Dr. Lao na Terra do Nunca: a história de um adicto em um Instituto de Atenção

De Alexandre Miranda

Em uma das sessões que tive com Dr. "Vader" perguntei a ele se eu teria oportunidade de beber "socialmente" um dia. Ele respondeu que sim, desde que eu não fosse escravo da bebida. Saí de lá com sorriso de canto a canto do rosto. A felicidade irradiava. Era tudo que eu queria ouvir de um monstro da psiquiatria como ele. Um túnel de 10 km na escuridão total e lá do outro lado uma chama de uma vela, quase imperceptível, que só eu, na minha esperança, podia vê-la. Então todos os dias a partir daquele dia já levantava da cama com aquele pensamento "faça o certo, faça por onde que você vai chegar lá! Você vai poder voltar!". Todos os grupos, todos eu lembrava daquela frase que ele falou. A voz grossa e firme daquele homem de competência inigualável ecoava na minha mente. Não raro às vezes me distraía com ele falando e eu tinha que voltar a me concentrar no grupo. "Respira, rapaz" pensava eu... "quanto mais rápido e seguro você sair daqui, você volta a beber na manha, de leve, do jeito que você sempre quis".

[...] "Me rendo! Sou seu escravo para sempre e dessa luta não vou mais brigar contra você. Apesar de ser possível com minha garra e determinação chegar até você, não sei se ao chegar conseguirei viver junto contigo. Diante disso, entrego-me a você minha fraqueza e minha derrota. Reconheço que você é mais forte do que eu!", virei-me e voltei para o começo do túnel, que é de onde eu gostaria e estou recomeçando.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Dialética
• Data de lançamento: 2 de jan. de 2023
• ISBN: 9786553551701

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capaExpedienteRostoCréditos

A meus filhos Matheus e Arthur

Aos meus pais José Augusto e Marta.

Aos meus irmãos Augusto Neto,

Antônio Augusto, Maristella e Gustavo.

À Yana (Mulher Maravilha).

À Luciana Campos (Pigmeu).

Aos amigos Mãozinha, Marquinhos,

Barata, China, Carlinhos e Krishna.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que com certeza estariam e ficariam ao meu lado se soubessem que fiquei hóspede na Terra do Nunca pelo tempo que estive lá.

Aos meus irmãos que deixaram seus braços eternamente abertos para o ponta da rama.

À eterna Mulher Maravilha que sempre esteve comigo durante todo o tempo que passei na Terra do Nunca, bem como fora dela. Companheira incrível de todos e para todos os momentos. AF. Meus sinceros e eternos agradecimentos.

À Pigmeu que no quando pensei que a montanha estava em seu cume, me apresentou a Terra do Nunca.

Aos Heróis e Heroínas que me ajudaram no autoconhecimento para chegar até o fim.

Aos amigos que estiveram sempre comigo: Mãozinha, Barata, China, Marquinhos (colégio), Krishna e A Lenda pela ajuda na confecção desse sonho e conselhos pela experiência de vida com relação à Terra do Nunca.

A Mofo que me ouviu e ainda ouve minhas angústias e sofrimentos e a quem posso confiar meus segredos.

NOTA DO AUTOR

Na minha infância meus irmãos assistiam muito a um filme chamado AS 7 FACES DO DR. LAO. Não tenho muitas lembranças desse filme, mas as poucas que tenho, ora ele se transformava em um dragão, ora em um mago e assim ele mudava as suas faces durante toda a história.

Inspirei-me nele quando resolvi ser o Dr. Lao e ter suas 7 faces. Minhas oscilações temperamentais e comportamentais eram muito evidentes. Uma hora estava muito triste, outra brincando demais, outra extrovertido, outra muito calado, pensativo, enfim, realmente quando entrei no RAID, na minha Terra do Nunca, eu tinha 7 faces e não as conseguia controlar, nem saber quando cada uma iria surgir.

Sempre gostei de Peter Pan. Eu mesmo me intitulei como possuidor de sua Síndrome só pelas brincadeiras sem fim que fazia e a Terra do Nunca foi o lugar escolhido onde os garotos perdidos são tratados, são medicados, são assistidos, enfim, são cuidados.

Só consegui concluir esse sonho em meados de outubro de 2022. Passei muito tempo com outros projetos que acabei deixando essa obra um pouco de lado. Terminando essa nota, lembro de quando eu escrevia à mão nos meus blocos de papel e depois passava para o notebook. Lembro dos dias depois da minha saída, dos dias que fiquei fora de lá da casa, na Matrix que eu não escrevi sobre eles. Dos meus sentimentos que passei desde quando saí até hoje e principalmente a felicidade, alegria e o sentimento de vitória em ter me mantido firme sem beber e meu crescimento e aprendizado constante com relação aos meus limites.

Durante alguns poucos anos passados quando comecei minhas terapias com Pigmeu, descobrimos meus problemas com excesso de álcool, e desde então tentei tratar com indicações em que ela (Pigmeu) sempre me sugeria a ir e por outras vezes eu tentava sozinho. Preciso confessar que das várias tentativas, sabotei a maioria, mas talvez porque dentre todas não tivesse conhecido a última em que ela me disse: o RAID.

O RAID (o Instituto Recife de Atenção Integral as Dependências) é um espaço de acolhimento, fala e resgate da autonomia e da liberdade dos hóspedes. Para quem é de fora e não conhece vai chamá-lo de uma Clínica de Reabilitação, mas o RAID é muito mais que isso, lá é verdadeiramente a Terra do Nunca, é uma imersão no autoconhecimento, lá é onde percebemos que o problema não é a substância que cada um escolheu, mas o fim é o mesmo de problemas que estão dentro de cada um de nós. Cada dia, cada grupo, cada momento tem um sentido e o que vai fazer com que prossigamos nesse tratamento do autoconhecimento para descobrirmos onde e por que desviamos nosso curso para a escolha da substância é essa entrega real, verdadeira e honesta.

O único ponto que quero deixar registrado sobre o pós Terra do Nunca é que para mim é primordial continuar e manter o tratamento com os MMs e, principalmente, com Elza, Pigmeu ou quem quer que seja. Algumas situações novas aconteceram depois que não sei o que poderia ter acontecido se eu não fosse assistido por elas.

SUMÁRIO

Capa

Folha de Rosto

Créditos

DIÁRIO DE BORDO

A CHEGADA

SEGUNDA, 04/10/2021

TERÇA, 05/10/2021

SÁBADO, 09/10/2021

DOMINGO, 10/10/2021

SEGUNDA, 11/10/2021

TERÇA, 12/10/2021

QUARTA, 13/10/2021

QUINTA, 14/10/2021

SEXTA, 15/10/2021

SÁBADO, 16/10/2021

DOMINGO, 17/10/2021

SEGUNDA, 18/10/2021

TERÇA, 19/10/2021

QUARTA, 20/10/2021

QUINTA, 21/10/2021.

SEXTA, 22/10/2021

SÁBADO, 23/10/2021

DOMINGO, 24/10/2021

SEGUNDA, 25/10/2021

TERÇA, 26/10/2021

QUARTA, 27/10/2021

Quinta, 28/10/2021

SEXTA, 29/10/2021

SÁBADO, 30/10/2021

QUARTA, 02/11/2021

QUINTA, 04/11/2021

SEXTA, 05/11/2021

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SEGUNDA, 08/11/2021

TERÇA, 09/11/2021

QUARTA, 10/11/2021

QUINTA, 11/11/2021

SEXTA, 12/11/2021

TERÇA, 16/11/2021

QUARTA, 17/11/2021

QUINTA, 18/11/2021

SEXTA, 19/11/2021

DOMINGO, 21/11/21

SEGUNDA, 23/11/21

TERÇA, 23/11/2021

QUARTA, 24/11/2021

QUINTA, 25/11/2021

SEXTA, 26/11/2021

SEGUNDA, 29/11/2021

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QUARTA, 01/12/21

QUINTA, 02/12/2021

SEXTA, 03/12/2021

SEGUNDA, 06/12/2021.

TERÇA, 07/12/2021

QUARTA, 08/12/2021

QUINTA, 09/12/2021

SEXTA, 10/12/2021

QUINTA, 23/12/2021

DOMINGO, 26/12/2021

TERÇA, 28/12/2021

QUARTA, 29/12/2021

QUINTA, 30/12/2021

TERÇA, 04/01/2021

QUARTA, 05/01/2021

QUINTA, 13/01/2022

A DESPEDIDA

QUINTA, 27/01/2022

Landmarks

Capa

Folha de Rosto

Página de Créditos

Sumário

DIÁRIO DE BORDO

Por conta do uso abusivo do álcool, Dr. Lao resolveu procurar tratamento para a dependência química que desenvolveu. Procurou o Instituto RAID, albergue terapêutico especializado nesse tipo de tratamento, sendo referência nacional na área. De forma despretensiosa, começou a escrever sobre os seus dias de tratamento, desde o primeiro contato, quando lá esteve para conhecer o espaço e a metodologia de tratamento, na companhia da sua esposa, passando pela sua chegada, pelos primeiros 15 dias sem contato externo, período difícil para a maioria das pessoas que já se submeteram a esse tipo de tratamento, tanto pela saudade da família e do mundo exterior, como pelo estranhamento inicial em relação ao lugar, ao modelo de tratamento, regras de conduta, comportamento e convivência, à interação inicial com outros hóspedes (denominação utilizada para os albergados), pessoas que ele nunca tinha visto, cada qual com sua personalidade, subjetividade e história de vida, até à adaptação (gradativa, obviamente) ao processo de tratamento com suas diversas etapas, aos outros hóspedes (alguns dos quais, hoje novos amigos) e profissionais da instituição, culminando com mudança de modalidade de tratamento e, posteriormente, alta terapêutica, fora das páginas desse diário de bordo.

Ao longo do tratamento, Dr. Lao se submeteu a um processo de autoconhecimento, identificando o que estava por trás do uso desenfreado do álcool ou o que esse uso tentava mascarar e tamponar. Aí, vai desde experiências de vividas na infância, que se constituíram traumas e obstáculos ao enfrentamento da realidade, dos sentimentos, dolorosos ou não, pois muitos dependentes químicos são inábeis em lidar até com conquistas, sucesso e com emoções em geral, mesmo sendo positivas; características de personalidade, algumas resultando em comportamentos negativos e destrutivos; e por fim, hábitos e maneirismos adquiridos durante o período de drogadição. Foi preciso muita terapia em grupo, com ricas trocas de experiências com os companheiros de jornada e intervenções mais técnicas e assertivas das psicólogas e psiquiatras da instituição, incontáveis sessões de terapia individual, conversas com as psicólogas de plantão, para que Dr. Lao pudesse se desnudar, se descobrir e se reinventar enquanto ser humano, sabendo os gatilhos que levavam-no ao uso e ainda podem leva-lo a uma recaída emocional, comportamental e física, caso ele não esteja permanentemente atento e vigilante, se utilizando das ferramentas que adquiriu no tratamento. Uma das principais ferramentas utilizadas no tratamento do RAID, se não a principal, é a fala, pela qual se pede, se recebe e se dá ajuda, na superação das dificuldades e, acima de tudo, permite ao indivíduo se conhecer melhor, para poder se modificar e atingir o principal objetivo do tratamento, que o resgate da autonomia perdida no processo de adoecimento.

Como eu disse anteriormente, Dr. Lao despretensiosamente, escreveu um diário de bordo, um guia que com certeza vai ajudar muita gente dentro e fora do Instituto RAID a lidar com as dificuldades que ele passou, através das soluções que ele encontrou para superá-las, da melhor forma possível.

Concluo esse prefácio, dizendo que a paródia que Dr. Lao criou do RAID com a estória de Peter Pan, a Terra do Nunca e os meninos perdidos, foi uma forma