, de Gravatal, de Rio Sete, do Bracinho, de Pindotiba, de Barracão, de São Ludgero, de Lauro Muller, de Armazém e de Urubici.

    A casa onde nasci, para quem vai do Braço do Norte, fica no lado direito do Rio Pequeno. Pra chegar lá em casa tem que atravessar o Rio Pequeno, que é mesmo muito pequeno e cheio de pedras.

    É fácil atravessar o rio pulando por cima das pedras e dá pra fazer quase sem se molhar. Mas quando chove tempestade é um Deus-nos-acuda. A corredeira endoida de vez, as pedras se enervam, se movimentam, se batem, um charivari[3] ensurdecedor, barulheira infernal, inda mais quando de parceria com trovoada. Aí espanta tudo quanto é vivente, seja gente, seja bicho, seja ave. Até peixes saltam fora d’água, para as alturas, desnorteados que ficam os pobres coitados com a barulheira ensurdecedora dos estrondares.

    Meu pai é quem conta.

    Foi em mil novecentos e quarenta e cinco, logo no início do ano, janeiro se não me engano. Eu mais tua mãe vínhamos lá de perto de Braço do Norte. Tua mãe já recuperada da parição, montada na égua Granfina – muito boa de montaria – e eu no Serrador – garanhão de primeira, pras éguas um louvor. Voltávamos lá da benzedeira Deusdete, que te benzeu, você já tinha três meses, nos braços de tua mãe.

    Um chuvaréu tinha acabado de cair. O Rio Pequeno barulhando muito, já era de tardinha, quase noitezinha. Resolvemos atravessar. Pedi pra Ursulina que me entregasse você, pois que eu era bom na montaria e meu cavalo mais acostumado com travessias no Rio Pequeno. Juntei-te no braço direito, você enrolado nas roupas e na manta. Com as rédeas na mão esquerda fui guiando o Serrador, ordenei tua mãe que me seguisse, por favor! Fui à frente, uns cinco metros adiante.

    De repente, rolou uma pedra bem nas pernas do Serrador, que horror. O Serrador descontrolou, se enervou, saltou, bateu noutra pedra, tombou, também tombei. De meu braço você escapou. Tua mãe te viu esvoaçando na água, se atirou, não conseguiu te pegar, se desesperou. Já estava se afogando, consegui agarrá-la, salvá-la. Coloquei-a fora do rio, corri lá adiante, peguei a canoa, fui descendo empurrado pela corredeira.

    Também desesperado, roguei pra Nossa Senhora, São Pedro, São Paulo, São Tomé, tudo quanto é Santo – até pra Deusdete, a benzedeira que te benzeu – implorei ajuda, que te salvassem, pelo amor de Deus!

    Minutos depois, o barco sendo levado aos trancos, barrancos e esbarros nas pedras, pra lá, pra cá, acho que a mando de Deus, dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, avistei uns panos brancos atrelados na galhada de uma goiabeira. Fui ver. Era você, enrolado nos panos, na manta também, Santa Manta, Santa Goiabeira e todos os Santos. Amém!

    Você estava engasgado com água na boca, tossindo barbaridade, todo encharcado, mas VIVO! Que felicidade! Botei-te de pernas pro ar, vomitaste muita água, fomos pra casa, tua mãe te agarrou, com os olhos atravessados me censurou. Olhei pra cima, rezei, acho que Deus me perdoou.

    E acho que por causa desta quase infelicidade, dois anos depois, tua irmã Lourdinha já nascida, procurei outras paragens pra morar, na Anta Gorda fui acampar. Juntei mulher, você mais teus oito irmãos, as traias, botei tudo num caminhão do compadre Silvestre e nos mudamos lá pra Anta Gorda, que fica perto de Taió, da Barra da Erva e do Rio do Oeste. Foi nossa 11ª mudança.

    Serrano

    Desde nascença que me fissuro por celebridades, gente afamada. Não falo de mamãe e papai porque, para mim, ídolo é alguém quase impossível de se ver, tocar, alcançar. Um mito! Ao ser alcançado, tocado, ou mesmo quando visto com frequência, o mito se desfaz.

    O Serrano foi meu primeiro ídolo. Lá em casa e em todas as redondezas de Rio Pequeno, o Serrano era muito respeitado. Pouco se falava dele. Pra ser mais exato, somente era permitido falar do Serrano uma vez ao ano e cochichando.

    E nós, quatro irmãos mais novos, ficávamos de rodinha e distantes dos quatro mais velhos, falando baixinho sobre o Serrano:

    Havia rumores que o Serrano estaria chegando. Como seria ele? Sabíamos que era alto, muito robusto, barbudo, de bom coração, levemente corcunda, longas botas quase até os joelhos. Na cabeça, um bonito chapéu de couro e, nas costas, um saco também de couro bem amaciado e com uns enfeites aqui e ali. Dentro do saco um travesseirinho e um cobertor.

    O Serrano vai chegar daqui uma semana, profetizou Nena, a mais velha das irmãs, que foi – de imediato – expulsa da mesa pelo pai e pela mãe e o assunto mudou de rumo. Veio falação de roça, o trato dos porcos, a galinha que apareceu rodeada de muitos pintainhos, se o queixada caíra ou não no mundéu[4].

    Nós quatro, os mais novos, decidimos flagrar o Serrano.

    – Mas como?

    – Só tem um jeito, disse a Lídia: plantão 24 horas, dia e noite e, pela previsão da Nena, seriam sete dias e sete noites de vigília.

    Meus dois irmãos mais velhos foram escalados pela Lídia, democraticamente, para as duas primeiras noites, eu para a terceira, a Lídia para a quarta e assim, sucessivamente, até a infalível chegada do Serrano.

    Os plantões se sucediam e nada do Serrano. O meu segundo plantão coincidiu com a profecia da Nena, fiquei todo ouriçado, nem ceei direito, tanta era a emoção. Comigo mesmo combinei o estratagema do plantão: vigiaria a porta da frente que dava acesso ao quintal. Também a outra porta – a dos fundos – e que tinha uma bonita varanda antes dela, além de uma visão panorâmica das mais lindas, ainda mais que a noite seria de Lua cheia.

    Minha ansiedade era tamanha que mal percebi a chegada de dona Darvina que, também, todo ano, aparecia lá em casa e que, fazendo direito as contas, coincidência ou não, era justo no dia da chegada do Serrano. Também não observei que dona Darvina foi dormir no quarto do pai e da mãe. Só lá pela meia noite me dei conta que meus planos furaram.

    O pai mandou que eu quietasse e sossegasse, que fosse pra cama e com barulho nenhum, que a mãe estava doente e que dona Darvina veio justo pra cuidar dela e que ele – o pai – dormiria comigo. Não teve jeito de desviar do pai, vi que ele estava muito impaciente e não conseguia – assim como eu – sossegar, dormir.

    Então, eu ficava pensando e imaginando se o Serrano chegasse e se eu perdesse a chance, talvez a única chance da vida de vê-lo, tocá-lo, quem sabe até abraçá-lo. Fui entristecendo, o pio da coruja me botou medo, o uivo do guaraxaim[5] me apavorou de vez, encostei bem juntinho do pai, ganhei uma blandícia[6] dele – até hoje ainda cravada na memória.

    Papai me disse que logo íamos ter visita. Quase dormindo pedi que me acordasse e ele disse que sim. Dormi escutando, de levinho, o rangido dos dentes do pai, jeito dele de demonstrar quando estava nervoso, mesmo de dentadura muitos anos depois.

    Barulheira demais da conta, aquela algazarra me acordou. Estiquei o braço, a mão e nada do pai. Vi que ainda era escuro. Irmãos e irmãs zanzando na casa, um choro estridente de neném.

    A porta do quarto do pai e da mãe se abriu. Meus sete irmãos e eu, feitos uns bocós-de-mola[7], olhando dona Darvina a exibir uma linda garotinha, a mãe extenuada na cama, os apetrechos de dona Darvina ali junto dentro de uma baciona. O pai, com um sorriso bem sem-vergonha anunciou:

    – Olhem que irmãzinha linda vocês ganharam! O Serrano acabou de deixar aqui em casa!

    Nem dei atenção pra Lourdinha. Escapuli, corri em volta da casa, do quintal, do terreiro, fui até a estrebaria, o chiqueiro, o paiolão… nada do Serrano. Voei pro outro lado, o lado da estrada, me pareceu ver um vulto lá longe, sumindo na curva.

    Desencorajei de ir atrás, pois que as três leiteiras – a Bequinha, a Estrela e a Mimosa – estavam pastando bem aí, e o cavalo Serrador e a égua Granfina ergueram demais a cabeça e o Serrador impunha muito respeito.

    Dias depois perguntei para o Quinho – achava o Quinho o mais honesto dos irmãos e só bem mais tarde descobri que era o mais mentiroso de todos – onde é que o Serrano morava. O Quinho apontou a mão insinuando que era praquele lado. Olhei bem e lá no horizonte distante, vislumbrei a silhueta da Serra do Rio do Rastro. Isto se deu há 74 anos, em 1947.

    Pedro Kempa – meu quase padrinho

    Quando egresso do seminário, eu já com 15 anos e ainda morando na Anta Gorda/SC, mente desnorteada face às intempéries seminarísticas, pedi a papai para rever o lugar onde nasci – Rio Pequeno – lá pras bandas de Braço do Norte, Orleans e Lauro Muller.

    Meu pai, com muita saudade da parentada de lá, dos compadres e amigos, convenceu um amigo e compadre, o compadre Daniel, que tinha um Jipe de quatro portas e lá fomos nós.

    Chegamos a Braço do Norte, pousamos na casa de tio Fortunato, irmão de papai. No dia seguinte fomos rever a parentada, na casa de um, na casa de outro, mais uns amigos de papai pra lá, pra cá. Lá se foi uma semana.

    Exigência minha, mas também de papai, fomos rever o local onde nasci e, pra surpresa nossa, a casa ainda estava lá, abandonada, caindo aos pedaços. Atravessamos o Rio Pequeno a pé, pulando por sobre as pedras, pois que estava de pouca água.

    Adentramos na casa, as duas portas não existiam mais; das cinco janelas somente três sobreviveram. Uma porca com 12 leitõezinhos estava morando na cozinha.

    O fogão a lenha ainda lá estava, a chapa toda enferrujada e, de debaixo da chapa, vi saírem um casal de porco-espinho e três filhotinhos. A sala também era habitada por um casal de porco-do-mato, com nove porquinhos resmungando muito. Os quatro quartos serviam de abrigo pra muitos animaizinhos, inclusive sapos, lagartos e jararacas.

    Papai apontou com a cabeça, indicando o quarto onde nasci e onde nasceu Lourdinha. Por um bom tempo ele foi relembrando e relatando belas lembranças, com muitos e lindos detalhes. Parece que a natureza foi escutando e se alegrando. A casa foi sendo invadida por muitos espécimes coloridos de borboletas e passarinhos, que por um tempão ficaram circulando e entoando melífluas[8] e lindas sinfonias.

    Quando saímos da casa onde nasci e onde nasceu Lourdinha, papai apontou lá pro outro lado do Rio Pequeno, bem no alto do morro, sorriu e disse:

    – Lá morava o compadre Pedro Kempa. Vamos ver se ele ainda mora lá?

    Na caminhada – que levou quase uma hora – perguntei de quem o compadre Pedro Kempa era padrinho ou de quem meu pai era padrinho. Papai respondeu que quando nasci, ficou compromissado que Pedro Kempa mais sua esposa – dona Luna – seriam meus padrinhos. Acontece que o vilarejo era muito pequeno e o padre ia por lá só uma vez a cada ano, pra rezar uma missa coletiva na casa de um colono, fazer o batismo dos nascidos e uma prece aos falecidos.

    – E foi num desses intervalos que resolvi me mudar lá pras bandas de Anta Gorda. Então, não ocorreu o teu batismo aqui no Rio Pequeno, mas eu e o Pedro Kempa somos compadres pra sempre, até porque eu mais tua mãe batizamos uma filha do compadre Pedro Kempa e da comadre Luna, chamada Giovanna, que é nossa afilhada.

    Era quase meio-dia. De longe sentimos um cheirinho apetitoso de comida caipira trazido pelo vento. Fomos chegando, três cachorros vieram nos receber, eram conhecidos de papai, que foi sorrindo e chamando-os pelo nome: Bob, Princesa e Rex.

    Na porta da casa estava uma senhorita muitíssimo simpática e sorridente que reconheceu papai, deu-lhe um carinhoso abraço e disse:

    – Padrinho, que saudade! Entra padrinho, chegaste bem na horinha do almoço, papai já tá chegando, vem cá, senta aqui. E quem é que está contigo, este moleque é teu filho? E este outro senhor?

    Papai respondeu que sim, que este moleque era o Gerci e este outro senhor era o compadre Daniel, lá de perto da Anta Gorda, da Barra da Erva.

    Giovanna também me abraçou. Disse que me conheceu quando nasci e ela tinha três aninhos e que seu pai ficaria muito feliz em me ver, em ver seu quase afilhado. Disse também que sua mãezinha, Luna, estava ausente – estava lá no norte do Paraná, mais precisamente em Maringá, visitando uns parentes – mas que na próxima semana estaria de volta. Giovanna complementou dizendo que – apesar de diversos e românticos convites – resolveu não se casar, justamente para dedicar o tempo aos cuidados dos pais.

    Pedro Kempa chegou. Foi compadre de um lado, compadre de outro lado a toda hora. Perguntou se era eu seu quase afilhado, papai disse que sim, ganhei mais um abraço, um abração.

    Enquanto Giovanna ia aumentando o cheiroso almoço – vi que era galinha caipira – fomos vendo ao redor de casa: o chiqueiro lotado de porcos, o galinheiro com várias chocadeiras e muitos pintinhos, o pomar repleto de árvores frutíferas, o fornão de barro pra fazer pão de forma, o poço com mais de 30 m de profundidade com dois baldes pendurados, o engenho de moer cana e de fazer garapa, melaço, rapadura, açúcar e cachaça e a plantação de cana logo adiante.

    – Experimentem um trago desta cana, disse compadre Pedro Kempa a papai e Daniel, estendendo a mão com uma canequinha bem cheia.

    – Cachaça boa! – falou papai, que repetiu a talagada, garantindo ser melhor que as cachaças lá de Luiz Alves e do que as famosas lá das Minas Gerais.

    Fomos olhando todo o processo de fabricação da cachaça, tudo manual já que a quantidade não era muita – umas duas mil garrafas por ano, pro consumo próprio e de alguns parentes e amigos que se aproveitavam.

    O almoço foi maravilhoso – frango caipira com polenta, cheiro verde, quiabo, salsão, tomate despelado, cebola, alho, sal, pimenta e aquele cheirinho gostoso de colorau e alecrim. Tudo isso e mais um delicioso e envelhecido vinho tinto com mais de 20 anos de idade, também elaborado pelo meu quase padrinho Pedro Kempa, tirado lá do porão da casa.

    De tardezinha, já na boca da noite, depois de muita conversa com lembranças do passado, agradecemos a hospedagem, recebemos um abraço muito forte da Giovanna, outro também de meu quase padrinho, que me entregou um balaiozinho com cinco garrafas de cachaça e mais um garrafão daquele vinho saborosíssimo e disse solenemente:

    – Este é um presente especial pra meu quase afilhado Gerci.

    Chorei de emoção!

    A Serra do Rio do Rastro

    Passamos mais uns dias em Braço do Norte, revisitamos a parentada toda. Nunca vi tanto velho, tanta velha. Depois resolvemos de ir até São Joaquim, Curitibanos, Bocaina, Lages, os lugares onde papai comprava porcos para engordar e vendia a sobra para os vizinhos fazerem o mesmo.

    Papai escolheu a Estrada da Serra do Rio do Rastro como o melhor caminho. Era por lá – debruando[9] a Estrada do Rio do Rastro – que papai descia a porcada, quando morávamos no Rio Pequeno; uns 15 dias de viagem, um pouco a pé, um pouco no lombo do burro.

    No portal que dá acesso à Estrada do Rio do Rastro, entre muitas histórias e estórias escritas lá no mural, estava uma que me arrepiou todo quando li o título: O Serrano. Logo abaixo da história, enxerguei um mapa de onde seria a casa do Serrano.

    Eu, meu pai e Daniel fomos indo a pé pela trilha assinalada – meu pai não queria ir e até ria de mim – informando que eu já tinha 15 anos, que não era mais criança.

    Caminhamos um bom trecho mato adentro e serra acima. Eu tinha absoluta certeza de que encontraria o Serrano e realizaria meu sonho, poderia vê-lo, tocá-lo, abraçá-lo, conversar com ele. De repente, surgiu em nossa frente um ranchinho caindo aos pedaços, com a porta semiaberta. Tive a sensação de escutar aves se movimentando e crianças chorando.

    Meu coração acelerou demais, pensei que sairia pela boca, encorajei, bati na porta do ranchinho. Veio atender um homem idoso, barba branca, me pareceu ter um coração muito bondoso, corcunda fortemente acentuada, compridas botas até perto do joelho e já bastante surradas, chapéu de couro na cabeça com sinais de muito uso. Convidou-nos a entrar.

    Ao lado da porta olhei um saco de couro com alguns enfeites, pendurado num cabide junto a um travesseirinho e um cobertor e uma legenda anunciando: fora de uso.

    – É o senhor que é o Serrano? Perguntei.

    Uma lágrima escorreu de cada olho dele, depois muitas outras lágrimas. Foi enxugando com a manga da camisa, que ficou toda molhada, e ainda chorando disse:

    Antigamente aqui era tudo meu: a serra toda, os córgo d’água, as cachoeiras, os penhascos, as frutas silvestres! Também a passarinhada e a bicharada.

    Minha lida era de entregar criancinha nas vizinhanças… até onde a vista alcançava e até onde as pernas guentavam.

    Fui ficando de idade, a vista foi ficando fraca, as pernas bambeando, as costas embodocando. Aí apareceram por aqui uns estrangeiros, falando uma língua impossível de entender. Junto vieram máquinas, que foram derrubando mato e tudo o mais, fizeram esta estrada e levantaram esses muros.

    Lá mais em cima fizeram um campo de voo, começou chegar uma raça de aves de bico comprido que nunca tinha visto por aqui muito boas de voo e de aterrissagem e eu ficava só olhando os longos treinamentos.

    Por último, chegaram alguns helicópteros trazendo uma enorme placa que colocaram bem lá no alto:

    Trans – Stork transport of babys

    Também vieram uns tradutores, falando a minha língua, que traduziram aquela placa: TRANS-CEGONHA TRANSPORTE DE BEBÊS.

    Disseram-me que o mundo estava mudando, que as tecnologias eram outras e que, a partir daquela data – isto foi lá por 1950 – as entregas de bebês seriam feitas por uma frota de cegonhas, aquelas aves pescoçudas e bicudas que faziam ensaios.

    Todas uniformizadas, o que deixaria os pais mais felizes, pois as entregas seriam muito bem-organizadas e com horário marcado. Que as criancinhas não chorariam no transporte.

    É claro que, por se tratar de uma multinacional – até me explicaram o que era uma multinacional, mas não me lembro mais – a empresa visaria lucros e que os pais pagariam uma taxa de entrega. Que isso já estava sendo avisado a toda a população e que nenhum problema haveria. Inclusive trouxeram um helicóptero-ambulância, que era para situações de extrema necessidade, emergenciais.

    Então, me disseram que eu teria que me mudar para um lugar mais distante, mas que, se fosse de meu agrado e interesse, poderia continuar aqui, que me dariam comida, alguma roupinha e um lugar de dormir, desde que tomasse conta da portaria, anotasse as entradas e saídas das cegonhas e de um ou outro visitante que ali aportasse.

    Sem ter aonde ir, aceitei a oferta e aqui estou findando meus dias.

    Não consegui dizer uma palavra, me emocionei, chorei muito. O Serrano – tinha certeza de que era ele mesmo – olhou bem pra mim e disse, muito emocionado:

    Lembro-me do dia 18 de novembro de 1944, quando fui entregar uma criancinha lá no Rio Pequeno, perto do Braço do Norte e da Forcadinha. Levou de três a quatro dias a viagem. O menino que eu levava tinha um chorinho igualzinho ao teu e os pais desta criancinha ficaram muito felizes.

    E bem no começo de 1946 levei também uma menininha que eu vi que chamaram ela de Lourdinha. Quando eu estava voltando, vi que alguém, ainda muito pequenininho, ficou me procurando em volta da casa, rondando pra lá e pra cá.

    Quase fui lá conversar com ele, mas desisti, pois meu juramento de profissão era de somente entregar a criança, ver se estava bem e desaparecer em seguida.

    Não resisti. Chorando, abracei o Serrano por um tempão, beijei-lhe o rosto, as mãos. Meu pai se aproximou e, também chorando muito, agradeceu o Serrano pelas 14 entregas e disse:

    – Fique com Deus!

    Sem dizer uma palavra fui puxado por meu pai, a cabeça olhando pra trás até sumir de vista o Serrano, meu primeiro ídolo.

    Desde o começo da Serra do Rio do Rastro até o alto, com pouca conversa entre papai e eu, o pensamento direto voltava pro Serrano. Gastamos várias horas curtindo as belezas da Estrada da Serra do Rio do Rastro, que é tida como uma das estradas mais lindas do mundo, começando lá em Lauro Muller e indo até Jardim da Serra, lá no alto.

    No trajeto, observa-se uma grande área de preservação da Mata Atlântica, bem como diversos cânions e maravilhosas cachoeiras. É uma via de sinuosidade impressionante, com deslumbrante vista em mais de 200 ziguezagueantes curvas.

    Parece que a natureza foi escutando e se alegrando. A casa foi sendo invadida por muitos espécimes coloridos de borboletas e passarinhos, que por um tempão ficaram circulando e entoando melífluas e lindas sinfonias.

    Serra do Rio do Rastro (SC)

    Várias vezes o compadre Daniel estacionou o veículo nos mirantes para vislumbrarmos a belíssima paisagem e concordarmos com os dizeres de que os segredos da vida estão no caminho e não no destino final.

    Serra do Rio do Rastro (SC)

    Por diversas vezes papai pedia que Daniel parasse o Jipe para mostrar locais conhecidos dele, por onde – lá pelos idos de 1930/1945 – ele descia a porcada comprada em cima da serra para engorda lá no Rio Pequeno e demais lugarejos em que morou. E ele sorria com muita alegria e paz, como que dizendo: era difícil, mas cumpri minha missão.

    Serra do Rio do Rastro (SC)

    Não é por acaso que este trecho de mais ou menos 25 Km da SC-390 já foi condecorado por diversas revistas especializadas em turismo, inclusive lá da Europa, como sendo a Estrada mais Espetacular do Planeta Terra.

    Também foi durante este trajeto que tivemos o privilégio de apreciar a beleza de alguns animais que habitavam aquelas paragens e que também deixavam papai muito alegre, feliz, emocionado.

    Na beira de uma lagoa resultante de uma linda cachoeira quase no pé da serra vislumbramos uma bigoduda lontra com seus filhotinhos. Dormiam, tomando banho de sol e exibindo as pelugens. Assim que ouviram o barulhinho do carro acordaram, fizeram diversos e longos guinchados, mergulharam e desapareceram. Papai falou:

    – Vamos adiante, que essas danadinhas ficam debaixo d’água uns 10 min ou até mais.

    Lontra

    Vimos macacos saltitantes nas galhadas das árvores, sorrindo alegremente, como que saudando-nos, querendo conosco conversar.

    Macaco-prego

    Macaco-Prego

    Havia tatus de diversos tamanhos, ora cavando buracos no solo com suas unhas super afiadas na elaboração de suas residências, ora caçando insetinhos – besouros e formigas – para comer, mas também mordendo raízes de arbustos e de pequenos vegetais e até frutinhos.

    Com seus miudinhos olhos, pouco enxergavam os tatus e se orientavam pelo olfato e pelos sons. Quando um tatu inexperiente ficava parado no meio da estrada, quase nada enxergando o coitadinho, o Daniel reduzia o calhambeque, acelerava forte. Era o ensejo para o tatu sair aos pulos e sumir no matagal.

    Tatu

    Os quatis apareciam em pequenos bandos exibindo os longos narigões e os compridos rabos decorados com lindos anéis. Papai pinchava umas sobrinhas de comida na beira da estrada, era o que bastava para ver a quatizada se aproximando feliz, se alimentando, olhando pra gente e pedindo bis. Seu Gregório atendia de imediato e, tal qual os quatis, ficava muito feliz e emocionado, e até lágrimas vertiam de seus olhos.

    Quati

    Um belo casal de tamanduás surgiu de repente, exibindo a pelagem única, dando a impressão de vestirem coletes marrons, quase pretos. Caminhavam suavemente beirando a Estrada da Serra do Rio do Rastro, com certeza à cata de ninhos de formiga e de cupins, que são seus pratos prediletos.

    Tamanduá

    Também apareceu um casal de guaxinins, os dois um pouco sonâmbulos e letárgicos, andando desajeitados e exibindo as lindas pelagens cinza-amareladas, testas marrons, patas esbranquiçadas, focinhos afilados nas extremidades e enormes e exuberantes orelhas apontando para o infinito. Pena me deu de uma jararaquinha e de duas ratazanas que perambulavam por lá e serviram de prato feito para o casal de guaxinins, que rapidinho os devorou.

    Guaxinim

    Foi emocionante visualizar diversas lebres saltando em zigue-zague e em altíssima velocidade, harmonizando lindamente com as muitas e ziguezagueantes curvas da Estrada do Rio do Rastro. As lebres, ao mesmo tempo em que exibiam suas enormes orelhas, sempre voltadas para as alturas, se alimentavam fartamente com as folhas da vegetação natural da serra.

    Lebre | Filhotes de lebres

    E até chegarmos à casa de Quinho, meu irmão casado com Delma e morando lá em Rio do Oeste, foram mais dois dias. Bem antes de nossa chegada em Rio do Oeste, ainda no planalto Lageano, em Bocaina do Sul mais precisamente, papai pediu pro compadre Daniel estacionar o Jipe debaixo de um lindo bosque de araucárias, dizendo que foi por perto dali que moraram uns anos antes, durante três anos, enquanto eu estudava pra ser padre.

    Sentamo-nos no tronco de um pinheiro tombado, bem adulto, com uns dois metros de diâmetro, com a casca já raspada, própria pra sentar e relaxar naquele panorama encantador. A passarinhada adoidada cantava belas canções e desenhava voos simétricos e cadenciados por debaixo das copas do pinheiral.

    E foi lá mesmo, debaixo daquele bonito pinheiral, que armamos nossas barracas para dormirmos e curtirmos a paisagem toda, o luar maravilhoso, a Via Láctea como que piscando por entre a folhagem e as pinhas.

    Vez em quando despencava lá do alto uma pinha, em seguida outra, depois mais outra. Desmanchavam no chão, esparramando os pinhões em volta, três, quatro metros ao redor. Eram diversos os apreciadores de pinhões que víamos por lá.

    As pacas apareciam já na boca da noite. Desconfiadas e atentas ao verem as barracas montadas, iam se afastando lentamente, permitindo que papai e eu visualizássemos seu pelo eriçado com suaves variações de tons. Em seguida, disfarçadamente, se aproximavam das pinhas tombadas, roíam alguns pinhões, se apoderavam de mais alguns e sumiam.

    É de conhecimento geral que o nome paca é de origem tupi e significa atento, vigilante, desperto, daí explica-se tanta atenção, receio e desconfiança ao enxergarem um ser humano ou um predador natural.

    Paca

    Vez em quando aparecia um ouriço (também chamado de porco-espinho), depois outro, depois mais uns e todos se agrupavam. Davam uma olhadinha pra gente, grunhiam e batiam as patas traseiras, arrepiavam os milhares e milhares de espinhos brancos com pontas escuras, impunham respeito marcando território e, calmamente, saíam catando e comendo pinhões até ficarem de pança cheia. Então deitavam-se, dormiam, roncavam

    Ouriços

    Os bugios apareciam em grupos de mais de uma dúzia, saltitando nas galhadas das araucárias, mas também de outras árvores, exibindo suas longas pelagens nas mandíbulas e ao derredor da face. Vocalizavam fortemente e com muita rigidez para demarcar território, impedindo a aproximação de outros grupos. Em seguida conversavam entre si mais calmamente, até parecendo seres humanos dialogando.

    Bugios

    Mesmo passando mais de 80% de suas vidas nas alturas das árvores, os esquilos desciam ao solo por ser época do pinhão – período de abril a junho. Em considerável agrupamento, iam comendo, catando e plantando pinhões e, em seguida, voltavam às copas do arvoredo.

    Esquilo

    Por várias vezes, papai e eu víamos alguns caxinguelês cavando buraquinhos no solo e, rapidinho, enterravam pinhões para posteriormente se alimentar. Considerando que não se lembrariam de todas as sementes enterradas, estavam colaborando com o plantio de novas araucárias.

    Formigas

    Era o ensejo para as gralhas-azuis aparecerem, sempre de dois a quatro casais, mais alguns filhotes ainda solteiros. Exibiam a elegante plumagem de um azul encantador, com leves detalhes de preto na cabeça, no peito e na parte frontal do pescoço. Comiam um ou dois pinhões, prendiam mais uns três a quatro nas garras e sumiam no infinito, orquestrando belas e sedutoras canções.

    Gralha-azul

    Os agutis, tal qual as gralhas-azuis e os caxinguelês, saíam correndo com diversos pinhões, indo enterrá-los em locais diferentes pra comer depois, também colaborando na disseminação da espécie, uma vez que não mais se lembrariam de todos os esconderijos.

    Cutia

    Dizem os estudiosos destas maravilhosas aves que a gralha-azul é a ave disseminadora das araucárias uma vez que, durante o outono, quando as araucárias frutificam, bandos de gralhas, laboriosamente[10] e diariamente, estocam os pinhões em locais diversos.

    Neste processo, as gralhas escondem os pinhões para deles se alimentarem posteriormente, encravando-os fortemente no solo, ou até mesmo em troncos caídos no solo e já em processo de putrefação. Considerando que as gralhas não se recordam de todas as cafuas[11] feitas, é assim que novas e muitíssimas araucárias vão brotando.

    O folclore do Paraná atribui à gralha-azul a formação e manutenção das florestas de araucária como uma missão divina. É por esta razão que as espingardas explodiriam ou negariam fogo quando apontadas na direção delas, que são hoje um dos símbolos do estado.

    Araucária

    Araucária

    Por fazer parte do folclore do estado, a ave foi escolhida como mascote do Paraná Clube, tradicional clube social e esportivo de Curitiba, também aparecendo no escudo do clube.

    Estes mesmos estudiosos afirmam que a origem das araucárias data de aproximadamente 200 milhões de anos e iniciou no Nordeste brasileiro, onde hoje é sertão. Quando adultos, os pinheiros atingem comprimento de mais ou menos 50 m e tronco colunar de 2,6 m de diâmetro.

    A casca é rugosa, persistente e resinosa por dentro. O raizal pivotante[12] de até dois metros de profundidade sustenta o enorme comprimento. Seu formato é único na paisagem brasileira, parecendo uma umbela, uma taça. As flores são as pinhas que, quando maduras, pesam até cinco quilos e as sementes cônicas, de cor marrom, medem até sete centímetros de comprimento.

    Quando atingem a juventude, entre 15 e 20 anos, as araucárias começam a produzir as pinhas, variando de 50 a 180 unidades por ano.

    A vida da espécie varia de 200 a 280 anos e, em raríssimos casos, atingindo 500 anos de existência, quase um recorde florestal.

    Foi neste momento tão encantador e cativante, num dos ambientes mais lindos das florestas brasileiras, com o orquestrante chilrear[13] da passarinhada, que meu pai se aproximou de mim, me deu um abraço, um abraço muito apertado e carinhoso, sentou-se a meu lado e, balbuciando, disse:

    Lá em Rio Pequeno, também em Braço do Norte, Tubarão, Grão Pará, lá onde eu nasci, onde tua mãe nasceu, onde nasceram teus avós, teus tios, teus irmãos mais velhos, era o Serrano que trazia as criancinhas.

    E era religiosamente uma vez por ano que ele aparecia em cada moradia. Ninguém duvidava do Serrano e ninguém perguntava nada sobre o Serrano. Ele era um mistério, quase uma divindade.

    Eu me lembro da noite em que nasceu tua irmãzinha, a Lourdinha. Você ainda não tinha dois aninhos e estava doido pra conhecer o Serrano. E quando nasceram teus outros irmãos e irmãs depois da Lourdinha, você sempre com uma curiosidade muito forte, atormentadora mesmo, para conhecer o Serrano.

    Gralha-azul

    Eu e tua mãe sempre deixando pra lá, sempre te enrolando, mas ao mesmo tempo ficávamos sem saber como resolver tudo isto. Depois você foi pro seminário e, na tua volta, tua mãe e eu percebemos que você ainda se lembrava do Serrano como um ser fantástico, uma lenda, um ídolo.

    Queria te dizer, meu filho, que programei esta viagem com um propósito, uma meta, no sentido de desfazer este mito, mas não sabia como. Então, conversei com compadre Pedro Kempa, mais o compadre Fortunato, mais o compadre Eliseu e, juntos, tramamos a história do Serrano lá na Serra do Rio do Rastro.

    Aquilo tudo que nós vimos e ouvimos lá, foi encenação nossa. O Serrano que lá estava é outro compadre meu, o compadre Giuseppe Tarantela, que fez toda aquela exibição, todo aquele comovente teatro.

    Peço-te desculpas, meu filho. Você já está com 15 aninhos, já é um rapagão, e achei que estava na hora de esboroar[14] esta história, este mito. Espero que você me entenda, me perdoe e que também entenda, compreenda e perdoe tua mãe.

    Chorei muito, larguei meu pai e, apoplético[15], corri pinheiral adentro. Causei espanto e zaragalhada[16] a diversos quatis, bugios, esquilos e gralhas que por lá se alimentavam. Estava lá o Rio Canoas. Mergulhei, nadei pra lá, pra cá até esgotar as energias, saí das águas ainda suando muito.

    Horas depois voltei, meu pai estava lá sentado, cabisbaixo, nervoso. Abracei-o, agradeci-lhe e parabenizei-o pela iniciativa, pela coragem e pela criatividade na encenação do Serrano.

    Relembramos meu nascimento lá em Rio Pequeno, as muitas engordas de porcos em Rio Pequeno, mas também, e principalmente, na Anta Gorda, papai narrando tudo com muitos detalhezinhos. Jantamos pinhão assado na brasa com uma saborosíssima garrafa de vinho trazida lá do compadre Pedro Kempa, meu quase padrinho. Os compadres, papai e Daniel, foram para as barracas e logo dormiram.

    Por longas horas fiquei contemplando a natureza, retribuindo as piscadelas das estrelas com demorados sorrisos. Como era linda e exuberante a natureza noturna lá de Bocaina.

    Lua cheia

    Fui enxergando, vislumbrando e imaginando a existência de bilhões e bilhões de estrelas, milhares e milhares de galáxias, milhares ou milhões de planetas, um só Deus todo poderoso e de todos nós, seres humanos ínfimos e insignificantes perante toda esta majestade.

    Já quase dormindo, contemplava a luminosidade refletida pela majestosa Lua cheia iluminada pelo Sol.

    A Via Láctea, com seus bilhões e bilhões de estrelas, circulando toda a esfera terrestre.

    Via Láctea

    Nosso simbólico e admirável Cruzeiro do Sul.

    Cruzeiro do Sul

    E o silencioso, mas cativante som de diversos pássaros que por lá circulavam:

    Os curiangos com seus penetrantes e repetitivos assobios durante quase a noite toda. Vez em quando um curiango esvoaçava, exibindo sua enorme rabada de uns 30 cm.

    Curiango

    Os jacurutus portentosa coruja com orelhas exuberantes, também apelidada de corujão. São vistosos seus enormes olhos amarelados e seus poderosos gadanhos[17] totalmente empenados. Sua alimentação preferida são

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1